Significado de Atos 3
Atos 3
Atos 3 descreve a cura de um mendigo coxo no Portão Formoso do templo em Jerusalém. O capítulo começa com Pedro e João subindo ao templo para orar, onde encontram o mendigo e o curam em nome de Jesus Cristo.
O capítulo também inclui o segundo sermão de Pedro, no qual ele usa a cura do mendigo como uma oportunidade para proclamar a mensagem do evangelho e chamar as pessoas ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo. Pedro enfatiza que a cura não foi feita por seu próprio poder, mas por meio do poder de Jesus Cristo, e ele desafia seus ouvintes a se afastarem de seus pecados e se voltarem para Deus.
Atos 3 é um capítulo que destaca o poder de Jesus Cristo para curar e transformar vidas, tanto física quanto espiritualmente. O capítulo enfatiza o papel da fé no recebimento das bênçãos de Deus e a importância do arrependimento e obediência à vontade de Deus. O capítulo também continua o tema da ousada proclamação da mensagem do evangelho pela comunidade cristã primitiva, apesar da oposição e da perseguição.
I. Intertextualidade com o Antigo e Novo Testamento
Atos 3 prolonga o Pentecostes como sinal e palavra, unindo a economia do Espírito ao cumprimento das Escrituras. A cura do coxo “de nascença”, à “hora nona” no templo, coloca em cena o próprio Israel orante, enquanto Pedro e João repetem, agora no nome do Ressuscitado, a autoridade terapêutica do ministério de Jesus: “Prata e ouro, não tenho; mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (Atos 3:1–6). A sequência – “de um salto se pôs em pé e começou a andar; entrou com eles no templo, saltando e louvando a Deus” – faz ressoar diretamente a promessa de Isaías: “então o coxo saltará como o cervo” e “fortalecei as mãos frouxas e firmai os joelhos vacilantes” (Isaías 35:3–6), promessa que o Novo Testamento reaplica à vida comunitária sob a nova aliança (Hebreus 12:12–13). O homem, até então social e cultualmente marginal, atravessa as “portas” do culto (Salmo 118:19–24), sinal de que a restauração messiânica reverte antigas limitações e reintegra ao louvor. A localização sob o Pórtico de Salomão conecta este sinal ao espaço em que o próprio Jesus havia ensinado (João 10:23), sugerindo continuidade entre a obra do Mestre e a missão apostólica (Atos 1:1).
O discurso de Pedro interpreta o milagre pela chave do “Nome”. Não é “pelo nosso poder ou piedade” – insiste o apóstolo –, mas “pela fé no seu nome” que o homem está são (Atos 3:12–16), prolongando a hermenêutica do capítulo anterior em que “invocar o nome do Senhor” (Joel 2:32) converte-se em invocar Jesus como Kyrios (Atos 2:21, 36; Romanos 10:9–13). O Cristo é chamado “o Santo e o Justo”, títulos que condensam o Justo escatológico das Escrituras (Isaías 11:4–5; 53:11) e retomam a acusação lucana de que o povo preferiu “um homicida” em lugar do Inocente (Atos 3:14; Lucas 23:18–25). Quando Pedro o chama de “Autor (Príncipe) da vida”, morto por mãos humanas mas ressuscitado por Deus (Atos 3:15), o paradoxo messiânico aparece com nitidez: aquele que é “archegós” da salvação pelo sofrimento é o mesmo de quem dirá a Igreja que “conduz muitos filhos à glória” (Hebreus 2:10) e que é “autor e consumador da fé” (Hebreus 12:2). Assim, a glória de Jesus – “Deus glorificou o seu Servo” (Atos 3:13) – faz eco ao “meu Servo prosperará, será exaltado e muito elevado” (Isaías 52:13), vinculando a entronização pascal às canções do Servo (Isaías 52:13–53:12) e ao padrão que o próprio Jesus ensinara: “era necessário que o Cristo padecesse” segundo Moisés, Profetas e Salmos (Lucas 24:25–27, 44–47).
O chamado ao arrependimento avança mediante uma promessa dobradiça. Pedro convoca: “Arrependei-vos e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados” (Atos 3:19), linguagem saturada de memória bíblica: “apaga as minhas transgressões” (Salmo 51:1–9), “Eu, eu mesmo, apago as tuas transgressões” (Isaías 43:25) e “apaguei como neblina as tuas transgressões” (Isaías 44:22). O resultado é “tempos de refrigério” vindos “da presença do Senhor” e, em perspectiva, a “restauração de todas as coisas” (Atos 3:19–21). O refrigério evoca o descanso prometido aos que ouvem a palavra (Isaías 28:12) e a água do Espírito derramada sobre a terra sedenta (Isaías 32:15; 44:3), enquanto a restauração recolhe o arco profético: o “até que” do Salmo 110:1 (“assenta-te à minha direita, até que…”) situa a sessão do Cristo no céu enquanto amadurece a restauração anunciada por “todos os profetas” (Atos 3:21), da tenda de Davi reerguida (Amós 9:11–12) ao coração novo e espírito novo (Ezequiel 36:26–27; 37:14), dos novos céus e nova terra (Isaías 65:17; 66:22) ao renovo davídico e à renovação do culto (Jeremias 33:14–18). A pergunta inicial dos discípulos – “restaurarás tu o reino a Israel?” (Atos 1:6) – não é negada, mas deslocada para a economia do “Nome”, do arrependimento e do derramamento do Espírito, em fases e escopo que se abrirão “até aos confins da terra” (Atos 1:8; Atos 15:15–18).
No coração do sermão, Pedro ancora Jesus na dupla espinha dorsal da Escritura: Moisés e Abraão. Ao citar Deuteronômio 18:15–19, “O Senhor vosso Deus vos suscitará um Profeta como eu; a ele ouvireis”, o apóstolo identifica Jesus como o profeta-escatão cuja palavra define pertencimento: “toda alma que não ouvir será exterminada do meio do povo” (Atos 3:22–23). Aqui a formulação lucana cruza Deuteronômio 18 (“Eu requererei dele”) com o léxico de exclusão cultual de Levítico 23:29 (“será eliminado do seu povo”), sublinhando a gravidade pactual de rejeitar o Profeta semelhante a Moisés – exatamente aquele de quem o próprio Cristo dissera que Moisés escreveu (João 5:45–47). Quando Pedro acrescenta que “todos os profetas, desde Samuel, e todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias” (Atos 3:24), ele remete a Samuel como início da sequência profética que apontou para a aliança davídica (2 Samuel 7:12–16; Salmo 89:3–4), eixo pelo qual as esperanças régias convergem no Messias. Em seguida, a promessa abraâmica fecha o arco: “Em tua descendência serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 22:18; 26:4), que Paulo lerá como evangelho pré-anunciado a Abraão e como promessa que tem seu foco final em Cristo, a “Descendência” (Gálatas 3:8, 16) e seu alcance universal em judeus e gentios (Gálatas 3:14, 28–29). Daí a lógica do envio: “Deus, ressuscitando o seu Servo, enviou-o primeiro a vós para vos abençoar, convertendo cada um de vós das suas maldades” (Atos 3:26), prioridade histórica a Israel que estrutura a missão “ao judeu primeiro, e também ao grego” (Romanos 1:16; Atos 13:46), e benção definida não apenas como bem-estar, mas como metanoia efetiva, ecoando Isaías 59:20 (“aos que se convertem da transgressão em Jacó”).
O diagnóstico de Pedro – “agistes por ignorância, como também as vossas autoridades” (Atos 3:17) – faz ponte entre a narrativa da paixão e a economia da graça. O perdão intercessório de Jesus (“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, Lucas 23:34) e a leitura apostólica de que os príncipes “se tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória” (1 Coríntios 2:8) colocam a culpa real sob a luz de uma ignorância que ainda admite caminho de arrependimento – tema já presente na legislação de ofertas pelos pecados não-intencionais (Levítico 4) e na distinção entre pecar “por erro” e “de mão levantada” (Números 15:27–31). Quando Pedro afirma que “Deus cumpriu assim o que dantes anunciara pela boca de todos os profetas, que o seu Cristo havia de padecer” (Atos 3:18), ele alinha a cruz ao roteiro profético (Salmo 22; Isaías 53; Zacarias 12:10) e à catequese pascal do próprio Cristo (Lucas 24:26–27), mostrando que a ignorância humana não frustrou, mas serviu ao cumprimento divino.
Desse modo, Atos 3 tece uma malha intertextual que vai do culto no templo à missão até os confins, do Servo exaltado de Isaías ao Profeta semelhante a Moisés, da promessa a Abraão ao juramento a Davi, do “apagar” de Isaías ao “refrigério” escatológico, sempre pelo “Nome” que autentica sinais e interpreta Escrituras. O coxo que entra saltando no templo é parábola viva da restauração prometida: onde antes havia incapacidade e exclusão, agora há firmeza nos “tornozelos”, louvor em alta voz e pertença; onde se preferiu “um homicida” ao Justo, agora a bênção é oferecida primeiro a Israel e, por meio dele, a todas as famílias da terra (Atos 3:8–26; Gênesis 22:18). A partir desse capítulo, a Igreja lerá seus próprios caminhos – arrependimento, perdão, derramamento do Espírito, cura e ensino – como atualização das Escrituras, até que o Cristo, entronizado à direita, complete “a restauração de todas as coisas” que Deus falou “desde a antiguidade pela boca dos seus santos profetas” (Atos 3:21; Salmo 110:1; Isaías 65–66; Amós 9:11–12).
II. Comentário de Atos 3
Atos 3.1 Subiam juntos ao templo. Os discípulos de Jesus continuaram a seguir as tradições judaicas. O serviço de oração era acompanhado de dois sacrifícios diários: um pela manhã e outro à tarde. A nona é uma referência à hora, três horas da tarde.
Atos 3.2, 3 O coxo foi trazido para perto da porta chamada Formosa. Essa porta servia para dar acesso ao pátio das mulheres, no interior do templo, tendo ao lado de fora o pátio dos gentios. Esse pórtico era como uma porta frontal do próprio templo. A porta Formosa era um lugar ideal para o coxo mendigar. Os que ignoravam os pedidos dele podiam ter dificuldades em adorar a Deus pelo sentimento de culpa em recusar ajuda a uma pessoa tão necessitada. Além disso, enquanto as pessoas deixavam o templo, elas estavam mais propícias a dar alguma ajuda a alguém.
Atos 3.4, 5 Olha para nós. Era importante fazer com que o homem prestasse atenção, pois o que ele iria receber era mais importante do que uma mão estendida (Mc 10.51).
Atos 3.6 Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda. Os apóstolos indicaram imediatamente que eles não representavam a si mesmos naquilo que estavam prestes a fazer, pois estavam representando a Jesus Cristo. Por causa do nome de Cristo, o mendigo receberia o milagre de Deus. A frase no nome de Jesus não era uma fórmula mágica usada para dar alguma garantia à oração. O nome da pessoa representava a autoridade e a influência dela. O poder do nome de Jesus é proveniente do que o Espírito Santo está por fazer por causa desse nome. Observe que Pedro e João não colocaram suas mãos no mendigo e oraram para que Deus o curasse, mas, imbuídos do poder de Deus para realizar sinais e maravilhas, apenas disseram a ele: levanta-te e anda.
Atos 3.7, 8 Seus pés e tornozelos se firmaram. Lucas, um médico por profissão, descreveu o que acontecera. Instantaneamente foi concedida força às partes do corpo que precisavam de restauração. O suprimento sanguíneo foi estendido aos músculos. O cérebro enviou sinais para os nervos dos pés e tornozelos. O fluído necessário às articulações nas juntas foi restaurado, e os músculos e ligamentos atrofiados ganharam flexibilidade. Os pés repentinamente suportavam o peso do homem.
Atos 3.9 E todo o povo o viu andar e louvar a Deus. A opinião pública foi um fator importante na decisão dos líderes, tanto na condenação de Jesus (Mt 27.24) como no tratamento que dispensavam aos apóstolos (At 4.16,17).
Atos 3.10 E conheciam-no, pois era ele o que se assentava a pedir esmola. Dia após dia, o povo via o mendigo, talvez durante muitos anos. A cura dele não poderia ser uma encenação. Quando o mendigo ficou de pé e andou, a única explicação razoável para o fato foi que Deus o havia curado.
Atos 3.11, 12 Todo o povo correu atônito para junto deles. O povo estava seguindo os apóstolos, mas eles imediatamente deram toda a glória a Jesus.
Atos 3.13-16 Glorificou a seu Filho Jesus. A referência de Pedro ao Filho é proveniente da leitura da passagem do servo sofredor de Isaías 52.13, um salmo messiânico. Jesus pode ser considerado o servo de Deus porque deu a Sua vida como oferta para o pagamento da dívida dos pecados de toda a humanidade.
Pai levantou Jesus dentre os mortos como uma confirmação de que aceitara o sacrifício do Filho. Pedro disse que a cura do mendigo era um sinal da glorificação de Cristo. O povo entregou Jesus a Pilatos para ser crucificado. Ainda assim, Deus levantou dentre os mortos o Jesus crucificado. E foi no nome desse mesmo Jesus que o homem coxo fora curado.
Atos 3.17, 18 Mas Deus assim cumpriu o que já dantes [...] havia anunciado. Em seu sermão (At 2), Pedro coloca em pé de igualdade a responsabilidade humana tanto dos judeus como dos romanos com relação ao plano eterno de Deus.
Atos 3.19, 20 Venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor. A palavra traduzida por refrigério refere-se à restauração da força e do vigor. A força é restaurada quando a esperança é restaurada. Pedro desafiou seus ouvintes a arrepender-se e a converter-se, a mudar o pensamento acerca de Jesus, considerando-o Messias, e a servir a Ele.
Atos 3.21 A restauração pode ser uma alusão ao esperado governo do Messias quando Ele retornar (At 1.11; At 17.31).
Atos 3.22, 23 Os líderes judeus esperavam o cumprimento da predição feita em Deuteronômio 18.15 (Jo 1.21,22). Pedro anunciou esse cumprimento e identificou Jesus como o profeta predito por Moisés.
Atos 3.24-26 Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que Deus fez com nossos pais. Esses judeus eram os primeiros receptores das bênçãos prometidas a Abraão, prenunciadas pelos profetas e cumpridas em Jesus. Todas as famílias da terra. Nós também estamos incluídos na bênção da purificação da iniquidade, pois esse era o propósito de Deus ao enviar Jesus.
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