Eclesiastes 6: Significado, Teologia e Exegese
Eclesiastes 6
Eclesiastes 6 é a culminação da seção que se inicia em 5:10, onde o Qohelet (Pregador) medita sobre os limites da riqueza e da satisfação humana. Aqui, sua análise atinge um ponto de desilusão absoluta: ele descreve um homem a quem Deus concede tudo — riquezas, honra e bens — mas nega a ele a capacidade de desfrutar dessas dádivas. O capítulo apresenta, assim, o retrato mais sombrio do paradoxo existencial: possuir sem gozar; viver sem sentido; acumular sem herança. É uma meditação sobre o que significa ser privado da alegria, mesmo quando todos os meios materiais estão disponíveis.
✍️ Estrutura e Estilo Literário
O capítulo é curto (doze versículos), mas densamente estruturado. Ele se organiza em três movimentos:
A futilidade da prosperidade sem contentamento (vv. 1–2): uma das imagens mais pungentes do livro: Deus dá tudo ao homem — kōl (“tudo”) — mas não lhe dá o poder (šālîṭ) de comer (leʾĕḵōl) do que tem.
A denúncia da futilidade da vida longa e prolífica (vv. 3–6): o autor apresenta uma hipérbole radical: mesmo um homem com cem filhos e uma vida de dois mil anos está pior do que um natimorto (nēp̄el) se não tiver contentamento.
A limitação do saber e o mistério do futuro (vv. 7–12): a seção final retoma o vocabulário de ʿāmāl (“trabalho”), nap̄eš (“alma”) e mahhăray (“o que acontecerá”), concluindo com uma pergunta aberta e retórica: “quem pode dizer ao homem o que será depois dele debaixo do sol?”
O estilo é marcado por paralelismos semânticos, hipérboles e linguagem introspectiva. Há um uso intensivo de verbos no perfect para narrar condições existenciais fixas (v. 2: nāṯan – “deu”, ʿeʿnênnû – “não lhe permitiu”) e substantivos abstratos (como heḇel – “vaidade”, ʿămāl – “trabalho”, sōwʿal – “sepultura”) para marcar a impessoalidade da análise.
🕎 Hebraico e Palavras-Chave
O termo mais forte do capítulo é nēp̄el (נֵפֶל), “natimorto”, usado no v. 3 em uma construção comparativa absolutamente chocante: “melhor é o natimorto do que ele”. Essa palavra é rara e aparece em contextos de horror e destino trágico (cf. Jó 3:16). Aqui, o Qohelet não hesita em sugerir que é melhor nunca nascer do que viver com abundância e vazio.
O verbo šālîṭ (v. 2), “ter domínio/poder”, revela o paradoxo teológico central: Deus dá, mas retém o poder de gozar. Assim, o versículo ensina que nem mesmo a posse é bênção sem a graça do desfrute — uma ideia contrária à sabedoria popular que associa riqueza automaticamente à bem-aventurança.
A expressão kol-ʿāmāl hāʾāḏām lĕpîw (v. 7) — “todo o trabalho do homem é para a sua boca” — ironiza o ciclo de consumo: trabalhamos para manter a boca cheia, mas a alma (nap̄eš) permanece vazia.
A repetição de heḇel (vv. 2, 4, 9) novamente associa a condição humana àquilo que é transitório, incompreensível e frustrante — como vapor, vento ou fumaça. A expressão reʾut rūaḥ (“aflição do espírito”, v. 9) completa o quadro de angústia ontológica que perpassa o capítulo.
🗝️Versículo-Chave
Eclesiastes 6:2 – “Um homem a quem Deus dá riquezas, bens e honra, de modo que nada lhe falta de tudo quanto deseja a sua alma, mas Deus não lhe dá o poder de deles comer, antes o estranho os come; isto é vaidade e grande mal.”
Este versículo resume a tragédia do capítulo: a dissociação entre posse e usufruto. Aqui, a crítica não é à riqueza em si, mas à ausência de sentido — e à intervenção divina que impede o gozo. A expressão “o estranho os come” sugere ainda a perda da herança, a frustração do legado, e o fracasso daquilo que deveria coroar a vida do justo.
🔹 Intertextualidade com o Antigo e o Novo Testamento
No Antigo Testamento, a figura do homem que acumula sem desfrutar ecoa a maldição de Deuteronômio 28:30–33: “plantarás uma vinha... mas não comerás do seu fruto”. O motivo do natimorto lembra Jó 3, onde o patriarca amaldiçoa o dia do nascimento: “Por que não fui como um aborto oculto?” (Jó 3:16). Também há ecos do Salmo 49, que observa que o homem rico “não permanece; é semelhante aos animais que perecem”.
O Novo Testamento retoma esse mesmo contraste na parábola do rico insensato (Lucas 12:16–21), que acumula celeiros, planeja gozar da vida, mas morre sem desfrutar. Jesus encerra essa parábola com uma frase que ecoa Eclesiastes: “Assim é o que entesoura para si, mas não é rico para com Deus”. A dissociação entre ter e ser, entre possuir e participar, é central na crítica de Eclesiastes e na teologia do Reino.
Cristologicamente, o capítulo aponta para a falência da antropologia autônoma: nem vida longa, nem descendência numerosa, nem riqueza asseguram plenitude. A satisfação da alma (nap̄eš) é uma dádiva, não um direito. Em João 6:35, Jesus afirma: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome”. Ele se apresenta como resposta ao vazio essencial descrito em Eclesiastes 6. O que Deus nega ao avarento, Ele concede gratuitamente àquele que crê.
🔹 Lição Teológica Geral
Eclesiastes 6 é uma crítica ao ideal humano de felicidade baseada em posse, longevidade e honra social. O Pregador mostra que o sentido da vida não está no quantum da existência, mas na qualidade da comunhão com Deus. O gozo, o contentamento e o legado não são produtos do esforço humano, mas dons concedidos soberanamente. A vida, sem a graça do desfrute, é comparável à morte. Este capítulo, mais do que qualquer outro, clama por redenção: ele revela que o ser humano, mesmo cercado de tudo, permanece vazio se Deus não estiver presente no interior da experiência.
📝 Resumo de Eclesiastes 6
Eclesiastes 6 inicia com a constatação de um mal comum e pesado debaixo do sol (Ec 6:1-6). O Pregador descreve um homem a quem Deus concede riquezas, bens e honra, de modo que nada lhe falta de tudo o que deseja. No entanto, Deus não lhe dá o poder para desfrutar dessas coisas; em vez disso, um estranho as desfruta. Isso, segundo o Pregador, é vaidade e uma grave enfermidade. Ele argumenta que, se um homem gerar cem filhos e viver muitos anos, mas não desfrutar do bem e não tiver sepultura digna, um aborto é melhor do que ele. Pois o aborto vem em vaidade e vai em trevas, e o seu nome é coberto de escuridão; nunca viu o sol nem o conheceu, e tem mais repouso do que aquele homem. Mesmo que este viva mil anos duas vezes, mas não desfrute do bem, não vão todos para um mesmo lugar? Esta seção ressalta a futilidade de ter bens sem a capacidade de aproveitá-los, colocando até mesmo um aborto em melhor condição, pois a vida sem desfrute é sem propósito.
A reflexão do Pregador prossegue abordando o desejo insaciável da alma e a ignorância do futuro (Ec 6:7-9). Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e ainda assim a sua alma não se farta. Que vantagem tem o sábio sobre o tolo? Que vantagem tem o pobre que sabe andar diante dos vivos? O Pregador conclui que é melhor o que os olhos veem do que o divagar da ambição; isso também é vaidade e correr atrás do vento. Ele sugere que a satisfação reside no presente, em vez de na busca incessante por mais, que nunca é plenamente alcançada.
Finalmente, o Pregador discute a limitação do homem diante de seu destino e da soberania divina (Ec 6:10-12). Tudo o que existe já tem nome, e sabe-se o que é o homem; ele não pode contender com aquele que é mais forte do que ele. Quanto mais palavras, maior a vaidade, e que proveito há nisso? Pois quem sabe o que é bom para o homem nesta vida, durante os poucos dias da sua vida de vaidade, que ele passa como uma sombra? E quem pode dizer ao homem o que acontecerá depois dele debaixo do sol? Esta seção enfatiza a impotência humana para controlar o próprio destino ou para compreender plenamente os propósitos divinos. A vida é breve e incerta, e o futuro permanece oculto, reforçando a ideia de que a busca por sentido em riquezas ou em sabedoria meramente humana é, em última análise, vã.
📖 Comentário de Eclesiastes 6
Eclesiastes 6:1-2 O Pregador novamente aponta que ele viu algo “debaixo do sol” (Ec 6:1). Com isso, ele mais uma vez deixa claro seu ponto de vista, para a partir daí olhar e pensar as coisas ao seu redor. Ele observou “um mal” que qualquer um pode ver em qualquer lugar. Na verdade, é um mal que “prevalece entre os homens” ou, como também pode ser traduzido, “pressiona fortemente os homens”.Diz respeito a um homem que tem tudo o que deseja e nada lhe falta (Ec 6:2). Tudo lhe foi dado por Deus e Deus também lhe dá a chance de desfrutá-lo, como o Pregador observou anteriormente (Ec 5:17-19). Seja o que for que um homem possa possuir, ele deve tudo a Deus, esteja ele ciente disso ou não. Deus satisfaz nossos “corações com comida e alegria” (Atos 14:17).
Agora o Pregador observa o lado negativo da riqueza, posses e honra: Deus não capacita o homem para “comer deles”. Esta observação é tão verdadeira quanto a anterior. Nós apenas temos que ver o contexto de ambas as observações. Há “um estrangeiro” aqui e ele “gosta”. Podemos ver uma referência a Satanás aqui. Enquanto uma pessoa não mantém um relacionamento vivo com Deus pelo arrependimento e pela fé, ela está sob o controle de Satanás com tudo o que possui. O verdadeiro prazer só pode existir quando alguém se arrepende e começa a viver de acordo com ele.
Quando o homem exclui Deus, Deus o entrega ao seu próprio caminho e ações. Um homem não pode realmente desfrutar de nada sem Ele. O fato de Deus não capacitar o homem para desfrutar de nada disso, cabe ao próprio homem. O homem escolhe atribuir sua riqueza, posses e honra aos seus próprios méritos. Tal atitude do homem fez Deus anexar automaticamente a consequência de que o homem também não pode desfrutá-la.
Pelo que vê, o Pregador conclui que a posse de riquezas, propriedades e honra é “vaidade”. De que adianta um homem se outra pessoa, mesmo que ele não saiba, foge com ele? Salomão não conclui isso sobriamente, mas o toca profundamente. Ele sofre a percepção que faz como “uma aflição severa”. Possivelmente isso vem da percepção de que o próprio homem não pode mudar nada sobre o mal, em qualquer forma.
Trata-se de causa e efeito, ambos ancorados por Deus em Sua criação, também nas ações do homem. O homem se rendeu ao ‘estrangeiro’, Satanás. Satanás consome o que as pessoas possuem, desde que excluam Deus de suas mentes. A palavra ‘consumir’ contém o pensamento de desperdiçar ou esbanjar coisas valiosas como se não tivessem nenhum valor.
Satanás pode fazer isso encorajando as pessoas a roubar ou destruir a propriedade. Ele também pode fazê-lo por uma praga pessoal, uma doença física ou mental, ou um estilo de vida pecaminoso, de modo que não haja oportunidade de desfrutar o que Deus dá (cf. Rm 1,21). A semeadura do tumulto e do ódio é também um meio comprovado pelo qual ele torna o prazer impossível (cf. Pro 15,16-17).
Eclesiastes 6:3-6 Uma pessoa pode ter uma descendência muito grande e envelhecer muito, coisas que são apresentadas no Antigo Testamento como uma bênção especial, e ainda assim deixar a vida vazia e despercebida, sem que outros o pranteiem (Ec 6:3; cf. Jr 22:18 -19). Isso é realmente trágico. Além disso, é um grande tormento experimentar e ver coisas belas e não encontrar alegria e satisfação nelas.
Se a vida de tal homem acabou, não há ninguém para derramar uma lágrima por ele. Sua vida não vale nada e nem seu cadáver. Eles nem se preocupam em cavar uma cova para ele e enterrá-lo. Seu fim é, como foi sua vida: vazio.
Tais tormentos não incomodam “um aborto espontâneo” e é por isso que é melhor. A criança natimorta não é confrontada com a inquietação de uma existência não realizada. Ele também não tem culpa para com Deus. Se uma vida é vivida no pecado e termina na incredulidade, seria melhor nunca tê-la vivido (cf. Mar 14,21).
Um aborto espontâneo é o primeiro a morrer (Ec 6:4). Isso já acontece antes de ter visto a vida (Sl 58:8). Tudo permanece escondido na escuridão. Embora o aborto não tenha visto a vida e a luz, está melhor do que aquele que viu tudo (Ec 6:5). O aborto tem descanso e não experimentou todas as aflições sob o sol, enquanto o vivo sempre teve inquietação. Jó e Jeremias desejaram ser assim quando estavam desesperados (Jó 3:1-19; Jr 20:14-16).
O homem rico e o homem pobre que morrem na incredulidade irão ambos para o lugar onde todas as diferenças temporais desapareceram. Este é o reino dos mortos. Todo mundo vai acabar lá, por mais que viva. Mesmo que alguém fique duas vezes mais velho que Matusalém (Gn 5:27), isso não lhe servirá de nada quando morrer. Depois de sua vida longa e desagradável, ele vai para o reino dos mortos, o lugar onde também existe o aborto que não viu a vida.
O Novo Testamento ensina que há uma diferença entre o lugar para onde vai um aborto espontâneo e para onde vai o incrédulo após a morte. Um aborto espontâneo não pecou e, portanto, é salvo pela obra de Cristo. O incrédulo está no lugar da dor porque se recusou a se arrepender. Ele será julgado de acordo com suas obras (Ap 20:12-13). No entanto, há uma diferença na gravidade da punição que os incrédulos recebem após a morte (Lc 12:48).
Aprendemos com o Novo Testamento que também há uma distinção na recompensa para aqueles que morrem na fé. Eles serão recompensados de acordo com a fidelidade com que serviram ao Senhor em suas vidas (Mateus 25:14-30).
Eclesiastes 6.3 Alcançar o maior dos objetivos não vale a pena quando não há um propósito decente para a vida. A criança que não nasceu está melhor do que a pessoa que vive mal. Segundo o autor, se a vida não for nada mais do que uma jornada sem sentido até a morte, não vale nem a pena nascer é uma criança que nasce morta tem mais sorte (NVI) do que uma pessoa infeliz (v. 4-6).
Eclesiastes 6.4-6 Este lugar é, conforme dito em Eclesiastes 3.20, a sepultura. Se uma vida longa terminar numa morte sem perspectiva alguma, de que terá valido esta vida? Uma vida longa sem ter conhecido Deus e, de fato, frustrante e inútil.
Eclesiastes 6:7-9 O primeiro e grande objetivo de todo o trabalho do homem é que sua boca consiga algo para comer, porque só assim ele permanecerá vivo (Ec 6:7). Repetidas vezes, o homem tem que comer. Ele nunca atinge o ponto de saturação final, de modo que já comeu o suficiente de uma vez por todas. Ele fica com fome de novo e de novo, então ele tem que comer de novo e de novo. É para isso que ele trabalha. Isso se aplica ao rico industrial e ao primeiro-ministro, bem como ao trabalhador.
É trabalhar para comer e comer para poder trabalhar: “O apetite do trabalhador o favorece, porque a sua fome o impele” (Pv 16,26). Seu estômago está no controle dele. Ao mesmo tempo, há uma fome mais profunda, uma fome espiritual. O desejo do que é verdadeiramente satisfatório não se satisfaz enchendo o estômago. Esta é a lição mais profunda deste versículo.
Quando uma pessoa percebe que uma alimentação saudável para sua alma é mais importante do que para seu corpo, ela aprendeu a lição. Dizê-lo com as palavras do Senhor Jesus é a lição de que “nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mateus 4:4).
Ao encher o estômago, o sábio não tem vantagem sobre o tolo; não há distinção entre eles nisso (Ec 6:8). Ambos têm a mesma necessidade de comer e beber para se manterem vivos. Ambos também experimentam a brevidade da satisfação das necessidades.
No Novo Testamento aprendemos que a relação entre o estômago e a comida é temporária. Em algum momento, Deus destruirá tanto o estômago quanto a comida (1Co 6:13). Isso acontece assim que uma pessoa morre. Na vida após a morte, não há necessidade de comer para se manter vivo, é uma pessoa muito pobre e que sua alma está em um estado desastroso.
O mesmo princípio se aplica ao pobre que entende a arte de manobrar cautelosamente pela vida. Ele pode saber lidar com “os vivos”, mas com todas as suas habilidades para fazer amizade com todos, não consegue encher o estômago. Os vivos podem ser os ricos, ou as pessoas proeminentes, que menosprezam os pobres. Se o pobre for capaz de lidar com eles com destreza, ele não obterá nenhuma vantagem adicional sobre os ricos ou pessoas importantes. Eles, como ele, têm as mesmas necessidades da vida.
O desejo inquieto de coisas que não se possui causa tormento, enquanto há tanto para desfrutar no momento por causa do que os olhos veem (Ec 6:9). O desejo desperta para uma busca incansável por algo que nunca se torna uma posse. O primeiro – o que os olhos veem – é melhor do que o segundo – o que a alma deseja – porque o primeiro você tem. O prazer do bem de hoje o deixa contente e feliz. A vida é cheia de pequenas surpresas, se quisermos vê-las. No entanto, mesmo isso não dá descanso final e não preenche os desejos mais profundos de satisfação interior.
Somente ver o grande presente de Deus em Cristo dá a maior alegria e descanso. Isso também se aplica à busca de conhecê-Lo. Essas atividades não são fúteis nem buscam o vento, mas provam a realidade de uma fé que está em uma conexão viva com Cristo.Eclesiastes 6.10 Seja qualquer o que for, já o seu nome foi nomeado, porque dar nome a algo e defini-lo (Ec 1.9-11). Deus já sabe de tudo e ordenou tudo o que acontecerá (Ec 1.9-11).
Eclesiastes 6.7, 8 No hebraico, a palavra “apetite” [NVI] também pode ser traduzida como “alma”. No caso de estabelecer um paralelo com a palavra “boca” do primeiro versículo, então apetite pode ser apropriada neste contexto. Ainda assim, a tradução “alma” se encaixa bem com o argumento de a dádiva ser mantida separada da capacidade de desfrutar da mesma (Ec 5.10).
Eclesiastes 6.9 O sentido deste provérbio é que é melhor aceitarmos o que está ao nosso alcance e desfrutar disso do que fantasiar sobre coisas que estão além de nosso alcance.
Eclesiastes 6:10-12 Deus conhece o começo de todo homem (Is 46:9-10), também seu nome e caráter (Ec 6:10). O seu nome, a sua identidade, é-lhe dado por Deus (cf. Is 40,26). Dar um nome a alguém ou algo significa que alguém tem autoridade para fazê-lo. Assim, Deus chamou “luz dia e escuridão noite” (Gn 1:5). Um nome expressa a natureza de algo (Gn 2:19).
Quanto ao homem “sabe-se o que é o homem”. O homem deve saber que é uma criatura débil (cf. Sl 9,20) e não o Deus forte (Is 31,3). Ele deve saber que é impossível disputar com Deus ou chamá-lo para prestar contas. É tolice começar com isso, pois ele sempre será derrotado “por aquele que é mais forte do que ele” (Jó 23:13; Jó 33:12). Também é possível que com ‘aquele que é mais forte do que ele’ a morte seja entendida.
Ele não pode mudar o que Deus fez dele, o caráter que Ele lhe deu (Jeremias 1:5). Aceitar isso é a coisa mais essencial para funcionar como Deus planejou que fosse. Isso também dá pleno sentido à vida. Não faz sentido discutir isso com Deus, embora Deus nos permita fazê-lo quando o fazemos, como no caso de Jó, a fim de nos ensinar lições ainda mais ricas.
No entanto, o homem não está inclinado a aceitar o que Deus fez dele. Ele ousa se enfurecer contra Deus, o Todo-Poderoso, pela menor coisa, e desafiar Seu direito ao governo de todas as coisas. Como um idiota, ele resmunga e amaldiçoa a Deus, embora ele mesmo seja o culpado pela miséria, sua decadência e mortalidade em que se encontra, devido aos seus próprios pecados. Mesmo que um homem seja conhecido e rico, é de conhecimento geral que ele é apenas um homem, feito de pó e, portanto, fraco e frágil.
Ele está, por ser humano, sujeito a inúmeras calamidades. Sua capacidade de evitá-los está completamente fora de seu controle, apesar de todos os seus temerosos esforços e preocupações. Ele não pode usar seu poder e riqueza para realizar sua vontade, a fim de fazer com que os desastres desapareçam dele quando o atingirem. Embora um homem possa se tornar famoso, sabe-se que ele é apenas um homem que não pode disputar com Aquele que é mais forte, o que significa que ele não pode controlar os eventos, pois somente Aquele que é mais forte, a saber, Deus, pode.
Há tantas coisas na vida do homem que são fúteis, transitórias (Ec 6:11). Qual é o real benefício de tais coisas para ele? Eles não o beneficiam, não o beneficiam em nada. As palavras das pessoas não mudam o mundo, apenas tornam o vazio maior. Apenas ouça as inúmeras palavras vazias de muitos políticos. A linguagem firme usada para suprimir o mal em qualquer forma está se tornando cada vez mais lamentável.
É uma reminiscência do ditado de que um provérbio na boca dos tolos é como as pernas do coxo, que são inúteis (Pv 26:7). Você pode ver isso acontecer diante de você: as palavras firmes escorrendo como saliva impotente da boca do orador, escorrendo pelo queixo e sujando sua jaqueta elegante. Só a Palavra viva e poderosa de Deus é capaz de fazer uma mudança para melhor.
Ninguém sabe o que é bom nesta vida para a humanidade, só Deus sabe, mas Ele está impedido neste livro, porque o Pregador só vê tudo debaixo do sol (Ec 6:12). Haverá dias de prosperidade ou adversidade, de lucro ou perda, de abundância ou de escassez? O homem não sabe disso porque passa seus dias como uma sombra, o que significa como se não tivesse existência real.
Ele não pode controlar o curso de sua vida e não pode fazê-lo por sua própria vontade. Sua vida é contada em uma série de “anos”, que são vistos como “fúteis” e passados como “uma sombra”. Esta descrição mostra como o homem é pequeno. Essa é a realidade da vida quando se vive longe de Deus, porque a vida só tem sentido e sentido em conexão com Ele.
Um homem que não considera Deus, nada sabe sobre o valor da vida e não tem conhecimento do que será depois dele, muito menos qualquer certeza sobre isso. A vida depois dele não pode ser descrita em um plano. Sem Deus, ele pode fazer previsões que, na melhor das hipóteses, não têm outra base senão as experiências anteriores. Ao mesmo tempo, será experimentado como essas previsões muitas vezes se mostraram inúteis. Com a mudança das pessoas, a visão sobre a vida também muda.
Deus sabe desde o princípio o que vai acontecer e Ele sabe o que vai acontecer com ele depois da vida de um homem na terra. Somente Deus sabe o que acontecerá depois desta vida, assim como qualquer um a quem Deus o revelar.
Eclesiastes 6.11 Que mais tem o homem de melhor. A palavra traduzida como “melhor” é sinônimo do termo mais comum em Eclesiastes traduzido como “proveito” (hb. yitron). O pregador (Qohelet) não quis dizer que o homem não significa nada, mas sim que, ao disputar com Deus (v. 10), o que ganhará?
Eclesiastes 6.12 A expressão “como sombra” confirma o sentido da palavra traduzida do hebraico como “vaidade”. A vida se esvai depressa, como um vapor. Neste sentido, é lançado o questionamento quem declarara ao homem o que será depois dele? A resposta implícita é que só Deus sabe o que nos acontecerá após a morte. Eclesiastes não insinua que não há nada após o túmulo. Ensina que a vida de cada pessoa será examinada por Deus após a morte.
✡️✝️ Comentários de Rabinos e Pais Apostólicos
✡️ Talmude
O Talmud Bavli, Yoma 38b, ecoa Eclesiastes 6:2 (“Há um homem a quem Deus dá riquezas, bens e honra, de modo que nada lhe falta... mas Deus não lhe permite que dele coma; outrem o desfruta...”), ao discutir casos de homens ricos que morrem antes de gozar o fruto do seu trabalho. Os rabinos interpretam isso como julgamento divino que recai sobre aqueles que ajuntam para si sem compartilhar. Rabi Eleazar diz: “Aquele que não usa seus bens para o bem dos outros verá seus bens desfrutados por estranhos.” A posse sem generosidade é, assim, uma forma de maldição, não de bênção.
Em Talmud Moed Katan 28a, a morte prematura ou a incapacidade de usufruir da vida é vista como sinal de desequilíbrio entre mérito e mazal (sorte). A leitura do versículo 3 — sobre o homem que tem cem filhos, vive muitos anos e ainda assim “sua alma não se farta do bem” — é entendida como denúncia do vazio interior daquele que vive só para a quantidade, não para a qualidade. Um ditado talmúdico diz: “Mais vale um suspiro de contentamento do que mil dias de abundância sem paz.”
✡️ Mishná
A Mishná Avot 4:16 dialoga fortemente com Eclesiastes 6:7 (“Todo o trabalho do homem é para sua boca, e mesmo assim sua alma não se satisfaz”). A Mishná ensina:
“Este mundo é como um corredor antes do mundo vindouro. Prepara-te no corredor para entrares no palácio.”
Isso interpreta a frustração descrita em Eclesiastes como falta de visão escatológica. Quem trabalha apenas “para a boca” — para necessidades imediatas e sensuais — jamais encontra contentamento, pois sua alma foi feita para transcender.
Em Avot 6:4, também se reflete esse espírito:
“Pão com sal comerás, água em pequena medida beberás, no chão dormirás, e na Torá te empenharás… e serás feliz.”
Essa felicidade é o oposto da infelicidade do rico frustrado em Eclesiastes 6: ela vem da alma que se satisfaz com o essencial porque encontrou sentido.
✡️ Zohar
O Zohar, Terumah 144b, comenta misticamente Eclesiastes 6:2, explicando que o homem que “possui tudo, mas não pode comer” é a alma que, em sua reencarnação atual, recebeu bênçãos de vidas passadas, mas não tem mérito suficiente para usufruí-las — ou porque está espiritualmente desconectado, ou porque precisa reparar ações anteriores. Isso é interpretado no contexto do gilgul ha-nefashot (rotação das almas): o acúmulo de bens sem gozo é indicativo de uma alma em dívida.
Em Zohar II, 214a, Eclesiastes 6:3–5 (“Se o homem gerar cem filhos, viver muitos anos... e não tiver sepultura... é melhor o aborto do que ele”) é tratado com profunda reverência. O aborto é interpretado cabalisticamente como alma que jamais desceu por completo, mas que permanece no domínio de Yesod, aguardando retificação. Já o homem cheio de filhos e anos, mas sem sentido, “perdeu o acesso à luz de sua raiz” — ele vive como casca (קליפה) sem conteúdo.
“O aborto repousa no seio do Eterno, pois não foi manchado; mas o homem sem sentido, mesmo entre os vivos, jaz entre os mortos.”
Em Zohar, Vayikra 10a, Eclesiastes 6:7 é analisado à luz da luta entre o nefesh behemit (alma animal) e o nefesh elokit (alma divina): o corpo trabalha para a boca, mas a alma clama por propósito. O alimento que nutre o corpo sem elevar a alma torna-se como maná apodrecido — abundante, porém sem luz.
Eclesiastes 6 é um grito contra a fartura sem sentido, a vida longa sem contentamento, e o trabalho vazio de propósito. O Talmud aponta que o homem que não compartilha é punido com frustração; a Mishná responde com o ideal do contentamento espiritual e da preparação para o mundo vindouro; o Zohar desvenda a dimensão espiritual desses males: são sintomas de almas desconectadas, vidas sem alinhamento com a luz divina, e reencarnações sem tikun.
O Pregador vê o “aborto” (nêfel) como mais digno do que o rico vazio. A tradição rabínica responde: isso é porque o aborto, no mundo oculto, ainda está ligado à pureza original. Já o homem que vive sem alma está morto mesmo em sua abundância. A única resposta é o realinhamento com a luz da Torah e a abertura à comunhão espiritual.
Comentários sobre Eclesiastes 6:1
✝️ Gregório, o Maravilhas (270 d.C.)
“Além disso, exibirei em discurso a infelicidade que mais prevalece entre os homens. Embora Deus possa suprir um homem com tudo o que lhe agrada, e não o privar de nenhum objeto que possa de alguma forma apelar aos seus desejos, seja riqueza, honra ou qualquer outra daquelas coisas pelas quais os homens se distraem; ainda assim, o homem, enquanto prospera em todas as coisas, como se o único mal que lhe é infligido pelo céu fosse justamente a incapacidade de desfrutá-las, pode apenas economizá-las para o seu semelhante, e cair sem proveito nem para si nem para o seu próximo. Considero isso uma forte prova e um sinal claro de um mal insuperável.”
Comentários sobre Eclesiastes 6:2
✝️ Ambrósio de Milão (397 d.C.)
“Que bem há para o homem nesta vida? Ele vive na escuridão e não pode satisfazer seus desejos. E se estiver farto de riquezas, perde o gozo do seu descanso, porque é forçado a guardar os bens que adquiriu por meio de sua miserável ganância. Assim, ele os possui em maior miséria, visto que não lhe podem fazer bem. Pois o que é mais miserável do que ser atormentado por guardá-los e não tirar proveito de sua abundância? A morte como um bem.”
✝️ Atanásio, o Apostólico ( 373 d.C.)
“Que nenhum de nós alimente o desejo de possuir, pois de que nos serve adquirir o que não podemos levar conosco? Por que não adquirir antes o que podemos levar: prudência, justiça, temperança, fortaleza, entendimento, caridade, amor aos pobres, fé em Cristo, mansidão, hospitalidade? Se as obtivermos, as encontraremos ali diante de nós, preparando-nos uma recepção na terra dos mansos.”
Comentários sobre Eclesiastes 6:7
✝️ Gregório, o Dialogista (604 d.C.)
“O rico revela a grande ardência em sua língua quando diz: “Manda Lázaro molhar a ponta do dedo na água e refrescar a minha língua, pois estou atormentado nesta chama”. Os incrédulos guardam as palavras da lei na boca, mas se recusam a agir de acordo com elas. A ardência será maior no lugar onde manifestaram que sabiam o que fazer, mas não estavam dispostos a fazê-lo. Salomão disse a respeito daqueles que são sábios, mas negligentes: “Todo o trabalho do homem está em sua boca, mas a sua alma não se fartará”. Quem trabalha apenas para isso, para saber o que dizer, jejua com o coração vazio do alimento que deveria lhe proporcionar o conhecimento.”
✝️ Jerônimo (420 d.C.)
Tudo o que o trabalho humano produz neste mundo é consumido pela boca, triturado pelos dentes e enviado ao estômago para digestão. Mesmo quando um petisco delicia o paladar, parece proporcionar prazer apenas enquanto permanece na boca, pois, ao passar para o estômago, não se distingue mais de outros alimentos. A alma do comensal não se satisfaz posteriormente, pois ele desejará novamente o que acabou de comer, visto que nem o sábio nem o tolo são capazes de viver sem comida, e o pobre não busca nada além de sustentar seu corpo frágil e evitar a fome. Além disso, a alma não obtém nenhum benefício do refresco do corpo. O alimento é comum tanto ao sábio quanto ao tolo, e os pobres tendem a ir para onde percebem riqueza. É melhor entender este ensinamento como se referindo à pessoa eclesiástica cujo trabalho está em sua boca porque é versado nas Escrituras celestiais, mas cuja alma não se satisfaz porque deseja sempre aprender mais.
Comentários sobre Eclesiastes 6:10
✝️ Evágrio Pôntico (399 d.C.)
“Existem dois tipos de nomes: alguns nomes designam aquelas coisas que por natureza têm um corpo; outros designam aquelas que por natureza não têm corpo. Os nomes daqueles que têm um corpo designam as características de tal ser, como seu tamanho, cor e estrutura.… Os nomes daqueles sem corpo revelam uma qualidade de seu estado de existência, como serem dignos de louvor ou condenação. Mas se a primeira classe de nomes for aplicada de maneira direta, o mesmo não acontece com a segunda classe. [Com a segunda classe] há duas opções: o ser tem a capacidade de autodeterminação de se inclinar para a virtude e a honra em seu conhecimento do Criador, o que é o caso de anjos, arcanjos, tronos e dominações; ou de se inclinar para o mal e aumentar sua ignorância do Criador, como é o caso de Satanás e qualquer outro governante mundial das trevas atuais. … Não perguntemos: “Por que fui colocado neste corpo? Ou por que não fui feito anjo? Deus não mostra parcialidade? Não temos livre- arbítrio?” Todas essas perguntas simplesmente multiplicam a vaidade. Como pode a criatura dizer ao seu Criador: "Por que me fizeste assim ?" Ou como pode uma criatura responder a Deus? Que cessem todos esses tipos de discussões. Em vez disso, que prevaleçam aquelas discussões que nos guiam em direção à virtude e ao conhecimento. Tudo o que está presente nesta era de sombras é chamado de vaidade e sombras, e tudo o que pertence a esta vida será coberto pela escuridão, tornando-se obsoleto ao partir desta vida.”
📚 Comentários Clássicos Teológicos
📖 Matthew Henry (1662–1714)Matthew Henry entende Eclesiastes 6 como uma continuação do discurso sobre a vaidade das riquezas e das honras terrenas, mesmo quando concedidas em abundância. O capítulo, para ele, descreve uma “doença dolorosa” (v. 2) que acomete o homem rico: Deus lhe concede bens, mas não lhe dá o poder de desfrutá-los. Henry vê aqui uma crítica à falsa segurança dos bens terrenos — riqueza sem contentamento é um fardo, não uma bênção.
Ele observa que, nos vv. 1–2, o problema não está nos bens em si, mas no fato de que “um estranho os desfrute”. Para Henry, isso mostra a soberania de Deus sobre a dádiva e o gozo: não basta ter, é necessário que Deus conceda o espírito de alegria. O v. 3 — “se o homem gerar cem filhos e viver muitos anos...” — representa o auge do ideal oriental de prosperidade; no entanto, se não tem contentamento nem sepultura digna, a vida se torna amarga. Henry vê no “nascituro” (v. 3b–5) um contraste dramático: mesmo aquele que nunca viu a luz está melhor do que o homem rico sem paz. Isso reforça, segundo ele, o tema de que a alma vale mais do que os bens.
Nos vv. 6–7, Henry aponta que mesmo uma vida longa não vale sem contentamento. “Todo o trabalho do homem é para a sua boca”, mas sua alma não se satisfaz — ou seja, a vida centrada em desejos materiais é vazia por natureza. O v. 8, com sua pergunta retórica — “Que vantagem tem o sábio sobre o tolo?” — é, para ele, uma denúncia da pretensão intelectual quando divorciada do temor de Deus. A sabedoria prática só tem valor se está ligada à piedade.
Nos vv. 10–12, Henry vê um retorno à soberania divina. Tudo o que existe já tem um nome (v. 10), indicando que há um plano pré-estabelecido por Deus. Discutir contra Ele é inútil — “não pode contender com quem é mais forte do que ele”. Ele conclui com a pergunta do v. 12: “quem sabe o que é bom para o homem durante sua vida?” — uma confissão da limitação humana diante do mistério da providência divina.
Fonte: Matthew Henry Commentary on Ecclesiastes 6
📖 John Gill (1697–1771)
John Gill começa sua análise de Eclesiastes 6 observando que o “mal que vi debaixo do sol” (v. 1) é não apenas comum, mas “pesado” — um sofrimento que recai com frequência sobre muitos homens. Ele explica que o v. 2 retrata um caso trágico: Deus dá riqueza, honra e longevidade a um homem, mas o impede de aproveitar. A expressão hebraica שָׁלִיט לֶאֱכֹל מִמֶּנּוּ (šālît leʾekhol mimmennû, “não tem domínio para comer dele”) indica que, embora possuidor, o homem não tem poder de desfrutar. Gill considera esse “domínio negado” uma punição providencial, demonstrando que Deus retém a alegria onde o coração não é piedoso.
No v. 3, ele comenta que ter “cem filhos” era considerado um sinal supremo de bênção, mas até isso é vaidade se o homem não tem “bem na sua alma” (ṭovâh bĕnafsô, v. 3). A falta de sepultura (v. 3b) é, para Gill, um símbolo da humilhação final — mesmo depois da morte, o homem sem Deus é desprezado. Ele vê no “nascituro” (v. 4) uma imagem de vida fugaz e silenciosa, mas que, paradoxalmente, é mais abençoada do que a existência vazia.
Nos vv. 6–7, Gill observa que a longa vida (mil anos duas vezes) não tem proveito se o fim é o mesmo: o túmulo. Ele interpreta o v. 7 — “todo o trabalho do homem é para a sua boca” — como uma crítica à escravidão do apetite físico, que nunca satisfaz. O “sábio” e o “tolo” (v. 8) são colocados lado a lado para mostrar que, no fim, sem o temor do Senhor, não há vantagem duradoura.
Nos vv. 10–12, Gill analisa a doutrina da predestinação. “O que já foi chamado pelo seu nome” (v. 10) sugere, segundo ele, que todas as coisas foram determinadas por Deus. A expressão “não pode contender com o mais forte do que ele” é, para Gill, uma referência a Deus — lutar contra a vontade divina é vã rebelião. O v. 12 conclui com a limitação da mente humana: “quem sabe o que é bom?” A resposta implícita, para Gill, é “só Deus sabe”.
Fonte: John Gill’s Exposition on Ecclesiastes 6
📖 Albert Barnes (1798–1870)
Albert Barnes vê Eclesiastes 6 como um capítulo que atinge o clímax da reflexão sobre a inutilidade das posses sem o dom de desfrutá-las. No v. 2, ele comenta que a riqueza aqui descrita é real, não hipotética. O homem tem bens, honra e abundância, mas falta-lhe o poder de usufruí-los. Barnes interpreta que este “poder” não depende da condição física ou mental apenas, mas é um dom espiritual — um dom que vem de Deus. A frase “um estranho os consome” indica o fracasso humano em reter aquilo que ajuntou.
O v. 3, com seus cem filhos e muitos anos, é, para Barnes, uma hipérbole que simboliza a mais elevada expectativa de felicidade humana. Mas se não há sepultura, se o corpo não é sequer honrado após a morte, a existência foi em vão. Ele observa que a comparação com o “nascituro” (vv. 3–5) serve para reforçar o ponto: uma vida não vivida é pior que nenhuma vida.
No v. 7, Barnes interpreta “todo o trabalho do homem é para sua boca” como uma crítica à busca pelo sustento físico sem valor moral ou espiritual. O apetite é insaciável, e a alma permanece faminta. Ele observa que, no v. 8, não há diferença essencial entre o sábio e o tolo quando ambos vivem para o estômago.
No v. 10, ele comenta que “o que já existe” aponta para a natureza humana como algo definido e conhecido por Deus. A menção ao nome dado implica identidade, destino e limitação. “Não pode contender com quem é mais forte do que ele” — isto é, o homem não pode mudar seu destino nem discutir com Deus. O v. 11 — “quanto mais palavras, mais vaidade” — resume para Barnes a futilidade de filosofar sem temor do Senhor. O v. 12 encerra com o ponto culminante: o homem não sabe o que é bom, nem conhece o que virá após ele. A conclusão é que a vida verdadeira exige dependência de Deus.
Fonte: Albert Barnes’ Notes on Ecclesiastes 6
📖 Keil (1807–1888) & Delitzsch (1813–1890)
Keil & Delitzsch analisam Eclesiastes 6 com enfoque linguístico e teológico. No v. 1, eles destacam a expressão רָעָה חוֹלָה (raʿāh ḥōlāh, “mal doloroso”), notando que é uma construção rara que transmite sofrimento intenso e injustiça percebida. O v. 2 apresenta o termo שֶׁיֶּתֶּן לוֹ אֱלֹהִים (šeyyēten lô ʾĕlōhîm, “que Deus lhe dá”) — mostrando que a origem dos bens é divina, mas o mesmo Deus pode restringir o gozo. A expressão “não tem poder de comer deles” (וְלֹא יַשְׁלִיטֶנּוּ) é gramaticalmente enfática: não é uma simples falta de apetite, mas uma barreira invisível imposta por Deus.
O v. 3 — “não se farta do bem” (loʾ-yisbaʿ baṭṭôv) — é comentado como revelação da inquietação existencial. O v. 4 traz o termo נֵפֶל (nēfel, “nascituro”), que, em sua brevidade e anonimato, representa o contraste com a ostentação do homem rico e insatisfeito. Os versículos 5–6 reforçam essa ironia: viver mil anos duas vezes sem contentamento vale menos que não nascer.
No v. 7, Keil & Delitzsch comentam que “todo o trabalho do homem é para sua boca” é uma crítica à motivação materialista da vida humana. A “boca” aqui representa os desejos físicos. No v. 8, a diferença entre sábio e tolo é anulada pela mesma busca infrutífera.
O v. 10 — “o que é, já há muito que se chamou pelo nome” — é analisado como uma declaração de predeterminação. A raiz do verbo קָרָא (qārāʾ, “chamar”) implica nomear segundo a essência — o que significa que Deus, ao nomear, determina. O v. 11 reforça a futilidade da prolixidade humana. O v. 12 conclui com uma pergunta dupla que permanece em aberto: “quem sabe o que é bom?”, “quem pode dizer o que virá depois dele?” — ambos são enigmas que, segundo os autores, revelam a limitação da sabedoria natural e preparam o coração para confiar somente em Deus.
Fonte: Keil & Delitzsch Commentary on Ecclesiastes 6
✝️ Comentário Reformado de Lutero
1. Há um mal que vi debaixo do sol, e que pesa sobre os homens: 2. um homem a quem Deus dá riquezas, bens e honra, de modo que não lhe falta nada de tudo o que deseja, contudo Deus não lhe dá poder para desfrutar dessas coisas, mas um estranho as desfruta; isso é vaidade; é uma aflição dolorosa.
Após interpor seu ensinamento, ou exortação, ele retorna ao seu catálogo dos vários empreendimentos da vida humana nos quais reinam a vaidade e a miséria. O que ele relata aqui sobre o homem rico parece semelhante ao que disse acima. Mas aqui ele está falando sobre o homem rico que mantém suas grandes riquezas e sua família em paz, que vive sem perdas ou danos aos seus bens. No entanto, em meio à sua riqueza e às suas magníficas honras, ele ainda é atormentado e não consegue desfrutá-las, seja porque a doença interfere, seja porque é impedido pelo ódio e pela ansiedade de preservar e aumentar seus bens. Assim, ele é torturado e perece por meio das próprias coisas que possui.
Se lhe nasce um filho, isso se torna mais uma fonte de ansiedade. Como fazer e legar o máximo possível a ele, especialmente se já for um homem adulto? Pois, como diz o ditado popular: “Crianças pequenas são uma pequena ansiedade, crianças grandes, uma grande ansiedade”. As pessoas acumulam coisas para seus filhos e querem deixá-los ricos e obter as maiores honrarias possíveis para eles. Todos têm esses desejos e vontades, que, no entanto, são vãos ao extremo. Pois de que adianta um homem vivo ter tudo e, no entanto, não usar nada, mas estar constantemente distraído por coisas que estão no futuro e que não existem, enquanto negligencia as coisas que estão no presente?
Esta é, portanto, a descrição de um homem rico a quem não falta nada para uma vida boa e feliz, e ainda assim não a possui. Observe muitos dos nossos nobres. Eles poderiam viver confortavelmente em suas casas, pois possuem abundância em seus campos. Mas, não satisfeitos com isso, dirigem-se às cortes dos príncipes, onde esperam receber mais, mas vivem muito miseravelmente. erivelmente.[1] Pode-se ver a mesma coisa em homens ricos e comerciantes; embora também pudessem viver em casa com tranquilidade, aventuram-se por terra ou navegam pelo mar com grande perigo para suas vidas e com risco para seus bens. Não é isso vaidade e grave aflição? Por isso, ele também prossegue dizendo:
3. Se um homem gera cem filhos e vive muitos anos, de modo que os dias de sua vida são muitos, mas não desfruta das coisas boas da vida e também não tem sepultamento, digo que um nascimento prematuro é melhor do que ele. 4. Pois ele entra na vaidade e vai para as trevas, e nas trevas o seu nome é coberto.
Ele está se aprofundando nos infortúnios do rico avarento. Ninguém, diz ele, deve supor que ele tornará seus herdeiros ricos por sua própria mesquinharia. Pois há muitas pessoas que trabalham ansiosamente para ganhar riqueza e ainda assim não a obtêm. Por outro lado, há muitas pessoas que enriquecem sem terem buscado ansiosamente fazê-lo. Portanto, você deve reconhecer que as riquezas são completamente um dom de Deus. Nem está em seus poderes tornar este ou aquele herdeiro rico. O mandamento é: “Os pobres não devem ser ricos”. Você pode fazer o que quiser, mas não enriquecerá um homem que Deus quer que seja um mendigo. Além disso, também pode acontecer que esse rico avarento não morra rico, mas seja privado de tudo.
E também não tem sepultamento. Ele continua a discorrer sobre a miséria. Essas palavras significam que ele seria expulso de sua propriedade e morreria em outro lugar, em vez de em sua própria casa. Digo que um nascimento prematuro é melhor do que ele. Ou seja, seria preferível não existir a ser tão miserável e um mendigo em meio a uma enorme riqueza. Isso é verdade, independentemente de qualquer questão de piedade. Pois se compararmos a vida de um avarento rico e infeliz com a de alguém que ainda não nasceu, sentiremos o mesmo. Salomão também não está falando à maneira de homens tolos ou se vestindo com a máscara de um homem tolo, como dizem alguns intérpretes, [2] mas ele está aqui descrevendo a vida de homens tolos em seu comportamento externo.
Nesse sentido, ele diz, é realmente melhor não ter nascido do que viver dessa maneira. Portanto, isso deve ser entendido como pertencente ao miserável homem rico, que possui as coisas necessárias para a felicidade, mas cuja mente infeliz não lhe permite fazer uso delas. Certamente, um pobre que suporta sua sorte com equanimidade está em melhor situação do que esse rico. Pois “o viajante com a bolsa vazia pode cantar na presença de um ladrão”.[3] Mas o rico se assusta com qualquer espinheiro e, no auge de sua felicidade, é o mais miserável possível. Verdadeiramente, o mundo é governado por opiniões. Deus governa por realidades, mas nós somos perturbados por opiniões e perdemos a realidade, assim como aquele cão em Esopo.[4] Pois ele entra na vaidade e vai para as trevas. Ou seja, ele vem ao mundo nu, vazio e pobre. É assim que ele vive, é assim que ele morre; pois ele não desfruta das coisas, mas apenas se distrai e se perturba com o que está no futuro. Mas isso nada mais é do que não ter nada e ser vazio e pobre. E na escuridão seu nome está encoberto. Ou seja, ele não faz nada digno ou memorável, nem mesmo em sua própria casa, exceto que dele se diz: “Ele não viveu nem para si nem para os outros”. Um homem miserável, a quem ninguém desejaria imitar!
5. Além disso, ele não vê o sol nem conhece descanso, nem aqui nem em nenhum outro lugar.
“Ver o sol” em hebraico significa “desfrutar das coisas e ter prazer nelas “. Pois esta vida física tem o sol como uma espécie de poder divino muito sagrado, supremamente necessário para os homens morais. Sem ele, tudo parece e é triste, como Cristo também diz (João 12:35; 11:9): “Aquele que anda nas trevas não sabe para onde vai. Mas, se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo”. Portanto, é algo muito agradável que o sol brilhe. Mas o avarento não olha para a luz, não vê o sol; isto é, não pensa em quão boa é a luz, nem olha para qualquer criatura como algo para desfrutar e usar bem. Pois ele perdeu toda consideração pelas bênçãos, pelas criaturas e pelas coisas de Deus por causa de sua ganância. Ele nunca vê quão excepcional é a dádiva de Deus que o sol nasça todos os dias. Ele não pensa em nada, não se maravilha com nada, não anseia por nada — exceto dinheiro. Da mesma forma, o homem ambicioso não olha para nada além de honrarias. O amante não olha para sua própria esposa, mas está sempre olhando para outra mulher. Ou seja, tais pessoas não desfrutam das boas criaturas que estão presentes agora. Assim, os ímpios começam seu inferno nesta vida, porque são privados do uso de todas as criaturas e dons de Deus, de modo que nunca veem o sol, que, no entanto, temos todos os dias. Em outras palavras, eles não se alegram com os dons de Deus, mas estão sempre procurando por algo mais.
6. Ainda que vivesse mil anos duas vezes, ainda assim não desfrutasse do bem algum. Não vão todos para o mesmo lugar?
Veja como ele se estende aos infortúnios do avarento. Ele quer dizer que nada acontecerá a este homem, exceto que quanto mais sua vida for prolongada, mais ele acumulará e prolongará suas misérias e calamidades. Esta é a vida humana, pura vaidade e miséria, quer você a experimente em si mesmo ou a veja em outros. Pois mesmo os santos, embora não vivam de acordo com a carne, são, no entanto, perturbados pela carne e compelidos a sentir a vaidade da carne. Não vão todos, etc.? Ele está repetindo o que havia dito anteriormente, no capítulo um (1:5, 7, 4): “O sol nasce e o sol se põe, e apressa-se para o lugar de onde nasce. Para o lugar para onde correm os rios, para lá correm novamente. Uma geração se vai, etc.” Tudo volta para onde veio. Tudo finalmente passa. A vida humana, os reinos e tudo o que pertence aos homens — tudo isso retorna ao seu lugar de origem, da terra para a terra, assim como o vento sopra para frente e para trás e assim como o sol retorna ao seu lugar de origem. É isso, então, o que Salomão quer dizer: Devemos nos livrar da preocupação e da ansiedade com as coisas que estão no futuro e ainda estão por ser adquiridas, e, em vez disso, devemos desfrutar das coisas que estão no presente. Por isso, ele continua:
7. O trabalho é imposto a todos os homens, conforme o gosto de cada um, mas sua alma não fica satisfeita.
Em hebraico, lê-se: “Todo o trabalho do homem é segundo a sua boca”, uma fraseologia que lhes é peculiar. Moisés usa a palavra “boca” para significar moda, ou medida, desta forma em Gênesis 47:12, falando de José: “E ele os sustentou, a eles e a toda a casa de seu pai, com mantimento, fornecendo rações a cada um.” O hebraico diz: “E ele os sustentou, provendo segundo a boca”; isto é, ele sustentou toda a casa de seu pai à maneira das crianças, às quais são fornecidas rações mesmo que não trabalhem. E Êxodo 12:4 diz: “Segundo a boca de cada um comereis a Páscoa”, isto é, segundo a medida daqueles que podem comer o cordeiro.
Assim também Salomão diz aqui: “Todo o seu trabalho é conforme a sua boca”, isto é, segundo a moda ou a medida de cada um; em outras palavras, cada homem tem uma certa quantidade de trabalho. Deus atribui a cada homem o seu trabalho de acordo com suas forças e de acordo com sua vocação. Em alemão, dizemos assim: “Cada um tem a sua parte atribuída”. A cada um Deus atribuiu a sua porção. Um menino deve trabalhar de uma maneira, um homem de outra; um magistrado deve trabalhar de uma maneira, um cidadão comum de outra. Ele quer que você seja treinado por meio de deveres ou trabalhos infantis, como se fosse uma criança, enquanto o príncipe é treinado com trabalhos árduos e grandes. Esta é a fonte do ditado popular: “Qualquer que seja a posição oficial de alguém, essa é a roupa que ele recebe”. Dessa forma, portanto, ele nos chama para longe das ansiedades alheias aos nossos próprios negócios. Ele também não proíbe o trabalho.
De fato, ele declara que é preciso trabalhar duro, mas quer que cumpramos nosso dever com alegria, de acordo com a tarefa que nos foi atribuída, e que deixemos outras coisas para outras pessoas. Ele quer que desfrutemos do nosso prazer, mas em Deus, para que não nos abandonemos ao prazer quando ele está presente, como os ímpios, nem nos aflijamos quando ele está ausente, mas o suportemos com equanimidade. Você deve, diz ele, ter um espírito feliz e um corpo ativo, mas de tal forma que permaneça no lugar que nos foi atribuído. Não sejamos como o invejoso, que persegue o que pertence a outros: o comerciante inveja o soldado; o soldado conta seus problemas e inveja o comerciante; o velho inveja o jovem. Desviamos o olhar da nossa própria felicidade real e, com intensa angústia, olhamos para a felicidade dos outros. Ninguém é capaz de considerar as coisas boas que possui ou de se contentar com a sua sorte; se considerasse a si mesmo, não desejaria tanto o que pertence aos outros.
Se, por exemplo, os velhos pudessem ver os perigos que afligem os jovens, não desejariam ser jovens. Por outro lado, se os jovens pudessem ver os muitos desconfortos da velhice, estariam dispostos a suportar os seus próprios desconfortos e não invejariam os idosos pelos seus confortos. Mas não fazemos isso; em vez disso, estamos sempre olhando para o que pertence aos outros e desprezando o que nos pertence. Assim, o rico avarento olha e deseja o que não tem, mas negligencia o que tem. Pois “a sua alma não está satisfeita”, isto é, ele não se apega à tarefa que lhe foi atribuída. Ninguém está contente com a sua sorte. O espectador de uma peça sempre imagina que a interpretaria melhor. Se ouço outra pessoa pregar, penso que seria capaz de superá-la em muitos aspetos.
Um servo pensa da mesma forma: “Se eu fosse rei, administraria tudo com a máxima prudência”. Da mesma forma, aquele personagem em Terêncio diz: “Eu deveria ter sido rei!”[6] Se o reino lhe fosse entregue, ninguém seria mais tolo do que ele. Mas, como diz o ditado: “Que Deus visite a paralisia sobre o homem que afirma fazer algo melhor do que sabe fazer!” Mas a alma negligencia seu próprio trabalho e está completamente preocupada com o trabalho de outra pessoa e, portanto, não faz nenhum dos dois corretamente. Pois quem não cuida de suas próprias coisas se sairá muito mal cuidando das coisas de outras pessoas. Deus me deu uma tarefa para me impedir de ficar ocioso. Mas veja como abandono meu próprio trabalho e me ocupo com o de outra pessoa. Isso é verdadeiramente o que ele disse acima (1:8): “O olho não se farta de ver”. Da mesma forma, o coração ou a alma não se satisfazem com o anseio, mas são sempre inconstantes e inconstantes.
8. Pois que vantagem tem o sábio sobre o tolo? E que vantagem tem o pobre que sabe portar-se diante dos vivos?
Isto é, tanto os sábios quanto os tolos são atormentados por desejos que vão além dos limites de suas tarefas designadas, e não há diferença entre sábios e tolos. Pois ambos anseiam por coisas incomensuráveis, e ambos são dominados por um anseio por aquilo que pertence a outrem. Por sábios, ele não se refere àqueles que são verdadeiramente sábios, mas àqueles que são sábios ψυχικός (psychikos, “de maneira não espiritual”, cf. Tiago 3:15); por tolos, além disso, ele se refere aos perversos, aos desenfreados, aos imprudentes e aos insolentes. Ambos, diz ele, têm suas tarefas designadas, sem as quais nada realizarão; um chegará tão longe quanto o outro. Portanto, alguém pode supor, ou mesmo dizer, que, se estivesse em um cargo público, realizaria muito. Mas, se realmente estivesse em um cargo público, não realizaria mais do que está sendo realizado agora pelo homem a quem julga e condena. O que se segue tem o mesmo sentido: O que tem o pobre? Por “vivos” aqui ele se refere não apenas àqueles que têm vida, mas, como acima,[7] àqueles que desfrutam da vida, isto é, àqueles que têm uma vida boa e doce. Por isso, ele diz: “É tolice que cidadãos particulares prescrevam aos outros como devem organizar e executar tudo, supondo que cuidariam melhor das coisas; pois, afinal, nada acontece exceto o que deveria acontecer.”
9. Melhor é a vista dos olhos do que o desejo insaciável; também isso é vaidade e aflição do espírito.
Tudo isso é uma maneira hebraica de falar que nos é completamente desconhecida. A palavra hebraica significa literalmente “ espelho”, isto é, algo que se apresenta aos olhos ou à vista dos olhos. Assim, Êxodo 38:8 diz: “E ele fez a pia de bronze e sua base de bronze, dos espelhos das mulheres ministrantes que ministravam à porta da tenda da congregação “. Isso deveria ter sido traduzido do hebraico como segue: “E ele fez a pia, etc., à vista dos exércitos que realizavam o serviço militar à porta da tenda do testemunho”. Pois o povo judeu tinha mulheres devotas que perseveravam em orações e súplicas e que serviam a Deus e realizavam o serviço militar dia e noite, como está escrito em 1 Samuel 2:22 e como em Lucas 2:37, diz-se que Ana realizou o serviço militar.[8] Com base nesse serviço militar, as mulheres eram chamadas de exército do Senhor, realizando o serviço militar à porta da tenda do testemunho. Mais tarde, com o passar do tempo, porém, a religião declinou e, como diz Judas (Judas 4), foi “pervertida em licenciosidade”. É dito de Raquel, a esposa de Jacó (Gn 29:17): “Ela era bonita no espelho”,[9] isto é, bonita de rosto e aparência: ela era adorável de se olhar.
O significado, então, é este: É melhor desfrutar das coisas que estão à vista, bem diante dos seus olhos, do que ter um desejo errante. Isto é, use as coisas que estão presentes e não vagueie em seus desejos, como fez aquele cão em Esopo quando desejou o reflexo e perdeu a carne que estava presente. O que o Senhor lhe deu aqui, à sua vista, você deve usar e ficar contente. Não siga seu desejo, que não será satisfeito, como Ele também disse anteriormente. Você deve, portanto, entender “a visão dos olhos” como significando não a visão que os próprios olhos fazem, mas a visão que eles têm de seus objetos. É uma visão passiva; isto é, você deve fazer uso do que lhe é apresentado aqui e agora. Assim é dito de Deus em Gênesis 1:31: “E Deus viu tudo o que tinha feito”; isto é, Ele se alegrou com Suas obras, Ele se apegou a elas. Ele as vê, elas O agradam, elas são muito boas. Assim, um homem piedoso também se apega ao que tem e se alegra com isso como algo que Deus lhe concedeu e lhe oferece agora. O homem ímpio não é assim.
Tudo o que ele vê é uma aflição de espírito, porque ele não o usa como espelho, mas permite que seu desejo vagueie. Se ele tem dinheiro, não encontra prazer nele; ele não o desfruta, mas constantemente deseja outra coisa. Ele tomou uma esposa, mas deseja outra; ele adquiriu um reino, mas não se contenta com apenas um. Alexandre busca e deseja outro mundo. Todas as coisas devem ser um “espelho” para nós, para que nos deleitemos nelas e fixemos nossos olhos e as contemplemos, desfrutando-as e dando graças a Deus. Portanto, ele proíbe nossa alma de vaguear (como diz o hebraico), isto é, de vaguear em seus pensamentos e opiniões sobre as coisas. Portanto, a conclusão desta passagem é: Use as coisas que estão presentes e não vagueie em seus desejos. “Pois isso é vaidade”, ou seja, que a alma vagueie.
10. Tudo o que veio a ser já foi nomeado, e sabe-se o que é o homem, e que ele não é capaz de disputar com alguém mais forte do que ele. 11. Quanto mais palavras, mais vaidade, e o que é melhor para o homem?
Isto pode ser adequadamente compreendido com base no precedente. Anteriormente falamos sobre a frase O que foi é o que será.[10] Em todas estas palavras há um hebraísmo em ação, que expressaríamos em alemão desta forma: “Como as coisas foram, assim ainda são; e como as coisas são, assim serão.” Isto é, os homens serão sempre vaidosos ao extremo, desejando e buscando coisas que são vãs porque estão fora da Palavra de Deus e de sua tarefa designada. Nem ouvem os conselhos de Deus. Deus determinou e preordenou certos limites para todos os homens, quando nascerão, quando morrerão, que nome terão e que cargo ocuparão. Depois que nascemos, Ele nos apresenta essas coisas para usarmos. Mas os homens, não contentes com a ordenança e o conselho de Deus, imediatamente escolhem e desejam outra coisa, ainda que em vão. Pois somente Deus realiza o que pensa.
Portanto, o significado é: O que é isso? Isto é: O que é um homem que agora está vivo ou outros que nascerão mais tarde? Já foi decidido para um homem o que lhe acontecerá e que nome receberá. Por “nome” você deve entender o que é atribuído a um homem com base em suas ações e o que é digno de ser celebrado sobre um homem; assim, César foi chamado de “o Vencedor” e Catilina de “o Parricida”.[11] Esses nomes, estou dizendo, foram determinados de antemão e atribuídos na presença de Deus antes de nascermos. Assim também foi determinado que este homem será um sapateiro, aquele homem um pároco, outro ainda um pregador, etc.
Se, portanto, todas essas coisas, tanto nossas profissões quanto nossos nomes, já foram definidas e preconizadas, por que um homem vagueia em suas opiniões, tenta muitas coisas e deseja coisas que estão além dos limites? Por que ele age fora de sua posição designada? Pois ele não realiza nada, exceto para trazer aflição cada vez maior sobre si mesmo. Ele não é capaz de disputar com alguém mais forte do que ele, isto é, com algo que foi colocado acima dele; pois “todas as coisas permanecem de acordo com uma lei definida”.[12] Os pagãos também viam que os assuntos humanos não são realizados pelos esquemas de homens sábios, mas atribuíam isso ao destino ou mesmo à fortuna, mas não a Deus. Assim também Salomão olha aqui para o próprio curso da história, como as coisas acontecem no mundo. Isto é o que ele vê ali: os homens não são capazes de realizar ou alcançar o que desejam e lutam.
A razão é que os próprios eventos resistem a isso; eles se recusam a ser dominados ou controlados por nossos planos. Se alguém disputa com eles e quer romper e forçar seus planos, de modo que o que ele tem em mente aconteça, ele não realiza nada; a realidade lhe resiste, e Deus o impede. Portanto, é inútil para nós recuar contra o aguilhão (cf. Atos 26:14), como se alguém tentasse romper o muro com a cabeça. Pois aquilo que é mais forte e mais alto do que ele resiste ao seu plano. Assim, Antônio queria romper o muro quando invadiu a Itália e fez seus dois filhos reis, um no Oriente e o outro no Ocidente; mas ele foi frustrado nesse plano.[13] Veja os pensamentos de César e como ele foi frustrado. Os esforços do papa também não tiveram sucesso. Isso porque seu nome havia sido chamado e definido, mas eles foram além do limite designado. Portanto, eles estavam lutando contra Alguém mais forte do que eles, e tudo o que alcançaram foi tristeza, angústia e calamidade.
Quando, portanto, você vê que todas as coisas foram estabelecidas por uma lei definida, incluindo seu nome e sua profissão, e quando, apesar disso, você se recusa a se contentar com isso, mas se esforça e se esforça em oposição a isso, você está navegando contra a corrente. Nem realizará nada, independentemente de quão sabiamente planeje e proceda, exceto multiplicar palavras. Nada resultará disso, exceto muita conversa. Assim, Platão escreveu muito, e Aristóteles também, sobre a administração do Estado e sobre a moralidade cívica. Mas essas eram meras palavras e permanecem palavras, sem consequências. Mais tarde, quando viram que essas ideias não vingaram, tentaram melhorar a situação com outros planos e leis. Disseram: “Se ao menos tivéssemos agido assim !” — sensatez após o fato. Portanto, a história tanto dos gentios quanto dos judeus nos ensina que o trabalho realizado fora da posição designada não pode realizar nada, seja feito por um sábio ou por um tolo, exceto que a história dos judeus foi conduzida na Palavra de Deus e nos ensina que tudo acontece pela ordenança de Deus e que, portanto, é mais seguro nos atermos a ela. Por outro lado, a história dos gentios é igualmente maravilhosa e grandiosa, mas foi conduzida à parte da Palavra de Deus.
12. Pois quem sabe o que é bom para o homem, enquanto vive os poucos dias da sua vida vã, que ele passa como uma sombra? Pois quem pode dizer ao homem o que será depois dele debaixo do sol?
Isto é, nenhum homem sabe o que é bom para si na vida. Os homens não sabem como desfrutar as coisas, nem sabem como ter um coração em paz. Os planos dos homens variam. Um homem busca o poder imperial, outro as riquezas. Mas eles não sabem se atingirão esses objetivos e, portanto, não desfrutam nem das coisas que estão presentes nem das coisas que estão no futuro. A única coisa boa que desejam é aquela que não têm nem veem. Esta é uma conclusão geral sobre todos os homens: ninguém sabe o que está trazendo sobre si mesmo. Assim, embora Cícero e Demóstenes tenham escrito muito sobre o Estado e quisessem ajudá-lo com seus conselhos, eles o administraram de uma maneira muito infeliz.[14]
Da mesma forma, os monges e os papistas querem governar o mundo, mas vejam como o desviam e o mergulham no mais grave dos perigos e na mais profunda escuridão. Pois quem pode dizer a um homem o que ele fará, etc.? Ele não está falando sobre o que será depois desta vida, mas sobre o que será depois desta hora em que fazemos uso das coisas que estão presentes. Aqui ninguém sabe o que acontecerá: se Antônio viverá, se Brutus e Cássio serão vitoriosos. Quando Júlio teve sucesso, começou a pensar em estabelecer um império, mas pereceu no meio de seus pensamentos. Por que, então, estamos tão perturbados com nossas ideias, quando as coisas que estão por vir nunca estão em nosso poder por um único momento? Contentemo-nos, portanto, com as coisas que estão presentes e nos entreguemos às mãos de Deus, que sozinho conhece e controla tanto o passado quanto o futuro.
Notas:
[1] As mudanças econômicas e políticas do período levaram alguns cavaleiros e a nobreza menor às cortes dos príncipes alemães ; outros se rebelaram.
[2] Ver p. 58, n. 6, acima.
[3] Juvenal, Sátiras, X, 22.
[4] Veja também p. 61 acima.
[5] O texto de Weimar tem qua, mas lemos quia.
[6] Terence, Phormio, 70.
[7] Veja p. 71 acima.
[8] Traduzimos o texto como está, mas Lutero parece estar se referindo a “dia e noite” em vez de “ter prestado serviço militar” para Ana.
[9] A tradução “espelho” é aparentemente do próprio Lutero, baseada no uso do mesmo substantivo hebraico para “aparência” em Gênesis 29:17 e para espelho em Êxodo 38:8.
[10] Veja p. 20 acima.
[11] Cfr. Júlio César, Guerra Gálica, VII, 70; Salústio, Catilina, LI, 25.
[12] Virgílio, Eneida, X, 467.
[13] Lutero parece estar se referindo ao relato de Plutarco, Vidas, “ Antônio”.
[14] Veja p. 38 acima.
✝️ Teologia de Eclesiastes 6
O Sentido Frustrado e o Desejo do Eterno – (Revelação e Antropologia)
Eclesiastes 6 é uma continuação do protesto iniciado no capítulo anterior contra o absurdo da vida “debaixo do sol”. Aqui, porém, a reflexão se intensifica em direção a um dos dilemas centrais da experiência humana: possuir tudo, mas não conseguir desfrutar; viver muitos anos, mas morrer sem sentido; ter palavras, mas não obter respostas. Nesse capítulo, o texto alcança um clímax da frustração existencial — mas também uma encruzilhada teológica: ou a vida é um enigma sem solução, ou a chave para o sentido está além da percepção natural. É a partir dessa tensão que emergem os dois temas centrais deste capítulo: a limitação da razão humana (Antropologia) e a necessidade da revelação para interpretar a existência (Revelação).
Qohelet inicia com um quadro provocador: “Há um mal que vi debaixo do sol, e é mui frequente entre os homens: um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra… mas Deus não lhe dá poder para dele comer” (Ec 6:1-2). O paradoxo é claro — Deus concede os bens, mas retém o desfrute. Este é um dos pontos teológicos mais enigmáticos e profundos de todo o livro: a vida não é determinada apenas pela posse, mas pela capacidade de saborear, e essa capacidade é dom divino. Trata-se de uma crítica não apenas à avareza ou à injustiça, mas à pretensão humana de autossuficiência. A antropologia implícita aqui mostra que o ser humano depende radicalmente de Deus não apenas para existir, mas para existir com sentido.
A frase “Deus não lhe dá poder para comer deles” (v. 2) revela uma teologia implícita da graça. Não basta receber da mão de Deus; é preciso também depender d’Ele para interpretar, gozar e redimir a experiência. Quando essa capacidade é negada, a vida se torna opaca. Nesse ponto, Eclesiastes aproxima-se da teologia paulina, segundo a qual “todas as coisas são dele, por ele e para ele” (Rm 11:36). A vida sem Deus não apenas é moralmente caída, mas epistemologicamente cega. Por isso, o texto apresenta um veredito radical: “melhor é o aborto do que tal homem” (v. 3). A vida longa, próspera e cheia de filhos, sem gozo e sem revelação, é vista como mais trágica do que a vida que nunca floresceu. Isso revela a visão profundamente teológica do Pregador: viver sem Deus é pior que não viver.
Os versículos 7 a 9 aprofundam a crítica: “Todo o trabalho do homem é para sua boca, e, contudo, nunca se satisfaz o seu apetite.” Qohelet identifica aqui a futilidade do desejo desenfreado — o homem trabalha, mas nunca se sacia. A antropologia bíblica que emerge é a de um ser humano faminto de eternidade, mas atolado em consumos temporais. A crítica não é ao corpo ou ao comer em si, mas à ilusão de que o material pode preencher o imaterial. O “olhar dos olhos” (v. 9), que deseja sem cessar, é apresentado como vaidade e “correr atrás do vento”. Só a revelação pode redirecionar o olhar e oferecer um horizonte que transcende a repetição do desejo.
Finalmente, os versículos 10 a 12 encerram o capítulo com uma série de perguntas retóricas: “Aquilo que é, já há muito se chamou pelo seu nome, e sabe-se o que é o homem; e não pode contender com quem é mais forte do que ele.” A frase revela uma teologia da soberania: Deus é quem nomeia, determina e conhece. O ser humano é, por essência, dependente, limitado, e ignorante quanto ao seu futuro. A frase “quem poderá dizer ao homem o que será depois dele debaixo do sol?” (v. 12) toca o ponto mais profundo: sem revelação, a vida é indecifrável. E essa é a chave interpretativa do capítulo.
Ao não oferecer respostas conclusivas, Eclesiastes 6 pressiona o leitor a levantar os olhos para além do sol — para além da experiência empírica e da razão humana. O sentido não está na vida em si, mas no Deus que dá à vida o seu lugar no todo. Esse capítulo não é um ponto final, mas uma pergunta em forma de oração: quem nos mostrará o caminho do sentido? A resposta virá, séculos depois, quando a Palavra se tornar carne e habitar entre nós (Jo 1:14). Mas aqui, em meio à frustração, já brilha a necessidade da revelação divina como única luz para o enigma da existência.
✝️ Cristologia de Eclesiastes 6
Eclesiastes 6 é um capítulo sombrio, breve e profundamente desolador. Ele se constrói em torno de um paradoxo humano fundamental: a impossibilidade de encontrar plenitude mesmo em meio a todas as bênçãos da vida. A imagem do homem a quem “Deus dá riquezas, bens e honra, de modo que nada lhe falta de tudo quanto a sua alma deseja, mas Deus não lhe concede que disso coma” (v. 2) constitui o coração do capítulo — uma denúncia da frustração estrutural que marca o ser humano. Trata-se, mais uma vez, de uma teologia negativa, onde a luz que ilumina o texto não é interna, mas projetada de fora. E para o leitor cristão, essa luz vem de Jesus: Aquele que, sendo tudo, fez-se nada, para que, sendo nós carência, fôssemos preenchidos por Ele. A cristologia de Eclesiastes 6 é a cristologia do desejo frustrado — do anseio humano pela eternidade, que se esgota nas coisas finitas, até encontrar repouso no Infinito encarnado.
O capítulo se abre com um juízo marcante: “Há um mal que vi debaixo do sol, e muito comum entre os homens” (v. 1). Qohelet não está falando de um evento raro, mas de uma condição universal. O que segue é uma descrição de alguém que recebeu tudo, mas não pode usufruir. É o retrato do homem moderno antes mesmo da modernidade — o ser possuidor, acumulador, a quem tudo foi dado, mas que não consegue converter posse em gozo. O hebraico utiliza aqui a raiz שלט (shalat) para indicar o impedimento: Deus não o permite desfrutar. Trata-se de uma tensão radical com os capítulos anteriores, onde se dizia que “comer, beber e alegrar-se é dom de Deus” (cf. 5:18–19). Aqui, o dom está presente, mas é inacessível. Esse paradoxo não encontra solução em Eclesiastes. Apenas no Novo Testamento, na figura de Cristo, esse impasse é resolvido: Ele é o banquete que pode ser comido, o pão que desceu do céu e do qual se pode realmente participar. Jesus diz: “Quem de mim se alimenta, por mim viverá” (João 6:57). É o fim da maldição do possuir sem usufruir.
Nos versículos seguintes, Qohelet amplia a tragédia. Ele descreve um homem que gera “cem filhos”, vive “muitos anos”, mas cuja alma “não se farta do bem” e que, no final, não tem sequer sepultura honrosa (v. 3). A hipérbole serve para intensificar a ironia: todos os sinais da bênção (filhos, longevidade, legado) estão presentes, mas o sentido continua ausente. E então o autor choca o leitor com uma afirmação: “Melhor que ele é o natimorto” (v. 3b). A vida sem sentido é pior que a não-vida. O texto se reveste aqui de um tom quase niilista, mas também profundamente antropológico: o ser humano, quando desconectado da Fonte, torna-se caricatura de si mesmo. A contraposição a essa lógica é a vida de Cristo, em quem cada momento teve peso eterno, mesmo quando silenciado, oculto ou recusado. O Filho não teve “cem filhos”, nem “longa vida” segundo os padrões mundanos, nem “honra aos olhos dos homens” — mas Sua vida foi plena, porque preenchida pelo Pai. É nesse contraste que a cristologia de Eclesiastes 6 ganha forma: o ser humano frustrado se contrapõe ao Cristo pleno, cuja suficiência repousa não no ter, mas no ser em comunhão com o Pai.
Os versículos 7 e 8 trazem uma síntese amarga: “Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo nunca se satisfaz o seu apetite”. A palavra hebraica aqui para “apetite” é נֶפֶשׁ (nefesh), que significa alma, ser, vida. O texto denuncia a total submissão da existência ao consumo: o trabalho não é para a construção de sentido, mas para alimentar um desejo que nunca se resolve. E aqui novamente, Cristo é a negação dessa lógica. Ele não trabalha por comida que perece, mas oferece alimento eterno (cf. João 6:27). Enquanto o mundo gira em torno do consumo do efêmero, Jesus ensina a jejuar do mundo para se nutrir de Deus. Sua palavra à samaritana (“quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede”) é a contrapartida perfeita ao lamento de Qohelet.
No clímax do capítulo, o Pregador levanta uma pergunta inquietante: “Ainda que o homem viva mil anos duas vezes e não veja o bem, não vão todos para o mesmo lugar?” (v. 6). A morte niveladora é aqui instrumento de cinismo: nada adianta ter, ser, viver — todos vão para a sepultura. É verdade. Mas o Evangelho subverte esse argumento: Cristo entra na morte, mas dela ressuscita. Ele não apenas morre — Ele vence a morte. A frase de Qohelet é desfeita por Paulo: “tragada foi a morte pela vitória” (1 Coríntios 15:54). A igualdade imposta pela morte se dissolve diante da distinção escatológica que Cristo introduz entre aqueles que morreram em Adão e os que vivem em Cristo.
O último versículo é o mais denso: “Tudo é vaidade e correr atrás do vento. Quem sabe o que é bom para o homem na vida? Pois sua vida passa como sombra… e quem lhe mostrará o que será depois dele debaixo do sol?” (v. 12). A pergunta “quem mostrará o que será depois dele?” permanece sem resposta no Antigo Testamento. Mas encontra resposta direta no Novo. Jesus é aquele que sabe o que é bom para o homem (cf. João 10:10), cuja vida não é sombra, mas luz do mundo (cf. João 8:12), e que veio precisamente para revelar o que há além do sol: “Na casa de meu Pai há muitas moradas… vou preparar-vos lugar” (João 14:2). O que Qohelet pergunta em desespero, Cristo responde em paz.
Eclesiastes 6 é um espelho sombrio da condição humana quando o acesso a Deus está turvo. É o capítulo da frustração absoluta, da fome que não se satisfaz, do viver que não encontra repouso. É o lamento de quem vê tudo e não se alimenta de nada. Mas ao relê-lo à luz da cristologia, percebemos que é justamente para esse tipo de homem — cansado, frustrado, sem alegria nem sepultura — que o Evangelho veio. Cristo é o pão que se pode comer, a vida que se pode desfrutar, o caminho que se pode seguir. Ele é a resposta não teórica, mas encarnada, à pergunta que encerra o capítulo: “Quem mostrará o que será depois dele debaixo do sol?” A resposta é: Aquele que veio do alto.
🏛️ Filosofia de Eclesiastes 6
O Imenso Vazio do Ter e Não Ser: Filosofia do Desejo, Limite e Insatisfação
O capítulo 6 de Eclesiastes é um dos mais densos e abismais da obra. O tom é sombrio, o conteúdo é desolador e o estilo, deliberadamente desprovido de consolo. Qohelet continua sua crítica à estrutura da realidade humana, mas aqui o alvo não é apenas o acúmulo de riquezas ou a brevidade da vida — é o descompasso estrutural entre o que se possui e o que se experimenta. Trata-se de um capítulo que se move no coração daquilo que muitos filósofos posteriores identificariam como a tragédia da consciência desejante: possuir o mundo, mas não a si mesmo; deter meios, mas perder a finalidade; estar vivo, mas não ter acesso ao sentido.
O capítulo se inicia com a denúncia de um “mal” que o autor viu “debaixo do sol”: um homem a quem Deus dá “riquezas, bens e honra”, mas que “não tem poder para disso desfrutar” (v. 2). O hebraico aqui é cruel em sua precisão: וְלֹא־יַשְׁלִיטֶנּוּ (wəloʾ-yashliten-nû, “e não o permite governar sobre isso”). A palavra usada para “permitir” é da raiz שָׁלַט (shalat), que implica domínio, governo, controle. Qohelet percebe, com frieza filosófica, que não há relação natural entre possuir e desfrutar. Essa é uma das teses mais radicais do livro: a posse não assegura sentido; a bênção pode conter, dentro de si, o seu oposto. Esse paradoxo lembra aquilo que autores contemporâneos identificaram como “maldição da plenitude” — o sujeito que, tendo tudo, experimenta o nada.
A inserção de Deus como aquele que dá os bens mas impede o usufruto (v. 2) não deve ser lida como uma denúncia teológica direta, mas como parte da anatomia do paradoxo da existência. Há aqui uma antropologia do impedimento existencial: o humano é o ser que deseja o que não governa. Essa percepção antecipa a crítica da liberdade ilusória como capacidade de apropriação, tal como será formulada por pensadores como Kierkegaard, que diagnosticam a falência da vida estética — aquela em que o indivíduo se define por acumulação de experiências e prazeres, mas permanece ausente de si. Esse verso também dialoga com Bataille (2014), quando ele reflete sobre o excesso, o gozo frustrado e a inutilidade da acumulação. A ideia de que o consumo sem fruição espiritual é autodestrutivo ilumina a crítica de Eclesiastes à riqueza sem desfrute no v. 2.
No versículo 3, o abismo se alarga: “Se o homem gerar cem filhos e viver muitos anos, mas sua alma não se satisfizer com o bem...” A expressão hebraica נַפְשׁוֹ לֹא־תִשְׂבַּע (nafsho lo-tisbaʿ, “sua alma não se satisfaz”) é o ponto central. A alma que não se sacia — o desejo que não cessa — revela que a abundância é impotente diante da carência ontológica. A tradição sapiencial aqui se converte em filosofia trágica do desejo. Não há no texto qualquer idealização do contentamento; há apenas a constatação de que a alma humana é como uma abertura sem fim. Autores como Simone Weil identificariam isso como a estrutura da atenção frustrada: desejar o bem é inerente ao espírito humano, mas o mundo raramente responde a esse apelo. A clássica formulação de Agostinho, “inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti”, é uma das expressões mais densas da antropologia do desejo. Qohelet, ao retratar a alma insaciável (Ec 6:3, 6:7), antecipa essa inquietude que Agostinho nomeia teologicamente.
Ainda no v. 3, a sentença mais brutal do capítulo: “...digo que um aborto é melhor do que ele.” O termo hebraico נֵפֶל (nefel, “aborto”, “natimorto”) não aparece aqui como metáfora, mas como contraste existencial. O natimorto, que “vem em vão e vai em trevas” (v. 4), não vive, mas também não sofre — e, nesse sentido, possui vantagem sobre aquele que possui tudo, mas não saboreia nada. A afirmação é existencialmente perturbadora, mas filosoficamente rigorosa: o não-ser pode ser superior ao ser frustrado. Essa tensão aparece em tradições filosóficas que pensam a vida a partir do seu limite: se a existência for apenas um fardo de expectativas não realizadas, então talvez o maior bem fosse não ter nascido — intuição que atravessa Sófocles, o Eclesiastes e, em linguagem moderna, autores como Schopenhauer.
O versículo 6, ao afirmar que mesmo se o homem vivesse “duas vezes mil anos, sem gozar do bem”, conclui com a pergunta retórica: “Porventura, não vão todos para o mesmo lugar?” Aqui, o tema da igualdade da morte é retomado como ironia: não importa quanto se vive, quantos filhos se tem, quanto se acumula — todos vão para a mesma terra. Mas, diferente do tom consolador que essa ideia poderia ter (como em algumas tradições estoicas), aqui ela é uma denúncia: a morte não redime o vazio da vida, apenas a encerra. Levinas (2000) mostra a insatisfação como abertura ao infinito, o desejo como marca da finitude, e a morte como horizonte de responsabilidade são elementos levinasianos profundamente presentes nos vv. 6–12.
A segunda metade do capítulo (vv. 7–12) desloca-se para a crítica do labor humano. “Todo o trabalho do homem é para sua boca, e, contudo, seu apetite não se satisfaz” (v. 7). A expressão final em hebraico — וְגַם־הַנֶּפֶשׁ לֹא תִמָּלֵא (wegam hanefesh lo timmaleʾ, “e também a alma não se enche”) — reforça o diagnóstico ontológico: a alma é inassaciável. Há aqui um paralelismo com os temas do desejo infinito que atravessam autores como Levinas (o desejo pelo infinito como estrutura ética) e, em outra chave, a crítica contemporânea do consumo como forma de alimentar um desejo que nunca se esgota. O corpo se nutre, mas a alma permanece vazia.
Assim também Sartre (2007) quando aponta a ausência de plenitude no desejo humano, a frustração da consciência reflexiva e a liberdade como condenação ecoam fortemente na condição do homem — aquele que deseja e consome, mas nunca se satisfaz. Não só o filósofo francês, mas também Schopenhauser (2005) quando aponta a vontade cega e insaciável, que causa sofrimento constante, é o núcleo da filosofia de Schopenhauer e tem paralelo direto com a visão de Qohelet de que “a alma do homem jamais se farta” (Ec 6:7). O pessimismo de ambos é estrutural, não episódico. O mesmo ocorre na obras de Zizek (2012) quando ele analisa o colapso do desejo sob o capitalismo tardio. A “vida como produção sem gozo” encontra eco direto na crítica de Qohelet à acumulação estéril e ao trabalho incessante que não satisfaz.
O v. 8 introduz um questionamento sapiente: “Que vantagem tem o sábio sobre o tolo? Ou o pobre que sabe andar diante dos vivos?” A pergunta desestabiliza o otimismo sapiencial tradicional. A sabedoria não garante fruição, o saber não assegura contentamento. A tradição grega conheceu dilemas semelhantes: o sábio que, mesmo conhecendo o bem, sofre com o mundo injusto — como em Sócrates ou na tragédia ática. Qohelet, porém, é mais sombrio: ele sugere que a sabedoria pode ser irrelevante diante do apetite que nada resolve.
No v. 9, o autor introduz um provérbio que parece oferecer uma solução momentânea: “Melhor é a vista dos olhos do que o andar da alma.” A expressão רְאִיַת עֵינַיִם (reʾiyat ʿenayim) pode ser lida como o reconhecimento do que é, enquanto הֲלָךְ נֶפֶשׁ (halakh nefesh, “caminhar da alma”) é desejo errante. Qohelet aqui se aproxima de uma sabedoria da moderação: é melhor acolher o que se tem do que desejar o que se escapa. Essa intuição ressoa em tradições espirituais que veem no contentamento uma forma de resistência ao delírio do querer.
Mas o final do capítulo retoma o tom sombrio. Nos versos 10–12, Qohelet afirma que tudo já foi nomeado, e que “não pode o homem contender com quem é mais forte do que ele.” A nomeação aqui (נִקְרָא שְׁמוֹ, niqra shemo) é evocação da condição criada: o homem está dentro de um sistema já designado, onde sua liberdade é limitada. A ideia de não contender com o mais forte ecoa a humildade diante do mistério — ou talvez uma resignação amarga. O autor fecha com a pergunta definitiva: “Quem sabe o que é bom para o homem na vida...?” — pergunta que encerra mais do que o capítulo: é o eco constante de todo o livro. Cassirer (1997) mostra o problema da nomeação no v. 10 e o papel da linguagem na constituição da realidade são discutidos com profundidade. Sua leitura do mito, do símbolo e do conceito contribui para compreender a impotência do homem diante da nomeação do ser.
Qohelet, em Eclesiastes 6, constrói uma ontologia da frustração. O desejo não é negado, mas é mostrado como estruturalmente incompatível com a realização plena. A posse não garante gozo, o tempo não traz plenitude, a sabedoria não assegura sentido. Tudo é hevel — vapor, sopro, fricção entre presença e ausência. Essa constatação se alinha com muitos dos grandes pensadores da existência, da linguagem e da religiosidade: o homem que acumula sem acessar o bem é figura de um mundo que perdeu o caminho da interioridade e da gratuidade.
Este é um dos capítulos mais radicais da Bíblia — não por negar Deus, mas por recusar todas as formas fáceis de consolo. Em lugar disso, ele oferece a única coisa que permanece: o vazio revelador, o espelho de um desejo sem repouso, o abismo entre o dom e o gozo. A partir daqui, Eclesiastes prepara o leitor para reconhecer que a resposta ao enigma da vida não está na posse, nem na razão, nem na palavra — mas talvez na reverência silenciosa que o autor nomeará mais tarde como “temor de Deus”.
Índice: Eclesiastes 1 Eclesiastes 2 Eclesiastes 3 Eclesiastes 4 Eclesiastes 5 Eclesiastes 6 Eclesiastes 7 Eclesiastes 8 Eclesiastes 9 Eclesiastes 10 Eclesiastes 11 Eclesiastes 12
📚 Bibliografia:
AKIN, Daniel L.; AKIN, Jon. Christ-Centered Exposition Commentary: Exalting Jesus in Ecclesiastes. Nashville, TN: B&H Publishing Group, 2016.
ALTER, Robert. The Wisdom Books: Job, Proverbs, and Ecclesiastes: A Translation with Commentary. New York; London: W. W. Norton & Company, 2010.
BARTHOLOMEW, Craig G. Ecclesiastes. In: WALTON, John H. (Ed.). Zondervan Illustrated Bible Backgrounds Commentary (Old Testament). Grand Rapids, MI: Zondervan Academic, 2016. v. 5.
__________. Ecclesiastes. Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2009. (Baker Commentary on the Old Testament: Wisdom and Psalms).
BARTON, George Aaron. A Critical and Exegetical Commentary on the Book of Ecclesiastes. Edinburgh: T. & T. Clark, 1908. (The International Critical Commentary).
BROWN, William P. Ecclesiastes. Louisville, KY: John Knox Press, 1959. (Interpretation: A Bible Commentary for Teaching and Preaching).
BRUCE, F. F. (org.). Eclesiastes. In.: Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamentos. Tradução de Valdemar Kroker. São Paulo: Editora Vida, 2008, pp. 957-972.
CRENSHAW, James L. Ecclesiastes. Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 1987. (Old Testament Library - OTL).
CURTIS, Edward M. Interpreting the Wisdom Books: An Exegetical Handbook. Grand Rapids, MI: Kregel Academic, 2011. (Handbooks for Old Testament Exegesis).
DUVALL, J. Scott; HAYS, J. Daniel. The Baker Illustrated Bible Background Commentary. Ada, MI: Baker Books, 2020.
DELL, Katharine; KYNES, Will (ed.). Reading Ecclesiastes Intertextually. London: Bloomsbury T&T Clark, 2014. (Library of Hebrew Bible/Old Testament Studies, v. 587).
EPSTEIN, Isidore (Ed.). The Babylonian Talmud. [S. l.]: Soncino Press.
EATON, Michael A. Ecclesiastes. In: WENHAM, Gordon J. et al. (Eds.). New Bible Commentary. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1994. p. 609.
__________. Ecclesiastes: An Introduction and Commentary. Downers Grove, IL: IVP, 2019. (Tyndale Old Testament Commentaries).
EATON, Michael A; CARR, G. Lloyd. Eclesiastes e Cantares: uma introdução e comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 1989. (Série Cultura Bíblica).
ENNS, Peter. Ecclesiastes. In.: Wisdom Books. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2011. (NIV Application Commentary).
__________. Ecclesiastes. The Two Horizons Old Testament Commentary. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 2011.
FOX, Michael v. A Time to Tear Down and a Time to Build Up: A Rereading of Ecclesiastes. Grand Rapids: Wipf & Stock Publishers, 2010.
FOSTER, B. R. The Babylonian Theodicy. In: HALLO, William W.; YOUNGER Jr., K. Lawson (Ed.). The Context of Scripture. Leiden; New York: Brill, 1997. v. 1, p. 494-497.
MURPHY, Roland E. Ecclesiastes. (Word Biblical Commentary), vol. 23A. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2015.
GARRETT, Duane A. Proverbs, Ecclesiastes, Song of Songs. Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1993. (New American Commentary - NAC, v. 14).
GREIDANUS, Sidney. Preaching Christ from Ecclesiastes: foundations for expository sermons. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 2010.
GOLDSWORTHY, Graeme. Eclesiastes. In.: Gospel & Wisdom (The Goldsworthy Triology). São Paulo: Vida Nova, 2017.
GIANTO, A. “Human Destiny in Emar and Qohelet”. In.: Qohelet in the Context of Wisdom, edited by A. Schoors. Leuven: Leuven Univ. Press, 1998.
HARPER, A. F. Eclesiastes. In: Comentário Bíblico Beacon. Volume 3: Jó a Cantares de Salomão. Ed. 5o, Rio de Janeiro: CPAD, 2019. p. 429-467.
HENRY, Matthew. Eclesiastes. In: HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry. Ed. completa. Rio de Janeiro: CPAD, 2019. v. 3, p. 801-999.
KAISER JR., Walter C. Eclesiastes. São Paulo: Cultura Cristã, 2019. (Comentários do Antigo Testamento).
KIDNER, Derek. Eclesiastes: introdução e comentário. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1986. (Série Cultura Bíblica).
KIDNER, Derek. The Message of Ecclesiastes: A Time to Mourn, and a Time to Dance. Downers Grove: IVP Academic, 2023.
KÖHLER, Ludwig; BAUMGARTNER, Walter. The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament (HALOT). Leiden: Brill, 1994–2000.
KRÜGER, Thomas. Qoheleth: A Commentary. Minneapolis: Fortress Press, 2004. (Hermeneia)
LONGMAN III, Tremper. Ecclesiastes. Carol Stream, IL: Tyndale House Publishers, 2006. Cornerstone Biblical Commentary, v. 6.
__________. The Book of Ecclesiastes. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1997, (The New International Commentary on the Old Testament.)
LOPES, Hernandes Dias. Eclesiastes: Sabedoria para Viver. São Paulo: Hagnos, 2023. Comentários Expositivos Hagnos.
LUTHER, Martin. Luther’s Work Works: American Edition. Edited by Jaroslav Pelikan and Helmut T. Lehmann. Saint Louis: Concordia Publishing House; Philadelphia: Fortress Press, 1955-1986. v. 55.
MISHNAH. In: DANBY, Herbert (Trad.). The Mishnah. Oxford: Oxford University Press. ZOHAR. In: MATT, Daniel C. (Trad.). Zohar: The Pritzker Edition. Stanford: Stanford University Press. v. 9-12.
MIDRASH RABBAH. Kohelet Rabbah 12. In: FREEDMAN, H.; SIMON, M. (Ed.). Midrash Rabbah. [S. l.]: Soncino Classics.
MURPHY, Roland E. Wisdom Literature: Job, Proverbs, Ruth, Canticles, Ecclesiastes, and Esther. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Company, 1981. The Forms of the Old Testament Literature, v. XIII.
PAUW, Amy Plantinga. Proverbs and Ecclesiastes: A Theological Commentary on the Bible. Louisville, KY: Presbyterian Publishing Corporation, 2015. Belief: A Theological Commentary on the Bible.
PFEIFFER, Charles F. Eclesiastes. In: Comentário Bíblico Moody: de Gênesis a Malaquias. São Paulo: Editora Batista Regular, 2017, vol. 1, pp. 973-989
ROBERTS, Alexander; DONALDSON, James; COXE, A. Cleveland (Ed.). Ante-Nicene Fathers: Translations of the Writings of the Fathers Down to A.D. 325, v. 2: Fathers of the Second Century: Hermas, Tatian, Athenagoras, Theophilus, and Clement of Alexandria (Entire). New York: Christian Literature Publishing Co., 1885. v. 2.
RICHARDS, Lawrence O. Eclesiastes. In.: Comentário Bíblico do Professor. 1. ed. São Paulo, SP: Editora Vida, 2004. pp. 403-410.
SCHILDER, K. Ecclesiastes: A Commentary. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1958.
SCHULTZ, Richard L. Commentary on Ecclesiastes. Ada, MI: Baker Publishing Group, 2019. The Baker Illustrated Bible Commentary.
SEOW, Choon-Leong. Ecclesiastes: A New Translation with Introduction and Commentary. New Haven: Yale University Press, 1997. The Anchor Yale Bible, v. 18C.
TOBIN, v. A. The Maxims of Ptahhotep. In: SIMPSON, William Kelly (Ed.). The Literature of Ancient Egypt: An Anthology of Stories, Instructions, and Poetry. Tradução de William Kelly Simpson et al. New Haven: Yale University Press, 2003. p. 134-135.
TOWNER, W. Sibley. The Book of Ecclesiastes. In.: The New Interpreter’s Bible Commentary. Nashville: Abingdon Press, 1997. v. 5: Introduction to Wisdom Literature; Proverbs; Ecclesiastes; Song of Songs; Book of Wisdom; Sirach, pp. 267-230.
SHUPAK, N. The Prophecies of Neferti. In: HALLO, William W.; YOUNGER Jr., K. Lawson (Ed.). The Context of Scripture. Leiden; New York: Brill, 1997. v. 1, p. 44-48.
TREIER, Daniel J. Proverbs & Ecclesiastes. Grand Rapids, MI: Brazos Press, 2011. Brazos Theological Commentary on the Bible.
VON RAD, Gerhard. Wisdom in Israel. London: SCM Press, 1972.
WEEKS, Stuart. Ecclesiastes 5–12: A Critical and Exegetical Commentary. London: T&T Clark, 2021. (International Critical Commentary)
WALTKE, Bruce K. Teologia do Antigo Testamento: uma abordagem exegética, canônica e temática. Com Charles Yu. Tradução de Marcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2015.
WIERSBE, Warren W. Be Satisfied: Looking for the Answer to the Meaning of Life. Colorado Springs, CO: David C. Cook, 2001.
WIERSBE, Warren W. Eclesiastes. In.: Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento, vol. 3, Poéticos. Tradução de Susana E. Klassen. Santo André, SP: Geográfica, 2010, pp. 449-511.
WRIGHT, J. Stafford. Ecclesiastes. In: BARKER, Glenn W.; KOHLENBERGER, John R. (Eds.). The Expositor's Bible Commentary. Volume 5: Psalms, Proverbs, Ecclesiastes, Song of Songs. Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House, 1991. p. 1133-1181.
WRIGHT, N. T. Surpreendido pela Esperança. São Paulo: Ultimato, 2008.
WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Eclesiastes. In.: Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. São Paulo: VIDA NOVA, 2018, pp. 740-748.
ZORELL, Franz. Lexicon Hebraicum et Aramaicum Veteris Testamenti. Roma: Pontificium Institutum Biblicum, 1958.
📖 Bíblias de Estudo:
Eclesiastes. In.: BÍBLIA DE ESTUDO DA REFORMA. Barueri, SP: SBB, 2017. pp. 1043-1061.
Eclesiastes. In.: BÍBLIA DE ESTUDO NAA (NOVA ALMEIDA ATUALIZADA). Barueri, SP: SBB, 2018, pp. 1117-1128.
Eclesiastes. In.: BÍBLIA DE ESTUDO GENEBRA. Barueri, SP: SBB, 2011. 1985 pp. 854-866.
Eclesiastes. In.: MACARTHUR, John F. (Org.). Bíblia de Estudo MacArthur. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. pp. 834-845.
Eclesiastes. In.: HOLMAN, Jeremy Royal (Ed.). BÍBLIA DE ESTUDO HOLMAN. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2019. pp. 1013-1031.
Eclesiastes. In.: JESUS, Erivaldo de. Bíblia do Pregador Pentecostal. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2025, pp. 992-1009.
Eclesiastes. In.: NVI BÍBLIA ARQUEOLÓGICA. São Paulo: Editorial Vida, 2013, pp. 1012-1031.
Ecclesiastes. In.: KEENER, Craig S.; WALTON, John H. NKJV, Cultural Backgrounds Study Bible: Bringing to Life the Ancient World of Scripture. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2017.
📕Seção Teologia:
PIPER, John. Vivendo à Luz. São Paulo: Vida Nova, 2019.STOTT, John. O Incomparável Cristo. Minas Gerais: Ultimato, 2008.
LEWIS, C. S. A Abolição do Homem. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.
BAVINCK, Herman. Teologia Sistemática, vol. 4 – Escatologia. São Paulo: Cultura Cristã, 2020.
BAVINCK, Herman. Teologia Sistemática, vol. 1 – Prolegômenos e Revelação. São Paulo: Cultura Cristã, 2020.
FRAME, John M. The Doctrine of God. Phillipsburg: P&R Publishing, 2002.
SPROUL, R. C. Deus é Santo. São Paulo: Editora Fiel, 2007.
KÖHLER, Ludwig. Theologie des Alten Testaments. Tübingen: Mohr Siebeck, 1957.
BRUEGGEMANN, Walter. Teologia do Antigo Testamento: Testemunho, Disputa e Imaginário. São Paulo: Loyola, 2005.
WRIGHT, N. T. O Mal e a Justiça de Deus. São Paulo: Ultimato, 2007.
LEWIS, C. S. O Problema do Sofrimento. São Paulo: Vida, 2006.
CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
VAN TIL, Cornelius. An Introduction to Systematic Theology. Phillipsburg: P&R, 1974.
📗 Seção Cristologia:
WRIGHT, N. T. Following Jesus: Biblical Reflections on Discipleship. Grand Rapids: Wm. B. Eedmans Publishing Co. 2014.
SCHWEITZER, Albert. The Mystery of the Kingdom of God. New York: Criative Media, 2015.
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Trad.: Clélia Barqueto, Murilo Jardelino. São Paulo: ed. Mundo Cristão, 2016.
WRIGHT, N. T. The Resurrection of the Son of God. Minneapolis: Fortress Press, 2003.
CHESTERTON, G. K. Orthodoxy. New York: John Lane Company, 1908 (sobre o paradoxo da fé e do vazio existencial moderno, em linha com Qohelet).
AUGUSTINE. Confessions. Trans. Henry Chadwick. Oxford: Oxford University Press, 1991.
📘 Seção Filosofia:
AGAMBEN, Giorgio. O Reino e a Glória: uma genealogia teológica da economia e do governo. Tradução de Selvino J. Assmann. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução de Natan Schapiro. São Paulo: Centauro, 1974.
BATAILLE, Georges. A parte maldita: ensaio de economia geral. Tradução de Mario Laranjeira. São Paulo: Editora 34, 2014.
CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: uma introdução à filosofia da cultura humana. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
HESCHEL, Abraham Joshua. Deus em busca do homem: uma filosofia da religião judaica. São Paulo: Perspectiva, 2005.
KIERKEGAARD, Søren. Temor e Tremor. 3. ed. São Paulo: Hemus, 2001.
____________________. O desespero humano: a doença para a morte. Tradução de Álvaro L. M. Valls. Petrópolis: Vozes, 2022.
LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito: ensaio sobre a exterioridade. Tradução de José Geraldo Coutinho. Lisboa: Edições 70, 2008.
LEVINAS, Emmanuel. Deus, a morte e o tempo. Tradução de José H. v. Corrêa. Lisboa: Instituto Piaget, 2000.
ROSENZWEIG, Franz. A Estrela da Redenção. São Paulo: Perspectiva, 2007.
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de Paulo Perdigão. Petrópolis: Vozes, 2007.
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. São Paulo: Editora 70, 2021.
TILLICH, Paul. A Coragem de Ser. São Leopoldo: Sinodal, 2004.
WEIL, Simone. A Gravidade e a Graça. 1. ed. São Paulo: Lafonte, 2023.
ELLUL, Jacques. La parole humiliée. Paris: Éditions du Centurion, 1981.
ZIZEK, Slavoj. Vivendo no fim dos tempos. Tradução de Maria Beatriz de Medina. São Paulo: Boitempo, 2012.
🌐 Sites:
LANGE, Johann Peter. Ecclesiastes. In: Lange’s Commentary on the Holy Scriptures: Critical. Doctrinal and Homiletical. [S. l.]: BibleHub.com, [s.d.]. Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/lange/ecclesiastes/6.htm. Acesso em: 9 jul. 2025.
PLUMPTRE, Edward H. Ecclesiastes. In: The Cambridge Bible for Schools and Colleges. [S. l.]: BibleHub.com, [1881]. Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/cambridge/ecclesiastes/6.htm. Acesso em: 9 jul. 2025.
SPENCE, H. D. M. Ecclesiastes. In: SPENCE, H. D. M.; EXELL, Joseph S. (Eds.). The Pulpit Commentary. [S. l.]: BibleHub.com, [1909]. Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/pulpit/ecclesiastes/6.htm. Acesso em: 9 jul. 2025.