Significado de Atos 28

Atos 28

Atos 28 é o capítulo final do Livro de Atos e descreve o fim da viagem de Paulo a Roma. Depois de sobreviver ao naufrágio na ilha de Malta, Paulo e seus companheiros são acolhidos pelo povo local e podem seguir viagem para Roma.

Ao chegar a Roma, Paulo é colocado em prisão domiciliar, mas pode receber visitas e pregar o evangelho. Ele se encontra com os líderes judeus em Roma, explica a eles os motivos de sua prisão e compartilha a mensagem de Jesus Cristo com eles. Embora alguns rejeitem sua mensagem, outros são receptivos e acreditam.

O capítulo termina com Paulo continuando a pregar e ensinar, sem nenhuma indicação do que aconteceu com ele depois disso. No entanto, o livro de Atos termina com um sentimento de esperança e inspiração, à medida que a mensagem do evangelho se espalha por todo o Império Romano.

Atos 28 fornece uma conclusão adequada para o Livro de Atos, destacando a perseverança e a fidelidade de Paulo e o poder da mensagem do evangelho para transformar vidas e sociedades. O capítulo também serve como um lembrete do trabalho contínuo de espalhar a mensagem de Cristo a todas as nações e da importância de permanecer firme diante da oposição e da adversidade.

I. Hebraísmos e o Texto Grego

Em Atos 28, a superfície koiné deixa ver um veio semita contínuo no modo de narrar, na sintaxe forense e sobretudo nas escolhas lexicais. A perícope romana abre com o giro lucano egeneto de ao relatar a convocação dos líderes judeus em Roma — egeneto de meta hēmeras treis —, construção recorrente que espelha o hebraico narrativo wayehî (“e aconteceu”), e que aqui serve de dobradiça para a defesa de Paulo “contra o povo e os ethē patrícios” (Atos 28:17). Além de marcar o ritmo com um calque semítico, o verso traz duas marcas hebraicas: a referência aos “costumes paternos”, que a Septuaginta costuma verter por nomima/ethē quando fala do uso tradicional (cf. Jeremias 10:3: “ta nomima tōn ethnōn são vaidade”), e a fórmula jurídica “fui entregue às mãos” — paredothēn eis tas cheiras tōn Rhōmaiōn — que reproduz o idiomatismo hebraico nātan be-yād (dar/entregar na mão), onipresente nas narrativas judiciais de Israel (por exemplo, Juízes 2:14).

O âmago da autodefesa de Paulo se densifica com uma autoidentificação e um título moldados pela Escritura: ele é réu “por causa da elpis tou Israēl” e traz “esta corrente” por essa esperança (Atos 28:20). A expressão dialoga diretamente com Jeremias, que chama o Senhor de “miqweh Yisraʾel”, “Esperança de Israel” (Jeremias 14:8; Jeremias 17:13). Lucas, portanto, verte ao grego a autoconsciência profética: a elpis pela qual Paulo está acorrentado é a mesma “Esperança de Israel” nomeada pelos profetas.

No encontro programado, a fraseologia de ensino também soa em hebraico. Paulo “exetitheto e diamartyromenos a basileia tou theou, persuadindo ‘a respeito de Jesus’ apo tou nomou Mōuseōs kai tōn prophētōn, apo prōias heōs hesperas” (Atos 28:23). O encadeamento “Lei e Profetas” retoma a bipartição canônica judaica, e o par temporal “da manhã até a tarde” funciona como merismo de dedicação contínua que lembra a leitura pública da Torá “desde o amanhecer até o meio-dia” em Neemias 8:3. Mesmo o verbo diamartyromai — “testemunhar solenemente” — é termo jurídico-profético consagrado na LXX, por exemplo em Deuteronômio 30:19 (“diamarturomai hoje...”, ao chamar céu e terra por testemunhas). No conjunto, o período grego encena um dia “hebraico” de ensino: Torá e Profetas, testemunho solene, jornada inteira dedicada à Palavra.

O fecho do colóquio se dá com uma citação extensiva de Isaías 6:9–10, exatamente na forma da Septuaginta: akouē akousete kai ou mē synēte; blepontes blepsete kai ou mē idēte... epachynthē hē kardia tou laou toutou... kai epistrepsōntai kai iasomai autous (Atos 28:26–27). O vocabulário e a sintaxe do oráculo — akouē/akouō, blepō, epachynō, epistrephō, iaomai — são os mesmos da LXX (Isaías 6:9–10), e a escolha de epistrephō para “voltar” carrega a teologia de šûv (retorno pactual) do hebraico. Ao encerrar a audiência com essa peça profética, Lucas põe o grego do tribunal a falar com a cadência exata do profeta.

Da mesma forma, a proclamação final — “gnōston oun estō hymin hoti tois ethnesin apestalē touto to sōtērion tou theou, autoi kai akousontai” (Atos 28:28) — reativa dois fios veterotestamentários. Por um lado, o envio do sōtērion “às nações” ecoa Isaías 52:10 (“todos os confins da terra verão o sōtērion do nosso Deus”) e os cânticos do Servo: “luz para as nações... para que sejas a minha sōtēria até os confins da terra” (Isaías 49:6). Por outro, o próprio paralelismo “povo // nações” que permeia o capítulo remete ao binômio profético de destino e missão. O léxico soteriológico e missionário de Isaías, consolidado na LXX, é assim reinscrito em koiné para fechar o livro.

A colagem semítica prossegue no epílogo. Paulo “permanece dois anos inteiros em idio misthōmati... anunciando a basileia tou theou e ensinando ‘com toda parrēsia e akōlytōs’” (Atos 28:30–31). O título basileia tou theou é o equivalente grego da realeza divina bíblica, como canta o salmo: “o teu reino (basileia) é reino de todos os séculos” (Salmos 145:11–13 LXX). A pregação final, portanto, retoma a doxologia régia de Israel e a verte em dicção lucana.

Assim, ainda no coração do império, Atos 28 fala grego com mente hebraica: o egeneto de de abertura replica o wayehî narrativo; “entregar às mãos” traz de volta o nātan be-yād; os “costumes paternos” ecoam os nomima/ethē da tradição; a “Esperança de Israel” de Jeremias reaparece como elpis tou Israēl; o dia inteiro “da manhã à tarde” lembra a maratona de leitura de Neemias; a diamartyria sela um testemunho à maneira da Torá; Isaías 6 é citado no grego da LXX; e o sōtērion enviado “às nações” cumpre Isaías 49 e Isaías 52. Em cada passo, fraseologia, sintaxe e léxico deixam a marca semita visível no tecido da koiné lucana.

II. Comentário de Atos 28

Atos 28:1 Malta fazia parte da província romana da Cicília e ficava cerca de 100 km ao sul dessa ilha, próxima à ponta da Itália.

Atos 28:2 Bárbaros. Todo aquele que falava outro dialeto, e não o grego, a língua das pessoas ditas civilizadas.

Atos 28:3, 4 A justiça não o deixa viver. Justiça aqui pode ser o nome de uma deusa. Em todo o caso, os malteses acreditavam que havia uma lei moral que regia o universo.

Atos 28:5-8 Enfermo de febres. E bem provável que essa febre fosse algo comum em Malta, Gibraltar e outras ilhas do Mediterrâneo. Um microorganismo foi encontrado no leite das cabras maltesas. A febre geralmente durava quatro meses, mas às vezes podia durar até dois ou três anos.

Atos 28:9-11 Este navio de Alexandria tinha uma insígnia dos filhos de Zeus chamados Castor e Pólux, figuras mitológicas reverenciadas pelos marinheiros como protetores dos mares.

Atos 28:12-15 Alguns cristãos de Roma viajaram cerca de 50 km ao sul, a um lugar chamado Três Vendas, para se encontrarem com Paulo. Outros viajaram cerca de 16 km mais ao sul para encontrá-lo na Praça de Ápio. Três anos antes, em sua carta aos cristãos em Roma, Paulo expressa seu grande desejo de vê-los algum dia (Rm 15.24) Esse dia havia chegado.

Atos 28:16 Já que Paulo não havia sido acusado de um crime violento e não era considerado uma ameaça política, se lhe permitiu morar por sua conta, em prisão domiciliar. Isso significa que ele podia receber seus amigos e ministrar para grupos como os judeus romanos e gentios.

Atos 28:17 Os principais dos judeus. Nessa época, o decreto do imperador Cláudio (At 18.2) havia sido revogado e os judeus puderam voltar a Roma.

Atos 28:18-22 Os líderes judeus não tinham recebido nenhuma carta da Judéia falando sobre Paulo. E bem que provável que Paulo tenha embarcado no primeiro navio para Itália depois que apelou para César. Ou os adversários de Paulo tenham desistido de atacá-lo, pois já tinham fracassado junto a Félix, Festo e Agripa. A terceira razão pode ter sido que os judeus, de volta a Roma há pouco tempo, depois da expulsão de Cláudio, quisessem evitar problemas.

Atos 28:23-25 Alguns criam [...] mas outros não criam. Essas reações contrárias foram testemunhadas por Jesus e por todo evangelista depois dele.

Atos 28:26, 27 De ouvido, ouvireis e de maneira nenhuma entendereis; e, vendo, vereis e de maneira nenhuma percebereis. Essa citação (Is 6.9, 10) foi feita cinco vezes no Antigo Testamento para explicar a rejeição da verdade do evangelho.

Atos 28:28-30 Dois anos inteiros. Durante esse período, Paulo pôde ministrar a todos que vinham à casa que ele alugara. Foi nesses anos também que ele escreveu quatro quartas do Novo Testamento (Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom).

Atos 28:31 Pregando o Reino de Deus e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum. Lucas não revela o que foi feito em relação ao caso de Paulo. Ao que parece, nada havia sido decidido ainda quando ele acabou de escrever o livro de Atos. Entretanto, há boas razões para crermos que Paulo foi libertado, já que, até aquele momento, ele havia sido considerado inocente por todos os oficiais romanos.

A tradição diz que Paulo foi à Espanha realmente como ele desejava (Rm 15.24). Em suas cartas da prisão, Paulo expressa seu desejo de ser liberto (Fm 22) e sua confiança de que, de fato, seria (Fp 1.25). As epístolas pastorais de Paulo contêm artigos que não se encaixam no livro de Atos, o que sugere que foram escritos depois. Por exemplo, Tito 1.5 sugere que Paulo pregou na ilha de Creta, algo que não está registrado no livro de Atos. É bem provável que Paulo tenha reassumido suas viagens missionárias por mais dois anos antes de ser preso novamente, julgado, condenado e executado como mártir entre 64-67 d. C.

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