Significado de Atos 13
Atos 13
Atos 13 marca uma virada significativa no livro, pois detalha o início das viagens missionárias de Paulo. O capítulo começa com Paulo e Barnabé sendo comissionados pelo Espírito Santo e enviados pela igreja em Antioquia para evangelizar em outras regiões.
O capítulo então descreve suas viagens por Chipre e Pisídia, onde encontram audiências receptivas e resistentes. Os judeus na Antioquia da Pisídia, por exemplo, rejeitam a mensagem de Paulo e expulsam ele e Barnabé da cidade. No entanto, os gentios da mesma região recebem o evangelho com entusiasmo e muitos são salvos.
O capítulo termina com Paulo e Barnabé retornando a Antioquia, onde relatam à igreja e continuam a pregar a palavra de Deus.
Atos 13 destaca a importância do trabalho missionário e o papel do Espírito Santo em guiar e capacitar os crentes a compartilhar o evangelho com os outros. Também mostra como a mensagem do evangelho pode ser recebida ou rejeitada, dependendo do público, e enfatiza a importância da perseverança diante da oposição.
I. Intertextualidade com o Antigo e Novo Testamento
Atos 13 inaugura, a partir de Antioquia da Síria, a virada missionária programada em Atos 1:8, e faz isso com linguagem, personagens e citações que entretecem a Torá, os Profetas, os Salmos e o próprio evangelho de Lucas. A moldura litúrgica — “serviam (leitourgountes) ao Senhor e jejuavam” — convoca o léxico sacerdotal do culto (Êxodo 28–Êxodo 29; Números 8:11–22) e o profético do jejum verdadeiro (Isaías 58:6–12); quando o Espírito diz “separai-me Barnabé e Saulo para a obra”, o verbo ressoa a santificação vocacional de Jeremias (“antes que te formasse... te consagrei”, Jeremias 1:5) e do Servo (“desde o ventre me chamou”, Isaías 49:1), além de antecipar a autoleitura paulina: “aprouve a Deus... separar-me desde o ventre de minha mãe” (Gálatas 1:15). A imposição de mãos inscreve a saída na cadeia bíblica de comissionamento — Moisés e Josué (Números 27:18–23; Deuteronômio 34:9), os sete de Atos 6:6, e, mais adiante, Timóteo (1 Timóteo 4:14; 2 Timóteo 1:6) —, de modo que a missão começa como ato de culto, palavra e Espírito.
A travessia a Chipre, ilha de Barnabé (Atos 4:36), realiza a expectativa isaiana de que “as ilhas” aguardam a instrução do Servo (Isaías 42:4; 49:1) e coloca a igreja na velha arena bíblica de confronto entre o Deus vivo e as artes mágicas. Em Pafos, o “mago, falso profeta judeu, Bar-Jesus/Elymas” encarna o sincretismo condenado pela Torá (Deuteronômio 18:10–12) e evoca os magos do Egito (Êxodo 7:11–12) e de Babilônia (Daniel 2:2). “Cheio do Espírito Santo”, Paulo o desmascara como “filho do diabo” — ironia com o nome “filho de Jesus” — e pronuncia juízo: “a mão do Senhor está sobre ti e ficarás cego por um tempo” (Atos 13:10–11). A fórmula “mão do Senhor” é timbre de juízo na Escritura (Êxodo 9:3; 1 Samuel 5:6), e a cegueira judicial ecoa Isaías 6:9–10 e 29:9–10, além de espelhar a própria cegueira de Saulo em Atos 9:8–9. O proconsole Sérgio Paulo, “homem prudente”, crê ao ver “a doutrina do Senhor” soberana sobre o ocultismo (Atos 13:12), como Nabucodonosor e Dario reconheceram a superioridade do Deus de Daniel (Daniel 2:47; 6:26–27). Não por acaso, é aqui que “Saulo... também chamado Paulo” assume, no cenário gentílico, o nome romano que carregará às nações (Atos 13:9).
Em Antioquia da Pisídia, o sermão sinagogal de Paulo retoma a tessitura canônica já exercitada por Pedro (Atos 2–3) e Estêvão (Atos 7), mas com ênfase dupla: a fidelidade de Deus na história e a entronização de Jesus por ressurreição. Deus “escolheu nossos pais”, “exaltou o povo no Egito”, “suportou-os no deserto por cerca de quarenta anos”, “destruiu sete nações”, “lhes deu juízes até Samuel”, “lhes deu Saul por quarenta anos”, e “depois tirou-o e levantou Davi... homem segundo o meu coração” (Atos 13:17–22; Êxodo 1–12; Deuteronômio 7:1; Juízes; 1 Samuel 10; 13:14). A partir de Davi, Paulo articula a aliança régia: “da descendência deste, conforme a promessa, Deus trouxe a Israel um Salvador, Jesus” (Atos 13:23), fazendo convergir 2 Samuel 7:12–16; Salmos 89:3–4; 132:11. João Batista entra como ponte profética — o arauto que nega ser o Cristo e aponta o “Depois de mim” (Atos 13:24–25; Isaías 40:3; Malaquias 3:1; Lucas 3:1–17). Segue-se a leitura pascal: os habitantes de Jerusalém e seus chefes, “não reconhecendo” as vozes dos profetas que se leem cada sábado, as cumpriram ao condenar Jesus; “sem achar culpa de morte”, pediram a Pilatos sua execução, e, “depois de cumprirem tudo o que dele estava escrito”, tiraram-no do “madeiro” e puseram-no no sepulcro, “mas Deus o ressuscitou dentre os mortos” (Atos 13:27–30; Lucas 23; Deuteronômio 21:22–23; Atos 5:30; 10:39). A antítese “vós matastes... Deus ressuscitou” é a espinha do querigma.
Para provar a ressurreição, Paulo faz o mesmo percurso escriturístico de Pedro, mas com um arranjo próprio: cita o Salmo 2:7 (“Tu és meu Filho, hoje te gerei”) para a investidura régia do Ressuscitado (Atos 13:33; Salmo 2:7), lê Isaías 55:3 (“as santas e fiéis misericórdias prometidas a Davi”) como confirmação de que as promessas davídicas se tornam irrevogáveis na Páscoa (Atos 13:34; Isaías 55:3), e aplica o Salmo 16:10 (“não permitirás que o teu Santo veja corrupção”) a Jesus, distinguindo-o de Davi, que “serviu... caiu no sono... e viu corrupção” (Atos 13:35–37; Salmo 16:10). A mesma tríade aparece em Atos 2:25–36 e 13:32–37, formando um cânon de prova cristológica. Daqui emerge a declaração axial: “por este vos é anunciado o perdão dos pecados; e de tudo de que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo o que crê” (Atos 13:38–39). O contraste entre a Torá incapaz de justificar e a fé em Cristo antecipa a argumentação de Romanos 3:19–26 e Gálatas 2:16; 3:10–14, onde o “madeiro” e a “bênção de Abraão” se encontram na cruz.
O apelo se fecha com um oráculo de juízo: “Vede, desprezadores... e desaparecei; porque eu realizo, em vossos dias, obra tal que não crereis se alguém vo-la contar” (Atos 13:40–41), citação de Habacuque 1:5 (LXX) que transpõe o “assombro” ante o instrumento de juízo (os caldeus) para o escândalo de um ato divino ainda maior: a ressurreição e a justificação em Cristo. A reação na cidade expõe o padrão lucano: gentios pedem para ouvir “no próximo sábado”, “quase toda a cidade” se reúne, judeus se enchem de inveja e contradizem, e Paulo e Barnabé, em fidelidade à ordem de prioridade (“ao judeu primeiro”, Romanos 1:16), declaram a virada: “era necessário anunciar primeiro a vós; mas, visto que a rejeitais... eis que nos voltamos para os gentios” (Atos 13:44–46). A justificativa não é pragmática, é profética: “assim nos ordenou o Senhor: Eu te pus para luz das nações, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra” (Atos 13:47), citando Isaías 49:6. O mesmo texto que define a missão do Servo em Isaías agora molda o mandato apostólico, como Paulo explicitará em sua vocação “gentílica” (Gálatas 1:15–16; Romanos 15:8–12).
A oposição culmina em perseguição instigada por lideranças da cidade, e os missionários “sacodem contra eles o pó dos pés” (Atos 13:50–51), gesto ordenado por Jesus como sinal de testemunho contra quem rejeita a boa nova (Lucas 9:5; 10:11; Mateus 10:14), já praticado pelos apóstolos (Atos 18:6). Contudo, longe de arrefecer, “os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo” (Atos 13:52), repetindo a alegria carismática das aberturas missionárias anteriores (Atos 8:8; 11:23; Lucas 10:21) e ratificando que o caminho do Servo — rejeição e luz às nações — está em curso. A recorrência do refrão “a palavra do Senhor se divulgava por toda a região” (Atos 13:49) costura a promessa de Isaías 55:10–11 e o pedido paulino de que “a palavra do Senhor corra e seja glorificada” (2 Tessalonicenses 3:1).
Até nas dobras narrativas, Atos 13 conversa com a Escritura e com o restante do Novo Testamento. João Marcos, que os deixara em Perge (Atos 13:13), será motivo de tensão e reconciliação futura (Atos 15:37–39; Colossenses 4:10; 2 Timóteo 4:11), lembrando que a missão acontece sob a mesma graça que perdoa e restaura. Manaém, “criado com Herodes, o tetrarca”, no colégio de profetas e mestres de Antioquia (Atos 13:1), simboliza a inversão do reino: da corte herodiana à mesa do Senhor (Lucas 8:3; Atos 12). E o par Barnabé–Paulo, que sai de uma igreja formada por judeus e gregos (Atos 11:20–26), leva, por meio do “Nome”, a bênção de Abraão às nações (Gênesis 12:3; Gálatas 3:8), proclamando o Filho davídico entronizado (Salmo 2; 2 Samuel 7), cuja ressurreição garante “as santas e fiéis misericórdias de Davi” (Isaías 55:3) e oferece perdão e justificação a todo o que crê. Assim, Atos 13 é o laboratório canônico em que a história de Israel encontra seu telos em Cristo e se derrama, no poder do Espírito, em missão católica: de Chipre às terras da Galácia, da sinagoga aos confins, sob a luz do Servo e a corrida triunfante da Palavra.
II. Comentário de Atos 1
Atos 13.1 Os profetas atuavam na Igreja primitiva como proclamadores das revelações de Deus. Os doutores explicavam o significado das revelações e ajudavam as pessoas a aplicá-las em sua vida. Na Igreja primitiva, os profetas eram pregadores — aqueles que comunicavam as revelações diretamente do Espírito de Deus. Evangelistas, pastores e doutores (Ef 4.11) valiam-se de tudo que era ensinado ou revelado e tornava aplicável à edificação da vida das pessoas.Pastores e mestres são tidos hoje como sendo a mesma pessoa, e não como pessoas distintas. Em Atos, existem vários exemplos (veja profetas e doutores, Atos 13.1, e apóstolos e anciãos, Atos 15.6-22) em que esses dois títulos referem-se à mesma pessoa, ainda que ambos estejam ligados por uma conjunção. Parece que há dois serviços (anciãos ou bispos e diáconos); cinco funções ministeriais — apóstolos e profetas, que são o fundamento (Ef 2.20), evangelistas, pastores e doutores, que lideraram a edificação da superestrutura da fundação; dezesseis dons espirituais (quatro dons de sinais, cinco dons fonéticos e sete dons de serviço). Antioquia era a base de operação de Saulo.
Atos 13.2 Servindo eles ao Senhor. Conforme as pessoas cumpriam aquilo que Deus lhes tinha dado para fazer, como as funções de profetas e mestres, o ministério pessoal tornava-se o ministério para o Senhor. Sempre que servimos aos outros é como se estivéssemos servindo a Deus (Mt 25.31-46).
Jejuando. O jejum era uma prática da Igreja primitiva, algo que vinha do judaísmo. A abstinência de alimento e de outras distrações era feita em prol da oração. O jejum também era feito para ajudar os cristãos a se concentrarem naquilo que eles estavam levando a Deus em suas petições. O intuito do jejum era o de se consagrar mais ao Senhor, evitando toda distração e focando as coisas espirituais.
Atos 13.3 A imposição de mãos era a forma pela qual a Igreja primitiva reconhecia e confirmava a missão de alguém chamado por Deus.
Atos 13.4, 5 João era João Marcos, sobrinho de Barnabé (At 12.25).
Atos 13.6-12 Lucas relata que Sérgio Paulo foi o primeiro monarca gentio a crer no evangelho. A ilha de Chipre era uma província senatorial, o que significa que era controlada pelo Império Romano. Então, como oficial romano, Sérgio era gentio. Ao contrário de Cornélio (At 10.2), não há prova alguma de que Sérgio ia ao templo ou temia a Deus. O oficial gentio do governo ficou maravilhado com o poder de Deus e creu na verdade.
Atos 13.9-11 Saulo, que também se chama Paulo. Era comum uma pessoa ter dois nomes. Paulo usou o nome Saulo junto aos judeus. Mas, em sua missão junto aos gentios, ele usou seu nome romano, Paulo. O nome Paulo significa pequeno. Deixando de ser chamado de Saulo, que em hebraico também significa Saul, o primeiro rei de Israel, ele passa a usar o nome de Paulo, aquele que é pequeno em estatura e humilde de espírito.
Atos 13.12 O procônsul [...] creu. A intenção de Lucas é fazer com que saibamos que Sergio Paulo foi o primeiro monarca gentio a crer. E chegamos a essa conclusão por causa do título dado a Sérgio. A ilha de Chipre era uma província senatorial, governada diretamente por Roma. E já que Sérgio era um oficial romano, ele era gentio — ao contrário de Cornélio (At 10.2), não há prova alguma de que Sérgio ia ao templo ou temia a Deus. As raízes religiosas do procônsul não tinham nada a ver com o judaísmo. Esse oficial do governo, totalmente voltado para as tradições pagãs, ficou maravilhado com o poder de Deus e creu na verdade.
Atos 13.13 Mas João, apartando-se deles. Qualquer que tenha sido o problema ocorrido entre Paulo e João Marcos, foi suficiente para Paulo não quer mais a sua companhia na viagem (At 15.36-39). Mas João Marcos provou ser fiel ao ministério de Paulo tempos depois (2 Tm 4-11).
Atos 13.14 Por que Paulo e os que estavam com ele passaram por Perge, mas não pregaram o evangelho ali? Paulo deve ter tido algum problema de saúde que o forçou a passar direto pelas terras baixas de Perge e ir para Antioquia da Pisídia, um lugar mais alto, cerca de 3.600 m acima do nível do mar, e de clima mais agradável. Mais tarde, quando Paulo escreveu às igrejas da Galácia, ele falou sobre uma fraqueza da carne (Gl 4.13 ARC) ou enfermidade física (Gl 4.13 ARA) , que pode ter afetado seus olhos de alguma forma. Alguns acham que Paulo teve malária, e isto o deixou com terríveis dores de cabeça e febre, que o impediram momentaneamente de pregar. Talvez, isto seja o que Paulo queria dizer quando se referiu ao seu espinho na carne
Atos 13.15 Era costume os principais da sinagoga convidarem alguém para falar à congregação.
Atos 13.16-19 Levantando-se Paulo. Os rabinos geralmente ensinavam sentados; Paulo talvez tenha-se levantado para que todos o ouvissem melhor (Lc 4-20-21).
Atos 13.20, 21 Alguns manuscritos antigos consideram os quase quatrocentos e cinquenta anos como o período antes dos juízes, citado dos versículos 17 a 19. Em ambos os casos, a referência ao período é algo muito vago.
Atos 13.22-35 Davi [...] varão conforme o meu coração. O que Deus viu em Davi foi um grande desejo de fazer Sua vontade. E isso jamais mudou durante toda a vida dele. Ao contrário do rei Saul, que era um homem guiado pela própria vontade, Davi confessou seus pecados e arrependeu-se na mesma hora (SI 51).
Atos 13.36, 37 Mas aquele a quem Deus ressuscitou nenhuma corrupção viu. Paulo afirmou que Davi não podia estar falando de si mesmo em Salmos 16.10 (v. 35). Quando Davi morreu, seu corpo voltou ao pó como todas as outras pessoas (veja o que Pedro diz sobre isso em At 2.29-31). Davi estava falando do Messias, que ressuscitaria dos mortos como a derradeira prova de que era o Filho de Deus (Rm 1.4).
Atos 13.38-44 Por ele é justificado todo aquele que crê: justificação é um termo legal que significa declarado inocente. E uma declaração legal de que a pessoa foi absolvida e não deve mais nada. È pela justificação que alguém se torna justo e é aceito por Deus. A morte de Cristo foi o pagamento pelo nosso pecado, o que fez com que nossos pecados fossem perdoados.
Atos 13.45 Quando Lucas fala dos judeus, ele não está referindo-se a todos os judeus. Os judeus citados no versículo 43, aqueles que os exortavam a que continuassem na graça de Deus, queriam mesmo conhecer a verdade. Os judeus desse versículo eram os líderes, aqueles que tinham autoridade religiosa. Quando os líderes judeus viram que as multidões estavam seguindo Paulo, eles mudaram de opinião e ficaram cheios de ciúme, principalmente porque muitos do que o seguiam eram judeus.
Atos 13.46-50 Vos não julgais dignos da vida eterna. Aquele que está convencido de que não precisa de perdão do Deus santo já condenou a si mesmo.
Atos 13.51, 52 Os judeus sacudiam o pó dos pés quando saíam de uma cidade gentia. Esses judeus que rejeitaram o evangelho em nada eram diferentes dos gentios ímpios.
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