Estudo sobre Romanos 5:12
Estudo sobre Romanos 5:12
Romanos 5:12
Para traçar uma comparação com o agir vicário de Cristo, Paulo começa pelo grave papel de Adão para a humanidade. Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo. A humanidade não é um aglomerado de indivíduos isolados, mas forma um corpo. Cada um de seus membros vive em “simbiose”, vive junto com os demais membros, para o benefício recíproco ou também para o prejuízo mútuo. Nesse tecido geral de relações, Adão (citado por nome no v. 14) desempenhou um papel singular. Ele não foi uma pessoa especialmente má, mas a primeira. Todas as pessoas depois dele teriam a sua “imagem”b. Seria uma imagem distorcida? De certo modo Adão estava posicionado na porta da história, foi ele quem abriu a porta. O que ele impediria, o que ele deixaria entrar? Por meio dele o pecado entrou no mundo!
É preciso distinguir “pecados” (no plural), usado para atos pecaminosos isolados, e “pecado” (no singular, como aqui seis vezes), para um poder atmosférico. É dele que Paulo fala sempre de novo com elevada dramaticidade como de uma pessoa (cf o exposto sobre 3.9). A respeito do ato pecaminoso de Adão Paulo falará somente a partir do v. 14. Agora trata-se do ingresso desse poder em nosso mundo. Deu-se com Adão, assim como sempre de novo acontece: quem comete pecado, a saber, quem num determinado momento cancela a comunhão com Deus, é imediatamente abandonado de todos os bons poderes. Não consegue prosseguir como antes, pois seu espaço de vida, a saber, o mundo, de imediato fica rendido a um poder negativo. O olhar é atraído diretamente para a consequência: e pelo pecado, a morte. Não é do morrer natural que se está falando, mas da morte como algo antinatural, como separação integral da vida. Pecar não somente torna alguém mortal, mas acima de tudo condenável, mesmo quando fisicamente vivo. Até sobre a mais elevada vitalidade estende-se agora o véu cinzento do que é fútil e vão.
Por meio de repetições sempre novas, os procedimentos no mundo adâmico se igualam aos de Adão. Assim também a morte passou a todos os homens. Este “atravessar até todos” lança a pergunta pelo “como”. Os Pais da Igreja responderam: isto aconteceu por via natural, pela hereditariedade através da reprodução. No entanto, o texto não indica nada a respeito de uma substância pecadora em Adão, que é passada adiante por meio de reiteradas partições de células. Pelo contrário, o pecado e a morte são comparáveis a um rei em expedição conquistadora (Rm 6.23: líder de mercenários), que penetra num território, a fim de ocupar também a mais distante província e escravizá-la. O que liga todas as pessoas à queda de Adão no pecado, portanto, não são vínculos de sangue, porém a existência neste mundo e nesta história mundial. É neste sentido que elas estão “em Adão” (1Co 15.22).
À amplitude do poder do pecado e da morte soma-se sua profundidade. Nossa escravização também é nutrida pelo próprio pecado cometido em atos: porque todos pecaram (Rm 2.12; 3.23). Em última análise, a miséria da humanidade consiste em sua culpa. Sem este adendo de fundamentação, nossas condições de vida seriam entendidas como uma fatalidade compulsória. Porém, trata-se de história pessoal, na qual as condições jamais servem de desculpa para o próprio fracasso (Rm 1.21). Também fora do paraíso continua em vigor que: “a ti cumpre dominá-lo (o pecado)!” (Gn 4.7). Ainda que não tenhamos de nos responsabilizar pelo fato de estarmos no mundo, temos de fazê-lo em relação aos nossos pecados de fato. Todas as cosmovisões representam uma fuga diante desta circunstância, somente a Bíblia é irredutível nesse aspecto. Nós não somos transgredidos, mas pecamos pessoalmente, numa ação radicalmente própria. Em cada ação má, em cada palavra ou pensamento maldoso reside no mínimo uma partícula de maldade, “sem razão” dedutível das condições envolventes (Jo 15.25). Em nossa vida, a realidade corre de modo tão paralelo a Adão que gostaríamos de dizer, parafraseando uma voz judaica: Cada qual é seu próprio Adão.
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