Apocalipse 18 — Comentário Literário da Bíblia

Apocalipse 18

A descrição da queda da Babilônia continua, enfatizando que sua idolatria e a exploração econômica mundial constituem a base de seu julgamento. À exceção de 18.1, as claras alusões ao AT discutidas nesse capítulo são prenúncios da queda da grande Babilônia.

Apocalipse 18.1 — “A terra foi iluminada com a sua glória” quando Ezequiel teve u m a visão da restauração de Israel à sua terra e ao Templo, no fim d esta era (Ez 43.2, em conexão com a “alta voz” de Ap 18.1,2). A profecia do AT fornece uma alusão adequada para a introdução de um capítulo no qual um dos tem as principais é u m a exortação ao verdadeiro povo de Deus para que se separe do mundo e seja restaurado ao Senhor (assim Caird 1966, p. 222; v. comentário de 18.4 adiante).

Apocalipse 18.2 — A descrição da desolação assemelha-se muito ao retrato dos juízos sobre a Babilônia e sobre Edom, em Isaías 13.21 e 34.11,14. Esses juízos são vistos com o antecipações do juízo universal da Babilônia, no final da história. A destruição definitiva da luxuosa fachada da Babilônia (17.4; 18.16) revela seu esqueleto, no qual se assentam apenas criaturas demoníacas com aparência de aves. A interpretação judaica entendia as criaturas de Isaías 13.21 e 34.11,14 com o demoníacas (e.g., Tg. de Is 13.21; M idr. Rab. de Lv 5.1; 22.8; Midr. Rab. de Gn 65.15; provavelmente 2 fír 10.8).

Apocalipse 18.3 — Esse versículo lembra Ezequiel 27.12 LXX: “Os cartagineses foram os teus comerciantes, p o r causa da fartura do teu poder” (cf. Ez 27.33 LXX: Tiro “enriqueceu todos os reis da terra”). Essa é a primeira referência a Ezequiel 26—28 nesse capítulo. A destruição de Tiro é o modelo para a destruição da Babilônia dos últimos dias, ou seja, Rom a e seus perversos descendentes. O fim de Tiro prenuncia implicitamente a queda da grande Babilônia. A exortação para que o povo se afaste dos caminhos da Babilônia segue o padrão das repetidas exortações de Isaías e Jeremias, especialmente Jeremias 51.45: “Saí do meio dela, ó povo meu” (cf. Gn 12.1; 19.15; Is 48.20; 52.11; Jr 50.8; 51.6). Como aqui, em Jeremias 51 e outros paralelos do AT, o juízo que se abaterá sobre a Babilônia constitui a base da exortação dos profetas ao povo de Deus para que saiam (cf. esp. Jr 51.35-45). De m odo surpreendente, o juízo que evoca a exortação de Jeremias 51 é retratado com metáforas de desolação semelhantes às de Apocalipse 18.2. A passagem de Jeremias 51.37 diz: “A Babilônia se tornará [...] m orada de chacais, objeto de horror e zombaria, sem habitantes”. A evidência de que a exortação de 18.4 também ecoa fortemente Isaías 52.11 é vista n a expressão que se segue imediatamente, no texto de Isaías: “Não toqueis nada impuro ”, que se refere aos ídolos da Babilônia. A exortação em Jeremias também inclui o rompimento com o culto aos ídolos (cf. Jr 51.44,47,52).

Apocalipse 18:5 — A razão de Babilônia ser punida com essas “pragas” é que “seus pecados se acumularam até o céu”. Mais um a vez, apela-se a Jeremias 51: “Seu julgamento [da Babilônia] chega até o céu e se eleva até as m ais altas nuvens” (Jr 51.9 [observe um eco de Gn 18.20; 19.13]). Isso prenuncia o juízo do sistema mundial, a grande Babilônia. Em algum as passagens do AT e do judaísmo antigo, a frase se torna u m a expressão idiomática para um grau extremo de pecado coletivo (cf. Ed 9.6; Jn 1.2; l E d 8.75; 4 Ed 11.43). “ [Deus] se lembrou das maldades” é um a expressão de juízo encontrada em outras passagens do AT (e.g., SI 109.14; Os 9.9). A punição da Babilônia é proporcional ao seu crime. Isso é expresso primeiramente numa formulação que evoca Salmos 136.8 LXX (137.8 TP): “Bendito é aquele que retribuir a ti [Babilônia] a recompensa que tu tens retribuído a nós [Israel]”. Da mesma forma, Jeremias 27.29 LXX (50.29 TP) diz acerca da Babilônia: “Pagai [anlapodote] a ela conforme as suas obras; conforme tudo o que ela fez, fazei a ela ”. Da mesma forma, em Jeremias 28.24 LXX (51.24 TP) Deus diz: “Eu retribuirei [antapodõsõ] à Babilônia e a todos os seus moradores [...] todo o mal que eles fizeram” (cf. Jr 27.15 LXX [50.15 TP]; Ez 23.31-35). O castigo da Babilônia histórica prefigura o juízo do sistema babilônico no final dos tempos. A base para o juízo da Babilônia como sistema mundial é reiterada (cf. 18.5a), agora conforme a predição do juízo da Babilônia histórica em Isaías 47, que prenuncia a arrogância pecaminosa da Babilônia escatológica. A arrogância política e econômica observada em 18.7b é enfatizada com o a causa da repentina destruição da Babilônia, que virá “no mesmo dia ”. Trata-se de um a referência tipológica continuada a Isaías 47 (47.9: “essas duas coisas virão de repente sobre ti, no mesmo dia”), com o é a afirmação de que a Babilônia “será d estruída no fogo” (47.14: “...e o fogo os queimará”). envolvimento idólatra permitia aos “reis da terra” viver “em luxo”, que é um a alusão parcial a Ezequiel 27.33. A ligação estreita entre a idolatria e a prosperidade econômica era um a realidade na Ásia Menor, onde a fidelidade a César e aos deuses padroeiros das associações de classe era essencial para quem quisesse manter um a boa reputação nos negócios particulares.

Apocalipse 18.10 — Em 18.9,10, podem os ver o padrão de Ezequiel 26.16-18 LXX, em que, diante da queda da próspera cidade de Tiro, “príncipes das nações [...] sentirão medo [...] e gemerão [...] e lamentarão [...] e falarão” com tristeza da cidade que foi julgada (tb. Ez 27.28-32). O contexto de Ezequiel confirma a sugestão de que o lamento dos reis sobre a desolação da Babilônia é baseado no medo da própria perda econômica iminente. O texto de Ezequiel 26.16b LXX, num acréscimo ao texto hebraico, diz que “eles temerão a própria destruição”, que deve ser entendido da perspectiva econômica à luz de Ezequiel 27.33-36. Da mesma forma, Ezequiel 27.27,28 LXX (que contribui parcialmente para Ap 18.17-19) registra que “os remadores [...] e os pilotos do mar”, que “lamentarão por ti [...] e chorarão amargam ente, e lançarão pó sobre a cabeça”, também “morrerão no coração do mar” juntam ente com Tiro e seus “comerciantes” e com “aqueles que negociavam ” com a cidade. [78/12,13 A relação de produtos é baseado em parte em Ezequiel 27.7-25, em que 15 dos 29 itens são listados ao lado da repetição do termo em poroi (“comerciantes”; assim Ap 18.11a,15). A repetida alusão a Ezequiel 26 e 27 no contexto imediatamente anterior e no contexto seguinte confirma a referência a esse segmento de Ezequiel 27.

Apocalipse 18.16 — A vestimenta da cidade é com posta por seis valorizados produtos comerciais e segue o padrão de Ezequiel 27, em que há um a lista completa de bens (27.12-24). Parte dessa lista é metaforicamente aplicada às vestimentas de Tiro, “para te vestir de azul e púrpura das ilhas”, com a oração “linho fino do Egito se tornou a tu a cama” (27.7 LXX). A imagem de um sistema econômico ímpio representado por um a pessoa vestida com roupas luxuosas feitas de produtos comerciais foi também parcialmente inspirada n a representação simbólica do rei da próspera cidade de Tiro, em Ezequiel 28.13: “Tu te cobrias de toda pedra preciosa: o rubi, o topázio, o diamante; o berilo, o onix, o jaspe, a safira, a turquesa e a esmeralda”. No Targum de Ezequiel 28.13 é dito explicitam ente que as pedras preciosas estavam na roupa: “Seu m anto foi adornado com todos os tipos de joias” (v. Rist 1957, p. 502).

Apocalipse 18:7b-19 — O padrão de Ezequiel 27 continua a ser seguido, visto que ali também os que dirigem as atividades do comércio marítimo lamentam e lançam pó sobre a cabeça, porque a destruição de Tiro significa o fim do comércio marítimo, de onde vem o sustento deles (Ez 27.28-33).

Apocalipse 18:20 — Os crentes em geral, não um grupo em particular da comunidade cristã, são aborda ­ dos aqui, com o deixa evidente essa alusão a Jeremias 51.48, que também faz referência ao céu e à terra com o representantes de toda a comunidade israelita: “Então o céu e a terra, com tudo quanto neles há, se alegrarão sobre a Babilônia; pois do norte lhe virão os destruidores”. A referência de Jeremias ao “céu” é repetida, mas a referência à “terra” é aqui substituída pelos “santos e apóstolos e profetas”, que com põem o novo povo de Deus (assim Jõrn s 1971, p. 141). Não por acaso, Jeremias 51.49a declara que os “mortos de Israel” são em p arte a causa da queda da Babilônia e da consequente alegria de 51.48 (cf. a expressão seguinte, em 51.49b: “os mortos de toda a terra”).

Apocalipse 18.21 — O juízo da Babilônia aqui é baseado em Jeremias 51.63, em que o profeta ordena que seu servo Seraías amarre uma pedra ao livro que contém a profecia do juízo da Babilônia e o lance no meio do Eufrates. O anjo, em 18.21, assim interpreta sua ação simbólica: “A grande cidade da Babilônia será jogada com a mesma força e nunca mais será achada”.

Apocalipse 18.22,23b — A alusão a Isaías 24.8 (“o som da harpa acabou”) e seu contexto ressaltam tanto o prejuízo econômico quanto a perda da alegria (Is 24.6 LXX: “Os moradores da terra serão pobres”; Is 24.8 LXX: “A alegria dos tamboris parou”). A referência a Isaías 24.8, em 18.22a é com binada com Ezequiel 26.13 (cf. Jr 25.10).

Apocalipse 18.23c-d A implicação da autoglorificação com o base para a condenação em 18.23c é sugerida pelo contexto da alusão ao AT, em que o juízo de Tiro inclui a destruição de seus comerciantes, q u e se gabavam de suas conquistas econômicas e de seu consequente poder: “O Senhor dos Exércitos propôs abater todo o orgulho dos mais gloriosos e envergonhar toda coisa gloriosa sobre a terra” (Is 23.9 LXX). Sobre a própria cidade de Tiro, o profeta diz: “Teu coração se eleva por causa de tu as riquezas”, que equivale a dizer: “Eu sou um deus” (cf. Ez 28.5 com 28.2-10). A egolatria econômica de Tiro foi a causa de seu juízo definitivo. Da mesma forma, o sistema mundial perverso será julgado por causa da autoglorificação humana.

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