Estudo sobre Atos 7:58-60

Estudo sobre Atos 7:58-60

A capa, que as atrapalhava no apedrejamento, foi depositada “aos pés de um jovem chamado Saulo”.
É assim que, com destreza de escritor, que Lucas introduz Paulo em sua obra histórica: “um jovem chamado Saulo”. Até então ninguém suspeita, muito menos ele próprio, o que será dele. Porém o leitor de Atos dos Apóstolos sente e estremece: uma vez que a primeira testemunha de Jesus morre como mártir, Jesus já escolheu para si o novo mensageiro, no meio da multidão de seus inimigos. A causa de Jesus não pode ser detida, não por processos, nem por ódio e derramamento de sangue. De acordo com a palavra e vontade de Jesus o evangelho precisa ser levado até os confins da terra. E precisamente o homem que está tentando aniquilá-lo seriamente terá de ser o cooperador central dessa expansão! O termo grego com o qual é caracterizado não significa um “jovem” conforme nós o entendemos, e sim o homem entre vinte e quatro e trinta anos. Em Israel não era possível que um homem assumisse um papel de liderança antes dos trinta anos. Não devemos imaginar esse Saulo que desencadeia a primeira perseguição da igreja como demasiadamente jovem. Aqui não lhe é atribuída nenhuma posição oficial, assim como ele tampouco a menciona em seu próprio retrospecto sobre seu passado em Fp 3.5s. No entanto, deve ter gozado de uma reputação especial, para que depositassem as vestes das testemunhas justamente aos pés dele. Por que, afinal, não haveria de ser assim, visto que podia dizer de si próprio: “E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 1.14)?


Estêvão ora sob as pedradas, a princípio ainda de pé, à semelhança da oração do Sl 31.5, com a qual, ao morrer, também Jesus formulou sua súplica ao Pai. Acontece, porém, que a oração do discípulo se dirige ao próprio Jesus e é formulada com mais modéstia: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito.” Não podemos saber com detalhes o que está por trás da morte física. Nossas concepções terrenas não o alcançam. Contudo há uma coisa que o cristão pode pedir ao morrer, na certeza de ser ouvido: Jesus está aí, Jesus acolhe nosso espírito.180

Em seguida Estêvão cai de joelhos sob as pedradas, e em alta voz ressoa seu grito sobre seus adversários: “Senhor, não lhes imputes este pecado!” Confirma-se o que afirmamos acima a respeito do encerramento de seu discurso. Nem mesmo agora está buscando a vingança e punição de Deus sobre aqueles que o levam à morte de forma tão injusta. Por essa razão também esse morrer difícil e violento é um “adormecer” em profunda paz.

Índice: Atos 7:1-2 Atos 7:3-45 Atos 7:46-53 Atos 7:54-57 Atos 7:58-60

Notas:
180 A teologia moderna deveria constatar que o primeiro mártir do cristianismo orou de modo errado. Deveria ter dito: “Senhor, desperta-me no último dia e mantém-me até então nos teus pensamentos.” Contudo, as pessoas da Bíblia partilham do conhecimento de todos os povos do mundo, de que o ser humano tem um espírito que perdura além da morte física. É claro que ao mesmo tempo cumpre dizer que o primeiro mártir também era muito mais modesto do que numerosos cristãos. Não exclamou em júbilo: “Agora ingressarei na glória!”, mas apenas suplicou: “Senhor, acolhe meu espírito”. Também depois da morte física perdura a condição de que “nossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus” (Cl 3.3). Apenas quando Cristo se manifestar, na parusia, também nós seremos manifestos com ele “em glória” (Cl 3.4). Cf. também as almas que aguardam no altar celestial, em Ap 6.9.