Interpretação de Apocalipse 19

Apocalipse 19

19:1-8 Enquanto o capítulo 19 deste livro recebe generalizadamente o título, "A Batalha do Armagedom", na verdade a primeira metade do capítulo se ocupa com uma cena no céu, onde temos os três últimos hinos do Apocalipse. Primeiro, uma grande multidão se ouve cantando, Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder, por causa do juízo sobre a grande prostituta que foi finalmente executado (vs. 1, 2). Aleluia foi extraído diretamente do hebraico e é formado de duas palavras, hallel, significando "louvor", e jah, palavra básica para Deus.

Aleluias aparecem no começo dos Salmos 111 e 112, e no começo e fim dos Salmos 146 a 150, etc. Este hino repete-se uma segunda vez. Então os vinte e quatro anciãos e as quatro criaturas viventes caem diante de Deus, também gritando Amém, Aleluia (v. 4).

Finalmente, João ouve vozes, as quais ele não identifica especificamente (v. 6), cantando o último dos cânticos, começando com Aleluia, desta vez não por causa do julgamento da Babilônia, mas por causa das bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou (vs. 6-8). Com isto, João recebe ordem de anotar a última bem-aventurança deste livro, na qual anuncia-se que a ceia das bodas do Cordeiro está para se realizar (v. 7). O relacionamento de Deus e Cristo com os redimidos conforme expresso em termos de casamento é frequentemente encontrado em ambos os Testamentos (Os. 2:19-21; Ez. 16:1 e segs.; Sl. 45; Mc. 2:19; I Co. 6:15-17; Ef. 5:25-27). As vestes da noiva são notavelmente diferentes das vestes da grande prostituta, pois a santa noiva só usa linho puro e resplandecente (Ap. 19:8), símbolo dos atos de justiça dos santos. Tudo o que o N.T. fala em se tratando de Cristo como o esposo e a Igreja como a esposa, agora está consumado.

19:11-16 Este parágrafo sempre me pareceu esmagadoramente glorioso demais para uma exposição. Vê-se agora Cristo cavalgando um cavalo branco, descendo dos céus para "julgar e pelejar". Aqui Ele recebe o título de Fiel e Verdadeiro, o qual Lhe foi conferido no começo deste livro (1:5; 3:7,14). A frase, com justiça, é importante. Juízo, em toda a Bíblia, está sempre identificado com justiça. Esta foi exatamente a frase usada pelo Apóstolo Paulo em Atos 17:31. Na verdade, esta é a palavra usada na primeira referência a Deus como o juiz de toda a terra (Gn. 18:25; veja também Sl. 9:4, 8; 98:9; Is. 11:4; etc.). Justiça, diz Cremer, uma autoridade léxica, é "aquele padrão divino que se exibe em comportamento harmônico com Deus . . . o qual corresponde à norma divina". Nosso Senhor mesmo disse: "O meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou" (Jo. 5:30). A descrição de Cristo aqui (Ap. 19:12,13), com olhos de chama de fogo e um manto tinto de sangue, leva-nos de volta ao começo do livro (1:14; 2:18). A frase, tinto de sangue, foi extraída de Is. 63:3.

Agora Cristo recebe um grande título, o Verbo de Deus (Ap. 19:13). Como a Palavra de Deus, Ele fez os mundos. Foi pela rejeição da Palavra que o pecado entrou no mundo. Pela Palavra de Deus, a salvação foi oferecida aos homens. O pecado e a anarquia, impiedade e rebelião, são de uma forma ou de outra o repúdio da Palavra de Deus. Essa Palavra, Eterna e Onipotente, desce agora do céu para cumprir a profecia, para destruir os inimigos de Deus, para revelar ao universo, de uma vez para sempre, a tolice de se resistir a Cristo e a indiscutível preeminência do Rei dos Reis, e Senhor dos Senhores (v. 16). Somos agora introduzidos em uma cena terrena na qual os reis da terra desempenham papel proeminente. Como é estranha e trágica esta situação que descortinamos agora, na qual parece que os governantes do mundo inteiro se unem em um terrível esforço de destruir o ungido de Deus. Como isto contraria os sonhos da humanidade, as tolas declarações dos seus falsos profetas, e de sua injustificada crença de que a sociedade humana está sempre progredindo nos setores da paz, da bondade, da camaradagem e bem-estar social. Veremos o cumprimento do Salmo 2.

19:17-21 Não posso deixar de crer que esta batalha se realizará literalmente, e por isso exige atenção cuidadosa, ainda que rápida. A planície de Megido, em outro lugar chamada de planície de Jezreel, ou Esdrelom, ficou famosa na história de Israel, por suas derrotas e vitórias. Aqui se deu a vitória de Baraque Sobre os cananeus, quando os próprios astros lutaram contra Sísera (Jz. 4:5); a vitória de Gideão contra os midianitas (Jz. 7); e do mesmo modo a derrota e morte do Rei Saul e seus três filhos sob as mãos dos filisteus (I Sm. 4). Aqui aconteceu a grande tragédia da derrota e morte do Rei Josias sob as mãos dos egípcios (II Reis 23:29, 30). Mais tarde na história, as cruzadas foram aqui derrotadas, na batalha de Horns de Hattin, em 1187 A.D. Aqui o General Allemby, em 1917, obteve a grande vitória sobre os turcos, pelo que foi honrado mais tarde com o título de Lord Allemby de Megido. Esta grande planície, com cerca de doze milhas de largura, situada no meio da Palestina, vai das praias do Mediterrâneo até o Vale do Jordão. Nesta planície, diz uma grande autoridade, tivemos "a primeira batalha da história na qual podemos estudar, sob todos os ângulos, a disposição das tropas, e assim, ela forma o ponto de partida para a história da ciência militar". Esta batalha se deu em maio de 1479 A.C., entre as forças sírias e egípcias sob o comando de Tutmoses III (veja Harold H. Nelson, The Battle of Megido, págs. 1, 63).

Sobre este campo de batalha, George Adam Smith escreveu certa vez: "Que planície! Sobre ela, não só os maiores impérios, raças e religiões do Oriente e do Ocidente, têm contendido uns contra os outros, mas cada qual tem sido julgado – sobre ela, desde o princípio, com todo o seu esplendor de batalha humana, os homens sentiram que lutavam contra o céu e, que as estrelas lutavam em suas rotas – sobre ela o pânico desceu misteriosamente sobre os exércitos mais bem equipados e mais capazes, mas os humildes obtiveram a vitória na hora de sua fraqueza – sobre ela falsas religiões, como também os falsos defensores da verdadeira fé, têm sido desmascarados e dispersos – sobre ela, desde o tempo de Saul, a obstinação e a superstição, embora amparadas por todas as qualidades humanas, foram reduzidas a nada, e desde o tempo de Josias a mais pura piedade não tem sido substituída por zelo impetuoso e equívoco" (Historical Geography of the Holy Land, pág. 409).

Profecias que provavelmente se referem a esta batalha futura são encontradas desde 800 A.C. (Joel 3:9-15; veja também Jr. 51:27-36; Sf. 3:8; e Ap. 14:14-20; 16:13-16; 17:14).

A batalha termina quase que imediatamente após ter começado. Dois grandes inimigos de Deus são presos, a besta e o falso profeta (cuja obra foi destacada no capítulo 13), e são lançados vivos dentro do lago do fogo que arde com enxofre (v. 20). (Para um exame mais detalhado sobre este assunto consulte: George Adam Smith, op. cit., págs. 379-410; William Miller, The Least of All Lands, 1888, págs. 152-212; e artigos em várias enciclopédias; como também minha obra, World Crises in the Light of Prophetic Scriptures, págs. 96-1 19).

A palavra Armagedom faz parte hoje da língua inglesa, e está corretamente definida no Oxford English Dictionary como "o lugar da última batalha decisiva". Swete, escrevendo antes da Primeira Grande Guerra, disse acertadamente, "aqueles que observam as tendências da civilização moderna não acharão impossível imaginar que virá um tempo quando através de toda a Cristandade, o espírito do Anticristo irá, com o apoio do Estado, tomar firme posição contra o Cristianismo leal à pessoa e ensinamentos de Cristo".

Notas Adicionais:

19:1 grande multidão.
Veja a nota em 7:9. Aleluia! Ocorre quatro vezes nos vv. 1–6, mas em nenhum outro lugar do NT. É derivado de duas palavras hebraicas que significam “Louvado seja o SENHOR” (veja a nota de texto da NVI no Salmo 135:1).

19:2 grande prostituta. Veja 17:1, 5, 18; veja também 14:8. vingou dela o sangue de seus servos. Veja a oração em 6:10; cf. 16:6; 18:20.

19:3 Aleluia! Embora esta palavra de louvor ao Senhor ocorra quatro vezes (vv. 1, 3, 4, 6; veja nota no v. 1), o título da seção da NVI acima do cap. 19 (“ Tríplice Aleluia “) ainda está correto porque este no v.). As outras duas instâncias são apresentadas nos vv. 4, 6. Cfr. o “Tríplice Ai” em 18:10, 16, 19.

19:4 vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes. Veja as notas em 4:4, 6.

19:7 bodas do Cordeiro. A imagem de um casamento para expressar o relacionamento íntimo entre Deus e seu povo (“sua noiva”) tem suas raízes na literatura profética do AT (por exemplo, Is 54:5–7; Os 2:19). Cfr. o uso do NT (Mt 22:2–14; ver 2Co 11:2 e nota; Ef 5:25–27, 32).

19:9 Abençoado. A quarta bem-aventurança (ver nota em 1:3). ceia de casamento. Veja Mt 8:11; Lucas 14:15; 22:16 e notas.

19:10 caiu a seus pés. Veja nota em 1:17; cf. At 10:25. Espírito de profecia. O Espírito inspira os profetas a dar “testemunho de Jesus” (cf. 22:6).

19:11 cavalo branco. Provavelmente não é o cavalo branco de 6:2 (veja a nota ali). O contexto aqui indica que o cavaleiro é Cristo voltando como Guerreiro-Messias-Rei.

19:12 nome escrito. Um nome secreto cujo significado é velado para todos os seres criados.

19:13 manto embebido em sangue. Ou o sangue do inimigo derramado em conflito (cf. 14:14-20; Is 63:1-3) ou o sangue de Cristo derramado para expiar o pecado (cf. 1:5; 5:9; 7:14; 12:11).

19:14 exércitos do céu. Seres angelicais (cf. Dt 33:2; Sl 68:17); provavelmente também crentes (cf. 17:14).

19:15 espada afiada. Sua palavra de julgamento (ver nota em 1:16). cetro de ferro. Veja a nota em 2:27; cf. também Sal 2:9; Is 11:4. pisa o lagar do... ira de Deus. Cfr. Is 63:3 e nota. lagar. Veja nota em 14:19.

19:16 REI DOS REIS. Veja nota em 17:14.

19:17 grande ceia de Deus. Um contraste sombrio com a “ceia das bodas do Cordeiro” (v. 9; cf. Ez 39:17-20).

19:20 fera... falso profeta. Veja as notas em 13:1, 11. lago ardente de enxofre ardente. Ver 20:10, 14–15; 21:8. A punição pelo fogo é proeminente tanto nos escritos bíblicos (ver, por exemplo, nota sobre La 1:13) quanto nos escritos não-bíblicos (judaicos) (por exemplo, 1 Enoque 54:1). Embora a designação gehenna não seja usada aqui, é a isso que João se refere (ver nota em Mt 5:22). Originalmente o local de um santuário onde eram oferecidos sacrifícios humanos (2Rs 16:3; 23:10; Jer 7:31), veio a ser equiparado ao “inferno” do julgamento final na literatura apocalíptica. 19:21 os pássaros se empanturraram. A “grande ceia de Deus” do vv. 17–18.

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