Significado de Gênesis 4
Gênesis 4
Gênesis 4 apresenta a história de Caim e Abel, os primeiros filhos de Adão e Eva, e o primeiro ato de violência registrado na história da humanidade. O capítulo enfatiza os temas de ciúme, pecado e as consequências das ações.
O capítulo começa com o nascimento de Caim e Abel, e suas respectivas ofertas a Deus. Deus aceita a oferta de Abel, mas rejeita a de Caim, causando ciúme e raiva em Caim. Deus avisa Caim para resistir ao pecado e dominá-lo, mas Caim mata Abel por ciúme. Deus então confronta Caim sobre o assassinato e o amaldiçoa, forçando-o a viver como um andarilho na terra. O capítulo termina com a genealogia dos descendentes de Caim, bem como o nascimento de Seth, outro filho de Adão e Eva.
No geral, Gênesis 4 apresenta o relato do primeiro ato de violência na história humana e as consequências devastadoras do pecado. O capítulo retrata o pecado como uma força destrutiva que pode levar ao ciúme, raiva e violência. Também destaca a importância de resistir ao pecado e dominá-lo, e a necessidade de responsabilidade e justiça para as transgressões.
II. A Septuaginta e o Texto Hebraico
Em 4,1 o jogo de sons entre o nome qāyin (קַיִן) e o verbo qānîtî (“adquiri”, קָנִיתִי) já sinaliza um traço estilístico semita que a LXX verte interpretativamente: Eva “gerou a Caim; e disse: ektēsámēn ánthrōpon dia tou Theou” (ἐκτθησάμην/ἐκτῆσαμην ἄνθρωπον διὰ τοῦ θεοῦ), isto é, “adquiri um homem por/por meio de Deus”, preferindo o verbo de posse/aquisição (ktaomai) à ambígua construção hebraica qānîtî ʾîš ʾet-YHWH (que pode ser “com/por YHWH”). A escolha grega já orienta leituras teológicas antigas e exemplifica como a LXX frequentemente explicita um hebraísmo latente.
A perícope do culto (4,3–5) exibe diferenciações léxicas paralelas: no MT, Caim traz uma minḥāh “do fruto da terra”, enquanto Abel oferece dos “primogênitos” e de suas “gorduras” (mibbĕkōrōt… ḥelĕb, 4,4). A LXX faz duas escolhas semânticas que ecoarão no NT: chama a oferta de Caim de thysia (sacrifício) e descreve a de Abel com termos técnicos de culto (prōtotokōn... steatōn), concluindo que “Deus olhou para Abel e para seus dōra (presentes/ofertas)”—o mesmo par dōra kai thysiai que Hebreus usa programaticamente para o sistema cultual. Assim, a semântica sacrificial da LXX fornece o vocabulário com que Hebreus reinterpretará Abel como paradigma de fé: “pistei pleíona thysían… prosēnenken… martyrúnontos epi tois dōrois autou tou Theou” (Hb 11,4).
O dito divino em 4,6–7 é um dos lugares de maior tensão MT–LXX. O hebraico compõe uma cena altamente personificada e moral: “hălōʾ ʾim-têtîḇ śeʾēt; weʾim lōʾ têtîḇ, la-petaḥ ḥaṭṭāʾt rōvēṣ; weʾēlêḵā tešûqātô, weʾattā timšōl-bô” (“Se fizeres o bem, [haverá] exaltação; se não fizeres, o pecado jaz à porta; o desejo dele é contra ti, mas tu deves dominá-lo”). A LXX “ritualiza” e reinterpreta parte da sintaxe: “se corretamente ofereceste, mas não corretamente diemerisas [‘dividiste’, i.e., partes do sacrifício], pecaste; guarda silêncio; para ti será a volta (ἀποστροφή) dele, e tu o dominarás”, deslocando a imagem do “pecado agachado” para a técnica do ofertante e introduzindo apostrophē (viragem/retorno) no lugar de tešûqāh. Esse movimento explica tanto leituras sacerdotais antigas quanto a ênfase de Hebreus na orthotomia cultual.
Em 4,8, o hebraico preservado no MT parece elíptico (“Caim disse a Abel, seu irmão…”), ao passo que a LXX (e o Pentateuco Samaritano) preserva o conteúdo do convite: “dielthōmen eis to pedion” (“vamos ao campo”), sinal de uma tradição textual mais longa que ressoa na narrativa ao dar premeditação ao homicídio. Essa expansão é um dado crítico para reconstrução textual e para a exegese moral do episódio.
O interrogatório (4,9–10) aproxima MT e LXX, e a tradução grega se torna matriz da fraseologia neotestamentária. A resposta de Caim, “hăšōmēr ʾāḥî ʾānōḵî?”, vira “mē phýlax tou adelphou mou eimi egō?”, com phýlax/phylássō (“guardar”)—o mesmo campo lexical com que o NT falará de guardar mandamentos/tradições. O clímax de 4,10 une retórica e morfossintaxe hebraica de modo memorável: “qōl dĕmê ʾāḥîḵā ṣōʿăqîm ʾēlay”—dĕmê (“sangues”, plural) explica o participial plural “clamam”, e a LXX verte “phōnē haímatos... boa” (“a voz do sangue... grita”). Não é acidental que Hb 12,24 fale do “sangue aspergido” que “fala melhor que Abel”: o autor pressupõe Gênesis 4 na forma e no vocabulário da LXX, contrastando a voz de acusação (Abel) com a de reconciliação (Cristo).
A sentença (4,11–12) ilustra outra diferença de perfil: o MT declara que Caim será nāʿ wānād (“errante e vagabundo”), enquanto a LXX produz “stenōn kai tremōn” (“gemendo e tremendo”)—um efeito de tradução que troca mobilidade forçada por inquietação corporal. O exílio é formulado com a preposição “da face/presença”: wayyēṣē qāyin millipnê YHWH (“Caim saiu de diante de YHWH”, 4,16), que a LXX dá como “exēlthen... apo prosōpou tou Kyriou”. Essa locução (apo prosōpou tou Kyriou) torna-se padrão no grego cristão e reaparece, por exemplo, em 2Ts 1,9, mostrando como a imagética relacional “estar/permanecer diante do rosto do Senhor” é coesa da LXX ao NT.
A “marca/sinal” dado por Deus (4,15) é sēmeion na LXX, termo que estrutura parte central da cristologia joanina (“sinais”) e do vocabulário de milagres no NT. O gesto divino, concebido como sēmeion protetor que limita a vingança, subverte o ciclo retaliatório que culmina no poema de Lameque (4,23–24). Na LXX, 4,24 registra “hebdomēkontakis hepta” (“setenta e sete vezes”), cifra que o Cristo reverte na ética do perdão em Mt 18,22 ao ordenar perdoar hebdomēkontakis hepta — um contraponto intencional entre a escalada de vingança da linha de Caim e a escalada de graça no Reino.
A seção urbana/genealógica (4,17–22) preserva na LXX a fórmula onomástica semítica (“dar nome a…”, eponomázein em 4,17), e a tecnicidade artesanal (metalurgia, música) ganha termos gregos específicos que facilitam recepções helenísticas posteriores. O fecho (4,25–26) é decisivo para a teologia bíblica: com o nascimento de Sete (šēt), a LXX diz que “naqueles [dias] ēlpisen epikaleisthai to onoma Kyriou tou Theou” (4,26). O hebraico tem “hūḥal liqroʾ bešēm YHWH” (“começou-se a invocar o nome de YHWH”). A opção grega por elpizein (“pôr esperança”) junto com epikaleisthai to onoma Kyriou cria um elo direto com o refrão soteriológico neotestamentário (Rm 10,13 citando Jl 2,32 LXX: “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”), sugerindo que, já em Gênesis 4, a “invocação do Nome” é lida como gesto de confiança/esperança.
O NT inteiro lê Caim/Abel através dessa malha lexical da LXX. Jesus fala do “sangue do justo Abel” (Mt 23,35; Lc 11,51), João descreve Caim como quem “ésphaxen [‘degolou’] o irmão” (1Jo 3,12), escolhendo um verbo cultual (sphazō) que intensifica a carga de “sacrifício perverso”. Tais ecos reforçam o modo como Gênesis 4 já tinha sido “grego-mapeado”: thysia/dōra, haima/boa, phylax, sēmeion, epikaleisthai, etc. A coesão não é apenas temática (culpa, graça, exílio, culto) mas também terminológica: o grego da LXX forneceu a gramática com que o NT universalizou as intuições do hebraico.
Em síntese, Gênesis 4 mostra que a “ponte” LXX entre hebraico e grego não dilui o texto, mas re-perfila seus contornos: onde o MT dramatiza o “pecado que jaz” com imagens zoomórficas e plurais expressivos (dĕmê), a LXX tende a codificar a cena em termos cultuais e jurídicos, amarrando o episódio ao eixo sacrifício-palavra-invocação que dominará a teologia do NT. Por isso, quando Hebreus afirma que o sangue de Jesus “fala melhor que o de Abel”, ele não cria uma metáfora ex nihilo; ele recolhe o qōl/phonē de Gênesis 4 e, com a mesma fraseologia da LXX, redige o clímax cristológico de uma coerência já latente no hebraico.
II. Comentário de Gênesis 4
Gênesis 4.1 E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu. O verbo conhecer (hb. yada) aqui é usado eufemisticamente como sinônimo de ter relações sexuais. Normalmente, descreve uma relação íntima que envolve ardor, paixão, posse e reciprocidade. Aqui, a relação sexual de Adão e Eva resultou na concepção de um filho. Mas, ao que tudo indica, esta não teria sido a primeira união sexual do casal. O primeiro filho de Adão e Eva foi Caim [hb. qayin, que deu origem ao termo queneus, ferreiros], cujo nome é relacionado ao significado da palavra artesão ou algo produzido, mas também soa como a tradução da palavra hebraica que significa adquirido, possuído. [Talvez, por isto, Eva tenha declarado: Alcancei do SENHOR um varão. Algumas vezes, um nome é uma alusão clara a algum fato ou situação (como, por exemplo, Ismael [hb. Yishmae’l, Deus ouvirá] em Gênesis 16.11); outras vezes é baseado em um trocadilho com uma palavra que é similar ao nome, ou contém uma ideia mais abstrata.Gênesis 4.2 A motivação do nome Abel (hb. Hebel, sopro, vapor) é incerta. Talvez, ele tenha recebido esse nome apenas depois que foi morto por Caim (v.8); após seus pais, com tristeza, constatarem a brevidade da vida do segundo filho, cuja vida acabara tão rapidamente como um sopro. Abel era pastor de ovelhas. Caim, um agricultor. As duas ocupações eram igualmente importantes. Elas refletem meramente uma diferença de interesses entre os dois irmãos, não o caráter ou a importância deles. Contudo, a história de Caim e Abel abre o tema da competição entre irmãos (ver também Esaú e Jacó, em Gênesis 25.26).
Gênesis 4.3, 4 Em Gênesis, não é explicado por que começa a prática do sacrifício com o objetivo de adoração a Deus. Talvez os primeiros leitores deste texto entendessem bem essa questão, pois haviam sido instruídos por Deus por intermédio de Moisés. Mas alguns estudiosos afirmam que a oferta de Caim não foi bem aceita quanto a de Abel porque não envolvia o derramamento de sangue; algo que Deus exigia para o perdão dos pecados (Hb 9.22). Mas, nenhuma palavra no capítulo 4 indica que Caim e Abel achegaram-se a Deus naquele momento para pedir o perdão por pecados cometidos. As ofertas deles foram voluntários atos de adoração. Além disso, pelo antigo sistema de sacrifícios de Israel, Deus abençoava tanto as ofertas de cereais como o sacrifício de animais (Lv 6.14-23). Por isso, os agricultores apresentavam uma porção de sua produção, e os pastores, amostras de seu rebanho. Contudo, talvez o sacrifício de Caim tenha sido inferior porque a motivação deste não era boa, e a de Abel sim. [O fato é que, por algum motivo que não é aludido no texto, Deus atentou para a oferta de Abel, e não para a de Caim, e isto o deixou irado, levando-o a matar o irmão por inveja.]
Gênesis 4.4 E atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. O sacrifício de Abel foi o melhor que ele tinha a oferecer, dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura. Não há palavras similares para descrever o sacrifício de Caim. Isso indica que Caim ofereceu ao Senhor uma parte qualquer de sua produção, enquanto Abel apresentou a melhor parte das primícias. Consequentemente, Deus atentou [hb. shaah, atentar, olhar, agradar-se] primeiro para o ofertante, e depois para o objeto do sacrifício (Sl 40.6-8). Logo, a oferta de Abel era qualitativamente melhor do que a de Caim, por causa da fé de Abel no Senhor (Hb 11.4).
Gênesis 4.5 Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante. Havia alguma coisa deficiente na atitude de Caim, a qual se refletiu em sua oferta. Ele, em lugar de sentir-se quebrantado e grato ao Senhor, ficou muito furioso e tomado pelo ciúme (v.8).
Gênesis 4.6, 7 As palavras graciosas do Senhor eram para que Caim pudesse fazer a coisa certa! Ele não precisava ficar com ódio. O pecado estava batendo à porta do coração de Caim, à espreita para poder entrar e atacá-lo como um leão. Mas ele devia resistir ao mal; então seria bem aceito também.
Gênesis 4.8 Caim cometeu um assassinato premeditado. Foi uma ação rápida, bem planejada e sem precedentes. Jesus falou deste acontecimento horrível como um fato histórico e vil, semelhante ao que foi cometido contra outros profetas que Deus enviou à nação de Israel e ao que seria cometido contra Ele próprio (Mt 23.35).
Gênesis 4.9 Onde está Abel, teu irmão? Estas palavras do Senhor enfatizam o horror do assassinato de um familiar. Todavia, todo assassinato é um crime contra a família, já que todos estamos relacionados a Adão, nosso progenitor.
Gênesis 4.10 A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra. O sangue de Abel estava clamando a Deus por vingança até que o sangue daquele que é mais inocente que Abel fosse derramado para o perdão da humanidade (Hb 12.24). Por sua morte [cruel pelas mãos do irmão], Abel tipifica o Salvador, Jesus.
Gênesis 4.11, 12 Caim é o terceiro a ser amaldiçoado por Deus; a primeira foi a serpente (Gn 3.14) e a segunda, aterra (Gn3.17). [Note que a punição dele está associada à maldição da terra, a qual, antes, cooperava com o trabalho dele, dando o seu fruto e trazendo-lhe alegria, mas, doravante, apenas lhe lembraria o seu pecado, fazendo com que ele se sentisse fugitivo e errante.]
Gênesis 4.13 E tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo [ARA]. Aqui o termo traduzido como castigo [hb. ‘avon, punição] fala da consequência natural da perversidade: a culpa. Geralmente a punição ocorre em retribuição ao pecado (Êx 20.5).
Gênesis 4.14 Caim expressou pesar somente pela punição que recebeu, e não pelo crime terrível que cometeu. Não há nenhuma nota de arrependimento a respeito de sua ação. Caim disse: Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e errante na terra, e será que todo aquele que me achar me matará. Muitas pessoas especulam que todo aquele a que Caim se refere seriam seus irmãos e suas irmãs já nascidos, mas não mencionados, ou aqueles que ainda estavam por nascer. Esta ideia é baseada em Gênesis 5.4, onde é dito que Adão gerou filhos e filhas. Alguns, sem nenhuma base bíblica, especulam que Deus teria criado outras pessoas fora do jardim do Éden, mas não há nas Escrituras nenhuma indicação disto. Logo, faz sentido concluir que Caim tinha medo de seus irmãos e irmãs.
Gênesis 4.15 É notável observar a misericórdia que o Senhor teve pela vida de Caim. Apesar deste ter assassinado o próprio irmão, o Senhor não o matou nem permitiu que o fizessem. O Senhor o protegeu, colocando nele uma marca, a fim de que não fosse morto pelos outros. Mesmo em Sua ira, Deus demonstra a misericórdia. [Provavelmente, o Senhor queria dar tempo a Caim para que este se conscientizasse de seu pecado e se arrependesse.]
Gênesis 4.16 A terra de Node remete ao termo nômade (v. 12, 14). A questão aqui é mais teológica do que geográfica. Estar à parte da presença do Senhor é tornar-se um nômade, um errante, que anda sem rumo na terra.
Gênesis 4.17 Caim provavelmente encontrou uma esposa entre as suas irmãs (v. 14). O nome Enoque [hb. Chanowk] significa dedicado. O filho de Caim recebeu o mesmo nome do descendente de Sete que andava com Deus (Gn 5.21-24). Caim fundou uma cidade e deu a ela o nome de seu filho. A população rapidamente aumentou.
Gênesis 4.18 Aqui, seis gerações, de Caim a Lameque, são mencionadas. Este versículo indica uma rápida expansão populacional. Note que na lista de nomes de cada um desses filhos de Caim não há o nome das respectivas esposas deles. Isto porque, no antigo Oriente, onde a Bíblia foi escrita, os descendentes sempre considerados eram os filhos [raramente as filhas ou esposas são mencionadas]. Por isso é comum vermos nas genealogias na Bíblia o nome dos pais, e não das mães.
Gênesis 4.19-21 Aqui, é contada a história de Lameque, o mais conhecido dos descendentes de Caim, e não do Lameque filho de Matusalém (Gn 5.28-31). O Lameque filho de Caim representa a habilidade e a força, bem como a arrogância e o sentimento de vingança. Ele tinha duas esposas. Isto sugere um atentado deliberado por parte de Lameque de subverter o padrão de união estabelecido por Deus, que prevê o casamento entre um homem e uma mulher (Gn 2.24; leia as palavras de Jesus a respeito em Mateus 19.4-6). O nome de uma esposa era Ada, o da outra, Zilá. Raramente nesta listagem os nomes das esposas são mencionados, como aqui.
Gênesis 4.20, 21 Jabal é citado como o pai daqueles que moram em tendas e criam rebanhos. Jubal, seu irmão, é descrito como o homem que foi o pai de todos que tocam harpa e flauta.
Gênesis 4.22 Tubalcaim, mestre de toda obra de cobre e de ferro. Alguns alegam que o ferro ainda não era conhecido no tempo de Tubalcaim; logo, este versículo seria apenas uma alusão a Tubalcaim como o homem que ensinou a outros a arte de manipular os metais. Os futuros ferreiros veriam Tubalcaim como o “pai” dessa arte. Naamá [hb. Na’amah, encanto] era sua irmã. Ainda mais rara do que a menção dos nomes das mães é a menção dos nomes das filhas e irmãs.
Gênesis 4.23, 24 Eu matei um varão, por me ferir, e um jovem, por me pisar. Porque sete vezes Caim será vingado; mas Lameque, setenta vezes sete. Aqui se vê uma declaração rimada, presunçosa e ofensiva, que traduz o violento espírito de Lameque, que confessa ter matado um homem que o feriu e um jovem apenas por tê-lo pisado. A vaidade de Lameque indica que ele seguiu o pior padrão de seu ancestral Caim. Em sua perversa ostentação de valentia, Lameque insulta Deus afirmando que se Caim seria vingado sete vezes, ele mesmo se vingaria setenta vezes sete, caso alguém ousasse atacá-lo. Este é outro exemplo (apesar da conotação perversa) do uso dos números para impressionar (Nm 1.46).
Gênesis 4.25 E tornou Adão a conhecer a sua mulher. Esta expressão, conhecer a sua mulher, remete às palavras de abertura desta seção (Gn 4.1) e traz a sua conclusão. Após o longo e triste comentário sobre Caim e seus descendentes, retornamos a Adão e Eva e à sua nova prole. Com a morte de Abel (v. 8) e a expulsão de Caim (v. 11,12), Adão e Eva não tinham mais filhos para perpetuar a linhagem que cumpriria a promessa do Redentor; eis a importância do nascimento de Sete [hb. Sheth], cujo nome está relacionado ao verbo hebraico que significa ocupar o lugar ou compensar. Ele foi apontado como aquele que assumiu o lugar do justo Abel nos planos de Deus.
Gênesis 4.26 O nascimento de Enos [hb. ‘Enowsh], filho de Sete, significava que a linhagem deste continuaria, bem como que a promessa do Senhor (Gn3.15) não seria esquecida. Então, começou-se a invocar o nome do Senhor. Essas palavras só podem significar que apenas agora as pessoas começaram a orar a Deus. Assim, o verbo invocar [hb. qara’] significa clamar, fazer proclamação em voz alta. Este é o início das pregações e dos testemunhos em nome do Senhor (ver Gn 12.8).
Índice: Gênesis 1 Gênesis 2 Gênesis 3 Gênesis 4 Gênesis 5 Gênesis 6 Gênesis 7 Gênesis 8 Gênesis 9 Gênesis 10 Gênesis 11 Gênesis 12 Gênesis 13 Gênesis 14 Gênesis 15 Gênesis 16 Gênesis 17 Gênesis 18 Gênesis 19 Gênesis 20 Gênesis 21 Gênesis 22 Gênesis 23 Gênesis 24 Gênesis 25 Gênesis 26 Gênesis 27 Gênesis 28 Gênesis 29 Gênesis 30 Gênesis 31 Gênesis 32 Gênesis 33 Gênesis 34 Gênesis 35 Gênesis 36 Gênesis 37 Gênesis 38 Gênesis 39 Gênesis 40 Gênesis 41 Gênesis 42 Gênesis 43 Gênesis 44 Gênesis 45 Gênesis 46 Gênesis 47 Gênesis 48 Gênesis 49 Gênesis 50