Apocalipse 19 — Comentário Literário da Bíblia

Comentário Literário da Bíblia



Apocalipse 19 

Os seres celestiais alegram-se com os poderosos juízos de Deus, e a destruição dos ímpios é vista ainda de outro ângulo. Dessa vez, a imagem é extraída da destruição dos inimigos escatológicos Gogue e Magogue, registrada em Ezequiel 38 e 39.

19.7,8 Os termos associados ao banquete do casamento ecoam a profecia de Isaías 61.10: “Eu m e regozijarei muito no Senhor, a minha alma se alegrará no m eu Deus, porque m e vestiu de vestes de salvação, cobriu-me com o m anto de justiça, como noivo que se adorna com um turbante, e como noiva que se enfeita com as suas joias”.

19.10 Sobre anjos que recusam adoração, veja Martírio e Ascensão de Isaías 7.21 e 8.5; Tobias 12.16-22; Apocalipse de Sofonias 6.11- 15; Evangelho de Pseudo-Mateus 3; Cairo Genizah H ekhalot A /2, 13-18 (v. Bauckham 1993a, p. 118-49).

19.12b A afirmação de que “ninguém conhece” o nome “senão ele mesmo” não significa que seja um segredo para todos os outros, como geralmente se supõe (e.g., Swete 1906, p. 252; Kittel 1967, p. 126; Rissi 1972, p. 23; Mounce 1977, p. 345; Hailey 1979, p. 382-3). N ão é a misteriosa essência do ser divino que está em questão, e sim suas ações de juízo (Kraft 1974, p. 247-8). A expressão pode se referir ao tetragrama (YHWH = “Senhor” na LXX), que os judeus não pronunciariam (v. M cDonough 1999). Essa hipótese é corroborada pelo fato de que o nome pode estar escrito na cabeça ou na coroa de Cristo, assim como o nome “Yahweh” foi escrito sobre um a placa de ouro que ficava n a testa do sumo sacerdote (M. Stuart 1845, p. 346, seguido, e.g., por Farrer 1964, p. 198; Prigent 1981, p. 293). Por exemplo, Sabedoria de Salomão 18.24 diz: “Tua Majestade [= YHWH] [foi escrito] no diadema da sua cabeça [do sumo sacerdote]” (CNBB).

19.l3 O cavaleiro está “vestido com um manto salpicado de sangue”, um a alusão a Deus no ato de julgar as nações, em Isaías 63.1-3 (cf. Tg. Ps.-J. Gn 49.11), “com roupas tingidas de vermelho [...], com o as daquele que pisa no lagar [...], e o seu suco respingou nas minhas vestes”. A profecia de Deus com o guerreiro, em Isaías 63, é reafirmada, e Cristo é identificado como o Guerreiro divino. Em Isaías, o Guerreiro julga p o r “vingança” e para alcançar a “redenção ” de seu povo (assim Is 63.4), e o mesmo objetivo está implícito em Apocalipse 19. Portanto, as vestes manchadas simbolizam um atributo de justiça que será exercido no julgamento vindouro (v. Kiddle & Ross 1940, p. 384-5). Um a alusão a Isaías 63.2-6 será repetida em 19.15. No AT, o termo “palavra” (NVI) (LXX: logos) pode assumir a ideia de “promessa” ou “profecia” (e.g., lR s 8.56 LXX). A queda da Babilônia vai “cumprir” as proféticas “palavras de Deus” sobre o Juízo Final, encontradas em ambos os Testamentos. Talvez o título em 19.13 faça alusão ao juízo definitivo de Cristo sobre os inimigos remanescentes de Deus, executado por Cristo, em cumprimento das profecias do AT e do NT. Este entendimento é confirmado pela frase: “Estas são as verdadeiras palavras de Deus” (19.9), que se refere principalmente ao cumprimento futuro da profecia do AT, em especial Isaías 61.10, assim com o as sentenças quase idênticas em 21.5 e 22.6. Esta é outra das várias ligações entre 19.7-9 e 19.11-19.

17:14 Em outras passagens do NT, exércitos angelicais acompanham a Cristo desde o céu na execução do Juízo Final (Mt 13.40-42; 16.27; 24.30,31; 25.31,32; Mc 8.38; Lc 9.26; 2Ts 1.7; Jd 14,15 [cf. T. L evi 3.3; Apoc. El. (C ) 34; l En 102.1-3; 2 En 17]). Se os exércitos aqui são angélicos, não há possibilidade de o povo de Deus participar da própria vindicação. No entanto, 17.14 dá apoio à sugestão inicial de que é o próprio Cristo quem vence a besta num ato representativo em nome dos “chamados, eleitos e fiéis” que o acompanham As vestes dos santos, aqui e por todo o livro, também devem ser entendidas com o sacerdotais, uma vez que as mesmas vestes usadas pelos seres celestiais são provavelmente concebidas desse modo em Apocalipse 15.6; Ezequiel 9.2; Daniel 10.5 e 12.6. Observe ainda as vestes semelhantes usadas por Cristo em 1.13 (para um argumento completo a favor dessa ideia, v. Kline 1980, p. 47-50). Os santos com túnicas brancas em 7.9,14,15 também exercem um a função sacerdotal. Da mesma forma, o “linho fino, resplandecente e puro” de 19.8 possui associações sacerdotais. Os seguidores de Cristo refletem seu caráter sacerdotal representativo quando ele executa o juízo.

19.15 A imagem da “espada afiada [que] saía-lhe da boca” (cf. 1.16; 2.12,16) é baseada em Isaías 49.2, em que a linguagem figurada se refere à habilidade do “servo Israel” (Is 49.3) para cumprir a missão divina de restaurar Israel e salvar as nações (Is 49.6), por meio da sua palavra [Tg. de Is 49.2 diz: “Ele pôs as suas palavras na minha boca com o uma espada afiada”). Aqui, em 19.15, a profecia de Isaías é reafirmada, e Jesus é identificado de forma implícita como o “servo Israel” (com o em Lc 2.32; At 26.23). Um eco da profecia de Isaías 11.4 complementa a descrição aqui: “p ara ferir com ela as nações”. No texto hebraico, a frase “ele ferirá a terra com a vara de sua boca” é interpretada na LXX com o golpear com a “palavra de sua boca”, em apoio à ideia de que “a Palavra de Deus”, em 19.13, é um nome que expressa os meios pelos quais Cristo executa o juízo. De m odo semelhante, 4Esdras 13 faz alusão a Isaías 11.4 e interpreta a instrumentalidade do castigo do Messias com o palavras da “lei”, que “devem reprovar as nações [...] com os seus maus pensamentos” [4 Ed 13.10-11,37-38 [cf. l En 62.2]). Uma alusão a Salmos 2.9 complementa o retrato do juízo. Em Salmos 2.8,9,12 é predito como o “filho” de Deus (2.7) vai derrubar os perversos “reis da terra ”, que “se levantam [...] e conspiram unidos contra o Senhor e seu ungido” (2.2). O “cetro ” (ARC: “vara”) aqui em 19.15, assim com o a “espada afiada” que lhe sai da boca, conota a palavra divina de acusação, que vai condenar os ímpios e destiná-los à perdição. O pisar das uvas no lagar é um a alusão continuada à predição do AT sobre o último grande ato de juízo de Deus (Is 63.2-6) iniciado em 19.13 e mais um a vez aplicado a Cristo.

19.16 A inda outro nome é citado para explicar m ais detalhadamente o nome ambíguo de 19.12. Ele está escrito no manto e na coxa do cavaleiro. A coxa era o local onde se assentava a espada do guerreiro (e.g., Êx 32.27; Jz 3.16,21; Sl 45.3) e o local simbólico em baixo do qual a mão era posta quando se fazia um juramento (e.g., Gn 24.2,9; 47.29). A vitória de Cristo sobre os ímpios será um cumprimento da promessa de juízo divino. O nome de Cristo em 19.16 é “Rei dos reis e Senhor dos senhores”, concebido com o um título que exprime a ideia de “governante supremo acima de todos os reis” (cf. Moulton, Howard & Turner 1906-1976, 2:443). O nome é extraído de Daniel 4.37 LXX, em que constitui um título p ara Deus, já aplicado a Cristo em 17.14 (sobre o qual, v. comentário) para ressaltar sua função de juiz divino.

19.17,18 O anjo anuncia a destruição vindoura da besta, do falso profeta e de seus exércitos com a mesma imagem pela qual a derrota de Gogue e Magogue é anunciada em Ezequiel 39.4,17-20: “As aves de rapina de toda espécie e os animais do campo te devorarão. [...] Diz às aves de toda espécie [...]: A juntai-vos e vinde [...] para comerdes carne e beberdes sangue [...]. Comereis as carnes dos poderosos e bebereis o sangue dos príncipes [...]. E vos fartareis de cavalos e de cavaleiros, de valentes e de todos os guerreiros à minha mesa”. O texto de Apocalipse 19.17,18 dá continuidade a esse retrato profético e reafirma que certam ente ocorrerá. A imagem de Ezequiel 39 está incluída porque seu argumento principal é que Deus tornará “conhecido” seu “santo nome” tanto para Israel com o para seus opressores durante o cativeiro, por meio da derrota de Gogue e Magogue. O objetivo da revelação do nome divino introduz (39.7) e conclui (39.21-25) a descrição da carnificina (39.8-20).

19.19 Além de Ezequiel 39, Salmos 2.2 ressoa ao fundo. A imagem profética da guerra final em 19.19 desenvolve a profecia de Salmos e enfatiza seu cumprimento. “Os reis da terra se levantaram e os governantes se reuniram contra o Senhor e contra o seu Ungido” (Sl 2.2 LXX). A referência anterior inquestionável a Salmos 2.9 em 19.15 confirma também a alusão aqui.

19.21 Os exércitos que seguem a besta e o falso profeta serão “mortos pela espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo ”. Trata-se de um a alusão, já vista em 19.15, à profecia de Isaías 49.2 e 11.4, que se cumprirá no futuro.

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