Estudo sobre Romanos 4:17-22

Romanos 4:17-22

Paulo destaca no crente Abraão que ele fitou os olhos em Deus e não desviou o olhar em nenhum momento. (Essa promessa ele recebeu) perante aquele no qual creu. Com a voz da promessa no ouvido, buscou a face do que fazia a promessa. Aquilo que ele crê leva-o à pergunta por aquele em quem crê.

A impressão causada por Deus é pronunciada em duas expressões que eram familiares a Paulo por ser um judeu devoto. Israel ficou pasmo diante de Deus, que vivifica os mortos. O versículo depois do seguinte traz como exemplo que Deus concedeu ao casal biologicamente “morto” o filho Isaque. Hb 11.19 aborda, sob o mesmo enfoque, outro exemplo, o acontecimento de Moriá. Deus ordenou a Abraão que ofertasse Isaque em sacrifício. Como o patriarca haveria de compreender isso: sacrificar por um lado o seu filho e, com ele, também a promessa de uma descendência, e apegar-se por outro lado, apesar de tudo, na veracidade daquele que dá a promessa! Forçosamente resultou a seguinte solução: Para Deus, a morte de uma pessoa não é definitivamente mortal, sempre cabe contar com o reavivamento de mortos. Com isso Abraão entendeu algo que é típico para as conduções de Deus. “Deus não faz um show com aquilo que já existe” (Lutero). Sempre de novo esse jeito de Deus lampejou na história de seu povo, até que se revelou em Cristo de forma insuperável, impossível de ignorar e de perder (v. 24,25). Retornemos ao primeiro exemplo, que é atual no presente versículo. Deus já se manifesta de maneira semelhante antes da sepultura: Deus chama à existência as coisas que não existem. Sem levar em conta fatores existentes, Deus traz à existência aquilo que ele quer. Por mais adversas que sejam as condições, elas lhe obedecem submissamenteb. Predomina uma ausência de dificuldade, como na Criação. “Deus é poderoso”, diz também o v. 21 ou 11.23, além de incontáveis passagens da Bíblia. Impõe-se uma linha de raciocínio. O que ele soube fazer uma vez, saberá fazer também duas vezes. O Criador também criará coisas novas.

O Abraão que creu não vivia numa disposição íntima reclusa e estática, mas mostrou-se animado intensamente por esperança. Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe fora dito (Gn 15.5): Assim será a tua descendência. A continuação ilustra como Abraão teve de afirmar a sua fé contra sua situação realmente adversa. Ele foi esperançoso “contra a esperança”, ou seja, em situação contrária. A carta aos Romanos evidencia sempre de novo que a esperança é elemento constitutivo da fé.

A história de Abraão, porém, evidencia também que pessoas que creem vivem no estado de tribulação. Sem enfraquecer na fé (naquele que ressuscita mortos), embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara. Dificilmente Paulo está tentando dizer que Abraão jamais sentiu fraqueza de fé, mas antes, que a superou. Contudo de que maneira? Segundo a antiga tradução de Lutero, superou-a ao “não atentar” para o estado senil do seu corpo e do de Sara. Para poder crer, ele teria de viver, então, de olhos fechados. Entretanto, de acordo com os manuscritos melhores de que dispomos hoje, a fé justamente não se eleva para fora da realidade, mas a encara assim como é. Somente livre de ilusões sobre sua condição dentro do mundo a fé em Deus se torna profunda e verdadeira.

Abraão não fazia parte daqueles que por princípio se sentem atraídos por uma vida de aventuras e estimulados para arriscar o impossível. Sua fé não era arbitrária, porém tinha um apoio real: não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus. A credibilidade de Deus continuou sendo para ele a realidade número um: mas, pela fé, se fortaleceu.

De acordo com Rm 10.17, nem mesmo o surgimento da fé principia com um ato de força humano. Não é o ser humano que lança com toda a força uma corda para o céu, até que engate firme, mas é Deus quem vem num ato de graça até o ser humano e “tece os laços” do namoro. Instado, atingido e abraçado o ser humano por Deus, surge a fé humana. Não é diferente cada vez que a fé é fortalecida na tribulação. A mão poderosa de Deus está presente! Dois particípios descrevem uma terceira característica. A fé dá glória a Deus. Não se associa mais ao pecado originário, a saber, ao roubo da honra de Deus em favor na glória pessoal. A fé deixa Deus ser Deus, estando plenamente convicto de que ele (Deus) era poderoso para cumprir o que prometera. Para ela, Deus é inteiro, i. é, inteiramente Deus, sem nenhum conflito entre o que diz e o que pode realizar. Nós seres humanos somos esfacelados, multiplamente divididos. Falar, querer e poder dissociam-se em nossa vida.

Paulo retorna afirmativamente ao v. 3, concluindo sua exegese de Abraão: Pelo que isso (essa sua fé) lhe foi também imputado para justiça. Quem deixa Deus ser Deus, a esse Deus também deixa ser pessoa: Tu és justo para mim – justo para a comunhão eterna e para a ação conjunta! Cabe pesarmos aqui cada palavra: tu para mim! De um lado “pó e cinza” (Gn 18.27), de outro lado, o Criador de todas as coisas. Porém quem estava distante e sem Deus (v. 5), torna-se agora capaz de Deus. A graça (v. 4) toma como matéria-prima em suas mãos as impossibilidades humanas. Ressurreição de mortos acontece.

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Romanos 4:17-22