Eclesiastes 4: Significado, Teologia e Exegese

Eclesiastes 4

Eclesiastes 4 aprofunda o tom sombrio da reflexão do Qohelet ao confrontar o problema do sofrimento social, da opressão e da solidão humana. Trata-se de um dos capítulos mais densos em crítica social do livro, oferecendo uma análise amarga, mas realista, das relações humanas sob a ótica da vaidade e da injustiça. A estrutura do capítulo é fragmentária em sua aparência, mas unificada em seu tema: a miséria da existência humana em um mundo onde as estruturas sociais, os afetos e o trabalho estão marcados pelo heḇel — a vaidade, o vazio, o vapor.

O capítulo pode ser dividido em quatro unidades temáticas:

A opressão dos fracos (vv. 1–3): o Pregador contempla os oprimidos e declara que os mortos são mais felizes do que os vivos — e mais ainda aquele que nunca nasceu. É uma meditação profundamente angustiada sobre a ausência de consolo (ʿēn lām nōḥēm) para os que sofrem.

A rivalidade no trabalho (vv. 4–6): o esforço humano (ʿāmāl) é movido, segundo o autor, não pela virtude ou criatividade, mas pela inveja (qin’at ’îš mēre‘ēhû), tornando o trabalho também vaidade.

A solidão do rico trabalhador (vv. 7–12): aqui temos o famoso retrato do homem solitário que trabalha sem ninguém a quem transmitir o fruto do seu labor. Em contraste, o texto exalta o valor da companhia e da solidariedade: “Melhor é serem dois do que um”.

A vaidade do poder (vv. 13–16): o capítulo conclui com uma parábola enigmática sobre um jovem pobre e sábio que substitui um rei velho e insensato, mas cuja popularidade também logo desaparece. A glória política é efêmera.

Gramaticalmente, o capítulo segue o estilo direto e observacional típico do hebraico sapiencial. O uso do verbo ra’îtî (“eu vi”) no perfeito marca a introdução de cada meditação (vv. 1, 4, 7, 15), sugerindo que essas reflexões são baseadas na observação empírica. A palavra heḇel (“vaidade”) aparece quatro vezes no capítulo (vv. 4, 7, 8, 16), funcionando como a etiqueta teológica que o autor cola sobre cada fenômeno social analisado. O uso do particípio ʿōšqîm (“os que oprimem”) reforça o caráter estrutural e contínuo da violência: não é um evento isolado, mas uma condição perene.

A palavra-chave do capítulo é ʿōšeq (עֹשֶׁק, “opressão”), que aparece no versículo 1:

“Eis que vi todas as opressões que se fazem debaixo do sol, e vi as lágrimas dos oprimidos, que não têm consolador...”

Este versículo é o eixo emocional e teológico do capítulo: a constatação de que, em um mundo desordenado, a injustiça permanece sem resposta visível. A ausência de nōḥēm (“consolador”) será, mais tarde, redimida apenas na figura escatológica do Messias, que o Novo Testamento identifica com Jesus, o “Consolador enviado por Deus” (cf. João 14:16; Lucas 4:18).

A intertextualidade com o Antigo Testamento é rica. A denúncia da opressão ecoa as advertências dos profetas: Isaías 5:7 denuncia “injustiça no lugar de justiça”; Amós 4:1 fala das “vacas de Basã... que oprimem os pobres e esmagam os necessitados”. A constatação de que “melhor é o que nunca nasceu” (v. 3) remete a Jó 3:11 e Jeremias 20:14–18, que expressam o mesmo desespero diante de uma realidade insuportável. Já o elogio à amizade e à solidariedade (vv. 9–12) lembra Provérbios 17:17 — “o amigo ama em todo tempo” — e 27:17 — “assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o rosto do seu amigo”.

No Novo Testamento, Eclesiastes 4 encontra eco direto em vários ensinamentos de Jesus. A bem-aventurança dos que choram e são perseguidos (Mateus 5:4,10) é uma resposta à aflição dos oprimidos em Eclesiastes 4:1. A crítica à rivalidade e à vanglória no trabalho (v. 4) antecipa a exortação paulina de Filipenses 2:3 — “nada façais por partidarismo ou vanglória”. A reflexão sobre o valor da comunhão (vv. 9–12) antecipa o ideal eclesiológico do Corpo de Cristo, em que “se um membro sofre, todos sofrem” (1 Coríntios 12:26). O clímax do capítulo, a respeito do jovem sábio e do velho tolo (v. 13), pode ser lido à luz da inversão de valores promovida por Jesus: “os últimos serão os primeiros” (Mateus 19:30).

O versículo que melhor encapsula a essência do capítulo é o versículo 1:

“Tornei a considerar todas as opressões que se fazem debaixo do sol, e eis que vi as lágrimas dos que foram oprimidos, e não tinham consolador; e do lado dos seus opressores estava a força, mas eles não tinham consolador.”

Trata-se de uma constatação comovente e profética. Ela resume a angústia de um mundo onde o poder está nas mãos de quem oprime e onde a compaixão está ausente — um mundo, portanto, que aguarda redenção. A repetição de ʿên lām nōḥēm (“não tinham consolador”) intensifica a dor da condição humana sem esperança.

A lição geral de Eclesiastes 4 é que, em um mundo marcado pela injustiça, competição e isolamento, o trabalho perde seu valor, o poder se dissolve em vaidade, e a existência parece absurda. No entanto, o capítulo oferece um raio de esperança nas imagens da solidariedade e da companhia humana: “melhor é serem dois do que um”. O livro não oferece respostas fáceis, mas conduz o leitor a uma consciência mais profunda da necessidade de redenção — uma redenção que só pode vir daquele que “não esmagará a cana quebrada” (Isaías 42:3) e que prometeu consolar todos os que choram. Assim, Eclesiastes 4 nos prepara para a revelação do verdadeiro Consolador: não um sistema político, não uma filosofia de vida, mas uma Pessoa.

📖 Comentário de Eclesiastes 4

Eclesiastes 4:1-3 A partir deste capítulo é tudo sobre a convivência das pessoas, enquanto os capítulos anteriores se concentram mais nas experiências pessoais das pessoas. A porção de Eclesiastes 4:1-10:20 se assemelha ao livro de Provérbios com provérbios regulares ou seções sobre diferentes aspectos da vida. Eclesiastes 4 trata de vários relacionamentos nos quais uma pessoa se posiciona, forçada ou voluntariamente, ou dos quais uma pessoa se abstém conscientemente.

O assunto de Eclesiastes 4:1 relaciona-se com Eclesiastes 3:16 (Ec 3:16). O Pregador olha “novamente para todas as opressões que se faziam debaixo do sol”, às quais agora acrescenta um aspecto. Não só há muita injustiça, mas também muita tristeza por causa de tanta injustiça. Além disso, não há melhora a ser feita ou esperada nessa situação. Isso também gera frustração, um sentimento de total impotência. Se você pudesse se parabenizar por ter conseguido libertar pelo menos uma pessoa das mãos de seus opressores, ainda existem inúmeras situações em que isso não é possível. O poder sempre está com os opressores. O poder é um terreno fértil para a opressão. O poder corrompe. Este parece ser o caso quando os reformadores assumem o poder. Eles se transformam em tiranos.

A exploração também ocorre no mundo dos negócios. Em todo o mundo, inúmeras pessoas pobres, crianças e desamparados trabalham de manhã cedo até tarde da noite nas fábricas por uma ninharia e em condições desumanas. Eles precisam, caso contrário, eles não têm nada. Às vezes uma fábrica é descoberta e pessoas são libertadas, mas quantos ainda estão onde isso acontece? E as famílias em que o pai se enfurece como um tirano e ninguém tem coragem de contar nada aos outros, de modo que nenhum consolo pode ser buscado? Pense nos refugiados que são caçados por grupos terroristas. Quantas lágrimas foram e estão sendo derramadas em todas essas condições.

Esse é o mundo em que vivemos. O Pregador dá um relato de testemunha ocular de um tipo de injustiça que domina a vida como um todo. Ele o vê em seus dias e quem olha com os olhos do Pregador vê a mesma coisa hoje. Essa iniquidade não é carregada estoicamente, mas faz com que as lágrimas fluam (Sl 119:136; Jo 11:35; Atos 8:2). Normalmente, as lágrimas despertam pena e conforto, mas não é o caso dos opressores. Eles carecem de qualquer senso de humanidade e misericórdia.

O Pregador fala duas vezes sobre a falta de consoladores. A ausência de consoladores aumenta muito o sofrimento. Você está completamente entregue a si mesmo e dependente de si mesmo. Não há ninguém que cuide de você, ninguém que se importe com você (Sl 142:4). O Senhor Jesus reclama: “E procurei simpatia, mas não houve, e consoladores, mas não encontrei” (Salmos 69:20).

Os mortos estão melhor do que os vivos (Ec 4:2). Isso é dito sem pensar na vida após a morte, mas apenas de uma perspectiva terrena. Os mortos não têm mais nada a ver com os opressores (Jó 3:17-18). Os vivos são os oprimidos. Para eles, parece sombrio. Eles estão sem esperança e sem conforto.

A mágoa perversa, muitas vezes como resultado da decepção com o gozo como objetivo de vida (hedonismo), leva ao desejo de cometer suicídio. A ideia é que tudo acaba com a morte. No entanto, o homem não é uma besta. Uma besta deixa de existir quando morre. Uma vez que um humano tenha nascido, não haverá nenhuma situação de ‘não estar mais lá’. Ele existirá para sempre, seja no inferno ou no céu, dependendo da fé no Salvador Jesus Cristo. Aquele que O conhece pode dizer: “Este é o meu consolo na minha aflição: Que a tua palavra me vivificou” (Sl 119:50).

As crianças natimortas e abortadas estão em melhor situação do que aquelas que experimentaram qualquer coisa da vida sob o sol (Ec 4:3). Eles não conhecem a má atividade dos opressores, nem a dor dos oprimidos. Esse tipo de desejo de ser como eles pode surgir ao ver a grande miséria em que os homens se encontram. No caso do crente, ver esta miséria desperta ao mesmo tempo o desejo de estar com Deus.

A injustiça que vemos nos fará abominar o mundo e que Deus nos atrairá para Si. Desta forma, Deus pode tornar-se para nós o que Ele realmente é: o lugar de descanso para os nossos corações. Com Ele não vemos injustiça, pois com Ele “não há injustiça, nem parcialidade, nem aceitação de suborno” (2Cr 19:7), e com Ele, em Sua presença, não temos medo da injustiça que percebemos em todos os lugares.Eclesiastes 4.4 Trazem ao homem a inveja do seu próximo. Aos três obstáculos anteriores a aceitação de que o plano de Deus abrange tudo e acrescentado um quarto: a inveja e a concorrência cruel que há no mundo.

Eclesiastes 4.1 Neste texto aparece uma queixa que ameaça o plano de Deus. O oprimindo pode estar sentindo tanta dor que talvez isso o faça perder a esperança na vida (1 Rs 19.4; Jo 3.3-10). Somente quando os oprimidos se renderem a Deus terão perspectivas de uma recuperação (Ec 5.1-6; Sl 73.17) Visto que não tem consolador, a falta de qualquer pessoa que ofereça conforto só aumenta o sofrimento e a frustração.

Eclesiastes 4.3 Aquele que ainda não é. O sofrimento dos oprimidos á tão injusto e solitário que Salomão, com grande emprego de licença poética (semelhante a Jó 3.3-10), argumenta que não existir pode ser melhor do que existir.

Eclesiastes 4:4-6 Uma forma especial de opressão ou injustiça que o Pregador viu ao observar as pessoas e o que elas fazem é rivalidade ou ciúme (Ec 4:4). O duplo uso da palavra “cada” indica que qualquer tipo de trabalho e habilidade está envolvido. A questão é que o trabalho e a habilidade são muitas vezes o resultado do desejo de dominar os outros. Vivemos constantemente em um estado de competição.

Já foi dito que nove em cada dez trabalhadores de escritório sofrem de ‘rivalidade profissional’ de colegas que, a seu ver, brilham mais ou são mais bem pagos do que eles. Isso leva muitas pessoas a subir a escada do sucesso: elas querem superar os outros. Muitos querem ter mais sucesso do que seus colegas, vizinhos ou amigos. Querem ser vistos e reconhecidos, serem admirados com a admiração que os outros recebem e com o que invejam. A rivalidade é uma grande força no homem.

As pessoas invejosas são reprimidas por seus próprios sentimentos e motivações erradas, porque elas as controlam. O trabalho árduo e os objetivos elevados muitas vezes decorrem do desejo de ser o melhor, de não ser inferior aos outros. Rivalidade e competição levam a grandes esforços e ódio mútuo. Vemos isso nos esportes, na política, nos negócios e também acontece na igreja de Deus.

Quem se sentir um perdedor descobrirá em seu coração esse tipo de ciúme de que fala aqui o Pregador. Ele é oprimido pela rivalidade, a rivalidade o controla. Em vez de libertar-se dela contentando-se, deixa-se dominar por ela. Esse ciúme é um terreno fértil para amargura e ressentimento. O único resultado que alguém pode colher de seu trabalho e da habilidade que demonstra é que os outros o invejam por isso.

A homenagem que recebe por sua atuação costuma ser ciúme disfarçado. Qual a utilidade disso para ele? Por um momento, ele está no centro das atenções, mas as pessoas se cansam de todo o seu esforço, são “vaidades”. Qual é o resultado líquido de seu desempenho? Nada mais do que o “esforço para alcançar o vento” traz. Ele não guarda nada disso nem tem nada que lhe dê paz interior e satisfação.

Veja os Jogos Olímpicos, por exemplo. As pessoas são adoradas por ganhar uma medalha. Mas quanto tempo dura essa admiração? E a honra que se ganha é sempre às custas de outra pessoa que foi um centésimo de segundo mais lenta. As pessoas que treinaram por tanto tempo e com a mesma intensidade, mas faltam apenas um pouco para ganhar uma medalha, podem voltar para casa com um ‘voo de perdedor’. Os vencedores podem pegar um ‘vôo do vencedor’ para casa e serão elogiados na chegada ao aeroporto e posteriormente em sua cidade natal. É difícil!

Ec 4:5 é o oposto de Ec 4:4, embora haja também uma clara semelhança. O tolo não quer ter nada a ver com essa competição fanática e se caracteriza por total indiferença. Ele cruza as mãos, não para orar, mas para deixar claro que não pretende usá-las (Pv 6:9-10; Pv 24:33). Sua preguiça é tão errada quanto a pressa do fanático.

Um tolo preguiçoso consome não apenas o que possui, mas também o que é. Ele comete ‘auto-canibalismo’. Ele perde o controle sobre a realidade e sua capacidade de se sustentar. Esta última é a semelhança com alguém consumido pela rivalidade, pois tal pessoa também perdeu o controle sobre a realidade.

Em contraste com os dois caminhos errados anteriores – ser movido pela inveja e pela preguiça – Ec 4:6 dá a única boa alternativa: Não se deixe levar pela pressa. Uma agenda lotada pode impressionar, mas também te destrói. Você se antecipa, tem um ataque cardíaco e morre. Também não seja preguiçoso, porque assim você não ganhará a vida e morrerá também. Tem que haver equilíbrio na vida de uma pessoa.

Esse equilíbrio está presente em pessoas que, assim como o Pregador, encaram a vida com sobriedade. Quem se contenta com “uma mão cheia de descanso” não entra na luta para ser o melhor nem na passividade total. Todo mundo só precisa de um pouco de descanso e recreação na hora certa. Isso é mais útil do que apenas trabalho duro ininterrupto. Uma mão cheia de descanso expressa dois pensamentos: o dos desejos modestos e o da paz interior.

Essa atitude está tão distante do tolo com sua preguiça egoísta quanto do perfeccionista que sempre busca o melhor e o mais elevado. Quão tolo é ter “os dois punhos cheios de trabalho”, pois a busca por resultados é o mesmo que “esforçar-se atrás do vento”: você não pode segurar nada disso.

Eclesiastes 4.5, 6 Estes versículos consistem em dois adágios. Há numerosas declarações no livro de Provérbios sobre a natureza autodestrutiva da preguiça, típica do tolo. Além de condenar aquele que não trabalha, o autor adverte que mais vale uma mão cheia com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho e aflição de espírito. Deve-se, pois, preferir a moderação ao esforço excessivo. Em lugar da competição às vezes cruel do mercado, Salomão recomendava: melhor é o pouco com justiça do que a abundância de colheita com injustiça (Pv 16.8).

Eclesiastes 4:7-12 O Pregador viu outra coisa debaixo do sol que é vaidade (Ec 4:7). É que existem tantas pessoas solitárias na terra que trabalham duro e ganham muito, mas não têm com quem compartilhar suas vidas e posses (Ec 4:8). Ele descreve o vazio da solidão e, portanto, a inutilidade de tudo o que se obtém com o trabalho árduo.

O egoísta solitário é pior do que o empreendedor e o preguiçoso de Ec 4:4-5. Vemos aqui um amante compulsivo do dinheiro, alguém cujos olhos não se satisfazem com riquezas. Ele anda com o cifrão nos olhos, só vê dinheiro e, portanto, é ‘desumanizado’. Ele não tem família, não quer ter nenhum relacionamento e amizades que menos deseja. Ele está sempre trabalhando, sem nenhum momento de prazer e gozo do que ganhou. Ele sempre quer mais, mas nunca compartilhará nada com mais ninguém.

Ele tem uma grande empresa, mas sem possíveis seguidores. Ele tem comida em abundância, mas ninguém com quem compartilhar suas refeições. Ele também não quer isso, porque custa tempo e dinheiro. Não há lugar para uma “segunda pessoa” em sua vida. Há apenas uma ‘primeira pessoa’, que é ao mesmo tempo a ‘única’, porque não há uma segunda. O primeiro e único é ele mesmo.

Se ele tivesse uma esposa ou filhos, dificilmente teria tempo para eles. Talvez ele pense que está trabalhando duro para eles, mas na realidade ele vive para o seu negócio e com isso é casado. Seus olhos estão focados em sua riqueza. E como seus olhos não se satisfazem com riquezas, ele apenas segue em frente. Não há fim para o seu árduo trabalho (Ec 5:10).

Ele tem mais do que jamais pode compensar por si mesmo, mas para quem ele faz isso? Ele se priva de qualquer prazer, mas por quê? Caminhar na solidão é de fato “vaidade” e “uma tarefa penosa”. Paz e descanso são sacrificados por seus desejos. Ele trabalha sem parar. Ele não pensa em Deus. Ele é rico, mas não em Deus. Se seu coração parar de bater, para quem será tudo pelo qual ele trabalhou tão incessantemente (Lucas 12:18-21; Lucas 16:25)? Alguém descreveu o dinheiro como ‘um artigo que pode ser usado como um passaporte universal para ir a qualquer lugar, exceto para o céu, e como uma provisão universal para tudo, exceto para a felicidade’.

Eu li em um comentário uma descrição atual do trabalhador solitário e árduo que o Pregador nos apresenta aqui:

‘Este homem acredita no valor do trabalho árduo e encontra satisfação nisso. Ele provavelmente é casado e tem pelo menos três filhos cuja foto ele carrega na carteira. Ele ama sua esposa e pensa nela com mais frequência do que ela imagina. Certamente, ele faz longos dias; muitas vezes sai de casa antes das seis da manhã e só volta depois das sete da noite. A pressão de seu trabalho é tão grande que ele leva uma ou duas horas para descansar, de modo que não pode passar muito tempo conversando. Está tão cansado que só consegue ler o jornal e ver um pouco de televisão, depois do que vai para a cama cansado.

A pressão dele está muito alta, ele sabe que precisa se mexer mais. Sua dieta não é muito boa e às vezes ele fica irritado e rosna para a família, do que mais tarde se arrepende. É verdade que ele trabalha setenta horas por semana, mas não se considera um workaholic. Ele simplesmente ama seu trabalho e é bom nisso. E, felizmente, pode levar para casa um belo salário e proporcionar coisas boas para sua família.

Um dia ele planeja desacelerar, porque não está indo bem…, mas ainda não hoje. Ele sai de casa antes que sua família saiba que ele se foi. Uma noite ele chega em casa e sua família não está lá. Enquanto ele trabalhava, os filhos cresceram, a esposa voltou para a universidade e começou a carreira, os filhos se mudaram e agora a casa está vazia. Ele não pode acreditar. O Conselho de Administração acaba de nomeá-lo diretor e agora não há ninguém com quem compartilhar a boa notícia. Ele chegou ao topo... sozinho.

Depois do ‘lobo solitário’, o homem que faz tudo sozinho e vive só para si, o Pregador descreve em Ec 4:9 a vantagem de um companheiro. Esse companheiro pode ser encontrado em todos os tipos de relacionamento e principalmente no relacionamento conjugal. O individualismo, que governa cada vez mais o mundo hoje, cria enormes divisões. A desintegração em grupos já é um desastre, a desintegração de uma sociedade pelo individualismo é de uma dimensão sem precedentes.

A comunhão é uma dádiva do Criador, um benefício, destinado a melhorar a qualidade de vida. Através de um senso de comunidade, o fardo da vida é melhor distribuído e mais suportável. O homem também é feito de tal maneira que precisa dos outros e que os outros precisem dele. Deus disse isso no momento da criação do homem: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18). O homem é um ser social. No entanto, muitas pessoas escolhem a solidão e muitas outras sofrem de solidão. Muita gente, muita solidão. Quem prefere a solidão à amizade sente-se elevado acima da natureza humana ou rebaixou-se abaixo da natureza humana.

A colaboração oferece todos os tipos de vantagens que faltam ao trabalhador solitário. As obrigações de fazer algo juntos não superam os benefícios. O preço é abrir mão da independência. Você tem que ouvir e levar em conta os argumentos da outra pessoa, tem que se adaptar ao seu ritmo e estilo de vida e tem que confiar na sua palavra. O benefício também é compartilhado. Não se trata de um explorar o outro. Certamente não no casamento, porque no casamento vocês querem prestar contas um ao outro e compartilhar tudo um com o outro em absoluta lealdade. Vocês estão sempre lá um para o outro e juntos vocês estão lá para o Senhor.

Há uma recompensa em trabalhar juntos: estar ocupados juntos em um projeto comum e o sucesso que vocês alcançam juntos. Você vai atrás de algo junto, você se compromete com isso, junto com o outro. O que você consegue, vocês compartilham juntos. A satisfação que você encontra nisso não pode ser expressa em termos de dinheiro.

Há outra vantagem em ter um companheiro: ajudar e apoiar um ao outro. Quando um deles cai, o outro pode levantar o outro (Ec 4:10). A ajuda e o apoio do companheiro podem ser vivenciados de forma prática em acidentes no caminho, como tropeçar ou cair em um barranco ou em um poço ou vala (Gn 14:10; Lc 6:39). Alguém que cair nele e estiver sozinho morrerá, mas se houver mais alguém, eles podem ajudá-lo.

Também podemos aplicá-lo a passar por momentos difíceis no sentido espiritual, estar desesperado. A outra pessoa pode ajudá-lo a sair da depressão por encorajá-lo e ajudá-lo a carregar o fardo. Um companheiro não faz acusações, mas dá as costas e ajuda. No casamento, existe o perigo de tropeçar e cair ao tomar decisões erradas ou até mesmo cair em pecado. Quão valioso é, então, ser levantado pela outra pessoa.

Uma terceira vantagem de ter um companheiro é o calor que os companheiros dão uns aos outros durante o frio da noite (Ec 4:11). Trata-se de lidar um com o outro com amor na vida cotidiana. O calor do amor, que não exige, mas dá. O mundo é frio porque não há amor, ou seja, não há amor Divino. Na atmosfera do amor divino, as crianças crescerão espiritualmente saudáveis. Quem está só não conhece o calor ardente do amor fraterno (1Pe 1,22). O resultado é que ele se torna morno em suas afeições e finalmente se torna frio e duro.

Uma quarta vantagem de ter um companheiro é que vocês juntos são mais fortes contra os inimigos (Ec 4:12). Um companheiro fornece segurança e proteção por maioria. Um casamento apertado é difícil de lutar. O mesmo vale para uma igreja local onde as fileiras são fechadas. Eva poderia ser enganada porque estava sozinha (Gn 3:1-6). Se houver divisão interna, o poder se foi e é fácil para o inimigo penetrar.

Dois já são melhores que um, mas quando um terceiro é adicionado, é um reforço total. Uma corda de três fios é mais forte do que uma corda de dois fios. Se aplicarmos isso ao casamento, podemos ver marido, esposa e Deus no cordão de três fios. Tudo indica que é melhor estar com outra pessoa ou com duas outras pessoas do que estar sozinho. No meio de toda a vaidade ainda dá alguma satisfação, ajuda, calor e força à vida. Você está lá para outra pessoa e outra pessoa está lá para você. Desta forma, vocês podem fazer algo da vida juntos.

Eclesiastes 4.7, 8 O problema da tristeza e da solidão é outro obstáculo para aceitar o fato de que o plano de Deus abrange tudo. Pense na pessoa que não tem família, nem mesmo um herdeiro a quem deixar tudo aquilo por que tanto trabalhou. Em Eclesiastes 4.1 não há consolador; em 4.4-6 não há repouso, e em 4.8 não há companhia. Isso se resume a enfadonha ocupação, termo que se refere literalmente a uma tarefa maldosa ou pesada (Ec 3.10).

Eclesiastes 4.9-12 Em toda esta seção são enfatizados os óbvios benefícios da companhia. A intimidade e o compartilhamento da vida aliviam os problemas do isolamento e da solidão. O companheiro pode oferecer assistência, conforto e proteção. A citação proverbial “o cordão de três dobras” é empregada para fechar o argumento do autor sobre o valor das alianças.

Eclesiastes 4:13-16 Nesses versículos também é sobre o relacionamento entre as pessoas, mas especialmente entre um governante e o povo, e sobre a honra que acompanha a posição de governante. Por quem as pessoas querem ser governadas? O Pregador também fez algumas observações sobre este assunto. É melhor, diz ele, ser governado por “um jovem pobre, mas sábio” do que por “um rei velho e insensato” (Ec 4:13). O jovem é melhor porque é sábio. A tolice do velho rei é mostrada pelo fato de que ele “não sabe mais [como] receber instrução”.

Em geral, a sabedoria está com os mais velhos (Jó 12:20), mas não devemos fechar os olhos para o fato de que os jovens às vezes são mais sábios do que os mais velhos (Sl 119:110; Jó 32:4-9). O perigo do velho é tornar-se sábio aos seus próprios olhos (Rm 12,16), tornar-se pedante e obstinado. Um homem que governa há muito tempo corre o risco de viver em um mundo irreal porque não sabe mais o que realmente está acontecendo. Ele se esqueceu de como é ser jovem e enérgico e não dá ouvidos a repreensões. A multidão vai se cansar dele e escolher o rapaz. O fato de o rapaz ser pobre e sábio apenas o torna mais atraente.

O rapaz tinha tudo contra ele, era restrito em sua liberdade de movimentos, não tinha possibilidades de se desenvolver, mas sua sabedoria o ajuda a assumir o trono (Ec 4:14). O novo líder é jovem e dinâmico, eloqüente e inteligente (Ec 4:15). Ele tem carisma. Tudo o que ele foi e o que é faz com que todos o admirem.

A popularidade do novo, jovem e dinâmico rei é enorme (Ec 4:16). Ele é recebido com entusiasmo. Uma imensa multidão o segue. Ele é o vento fresco que todos ansiavam depois de se acostumarem com o cheiro de mofo que pairava sobre o velho rei tolo. O velho não trouxe nenhuma melhora duradoura. A próxima geração tem outras ideias, está entusiasmada com outras propostas, quer ter novos desafios. O rapaz é o símbolo disso. Ele trará o que a nova geração deseja. Ele é autêntico e honesto, é por isso que é elogiado.

No entanto, quando está no governo há algum tempo, começa a apresentar as mesmas características de seu antecessor. As pessoas já viram o suficiente dele. Eles estão fartos dele. Uma nova geração vem, com novos desejos. Sempre foi assim e assim será com esta estrela em ascensão. A certa altura, este – agora ainda – jovem, vai ter de abrir espaço e tem de seguir o caminho do velho rei, porque o povo acabou com ele. Eles são muito inquietos para continuar achando-o interessante. Eles não estão mais felizes com ele. Se ele chegou ao auge de sua fama, é apenas para ficar preso lá. As pessoas precisam de uma nova estrela.

Segundo o Pregador, a popularidade “é vaidade”, e quem se empenha por ela está ocupado em “lutar pelo vento”. Como governante, é impossível ficar para sempre nas boas graças do povo. Uma vez ele certamente cairá de seu pedestal. As pessoas que gostavam tanto dele no início, agora gritam que ele deve ir embora. A popularidade é tão variável quanto o clima. Após o ‘hosana’ geralmente segue o ‘crucifique-o’ ou como é dito: depois do ‘salve-o’ geralmente segue ‘pregue-o’.

Eclesiastes 4.13, 14 Antes de o pregador listar o último obstáculo (v. 14-16) a crença no plano perfeito de Deus, ele formula a resposta em forma de provérbio. A popularidade, mesmo na forma de poder real, e efêmera. Por um lado, um velho rei pode ter nascido para o trono, mas se tornado tão insensato que não consegue discernir que seus dias de governo acabaram. Por outro, um jovem, pode ser sábio e assumir o trono (ver Gn 41.14,37-41).

🙏 Devocional de Eclesiastes 4

Eclesiastes 4 é um convite à reflexão sobre as dinâmicas da vida e do relacionamento humano, oferecendo conselhos valiosos para quem busca uma existência mais plena e alinhada com os princípios divinos. Neste devocional, exploraremos como suas verdades sobre opressão, ambição, solidão e a efemeridade da glória podem nos guiar a ser pessoas mais compassivas, menos egoístas, que valorizam a comunhão e encontram contentamento em Deus, impactando positivamente nossa fé, família, trabalho e o meio social.

Eclesiastes 4:1-3 (A Realidade da Opressão e a Sombra da Injustiça)

O Pregador começa o capítulo observando a opressão que ocorre “debaixo do sol”. Ele vê as lágrimas dos oprimidos e a ausência de consolador, bem como o poder na mão de seus opressores. Essa constatação leva-o a uma conclusão sombria: os mortos são mais felizes que os vivos, e o que nunca existiu é ainda mais feliz, pois não presenciou as obras malignas que se fazem. É uma manifestação de profunda angústia diante da impotência frente à injustiça.

Aplicação Prática: Este bloco nos confronta com a dura realidade da injustiça social, um tema ainda muito presente em nosso tempo. Para um seguidor de Cristo, esta passagem deve despertar um senso de compaixão e um chamado à ação. Em vez de se desesperar, a resposta cristã é ser um consolador e um defensor dos oprimidos, refletindo o amor de Cristo pelos marginalizados.

Dentro do núcleo familiar, um filho pode aprender a reconhecer e a se solidarizar com aqueles que sofrem injustiças, desenvolvendo empatia. Para aqueles na posição de pais, é crucial ensinar os filhos sobre a importância da justiça e da defesa dos fracos, incutindo neles o senso de responsabilidade social desde cedo. Isso pode ser feito através do diálogo sobre notícias, voluntariado ou apoio a causas justas.

No ambiente de trabalho, um profissional consciente se recusará a participar de práticas opressivas ou injustas e, se possível, defenderá colegas que são vítimas de assédio ou exploração. Ele busca promover um ambiente de equidade e respeito. Na comunidade de fé, somos chamados a ser a voz dos que não têm voz, a estender a mão aos que choram e a trabalhar por um mundo mais justo, como instruído em Miqueias 6:8: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e o que o Senhor pede de ti senão que pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andes humildemente com o teu Deus?” Como agentes cívicos, é nosso dever lutar contra a corrupção, a desigualdade e a opressão em todas as suas formas, buscando a transformação social através da participação cívica e do engajamento em políticas públicas que promovam a dignidade humana.

Eclesiastes 4:4-6 (A Vaidade da Ambição e o Valor do Contentamento)

Em seguida, o Pregador observa que muito do esforço e da habilidade humana vêm da inveja que uma pessoa tem da outra. Essa ambição, movida pela competição e pelo desejo de superar o próximo, é descrita como “vaidade e correr atrás do vento”. Ele contrapõe essa corrida incessante com a sabedoria de ter “uma mão cheia de descanso”, que é melhor do que “duas mãos cheias de trabalho e correr atrás do vento”. Há um reconhecimento da inutilidade de uma vida dominada pela ambição desmedida.

Aplicação Prática: Este bloco nos desafia a reavaliar as motivações por trás de nossas ambições e a valorizar o contentamento e o descanso sobre a busca incessante por mais. Para um discípulo de Jesus, a inveja e a cobiça são pecados que nos afastam da humildade e da gratidão. A verdadeira riqueza está em Cristo, não na acumulação de bens ou status.

No convívio familiar, uma criança deve ser ensinada a não se comparar excessivamente com outras e a encontrar alegria nas próprias conquistas, valorizando o que tem. Para aqueles que assumem a parentalidade, é crucial não instigar uma competição doentia nos filhos, mas sim ensiná-los a buscar a excelência sem invejar o sucesso alheio, cultivando a satisfação com o que Deus provê.

No ambiente profissional, o profissional cristão deve buscar a excelência em seu trabalho, mas não por inveja de colegas ou por uma ambição cega. Ele compreende que o descanso e a paz de espírito são mais valiosos do que o acúmulo exaustivo. Ele sabe a importância de uma “mão cheia de descanso” para a saúde física e mental. No corpo de Cristo, a busca por posições ou reconhecimento baseada na inveja é uma armadilha. Somos chamados a servir com humildade, contentes com o lugar que Deus nos deu, como nos lembra Filipenses 4:11: “Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a contentar-me com o que tenho.” Como indivíduos inseridos na sociedade, resistir à cultura do consumismo e da competição desenfreada é um ato de contracultura cristã, buscando uma vida de equilíbrio e contentamento, que prioriza o ser sobre o ter.

Eclesiastes 4:7-12 (A Desgraça da Solidão e a Força da Comunhão)

O Pregador continua sua observação sobre a vaidade, notando a triste condição de um indivíduo solitário, sem filhos ou irmãos, que trabalha incansavelmente sem saber para quem está acumulando. Sua vida é de privação constante, sem alegria em seus bens. Essa solidão o leva a afirmar o valor de “dois são melhores do que um”, pois têm uma boa recompensa pelo seu trabalho, e se um cair, o outro o levanta. Ele conclui que “um cordão de três dobras não se rompe com facilidade”, enfatizando a força e a segurança encontradas na união e na comunhão.

Aplicação Prática: Este bloco ressalta a importância vital da comunhão e do apoio mútuo para a prosperidade e a felicidade humana. Para um seguidor de Jesus, que é parte de um corpo, a solidão é inimiga da fé e do crescimento. A vida cristã é intrinsecamente comunitária, e precisamos uns dos outros para nos levantar e nos fortalecer.

Dentro da dinâmica familiar, um filho deve aprender a valorizar os laços familiares e a ser um apoio para seus irmãos e pais. Para aqueles que exercem a paternidade, é fundamental fomentar a união e a cooperação entre os membros da família, criando um ambiente onde todos se sintam amparados e ninguém se sinta sozinho em suas lutas. Um “cordão de três dobras” na família pode incluir a presença de Deus como o terceiro elo.

No contexto de trabalho, o profissional bem-sucedido não é um lobo solitário, mas alguém que sabe trabalhar em equipe, colaborar e ajudar seus colegas. Ele compreende que a força coletiva é maior do que a individual. Na esfera eclesiástica, esses versículos são um poderoso chamado à comunhão genuína e ao cuidado mútuo. Ninguém deve carregar seus fardos sozinho. A igreja é o lugar onde “se um cair, o outro o levanta” (Gálatas 6:2). Como cidadãos em comunidade, somos lembrados da importância de construir laços de solidariedade, de combater a solidão e o isolamento, e de participar em iniciativas que promovam a coesão social, estendendo a mão ao próximo. A força de uma sociedade está na sua capacidade de apoiar os seus membros, assim como a igreja é um modelo de união em Cristo (Efésios 4:16).

Eclesiastes 4:13-16 (A Inconstância da Popularidade e a Fragilidade da Glória Humana)

O Pregador encerra o capítulo com uma reflexão sobre a vaidade da popularidade e a inconstância da glória terrena. Ele compara um jovem pobre e sábio que ascende ao trono com um rei velho e tolo que não aceita mais conselhos. A ascensão do jovem é rápida, e muitos o seguem e se alegram em seu reinado. No entanto, o Pregador observa que as gerações futuras também não se satisfarão com ele. A popularidade é efêmera, e a glória humana, mesmo a mais grandiosa, é fugaz e se esvai com o tempo.

Aplicação Prática: Este bloco serve como um lembrete crucial da inconstância da aprovação humana e da futilidade de buscar a glória pessoal acima de tudo. Para um seguidor de Cristo, a advertência é clara: não devemos depositar nossa esperança ou nossa identidade na popularidade, no reconhecimento ou no poder terrenos, que são passageiros. Nossa glória e segurança estão em Deus.

No círculo familiar, um filho pode aprender a não buscar a aprovação de seus amigos a qualquer custo, mas a desenvolver um caráter íntegro que independa da popularidade. Para aqueles que assumem a paternidade, é vital ensinar os filhos sobre a efemeridade da fama e da riqueza, direcionando-os a buscar valores eternos e a satisfação em servir a Deus, em vez de perseguir um reconhecimento que se desvanece.

No ambiente de trabalho, o profissional sábio não se deixará levar pela busca incessante de promoções ou aplausos, compreendendo que a verdadeira satisfação vem do trabalho bem-feito e da contribuição genuína, não da fama que pode ser passageira. Na comunidade de fé, líderes e membros devem estar cientes de que a popularidade na igreja é volátil. O verdadeiro serviço a Deus é feito por amor e fé, não para a glória pessoal, pois “é necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). Como cidadãos atentos, este trecho nos convida a não idolatrar figuras políticas ou celebridades, e a reconhecer que a mudança e a insatisfação são parte da natureza humana. Devemos focar em construir um legado de impacto real e duradouro, baseado em princípios eternos, e não na aprovação momentânea das massas.

✡️✝️ Comentários de Rabinos e Pais Apostólicos

✡️ Talmude

O Talmud Bavli, Sanhedrin 20b conecta Eclesiastes 4:1 (“Vi todas as opressões que se fazem debaixo do sol; e eis as lágrimas dos oprimidos, e não há quem os console...”) com a condição de injustiça social. Os rabinos interpretam que esse versículo denuncia não apenas a crueldade dos poderosos, mas também o silêncio cúmplice daqueles que poderiam defender os fracos. Segundo Rabi Yonatan, este é um dos versículos mais “acusadores” de toda a Escritura, pois “chora” pela ausência de justiça entre os homens.

A Gemará o relaciona também ao sofrimento dos mártires de Israel: “As lágrimas dos oprimidos são contadas diante de Deus e seladas sob Seu trono”, o que ecoa a imagem de Apocalipse 6:9–10, demonstrando a intertextualidade com tradições judaico-cristãs posteriores.

No Talmud Eruvin 13b, ao discutir as disputas entre as escolas de Hillel e Shammai, cita-se Eclesiastes 4:6 (“Melhor é um punhado com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho e aflição de espírito”). A passagem é aplicada como crítica aos excessos do rigorismo legal: o excesso de zelo leva à aflição, enquanto o equilíbrio traz paz — princípio que levou à predominância da escola de Hillel.

✡️ Mishná

Embora a Mishná não cite diretamente Eclesiastes 4, suas máximas ressoam intensamente o tema da vaidade do ativismo solitário presente no capítulo. Em Avot 2:2, lemos:

“O estudo da Torá com trabalho é bom, pois o esforço em ambos impede o pecado.”

Isso se contrapõe a Eclesiastes 4:4 (“Vi que todo trabalho e toda destreza em obras é motivado pela inveja do homem contra o seu próximo...”). A Mishná oferece um antídoto: o trabalho motivado pela retidão e pelo estudo da Torá, e não pela comparação competitiva.

Mais diretamente, Avot 2:13 afirma: “Rabbi Shimon disse: há três coroas — da Torá, do sacerdócio e da realeza — e a coroa do bom nome supera todas.” Isso ecoa Eclesiastes 4:13 (“Melhor é um jovem pobre e sábio do que um rei velho e insensato”), ao valorizar a sabedoria e a reputação justa acima de títulos e poder.

✡️ Zohar

O Zohar, Terumah 141a–b, medita profundamente sobre Eclesiastes 4:9–12 (“Melhor é serem dois do que um... porque se caírem, um levanta o companheiro... e o cordão de três dobras não se quebra facilmente”). A leitura mística vê nestes versículos um código para a união das sefirot — especialmente Tiferet, Yesod e Malkhut — cuja harmonia sustenta os mundos.

No plano humano, essa passagem é lida como um elogio à comunhão espiritual entre os justos. Quando dois justos se unem em estudo, oração ou ação, formam uma união que atrai a Shechiná. Quando há três — mestre, discípulo e Torá — a força espiritual é ainda maior, representando um cordão triplo.

“Dois é união. Três é comunhão com o divino. Quando o homem anda só, a serpente o observa. Mas quando dois andam juntos na luz da Torá, ela se afasta deles.” (Zohar, Terumah 141b)

No Zohar, Vayakhel 205b, Eclesiastes 4:6 (“Melhor é um punhado com descanso...”) é lido como advertência contra a multiplicação de obras religiosas vazias. A obra espiritual que não procede de um coração pacificado é considerada, no misticismo zohárico, como “oferta impura”. Assim, o versículo se refere ao equilíbrio místico entre din (juízo) e rachamim (misericórdia), e adverte contra o ativismo sem kavanah (intenção espiritual).

O capítulo 4 de Eclesiastes traz uma crítica contundente à sociedade marcada pela inveja, isolamento, competição e opressão. O Talmud reforça essa crítica apontando que a falta de consolo para os oprimidos denuncia uma falha ética coletiva. A Mishná propõe como resposta a humildade, o bom nome e o equilíbrio no trabalho e estudo da Torá. O Zohar vê na comunhão espiritual — dois ou três reunidos na luz — a chave para dissolver as forças da solidão e do vazio.

A tradição rabínica, assim, transforma o lamento do Pregador em uma convocação para a solidariedade mística, ética e espiritual. O verdadeiro antídoto à vaidade não é o recolhimento solitário, mas a união em torno do bem — entre amigos, entre justos, entre homem e Deus.

Comentários sobre Eclesiastes 4:1

✝️ Ambrósio de Milão (397 d.C.):

“Desejamos a cada dia conhecer o que é novo, e o que é o próprio conhecimento senão a nossa tristeza e humilhação diárias? Todas as coisas que são já foram, e “nada é novo debaixo do sol”, mas “tudo é vaidade”. Por isso odiei toda esta vida”, disse Eclesiastes. Aquele que odiava a sua vida certamente recomendava a morte. E assim louvou os mortos em vez dos vivos e julgou feliz aquele que não veio a esta vida nem se dedicou a este trabalho vão. “Meu coração fez uma volta para conhecer a alegria do homem ímpio, para examinar cuidadosamente, para buscar sabedoria e um modo de calcular, e para conhecer a alegria através do homem ímpio, e a tribulação e a inquietação, e descobri que é mais amargo que a morte” — não porque a morte seja amarga, mas porque é amarga para o ímpio. E, no entanto, a vida é mais amarga que a morte. Pois é um fardo maior viver para o pecado do que morrer em pecado, porque o ímpio aumenta o seu pecado enquanto vive, mas se morre, cessa de pecar.”

Comentários sobre Eclesiastes 4:4

✝️ Basílio, o Grande (379 d.C.):

“Sábio, portanto, foi aquele que nos proíbe até mesmo de jantar na companhia de uma pessoa invejosa, e ao mencionar essa companhia à mesa, ele implica uma referência a todos os outros contatos sociais também. Assim como tomamos o cuidado de manter o material facilmente inflamável o mais longe possível do fogo, devemos nos abster, na medida do possível, de contrair amizades em círculos dos quais pessoas invejosas fazem parte. Ao fazer isso, nos colocamos fora do alcance de suas flechas. Só podemos ser apanhados nas malhas da inveja estabelecendo intimidade com ela. Nas palavras de Salomão: “O homem está exposto à inveja do seu próximo”. E assim é. O cita não inveja o egípcio, mas cada um deles inveja um compatriota. Entre os membros de uma mesma nação, os conhecidos mais próximos, e não os estranhos, são objetos de inveja. Entre os conhecidos, os vizinhos e os colegas de trabalho, ou aqueles que de outra forma são postos em contato próximo, são invejados, e entre estes, ainda, os da mesma idade, parentes e irmãos. Em suma, assim como a praga vermelha é uma praga comum no milho, a inveja é a praga da amizade.”

Comentários sobre Eclesiastes 4:5

✝️ Ambrósio de Milão (397 d.C.):

“Quem ainda duvida, ouça o testemunho do Evangelho, pois o Filho de Deus disse: ‘Tocamos para vocês, e vocês não dançaram’.” Os judeus que não dançavam e não sabiam bater palmas foram abandonados, mas os gentios foram chamados e aplaudiram a Deus em espírito. “O tolo junta as mãos e come a sua própria carne”, isto é, ele se envolve nas preocupações do corpo e come a sua própria carne, assim como a morte todo-poderosa. E tal pessoa não encontrará a vida eterna. Mas o sábio que exalta suas obras para que elas possam brilhar diante de seu Pai que está nos céus não consumiu sua carne; em vez disso, ele a elevou à graça da ressurreição. Esta é a dança honrosa do sábio que Davi dançou, subindo pela elevação de sua dança espiritual ao trono de Cristo para que ele pudesse ver e ouvir o Senhor dizendo ao seu Senhor: ‘Senta-te à minha direita ’.” Carta ao Bispo Sabinus.”

Comentários sobre Eclesiastes 4:10

✝️ Ambrósio de Milão (397 d.C.):

“Apropriadamente Eclesiastes diz: ‘Pois, se alguém cai, levanta o seu companheiro’. Ele mesmo não é levantado, pois Cristo não foi levantado pela ajuda e poder de outro, mas ele mesmo se levantou. De fato, ele disse: ‘Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei’. Isso ele disse do templo do seu corpo.” É bom que aquele que não caiu não seja levantado por outro, pois aquele que é levantado por outro caiu, e aquele que cai precisa de ajuda para ser levantado. Palavras adicionais também ensinam isso quando a Escritura diz: ‘Ai daquele que está sozinho! Porque, quando cai, não há quem o levante. E, se dois dormirem juntos, um ao outro se aquecerão’. Morremos com Cristo e vivemos juntos com ele. Cristo morreu conosco para nos aquecer, e ele disse: ‘Eu vim lançar fogo sobre a terra’. Carta ao seu clero.”

✝️ Basílio, o Grande (379 d.C.):

“Na vida solitária, o que está à mão torna-se inútil para nós e o que falta não pode ser suprido, visto que Deus, o Criador, decretou que necessitássemos da ajuda uns dos outros, como está escrito, para que pudéssemos nos associar uns aos outros. Além disso, à parte essa consideração, a doutrina da caridade de Cristo não permite que o indivíduo se preocupe apenas com seus próprios interesses particulares. “ A caridade”, diz o apóstolo, “não busca os seus próprios interesses”.

Mas uma vida passada em solidão preocupa-se apenas com o atendimento privado das necessidades individuais. Isso se opõe abertamente à lei do amor, que o apóstolo cumpriu, que não buscou o que era proveitoso para si mesmo, mas para a salvação de muitos. Além disso, uma pessoa que vive em retiro solitário não discernirá facilmente seus próprios defeitos, visto que não tem ninguém para admoestá-la e corrigi-la com mansidão e compaixão.

De fato, a admoestação, mesmo de um inimigo, muitas vezes produz em uma pessoa prudente o desejo de emendar-se. Mas a cura do pecado é operada com entendimento por aquele que ama sinceramente. A Sagrada Escritura diz: “Pois quem ama, às vezes corrige”. É muito difícil encontrar alguém assim na solidão, se em seu estado de vida anterior não se esteve associado a tal pessoa. O solitário, consequentemente, experimenta a verdade do ditado: “Ai daquele que está sozinho, pois, quando cai, não há quem o levante”.

Além disso, a maioria dos mandamentos é facilmente observada por várias pessoas que vivem juntas, mas não no caso de uma pessoa que vive sozinha, pois enquanto obedece a um mandamento, a prática de outro é interferida. Por exemplo, quando visita os doentes, não pode demonstrar hospitalidade ao estrangeiro e, ao partilhar e prover as necessidades (especialmente quando os cuidados são prolongados), é impedido de dedicar zelosa atenção a [outras] tarefas.

Como resultado, o maior mandamento e o especialmente propício à salvação não é observado, visto que os famintos não são alimentados nem os nus são vestidos. Quem, então, escolheria esta vida ineficaz e inútil em preferência àquela que é frutífera e está de acordo com o mandamento do Senhor? As Regras Longas.”

✝️ Gregório de Nissa (394 d.C.):

“Como a maioria das pessoas que pretendem levar uma vida de virgindade ainda é jovem e imatura, elas devem se preocupar com isto antes de tudo: encontrar um bom guia e mestre neste caminho, para que, por causa de sua ignorância, não entrem em lugares sem trilhas e se desviem do caminho reto. Pois, como diz Eclesiastes, “Dois são melhores do que um”. O solitário é facilmente vencido pelo inimigo que está à espreita na estrada divina, e, em verdade, “ai do solitário, pois se cair, não há quem o levante”.

No passado, certas pessoas tiveram um início auspicioso em seu desejo por esta vida, mas, embora tenham alcançado a perfeição em sua intenção, tropeçaram por causa de sua vaidade. Enganaram-se, por alguma loucura, pensando que era justo aquilo para o qual seu próprio pensamento se inclinava. Entre estes, há aqueles chamados de “preguiçosos” no Livro da Sabedoria, que semeiam seu caminho com espinhos, que consideram prejudicial à alma o zelo por ações em conformidade com os mandamentos de Deus, os que se opõem às injunções apostólicas, que não comem seu próprio pão com dignidade, mas, bajulando os outros, fazem da ociosidade a arte da vida.

Depois, há os sonhadores que consideram os enganos dos sonhos mais confiáveis do que os ensinamentos dos Evangelhos, chamando as fantasias de revelações. Além destes, há aqueles que ficam em suas próprias casas, e ainda outros que consideram ser insociável e bruto uma virtude, sem reconhecer o mandamento de amar e sem conhecer o fruto da longanimidade.”

Comentários sobre Eclesiastes 4:12

✝️ Gregório, Dialogista (604 d.C.):

“Por um ‘cordão’, a fé se expressa, como testemunha Salomão, que diz: ‘Um cordão de três dobras não se rompe facilmente’, porque a fé na verdade, tecida pela boca dos pregadores a partir do conhecimento da Trindade, permanece firme nos eleitos. Ela se rompe apenas no coração dos réprobos.”

Obs: Os comentários foram tirados diretamente da maior referência de comentários bíblicos dos Pais Apostólicos, o site Catena Bible.

📚 Comentários Clássicos Teológicos

📖 Matthew Henry (1662–1714)

Matthew Henry vê Eclesiastes 5 como uma exortação profunda ao temor reverente a Deus, especialmente no contexto do culto. Ele entende que os primeiros versículos (vv.1–7) tratam da reverência no templo — “Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus” (v.1) —, o que para ele significa aproximar-se de Deus com coração humilde, mente atenta e atitude submissa. Henry comenta que o “sacrifício de tolos” (זֶבַח כְּסִילִים, zevaḥ kesîlîm) não é necessariamente idolatria grosseira, mas uma adoração insensata, formalista ou sem entendimento. Ele enfatiza que falar muito (vv.2–3) — inclusive orar ou prometer precipitadamente — revela um espírito leviano diante da majestade divina.

Nos versículos 4–7, Henry adverte contra votos impensados. “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo” (v.4) mostra que Deus leva a sério a palavra empenhada, especialmente no culto. Ele compara os votos precipitados aos de Jefté (Juízes 11), mostrando que mais vale não prometer do que prometer e não cumprir. O v.7 — “na multidão das palavras há vaidade” — fecha a seção litúrgica do capítulo com uma exortação: tema a Deus! Para Henry, isso resume o espírito de adoração verdadeira.

A partir do v.8, Henry observa uma transição para temas sociais e econômicos. A injustiça dos altos escalões do poder não deve surpreender (v.8), pois há “um mais alto que atenta por cima deles”. Henry interpreta isso como uma consolação teológica: Deus é juiz sobre todos os juízes, e nada escapa a seus olhos.

Os vv.10–17 tratam da futilidade das riquezas. Henry analisa que o amor ao dinheiro nunca é satisfeito (v.10), pois a ganância cresce com os bens. Ele comenta o v.11 — “quando os bens se multiplicam, também se multiplicam os que os comem” — como uma advertência contra o orgulho das posses, que muitas vezes trazem mais estresse do que conforto. O v.12 destaca a paz do trabalhador simples, em contraste com a insônia do rico.

Henry lê os vv.13–17 como uma denúncia de males graves: riquezas guardadas para o mal de quem as possui (v.13), perdas súbitas (v.14), a nudez com que se nasce e morre (v.15). A mensagem é clara: sem Deus, o acúmulo leva à frustração. Ele encerra com o v.20 — “porque Deus responde com alegria ao coração dele” — como uma promessa de contentamento ao homem que teme a Deus e goza do que tem, sabendo que tudo é dádiva.

Fonte: Matthew Henry Commentary on Ecclesiastes 5

📖 John Gill (1697–1771)

John Gill começa sua exposição de Eclesiastes 5 destacando que o “guardar o pé” (v.1) é uma metáfora para preparar-se com reverência para encontrar-se com Deus. A “casa de Deus” é o templo em Jerusalém, e Gill entende que se aplica hoje ao lugar de culto ou à presença de Deus em qualquer assembleia dos santos. Ele observa que “chegar-se para ouvir” (v.1) é preferível ao “sacrifício de tolos”, que ele interpreta como rituais mecânicos sem conhecimento.

No v. 2, Gill analisa o verbo תְּבֹהֵל (tevohēl, “apresses”) como uma advertência contra a impulsividade na fala religiosa. Deus está nos céus — infinitamente acima — e o homem deve se lembrar de sua posição terrena. Ele relaciona isso à oração, afirmando que deve ser sóbria, consciente e fundamentada. O v.3 — “dos muitos negócios vêm os sonhos” — é interpretado como uma analogia: assim como atividades intensas geram sonhos confusos, muitas palavras no culto produzem tolices.

Sobre votos (vv. 4–6), Gill nota que os votos eram voluntários, mas uma vez feitos, exigiam cumprimento. Ele compara a advertência com Deuteronômio 23:21–23 e destaca que negligenciar um voto é um pecado grave, especialmente se feito em público. A expressão “não consintas que a tua boca te faça pecar” (v. 6) é, para ele, um apelo à sobriedade no discurso espiritual.

O v. 7 conclui com “teme a Deus” — uma síntese sapiencial de toda a seção. Gill afirma que esse temor é o fundamento do culto verdadeiro e da vida ética. Nos vv. 8–9, Gill entende que a corrupção nas altas esferas do poder é comum, mas não definitiva. Há “um que é mais alto que os altos” — uma referência ao Deus que observa todas as camadas do governo humano.

A partir do v. 10, ele analisa a vaidade da riqueza: quem ama o dinheiro não se farta, e bens materiais só aumentam as preocupações. O v. 12 — “o sono do trabalhador é doce” — é, segundo Gill, uma celebração da modéstia piedosa. Em contraste, o rico “não deixa dormir a fartura” — expressão que ele interpreta como inquietação causada pelo acúmulo de bens.

Os vv. 13–17 falam da tragédia das riquezas mal guardadas. Gill observa que perder tudo “num mau negócio” mostra a instabilidade do mundo. Ele destaca que o v.15 — “como saiu do ventre de sua mãe... assim volta” — ecoa Jó 1:21 e reforça a transitoriedade da existência.

O capítulo termina com a defesa do gozo moderado da vida (vv.18–20). Gill vê nisso uma doutrina equilibrada: é bom aproveitar o trabalho e o alimento com gratidão, sabendo que tudo é dom de Deus. O v.20, que fala de Deus “responder com alegria ao coração”, ele entende como uma concessão especial da providência — uma alegria interior dada por Deus àquele que confia nele.

Fonte: John Gill's Exposition of the Entire Bible on Ecclesiastes 5

📖 Albert Barnes (1798–1870)

Albert Barnes interpreta Eclesiastes 5 como uma advertência à falsa religiosidade e um apelo à moderação econômica. No v. 1 — “guarda o teu pé” — ele vê uma metáfora para a preparação reverente para o culto. A frase “sacrifício de tolos” (v. 1) é, segundo ele, uma referência a atos religiosos hipócritas. O v. 2 adverte contra a verbosidade na oração: “Deus está nos céus, e tu na terra” é, para Barnes, um lembrete da distância ontológica entre Criador e criatura.

Ele vê nos vv. 3–7 uma crítica à confusão mental causada pelo ativismo espiritual ou pela religiosidade apressada. O v. 4 — “cumpre o que votares” — é comentado com base na tradição mosaica (cf. Nm 30; Dt 23). Para Barnes, votos devem ser raros, ponderados e cumpridos.

Do v.8 em diante, Barnes passa à esfera social. Ele observa que o v.8 — “se vires opressão do pobre... não te maravilhes” — descreve uma cadeia de autoridades corruptas. Mas há um Deus supremo que observa todas essas camadas de poder. O v.9 é interpretado de forma ambígua: pode ser um comentário cínico ou uma afirmação positiva sobre o benefício do trabalho agrícola, “o rei serve-se do campo”.

Nos vv. 10–17, Barnes destaca a frustração dos que buscam realização nas riquezas. Ele observa que a repetição do tema da insônia do rico (v. 12) e a perda súbita dos bens (v. 14) formam um argumento contra a idolatria financeira. O v.15 — “nu saiu... e assim voltará” — é uma declaração definitiva da vacuidade dos bens terrenos. Para ele, esses versículos preparam o leitor para valorizar a verdadeira dádiva: a paz com Deus.

O v. 18–20 é visto como uma moderação do pessimismo: o gozo do trabalho é lícito e agradável, se reconhecido como presente divino. O v. 20, que fala do coração alegre, é interpretado por Barnes como um sinal de bênção espiritual que livra o homem da ansiedade existencial.

Fonte: Albert Barnes' Notes on the Whole Bible on Ecclesiastes 5

📖 Keil (1807–1888) & Delitzsch (1813–1890)

Keil & Delitzsch oferecem uma leitura altamente filológica de Eclesiastes 5, começando pelo v. 1, que inicia com שְׁמֹר רַגְלְךָ (shemor raglĕkha, “guarda o teu pé”). Eles observam que “guardar o pé” é uma expressão idiomática que implica atenção ao caminho — aqui, o modo de se aproximar da presença divina. O “sacrifício de tolos” é lido como culto formalista, e o contraste com “ouvir” aponta para a importância da obediência sobre o ritual.

No v. 2, eles destacam a construção poética entre “Deus nos céus” e “tu na terra”, e o verbo תְּבֹהֵל (tevohēl) como advertência contra pressa na oração. O v.3 estabelece um paralelismo entre “sonho por muito trabalho” e “voz do tolo por muitas palavras” — comparando confusão mental com verborragia religiosa.

Os vv. 4–6 trazem, segundo eles, uma ética do discurso sagrado: votos precipitados são pecados. O termo שַׁלֵּם (shallem, “cumprir”) é analisado em seu uso legal e ritual — o cumprimento do voto é dever inescapável. O v. 6 — “por que irias à casa de Deus para dizer que foi erro?” — é interpretado como advertência contra perjuro. O v.7 conclui com o mandamento sapiencial: “teme a Deus”.

Nos vv. 8–9, eles analisam a estrutura escalonada do poder: um “alto sobre outro alto” até o Altíssimo. O v.9 tem leitura ambígua no hebraico: a expressão בֶּחָרוּץ נֶעֱבָד שָׂדֶה (beḥārûṣ neʿebād sādeh) pode significar que até o rei depende da lavoura, ou que o sistema político serve aos interesses econômicos.

Nos vv.10–17, Keil & Delitzsch fazem uma leitura sapiencial da futilidade das riquezas. A expressão לֹא יִשְׂבַּע הַכֶּסֶף (lōʾ yisbaʿ hakkésef, “a prata não satisfaz”) indica uma busca insaciável. Eles observam que o v.13 — “riquezas guardadas para o seu próprio mal” — mostra o risco do acúmulo sem propósito. O v.15 — “como veio... assim vai” — retoma o princípio da transitoriedade em linguagem quase litúrgica.

O v.18–20 conclui com a aceitação serena da vida: “é bom e agradável” — טוֹב אֲשֶׁר יָפֶה (ṭov ʾăšer yāfēh), expressão que combina ética e estética. Eles comentam que o verbo נָתַן (nātan, “dar”) aparece três vezes no v.19 — indicando que o contentamento é dom sobrenatural. O v.20 é lido como uma bênção: Deus mantém a mente do justo longe das ansiedades, com alegria interior.

Fonte: Keil & Delitzsch Commentary on Ecclesiastes 5

✝️ Comentário Reformado

Pessimismo, Injustiça e a Busca por Sentido

Em Eclesiastes 4:1–2, Salomão observa a opressão e o descontentamento que afligem os oprimidos (cf. Hab 1:1–4). Ele nota que mestres oprimem servos, credores oprimem devedores, proprietários oprimem inquilinos, entre outros exemplos. O Pregador expressa um pessimismo extremo, a ponto de, na profunda opressão, a morte parecer mais favorável que a vida (cf. Jr 20:14–18; At 20:24; Rm 8:35–39; 2Co 1:8; Hb 12:1–3). Podemos considerar, por exemplo, o apóstolo Paulo, que, embora desejasse estar com Cristo, permaneceu um servo do Evangelho (Fp 1:23–24). Ambrósio, refletindo sobre a condição humana, lamenta: “O que é mais infeliz do que nós, que somos enviados a esta vida como que despojados e nus, com corpos frágeis, corações enganosos, mentes fracas, ansiosos em relação aos cuidados, preguiçosos quanto ao trabalho, propensos aos prazeres” (NPNF2 vol, 10, p. 178).

Apesar de tal pessimismo, o versículo 4:3 destaca que a nova vida, ainda que não vivida, detém um grande potencial. Os não nascidos são preciosos aos olhos de Deus, e estar vivo em qualquer idade significa glorificar a Deus.

A inveja, abordada em Eclesiastes 4:4, é apresentada como a raiz da violação dos mandamentos 4 a 10 (especialmente 9 e 10). A história bíblica nos oferece exemplos claros dessa realidade: Caim invejou Abel, Esaú invejou Jacó, e Saul invejou Davi pelas bênçãos recebidas por meio da fé (cf. Pr 14:30). Aqueles que se destacam em virtude, inevitavelmente, sempre atrairão críticas.

Em 4:5, a expressão “come a sua própria carne” descreve o resultado final da ociosidade: a pessoa definha. O preguiçoso cruza as mãos para mantê-las aquecidas e, com malícia, recusa-se a trabalhar (cf. 2Ts 3:6–13). Lutero elucida essa frase: “Esta, novamente, é uma frase hebraica, que significa: ‘Ele atormenta a si mesmo.’ Há uma afirmação semelhante em Jó (13:14): ‘Tomarei a minha carne nos meus dentes.’ Ele quer dizer: ‘Um homem inepto e tolo deste tipo não faz bem a si mesmo, mas prejudica e se opõe aos outros, inveja os outros e tortura a si mesmo.’ Neste estado, tal homem é uma ferrugem ou um verme, prejudicial a si mesmo e aos outros” (Ibid., p. 66).

O versículo 4:6 aconselha a buscar um equilíbrio entre a “quietude” e o “esforço”, ou seja, entre não fazer nada e fazer demais. Esse é o caminho para encontrar um meio-termo feliz.

Salomão, então, direciona seu olhar para a realidade de que quanto mais as pessoas ganham, mais desejam (4:7). Essa busca incessante por mais lhes rouba o desfrute. A maior insensatez, conforme exposto em 4:8, é trabalhar e adquirir bens quando não se tem cônjuge ou descendentes dependentes. A mensagem é clara: se você adquirir riqueza, compartilhe-a.

A Força da Companhia e a Efemeridade do Poder

Os versículos 4:9-12 ressaltam o valor da companhia e da amizade, afirmando que “dois são melhores”. Deus nos criou como seres sociais (cf. Gn 2:18), e as bênçãos do casamento, dos filhos, da congregação, da comunidade e da nação são exemplos claros disso. O povo de Deus, incentivado pelo exemplo divino, encoraja uns aos outros à misericórdia, ao amor e às boas obras (cf. Mt 5:23–24; 18:15–18; Gl 6:1–2). Dois ou três indivíduos juntos tornam o trabalho um prazer e fortalecem uns aos outros. Juntos, colhem maiores bênçãos. Lutero ilustra isso com uma parábola: “Certo pai sábio, prestes a morrer, ordena a seus filhos que estejam presentes. Ele lhes dá um feixe de varas para quebrar. Embora não pudessem quebrar todas ao mesmo tempo, eles as quebraram individualmente. Dessa forma, ele ensinou a seus filhos que suas riquezas estariam seguras se estivessem em concórdia uns com os outros e se auxiliassem mutuamente. Pois, através da concórdia, as coisas pequenas crescem, mas através da discórdia, elas são dispersas e reduzidas a nada” (Ibid., p. 69).

Em Eclesiastes 4:13–14, a reflexão se volta para a soberania divina: o Deus Todo-Poderoso levanta e depõe. Ele coloca as pessoas em posições de autoridade como Seus servos e como servos de Seu povo. Nesse sentido, é melhor ser sábio, jovem e desconhecido do que ser um servidor público tolo (4:13). Não há segurança na coroa (cf. Pr 27:24), e é insensato rejeitar a admoestação, o conselho e a prestação de contas. Títulos entre as pessoas não trazem respeito absoluto. A ascensão de José para servir ao Faraó (Gn 39–41) é um exemplo disso, em contraste com o rei soberano nascido para sua herança, que, por não ser admoestado, deve renunciar à sua coroa (4:14).

O versículo 4:15 aponta para “aquele jovem”, o príncipe, indicando que as pessoas esperam que o sucessor do rei sirva com justiça e equidade. Contudo, em 4:16, a observação é que as pessoas “não se alegrarão nele”, pois o sucesso de um governante sábio é logo esquecido.

Assim, o capítulo 4 nos exorta a ter como sagrados os dons do casamento, dos filhos, da família e das autoridades estabelecidas entre nós. Não devemos considerar os elogios e adornos do mundo como mais importantes do que o Senhor e Seus dons graciosos. Embora busquemos continuamente o contentamento nesta existência “debaixo do sol”, Cristo é nosso Senhor eterno e Rei dos reis. • Querido Deus e Pai, obrigado por Tua infinita bondade e amor para conosco. Tu nos manténs em Tua Palavra, na fé e na oração. Por isso, somos humilhados e não dependemos de nossa própria sabedoria, mas nos gloriamos somente em Teu poder, pois quando somos fracos, Tu és forte. Amém.

✝️ Teologia de Eclesiastes 4

A Injustiça Humana e a Carência de Redenção – (Antropologia e Ética)

Eclesiastes 4 desce das alturas metafísicas do tempo e da eternidade para mergulhar nas dores da história humana. Depois de reconhecer a soberania divina sobre os tempos (cap. 3), Qohelet se volta para a realidade vivida “debaixo do sol” e denuncia, com olhos lúcidos e coração ferido, a presença massiva da injustiça e da opressão. Este é um dos capítulos mais dolorosos do livro — e, por isso mesmo, dos mais teológicos. Aqui, a Antropologia Teológica mostra o ser humano não como imagem gloriosa de Deus, mas como reflexo da sua própria corrupção. E a Ética Teológica aparece não como teoria moral, mas como clamor por justiça numa terra sedenta de redenção.

“Vi todas as opressões que se fazem debaixo do sol” (Ec 4:1). A frase é um testemunho profético e quase escatológico. O Pregador não está apenas observando o sofrimento: ele está registrando o fracasso do mundo caído. Os oprimidos choram, “e não há quem os console”; os opressores têm poder, “mas não há consolador” para os fracos. A repetição dessa ausência de consolo denuncia não apenas uma sociedade injusta, mas uma humanidade alienada de Deus, que não se compadece, que normaliza a opressão e institucionaliza o mal. É o retrato da humanidade pós-queda, onde o amor ao próximo foi substituído pela lógica do domínio. Essa imagem converge com a visão de Paulo em Romanos 3: “não há quem faça o bem, não há um justo sequer”.

A resposta de Qohelet é intensa: “pelo que eu louvei os mortos que já morreram, mais do que os vivos que ainda vivem” (v. 2). Tal afirmação não deve ser lida como niilismo, mas como denúncia ética. Viver num mundo sem justiça é um fardo tão insuportável que o próprio viver se torna opressivo. Esta é uma antropologia marcada pelo pecado estrutural e pela ausência de consolo escatológico — algo que somente a promessa messiânica, ausente naquele tempo, poderia resolver. Nesse contexto, o desejo de não ter nascido (v. 3) é um eco do clamor de Jó (Jó 3:11) e do próprio Jesus, ao dizer: “melhor lhe fora não haver nascido” (Mt 26:24) sobre o traidor. São expressões do juízo ético sobre a corrupção radical da humanidade.

Nos vv. 4-8, o autor denuncia a raiz da ambição humana: “todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo” (v. 4). Aqui está uma crítica à ética meritocrática que, em vez de cultivar o bem comum, gera competição, inveja e isolamento. O sábio observa que até mesmo o sucesso é envenenado pela comparação, e a solidão do homem que tudo possui, mas a ninguém tem para compartilhar (vv. 7-8), é um testemunho da falência do ideal individualista. A antropologia de Eclesiastes é intensamente relacional: fomos feitos para o outro. A ausência de comunidade é uma evidência de decadência, e não de progresso.

É nesse ponto que o capítulo oferece um contraponto esperançoso, ainda que discreto: “Melhor é serem dois do que um... porque se caírem, um levanta o companheiro” (v. 9-10). Aqui, a Ética Teológica aparece não como norma abstrata, mas como sabedoria prática enraizada no amor. A solidariedade é apontada como remédio para a opressão, e a comunhão como antídoto contra o vazio. A amizade, o cuidado mútuo e o apoio são vislumbres daquilo que será plenamente revelado na comunidade dos redimidos, a Igreja. Ainda que Eclesiastes não desenvolva uma eclesiologia, ele antecipa sua necessidade ética.

O capítulo termina com uma parábola enigmática sobre um jovem pobre que se torna rei, substituindo um ancião tolo (vv. 13-16). A multidão aclama o novo governante, mas rapidamente se esquece dele. O poder, mesmo quando renovado, não escapa à vaidade. Aqui se reforça a ideia de que, sem redenção, mesmo os ciclos de justiça aparente terminam em frustração. A esperança não está na política, nem na revolução social, mas na intervenção do Deus justo. Eclesiastes clama por um redentor que ainda não chegou — um Consolador que viria não apenas para corrigir a injustiça, mas para carregar o sofrimento dos injustiçados.

✝️ Cristologia de Eclesiastes 4

A Pessoa de Jesus como Redentor do Sofrimento e Juiz da Injustiça

A cristologia implícita no capítulo 4 de Eclesiastes emerge de uma teologia da ausência — um mundo em que Deus parece oculto diante da opressão, da competição e da solidão humana. Embora o nome de Deus apareça apenas uma vez no capítulo anterior (3:15), a ausência explícita de referências divinas em Eclesiastes 4 intensifica a sensação de abandono. Paradoxalmente, é justamente nesse silêncio que a figura de Cristo começa a emergir como resposta escatológica e existencial ao desespero do Pregador. Em outras palavras, o capítulo aponta para Cristo não como uma presença visível, mas como aquele cuja ausência grita mais alto que a presença de todos os reis humanos. A teologia de Eclesiastes 4 é negativa, mas sua cristologia é positiva por consequência: aquilo que falta no mundo sob o sol é o que se manifesta plenamente na encarnação do Verbo.

O capítulo inicia-se com a constatação angustiante de que “vi todas as opressões que se fazem debaixo do sol; e eis as lágrimas dos oprimidos, sem quem os console” (v. 1). O verbo hebraico ra’îtî [“vi”] carrega aqui um peso existencial: é o olhar desamparado de quem observa a injustiça sem poder intervir. O refrão “e não há consolo” antecipa a figura do Paráclito prometido por Jesus em João 14:16. Contudo, é o próprio Cristo quem, no Novo Testamento, se apresenta como o verdadeiro Consolador dos aflitos (cf. Mateus 5:4), tornando-se a resposta concreta às lágrimas dos que sofrem sob o jugo da opressão descrita por Qohelet. A ausência de consolo em Eclesiastes se transforma em presença encarnada no ministério de Jesus, especialmente no modo como Ele se aproxima dos marginalizados (cf. Lucas 4:18-19).

Nos versículos seguintes (vv. 4–6), o Pregador examina a motivação humana no trabalho e descobre que “todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo”. Aqui, o termo hebraico qinʾah (inveja) não se refere apenas a uma emoção negativa, mas à lógica perversa que estrutura as relações sociais em um mundo decaído. O contraste com Cristo é contundente: ao contrário dos homens que trabalham por rivalidade, Jesus “não julgou como usurpação o ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo” (Filipenses 2:6-7). A sabedoria de Jesus, portanto, é uma antítese da sabedoria cínica do mundo: não competitiva, mas kenótica — baseada no esvaziamento e na doação. A crítica do Pregador ao ativismo egocêntrico que leva à inveja e ao vazio (v. 6) encontra em Cristo a alternativa da bem-aventurança humilde: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mateus 5:5).

O centro do capítulo se encontra nos versículos 9–12, onde se celebra a comunhão entre dois que andam juntos: “melhor é serem dois do que um”. Embora aplicável a diversas relações humanas, essa imagem também antecipa, de forma tipológica, a encarnação do Verbo como aquele que não nos deixa sós em nosso caminhar. O “cordão de três dobras que não se quebra com facilidade” (v. 12) foi, por séculos, interpretado por teólogos cristãos como um prenúncio trinitário, ou como uma figura do discipulado cristão, em que Cristo está presente como o vínculo invisível entre os irmãos. No contexto de Eclesiastes, a metáfora destaca a vulnerabilidade da existência humana solitária. Em Cristo, contudo, temos o Emanuel, o Deus conosco, que caminha com os seus (cf. Lucas 24:15; Mateus 28:20).

Os versículos finais (vv. 13–16), que tratam da troca de um rei tolo por um jovem sábio, são de difícil interpretação, mas permitem uma leitura tipológica à luz do Novo Testamento. A figura do jovem pobre que sobe ao trono (v. 14) lembra Jesus, que nasceu em condição humilde (Lucas 2:7) e foi rejeitado por seu próprio povo (João 1:11), mas foi exaltado pela ressurreição (Atos 2:32-36). A rejeição final desse jovem sábio por “aqueles que vieram depois dele” (v. 16) sugere uma analogia com a rejeição de Cristo pelos líderes religiosos e, depois, por muitos que não permaneceram fiéis ao seu chamado. Essa oscilação da popularidade reflete o drama messiânico do Servo Sofredor: exaltado por um tempo, mas esquecido por gerações que se desviam da verdade (cf. Isaías 53:3; Marcos 15:13-14).

Assim, a cristologia de Eclesiastes 4 se constrói em negativo: o capítulo apresenta um mundo vazio de Deus, onde não há consolo, nem justiça, nem amizade duradoura, nem liderança sábia. Em Cristo, essas lacunas são preenchidas. Ele é o Consolador dos oprimidos, o Trabalhador sem inveja, o Companheiro fiel, e o Rei humilde que governa com sabedoria e amor. Eclesiastes 4, portanto, não apenas descreve a carência da humanidade, mas aponta para a suficiência da graça encarnada em Jesus.

🏛️ Filosofia em Eclesiastes 3

A Prefiguração do Existencialismo na Sabedoria Hebraica

O capítulo 4 de Eclesiastes apresenta uma meditação sobre o sofrimento humano, a vaidade do esforço, e a condição relacional do ser — temas que antecipam, em substância e densidade ontológica, os dilemas articulados séculos depois pelos grandes pensadores da tradição filosófica ocidental. O Qohelet não é meramente um moralista religioso, mas um philosophos em sentido clássico: alguém que, situado na experiência concreta da finitude, interroga os fundamentos do ser, do agir e do sentido sob a égide da contingência.

O ponto de partida do capítulo é um pronunciamento radical sobre a miséria humana: “E voltei-me, e vi todas as opressões que se fazem debaixo do sol...” (v.1). A expressão hebraica שַׁבְתִּי אֲנִי וָאֶרְאֶה (shavtî ʾănî wāʾerʾeh) possui uma conotação reflexiva intensa. O verbo שׁוּב (shuv, “voltar”) indica não apenas repetição observacional, mas um retorno meditativo à consciência — análogo ao que Edmund Husserl denominaria uma redução fenomenológica: um movimento de suspensão dos pressupostos exteriores para analisar a essência da experiência vivida. O Qohelet, nesse gesto, realiza uma epoché existencial.

Essa visão se dirige à עֲשֻׁקִים (ʿashuqîm, “os oprimidos”) e ao אֵין לָהֶם מְנַחֵם (ʾên lāhem menaḥêm, “não têm consolador”). O termo מְנַחֵם (menaḥêm, do verbo נָחַם (nāḥam), “consolar”) é carregado de implicações teológicas — é o nome messiânico em Isaías 40:1, e está relacionado ao consolo escatológico. A ausência de menachem denuncia a crise da teodiceia: um mundo sob o sol onde o mal triunfa sem consolo é um mundo onde Deus parece ausente. Trata-se do que Simone Weil chamaria de “ausência de Deus como forma suprema de presença”, a kenosis radical da transcendência.

Na versão da Septuaginta, essa denúncia é traduzida por: ἐπιστρέψας ἐγὼ εἶδον πάντα τὰς ἀδικίας (epistrepsas egō eidon panta tas adikias), em que o termo ἀδικία (“injustiça”) revela o teor jurídico e moral da opressão. A raiz do pensamento grego aqui é clara: o problema do díkaion, a justiça, é questionado em seu próprio fundamento ontológico. Qohelet antecipa a crítica nietzschiana aos valores morais herdados, ao mostrar um mundo no qual o justo não tem lugar.

No v.2, a aporia se aprofunda: “Pelo que eu louvei os mortos que já morreram mais do que os vivos que ainda vivem”. A linguagem é deliberadamente paradoxal. O verbo שָׁבַח (shavach, “louvar”) aparece em contexto dissonante, pois louvar os mortos é reconhecer que a vida é um fardo ontológico. O termo grego correspondente, ἐπῄνεσα (epēnēsa), usado na LXX, carrega o sentido de elogiar com discernimento crítico, como em Aristóteles. Qohelet, assim, inverte os valores esperados e propõe uma ética negativa da existência: melhor não viver. Essa proposição remete a Sófocles em Édipo em Colono (verso 1224): “Não nascer é o melhor de tudo”. A correspondência temática é profunda, demonstrando que o pessimismo de Qohelet é um arquétipo ancestral da Weltschmerz filosófica ocidental.

O v. 4 amplia esse diagnóstico: “E vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo”. O hebraico כָּל־הָעָמָל וְכָל־כִּשְׁרוֹן הַמַּעֲשֶׂה (kol-hāʿāmāl wekol-kišron hamaʿăseh) introduz a palavra כִּשְׁרוֹן (kišrôn, “habilidade” ou “excelência”) — termo raro e técnico, evocando mérito e distinção. A versão grega traz παντὸς ἔργου καὶ παντὸς κατορθώματος (pantos ergou kai pantos katorthōmatos), onde κατόρθωμα é um termo estoico que indica uma ação perfeita segundo a razão. Ora, se até o katorthōma deriva da zēlos (inveja, competição), então toda ética teleológica colapsa. Trata-se de um diagnóstico nietzschiano avant la lettre: não há aretê autêntica — toda virtude é mascarada por pulsões miméticas, como mais tarde descreveria René Girard.

No v.6, aparece a proposição sapiencial que parece paradoxal: “Melhor é um punhado com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho e aflição de espírito”. O hebraico נַחַת (naḥat, “descanso”, “quietude”) é o correlato semântico da palavra grega ἡσυχία (hēsychía), evocando a filosofia da ataraxia. O ideal de quietude aqui anteciparia as escolas helenísticas (especialmente os epicuristas e céticos), para quem a sabedoria consiste em lógos kat’ aretēn — o viver conforme a moderação e a suspensão do juízo. Qohelet propõe, como alternativa à vaidade do agir, o descanso do não-excesso.

Na segunda metade do capítulo (vv.7–12), há uma crítica pungente à solidão ontológica do homem laborioso. A figura do trabalhador solitário — וְאֵין שֵׁנִי (weʾên šēnî, “e não há segundo”) — é uma das imagens mais pungentes da literatura sapiencial. A ausência do “segundo” revela o drama da intersubjetividade ausente, tema que ressurgirá em Martin Buber sob a estrutura do Ich-Du (Eu-Tu): o ser humano é apenas em relação. O hebraico aqui é brutal: לְמִי אֲנִי עָמֵל (lemî ʾănî ʿāmēl, “para quem eu trabalho?”), e a resposta é o eco do nada. Sartre desenvolveria isso como o projeto condenado à liberdade e ao absurdo, e Camus afirmaria a revolta como única resposta ao trabalho sem fim do mito de Sísifo.

Finalmente, os vv.13–16 contrastam o rei velho e tolo com o jovem sábio e pobre, encerrando o capítulo com uma crítica à legitimidade do poder e à efemeridade da glória humana. O grego βασιλεὺς γέρων καὶ ἄφρων contraposto a νεανίας σοφὸς πτωχός aponta para uma inversão axiológica que ecoa os temas platônicos do philosopher-king e da paideía. Mas o Qohelet não crê no progresso: ainda que o jovem sábio assuma o trono, “os últimos não se alegrarão com ele” (v.16). A memória é frágil, a glória é vã, e a sabedoria, efêmera.

Neste capítulo, o autor de Eclesiastes opera com as ferramentas da fenomenologia existencial, da crítica moral e da ontologia trágica. Ele se antecipa a Pascal ao constatar que “toda a infelicidade dos homens vem de não saberem ficar quietos num quarto”. Antecede Kierkegaard ao dramatizar o desespero do homem que trabalha sem partilha. Prefigura Heidegger ao reconhecer a finitude como condição originária do Dasein. E não está distante de Adorno, para quem a crítica radical da realidade é o único caminho para uma ética verdadeira.

Eclesiastes 4 não é apenas literatura sapiencial; é uma meditação filosófica, existencial e ética, tão profunda quanto qualquer tratado de filosofia. É o lamento do homem diante da falência da razão prática, o gemido do ser que pensa e não encontra telos. Qohelet, o filósofo judeu, não oferece resposta, mas sua pergunta continua sendo a mais importante: “Para quem eu trabalho?”

Índice: Eclesiastes 1 Eclesiastes 2 Eclesiastes 3 Eclesiastes 4 Eclesiastes 5 Eclesiastes 6 Eclesiastes 7 Eclesiastes 8 Eclesiastes 9 Eclesiastes 10 Eclesiastes 11 Eclesiastes 12

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📕 Seção Teologia:

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PLANTINGA, Cornelius. O Mundo Não É Como Deveria Ser: Um Breve Estudo do Pecado. São Paulo: Cultura Cristã, 2015.
ELLUL, Jacques. A Subvertion of the Christiniaty. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1986.
KELLER, Timothy. O Deus Pródigo: Recuperando o Essencial da Fé Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2011.
BARTH, Karl. A Humanidade Corrompida. In: Dogmática Eclesiástica, vol. IV. São Paulo: Novo Século, 2006.
STOTT, John. A Cruz de Cristo. São Paulo: Vida Acadêmica, 2005.
GRENZ, Stanley. Teologias Contemporânias. São Paulo: Vida Nova, 2011.

📗 Seção Cristologia:

BONHOEFFER, Dietrich. Christ, The Center. New York: HarperOne, 2009.
KÄSEMANN, Ernst. Jesus Means Freedom. Londres: SCM Press, 1969.
VON RAD, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1991. v. 1.
WRIGHT, N. T. Simplesmente Jesus: Uma nova visão de quem ele foi, o que fez e por que ele importa. São Paulo: Thomas Nelson, 2015.
GOLDINGAY, John. Old Testament Theology: Israel’s Gospel. Downers Grove: IVP, 2003.
CHRYSOSTOM, John. Homilies on the Gospel of Matthew. In: Nicene and Post-Nicene Fathers, Series 1, Vol. 10. Grand Rapids: Eerdmans, 1980.
MOULTON, James Hope; MILLIGAN, George. The Vocabulary of the Greek Testament. London: Hodder & Stoughton, 1930.

📘 Seção Filosofia:

BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução de Natan Schapiro. São Paulo: Centauro, 1974.
CAMUS, Albert. O mito de Sísifo: um ensaio sobre o absurdo. São Paulo: Record, 2019.
KIERKEGAARD, Søren. O desespero humano: a doença para a morte. São Leopoldo: Vozes, 2022.
WEIL, Simone. A gravidade e a graça. São Paulo: Loyola, 2002.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 2015.
ROSENZWEIG, Franz. A Estrela da Redenção. Belo Horizonte, MG: Editora UFMG, 2002.
LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito: ensaio sobre a exterioridade. Tradução de José Geraldo Coutinho. Lisboa: Edições 70, 2008.
ALTIZER, Thomas J. J. The New Gospel of Christian Atheism. São Paulo: Westminister Press, 2002.
PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001.

🌐 Sites:
LANGE, Johann Peter. Ecclesiastes. In: Lange’s Commentary on the Holy Scriptures: Critical. Doctrinal and Homiletical. [S. l.]: BibleHub.com, [s.d.]. Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/lange/ecclesiastes/4.htm. Acesso em: 8 jul. 2025.
PLUMPTRE, Edward H. Ecclesiastes. In: The Cambridge Bible for Schools and Colleges. [S. l.]: BibleHub.com, [1881]. Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/cambridge/ecclesiastes/4.htm. Acesso em: 8 jul. 2025.
SPENCE, H. D. M. Ecclesiastes. In: SPENCE, H. D. M.; EXELL, Joseph S. (Eds.). The Pulpit Commentary. [S. l.]: BibleHub.com, [1909]. Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/pulpit/ecclesiastes/4.htm. Acesso em: 8 jul. 2025.