Significado de 2 Pedro 1

Significado de 2 Pedro 1


1.1 — Apóstolo. Com esse título, Pedro se identifica como pregador da verdade que Cristo revelou. Nos versículos 1-4, o apóstolo descreve os recursos que seus leitores possuem para crescer na graça e no conhecimento de Jesus. Seu apostolado é o primeiro desses recursos.

Fé igualmente preciosa. Todo aquele que tem fé em Jesus tem acesso direto a Deus. Esse acesso, o segundo recurso citado, foi obtido quando houve a justificação. E a justiça que os cristãos recebem é a imputação da justiça do próprio Cristo. Nosso Deus e Salvador Jesus Cristo. Este “título” de Jesus remete à grande confissão de Pedro em João 6.69: tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.

1.2 — Graça e paz é uma saudação muito comum nas epístolas, unindo em si o modo de saudar grego e o hebraico. Contudo, para Pedro, essa saudação observa a graça e a paz como bênçãos advindas do conhecimento de Deus e de Jesus. O substantivo grego traduzido por conhecimento é a palavra-chave desta carta. Ela descreve um tipo especial de conhecimento; um conhecimento pleno, que obtemos à medida que amadurecemos na fé e experimentamos a graça e paz de Deus em diversas ocasiões ao longo da nossa caminhada cristã.

1.3 — O apóstolo Paulo identificou o divino poder citado aqui como a virtude de Sua ressurreição [de Cristo] (Fp 3.10; 4-13). Esse poder é o terceiro recurso para levar uma vida santa que Pedro lista em sua carta (v. 1). Por sua glória e virtude. Estas palavras falam das qualidades de Jesus que atraem os que nele creem. A glória que João viu em Jesus (2 Pe 1.14) era sua autoridade e Seu poder. A glória que Pedro viu
provavelmente se manifestou na transfiguração (v. 16-18). O poder de Jesus é Sua excelência moral, que continuamente inspirava Seus discípulos.

1.4 — Grandíssimas e preciosas promessas se referem às inúmeras dádivas da provisão divina que se encontram nas Escrituras. A glória e o poder de Cristo nos são oferecidos nessas promessas como a base da nossa crescente participação na natureza divina. Cristo habita em nós pelo Seu Espírito, como Ele nos havia prometido (Jo 14-23), para que sejamos transformados de glória em glória na Sua mesma imagem (2 Co 3.18). Por termos nos tornado novas criaturas em Cristo, já escapamos da corrupção (da ruína moral), que, pela concupiscência, há no mundo (o desejo depravado).

Nós temos de mostrar a todos que não temos parte com este mundo por meio da nossa conduta santa e da renovação da nossa mente (Rm 12.2). Esta conduta e renovação espiritual são o quarto recurso (v. 1,3) que os cristãos podem usar para obter a ajuda de Deus.

1.5 — Acrescentai. Esta palavra tem o mesmo significado de concedida, no versículo 11. Quando adicionamos essas qualidades à nossa fé, temos amplamente concedida a entrada no Reino eterno de Deus.

O verbo epichorego traz consigo uma história fascinante. Na dramaturgia grega, as peças dependiam do esforço do poeta (que escrevia o roteiro), do Estado (que providenciava o teatro) e de patrocinador, chamado de choregos, que bancava as despesas. Este último contribuía com sua  generosidade e, muitas vezes, um alto valor. Na visão de Pedro, Deus escreveu o fascinante roteiro da vida cristã com o sangue de Jesus Cristo; o mundo é o teatro onde essa realidade é representada, e os cristãos devem fazer sua parte, dedicando-se ao máximo para tornar o roteiro uma peça digna de aplausos. Esta exortação dá início a uma passagem (v. 5-11) em que Pedro descreve as responsabilidades que temos por possuirmos os recursos descritos nos versículos 1,3,4.

A marca o início da vida cristã (At 3.16; Rm 3.28; Hb 11.6). Por meio da fé genuína, Deus concede a vida eterna àqueles que estão mortos espiritualmente (Ef 2.1). Virtude é a mesma palavra usada no versículo 3 para se referir ao caráter de Cristo. Nós mesmos não podemos produzir virtude, mas podemos escolher obedecer às orientações cheias de virtude do Espírito Santo, que habita em nós. A ciência (a sabedoria prática) é obtida quando nos dedicamos a aprender a verdade revelada por Deus nas Escrituras e quando a colocamos em prática.

1.6 — Temperança implica dominar suas pró­prias emoções, em vez de ser dominado por elas. Os falsos profetas, cujas ideias Pedro estava expondo, acreditavam que o conhecimento libertava as pessoas da necessidade de controlar suas paixões. Paciência. Aquele que tem domínio próprio dificilmente se sentirá desencorajado ou tentado a desistir. O segredo da paciência é compreender que tudo que acontece está no controle de um Deus amoroso, que tem tudo em Suas mãos.

1.7 — A palavra grega traduzida como piedade era usada antigamente pelos pagãos para descrever uma pessoa religiosa que tinha uma íntima comunhão com os deuses. Pedro usa essa palavra aqui para falar da necessidade que os cristãos têm de estarem sempre na presença de Deus. Já que sabemos que tudo está nas mãos de Deus, isso deve influenciar todas as áreas da nossa vida. Nós temos de viver para Deus, não para nós mesmos. O amor fraternal está intrinsecamente ligado ao amor descrito em 1 João 4.20: se alguém diz: eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso.

Como Jesus ensinou em João 15.12-17, o amor envolve servir um ao outro, compartilhar um com o outro e orar um pelo outro. O amor aqui se refere ao amor de Deus, cuja origem está não em quem é amado, mas naquele que ama. Deus ama porque Ele é amor, e nós devemos amar porque somos de Deus. E esse amor não deve ficar restrito à Igreja, mas fluir por meio dela para alcançar todos, em todos os lugares, buscando sempre o melhor para os outros, por mais que isso tenha um alto custo para nós.

1.8 — Não vos deixarão ociosos nem estéreis. As qualidades encontradas nos versículos 5-7 descrevem um cristão sadio e frutífero. Logo, aquele que quiser ser também deve seguir esse processo passo a passo.

1.9 — Não dar frutos na vida cristã pode resultar em duas coisas: cegueira e esquecimento. Cego é aquele que olha apenas para as coisas terrenas e materiais, o que ele tem em mãos, e não para as realidades espirituais e eternas. Preocupado somente com sua vida aqui, ele se torna cego para as coisas de Deus, esquecendo-se também do maravilhoso sentimento de paz que temos quando nos entregamos a Cristo. 

1.10 — No versículo 10, Pedro exorta seus leitores a estarem cada vez mais firmes na sua vocação e eleição. E claro que uma pessoa não se esquece de que seus pecados foram apagados pela morte expiatória de Cristo, mas a questão aqui é que isso pode não estar muito evidente em sua vida, caso ela não seja exortada a crer sempre nisso. Nós não podemos ter certeza da nossa vocação e eleição se nos esquecermos da purificação dos nossos antigos pecados (v. 9). Por outro lado, se tivermos certeza de que fomos purificados de todos os nossos pecados do passado, é certo que jamais tropeçaremos.

1.11 — Amplamente concedida a entrada no Reino eterno. Pedro aqui faz distinção entre uma porta estreita (que conduz ao Reino eterno) e outra bem larga (que conduz à perdição). A Bíblia nos diz que aquele que for fiel a Deus e der muito fruto enquanto viver aqui será recompensado com grandes privilégios e galardões na glória (Ap 22.12).

1.12 — Não deixarei de exortar-vos sempre. Por três vezes, nos versículos 12-15, Pedro expressa seu desejo de sempre lembrar seus leitores da verdade que outrora já havia compartilhado com eles. E ele seria negligente se não fizesse isso, já que todo cristão não pode esquecer-se da importância de manter-se firme até o fim. É bem provável que Pedro estivesse pensando na sua própria inconstância, algo que o levou a negar seu Senhor três vezes, mesmo quando ele tinha convicção de que jamais faria isso.

1.13,14 — Pedro estava ciente de que restava pouco tempo de vida. Paulo também via seu corpo como um tabernáculo, uma residência temporária (2 Co 5.1). Jesus dissera a Pedro que este, em sua velhice, seria preso e levado à morte (Jo 21.13,19). Como agora lhe restava pouco tempo de vida, Pedro encoraja seus leitores a aproveitar cada oportunidade para demonstrar o amor de Jesus enquanto pudessem.

1.15 — Procurarei [...] tenhais lembrança destas coisas. Muitos cristãos no passado consideraram essas palavras uma promessa de que Pedro deixaria um testemunho da verdade a seus leitores, talvez o Evangelho de Marcos (o testemunho de Pedro sobre a vida de Jesus). Pedro descreve sua morte como uma viagem ou partida (termo que Paulo usa em 2 Timóteo 4.6).

1.16-21 — Pedro lembra seus leitores de que eles devem ser fiéis porque a segunda vinda de Cristo não é uma fábula. Há três coisas que nos dão certeza de Sua volta: (1) Pedro já tinha testemunhado a magnífica glória de Jesus quando Ele se transfigurou (v. 16-18), o que foi um prenúncio da Sua segunda vinda em glória. (2) O próprio Jesus garantiu que retornaria (Jo 14.18); e (3) A palavra dos profetas do Antigo Testamento também previu a volta de Cristo (v. 19).

1.16 — Os falsos mestres estavam sustentando que a ressurreição e o retorno de Jesus, assim como o Espírito Santo que habita nos cristãos, eram fábulas artificialmente compostas. Pedro refutou o que eles estavam dizendo sobre a fé ao relatar o que ele havia testemunhado. O próprio Pedro vira a majestade de Jesus Cristo, que recebeu de Deus Pai honra e glória (v. 17). Estes são os temas de sua carta: o poder e a glória de Jesus, que nos possibilitam ter uma vida santificada, e a volta dele, que serve de esperança a todo cristão.

1.17,18 — Assim como Tiago e João, Pedro ouviu a voz do Pai durante a transfiguração de Jesus (Mt 17.1-13). Essa voz conferiu honra e glória a Jesus, pois Deus disse [o mesmo que João Batista ouvira após o batismo do Mestre]: este é o meu Filho amado, em quem me comprazo (Mt 17.5). A glória de Jesus fez com que Suas vestes resplandecessem (Mc 9.3). Logo, o testemunho dos apóstolos se dá por meio de três verdades: (1) eles viram o Senhor transfigurado; (2) ouviram a voz do Pai (e a conversa entre Moisés e Elias, embora Pedro não mencione isso aqui); (3) e lembraram-se do evento no monte. Isto confirma que esse evento de fato aconteceu, não sendo uma fábula ou um mito.

1.19 — A frase temos, mui firme, apalavra dos profetas poderia ser parafraseada assim: “Nós temos a palavra dos profetas como uma confirmação segura”. Tão forte quanto o relato de uma testemunha ocular (v. 16-18), existe uma confirmação ainda mais forte no fato de Jesus ser quem Ele mesmo diz ser. Além disso, a Bíblia é muito mais confiável do que a experiência pessoal do apóstolo Pedro. Ela faz brilhar uma luz que alumia um lugar escuro e continuará fazendo isso até que a estrela da alva apareça (Rm 13.12-14). Em outras palavras, as verdades bíblicas continuarão apontando para a Fonte de toda verdade, Jesus Cristo, até que Ele volte em glória.

1.20 — Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Apesar da crença de que esta frase signifique que nenhum cristão tem o direito de interpretar a profecia por si mesmo, seu contexto e a palavra grega traduzida como interpretação também pode significar origem. No contexto do versículo 21, fica claro que Pedro estava falando da origem das Escrituras, que está no próprio Deus, e não do direito que alguém tem de interpretá-las.

Nenhum homem tem o direito autoral da Bíblia; não foram os profetas que trouxeram solução ou explicação sobre os mistérios da vida. Ao contrário, foi Deus que falou por meio deles. O Senhor é o único responsável pelo que está escrito nas Escrituras. E por isso que os cristãos devem estudar a Bíblia com afinco. Ela é a Palavra de Deus.

1.21 — A profecia nunca foi produzida pela vontade de homem algum. Nenhum mortal pode dizer que seus pensamentos são como os pensamentos de Deus. Pelo contrário, é Deus que escolhe homens santos para serem Seus porta-vozes, homens que dizem o que receberam por inspiração do Espírito Santo. As palavras produzida e inspirados nos dão uma ideia de um navio içando as velas e indo a favor do vento. Isso pode ser uma lembrança que Pedro teve das palavras que Jesus disse a Nicodemos em João 3.8.