Aramaico — Enciclopédia da Bíblia Online
ARAMAICO
Aramaico é uma língua semítica antiga, estreitamente aparentada ao hebraico, cuja difusão documental se estende, pelo menos, do segundo milênio antes de Cristo até a Antiguidade Tardia. No corpus bíblico hebraico, a forma de referência é a palavra ʾăramît (“aramaico”), atestada cinco vezes e vertida em traduções portuguesas tradicionais por “em sírio” (2 Reis 18:26; Isaías 36:11; Daniel 2:4; Esdras 4:7 – duas ocorrências). Essas passagens, além de identificarem o nome da língua, refletem um contexto sociolinguístico no qual autoridades preferiam comunicação em aramaico para evitar que o “povo” compreendesse o teor do discurso (2 Reis 18:26; Isaías 36:11). Em Gênesis 31:47, a duplicidade “Jegar-Saaduta” (aramaico) e “Galeede” (hebraico) ilustra, já em tradição antiga, o pareamento onomástico entre aramaico e hebraico dentro da mesma cena narrativa. No conjunto do Antigo Testamento, as seções redigidas em aramaico concentram-se em Daniel 2:4b–7:28, Esdras 4:8–6:18; 7:12–26 e Jeremias 10:11, fato estabelecido pela crítica textual e pela filologia (cf. síntese de KHAN, The languages of the Old Testament, 2013, pp. 3-21).
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Manuscrito aramaico © Cambridge University. |
I. Escopo (diacronia e função).
O aramaico se insere no ramo semítico do noroeste e, nas épocas neo-assíria, neo-babilônica e, sobretudo, aquemênida, tornou-se língua franca administrativa e diplomática do Império Persa, com documentação extensa de cartas, decretos e contratos do Egito à Ásia Menor e à Ásia Central (Elefantina, Daskileion, Bactra, entre outros). A padronização grafemática e estilística do chamado “aramaico oficial” (ou “imperial”) liga-se diretamente a essa função suprarregional — uma caracterização consolidada na literatura especializada.
A. Nomes e terminologia (precisões necessárias)
(1) “Aramaico bíblico”. A designação refere-se às porções canônicas redigidas nessa língua (Daniel, Esdras, Jeremias 10:11, além de Gênesis 31:47 no nível onomástico). A historiografia europeia dos estudos semíticos, entretanto, empregou por muito tempo o termo “caldaico”/“caldeu” para o aramaico bíblico, por fatores de tradição escolar e confusões antigas de nomenclatura; esse uso é hoje reconhecido como um anacronismo terminológico (KAUTZSCH; BROWN, The Aramaic Language, 1884, pp. 98-115).
(2) “Caldaico/Caldeu”. Em fontes tardo-antigas e na erudição moderna inicial, “caldeu” pode aparecer como sinônimo genérico de “aramaico”; há ainda contextos em que “caldeu” designa outras realidades (p. ex., etnoculturais), razão pela qual a filologia contemporânea prefere “aramaico bíblico” para evitar ambiguidades.
(3) “Siríaco” (ou “siríaco cristão”). Trata-se de um dialeto tardio do aramaico, originalmente a variedade local de Edessa (Şanlıurfa), que, a partir do século II d.C., se tornou língua literária maior do cristianismo de língua aramaica; desenvolveu tradição escrita própria e ampla literatura bíblica, patrística e litúrgica.
(4) “Neo-aramaico”. Denominação para os contínuos dialetais modernos (NENA/neo-aramaico do nordeste; Turoyo; o ocidental de Maʿlula; neo-mandaico, etc.), ainda vivos, com forte variação, documentados em gramáticas de referência e estudos comparativos (AD, The Semitic Language Family, 2017, pp. 854-886).
B. Observações de método
Deve-se ressaltar que, embora aramaico e hebraico sejam próximos, propostas de derivar sistematicamente vocábulos hebraicos de etimologias aramaicas são conjeturais; portanto, distinções diacrônicas e dialetais precisam ser controladas caso a caso.
C. Notas correlatas (contexto de uso)
Deve-se sublinhar que expressões aramaicas em ambientes judaicos do período persa-helenístico não devem surpreender, dado o contato prolongado com línguas vizinhas e a própria função do aramaico como meio administrativo e intercomunitário — quadro histórico no qual, mais tarde, germina a tradução bíblica grega (Septuaginta) a partir de cerca de 280 a.C., sem que isso altere a definição de “aramaico” como língua semítica autônoma e distinta.
D. Síntese terminológica operacional
Doravante, “aramaico” designará a língua semítica do noroeste em toda a sua extensão histórica; “aramaico bíblico” refere-se exclusivamente aos trechos do Antigo Testamento em aramaico (Daniel 2:4b–7:28; Esdras 4:8–6:18; 7:12–26; Jeremias 10:11; e a duplicidade toponímica de Gênesis 31:47); “siríaco” designará a tradição literária cristã, dialeto de Edessa e seus desdobramentos; “neo-aramaico” cobrirá os conjuntos modernos (NENA, Turoyo, Maʿlula, neo-mandaico), com tratamento dialetológico próprio.
II. Classificação genética
A. Posição na família semítica e escopo do termo.
Aramaico e hebraico pertencem ao ramo semítico do noroeste, e deve-se também salientar a proximidade (língua cognata), a escrita da direita para a esquerda e a origem consonantal do sistema gráfico, com posterior vocalização massorética aplicada tanto ao hebraico quanto ao aramaico bíblico. Esses pontos, embora tipológicos, balizam a classificação genética do aramaico como membro do semítico noroeste e, ao mesmo tempo, distinguem-no funcionalmente de outras famílias semíticas. A bibliografia especializada de referência confirma: hebraico integra o subgrupo cananeu (com fenício, moabita, amonita), ao passo que o aramaico constitui um ramo próprio do semítico noroeste; ambos se inserem no quadro mais amplo do semítico ocidental/central.
B. Relação com hebraico, fenício e ugarítico (parentesco e distinções internas).
É importante enfatizar a cognoscibilidade mútua de traços gerais entre aramaico e hebraico (sem, contudo, confundir as línguas): “possuem as mesmas letras no alfabeto (com os mesmos nomes)”, compartilham direcionalidade da escrita e exibem semelhanças nas flexões verbais, nominais e pronominais; registra ainda tendências fonológicas (preferência pela vogal /a/ e preferências consonantais como d por z e t por sh) que ajudam a perfilar o aramaico frente a outras línguas semíticas. No quadro do semítico noroeste, os manuais atuais listam, ao lado do aramaico, o conjunto cananeu (hebraico e fenício, entre outros) e também o ugarítico, com o qual hebraico e fenício mantêm afinidades importantes; a literatura recente, porém, é explícita ao considerar o ugarítico um ramo não-cananeu dentro do semítico noroeste, paralelamente a cananeu e aramaico (COOK, Biblical Aramaic and Related Dialects, 2022, p. 2-3) Em termos de uso bíblico e histórico, a própria Bíblia distingue “aramaico” do “idioma judaico”, documentando a diferença intercompreensiva (2 Reis 18:26; Isaías 36:11), o que reforça a separação entre o ramo aramaico e o cananeu hebraico na classificação.
C. Traços definidores do sub-ramo aramaico (inovações compartilhadas e marcadores estruturais).
A classificação genética não se apoia apenas em afinidades gerais, mas em inovações específicas que delimitam o “aramaico” como ramo dentro do semítico noroeste. Deve-se explicitar quatro inovações pan-aramaicas identificadas nas inscrições antigas e mantidas nos dialetos posteriores: (1) a mudança de bn (“filho”) > br (cf. hebraico bēn, ugarítico bn, fenício bn), (2) a nivelação do sufixo de 1ª pessoa do plural em -nā, (3) a criação do tema causativo-reflexivo hittaqtal e (4) a perda completa do niphal. Essas inovações, tomadas em conjunto, “constituem o aramaico como um sub-ramo genético do semítico noroeste, ao lado do cananeu e do ugarítico”. Uma vez estabelecido esse núcleo, outras propriedades estruturais ajudam a reconhecer e datar variedades: no sistema verbal, a oposição dos prefixos do “imperfectivo” nas tradições tardias (em especial, l- no babilônico oriental e n- no siríaco clássico, contrastando com y- em etapas anteriores) e, no nominal, a substituição da ausência de artigo pelo uso do chamado “estado enfático” como marca de definitude; na sintaxe, o relativo zī/dī com valor genitivo (“de”) e variações históricas no marcador de acusativo (p. ex., yath nos Targumim e l- em materiais não-tradutórios). Por fim, deve-se observar que a limitação do inventário gráfico do alfabeto cananeu de 22 sinais (compartilhado historicamente no espaço noroestino) levou, nos estágios antigos, a grafemas cobrindo mais de um fonema — um dado paleográfico que não altera a genealogia, mas explica parte das correspondências entre ramos.
III. Geografia histórica e sociolinguística
A. Território original e primeiras expansões.
Registra-se que o ponto de partida na região de Aram/Mesopotâmia, com difusão inicial perceptível nas inscrições do “aramaico antigo” no norte da Síria (séculos X–VIII a.C.), em diálogo constante com os espaços siro-mesopotâmicos. A presença aramaica emerge tanto em onomástica quanto em fórmulas epigráficas e administrativas próprias, em paralelo ao hebraico e a outras línguas semíticas do noroeste, e já na tradição bíblica antiga a justaposição aramaico/hebraico aparece em Gênesis 31:47, onde “Jegar-Saaduta” é pareado a “Galeede” (ambos “Montão de Testemunho”), sinalizando um cenário antigo de bilinguismo na Transjordânia setentrional. No horizonte assírio dos séculos VIII–VII a.C., a incorporação de populações aramaicas ao império e a contratação de escribas aramaicos promoveram o idioma para funções diplomáticas e comerciais também fora do núcleo imperial, movimento que a própria Bíblia entrevê quando oficiais de Judá pedem a Rabsaqué que fale “em aramaico” para que “o povo” não entenda (2 Reis 18:26; Isaías 36:11). A historiografia linguística recente sustenta esse quadro: o aramaico foi introduzido como idioma de chancela e de expediente, lado a lado com o acádio, já no ambiente neo-assírio, e a sua difusão para além da Assíria resultou de necessidades administrativas, diplomáticas e mercantis, antes de se tornar plenamente “imperial” sob os persas.
B. Do “aramaico oficial/imperial” à malha imperial: Assíria, Babilônia e Pérsia.
Descreve-se a cristalização de uma forma padrão — chamada no próprio texto de “aramaico oficial” — que ganha amplitude durante a hegemonia neo-babilônica (625–539 a.C.) e, sobretudo, no Império Aquemênida (538–331 a.C.), quando passa a ser a língua de governo e de comércio “de ponta a ponta” da ecúmena aquemênida, persistindo ainda no período helenístico (323–30 a.C.). O mesmo trecho enfatiza a variedade de suportes e espaços: registros em tabuinhas cuneiformes; óstracos; papiros; selos e moedas; inscrições lapidares; e uma distribuição geográfica amplíssima, com achados na Mesopotâmia, na Pérsia e no Egito, e, conforme observa o documento, em latitudes setentrionais “tão ao Norte como os montes Urais” e “ao Leste” até o Afeganistão e o Curdistão, quadro compatível com a extensão oriental atestada para Bactriana e Sogdiana nos séculos IV–V a.C. A literatura especializada confirma o papel do aramaico como idioma de chancelaria aquemênida, sem reduzir sua expansão a um único decreto real: estudos de J. C. Greenfield descrevem o uso do aramaico “em todo o Império Aquemênida” e salientam a continuidade de tradições anteriores; Holger Gzella, por sua vez, resume a função do aramaico como o “idioma padrão de chancelaria” do império, com redes provinciais que cobrem do Egito à Ásia Central. O mesmo panorama é visível nas corpora: as cartas e contratos judaico-aramitas de Elefantina (Assuã) no Egito persa; os documentos de Samaria/Wadi Daliyeh no âmbito samaritano; os dossiês de Daskyleion na Anatólia; os materiais de Bactra/Bactriana no Afeganistão; e a epigrafia de Taymāʾ na Arábia setentrional — todos em aramaico oficial e inseridos em circuitos administrativos, fiscais, militares e comerciais (GREENFIELD, Aramaic in the History of Iran, 1985, pp. 698-713).
C. Difusão regional, estratificação social e bilinguismo
O aramaico, como idioma de expediente imperial, conviveu com línguas locais e não era necessariamente compreendido por todos os estratos sociais: “oficiais” de Judá entendiam a língua de chancela, mas o “povo” não — como indicam 2 Reis 18:26 e Isaías 36:11 —, uma observação sociolinguística coerente com a estratificação funcional típica de impérios: elites administrativas, comerciantes e escribas com competência ativa/passiva em aramaico e populações locais que permanecem majoritariamente hebraico-falantes em Judá (pós-exílico) e em outras províncias. A bibliografia de referência sintetiza essa situação para o período persa: hebraico e aramaico, ambos semíticos do noroeste, circulam em Yehud de modo complementar — o hebraico como língua nativa/tradicional e o aramaico como idioma de administração, diplomacia e parte da escrita pública —, com escrita de documentos, cartas e fórmulas legais no padrão aramaico e com leitura pública e práticas cultuais preservando o hebraico, ainda que permeado por aramaísmos. As passagens aramaicas de Esdras (4:8–6:18; 7:12–26), Jeremias 10:11 e Daniel 2:4b–7:28 ilustram o encaixe histórico: textos produzidos em ambientes permeados pelo expediente imperial e por práticas escriturísticas de largo alcance. Estudos dedicados a Yehud sob os persas tratam explicitamente da “comunidade de fala” judaíta no império e de como práticas de escrita (ostraca e papiros) do século IV a.C. documentam fórmulas contratuais alinhadas a modelos babilônicos, mas vertidas em aramaico oficial — um caso claro de bilinguismo regimentado por funções sociais distintas.
D. Corroboração arqueológica e redes documentais (suportes e alcances).
A gama de suportes — cuneiforme, óstracos, papiros, selos, moedas, lapidário — e a amplitude territorial; os corpora confirmam: em Elefantina/Assuã, cartas, decretos, contratos e recibos do século V a.C. atestam rotinas militares e civis sob administração persa; em Wadi Daliyeh (Samaria), escrituras aramaicas do século IV a.C. preservam fórmulas de “contratos de declaração” de tradição babilônica vertidas para o padrão aramaico; em Bactriana (Afeganistão), o arquivo aulário do sátrapa Akhvamazda (coleção Khalili; 353–324 a.C.) revela a circulação oriental do aramaico oficial em cartas, contas e “tally sticks”; em Taymāʾ, na Arábia setentrional, epigrafia aramaica e multilingue mostra a interseção de rotas comerciais e poder imperial no século VI a.C. A soma desses dossiês confirma o que se descreve como “língua franca”: um idioma de alcance transprovincial que atravessa domínios persas, egípcios e anatólios, alcançando as franjas orientais.
E. Continuidade helenística e memória textual.
O uso do aramaico oficial “continuou durante o período helenístico (323–30 a.C.)”. Os corpora de fronteira (Samaria tardo-persa, Bactriana no início do domínio macedônio) e a própria organização administrativa pós-Aquemênida indicam continuidades locais de escrita e arquivo, o que ajuda a explicar por que, na literatura judaica do período, o aramaico segue funcionando ao lado do hebraico, inclusive em livros canônicos redigidos parcialmente em aramaico. A crítica moderna tem analisado o livro de Daniel como composição bilíngue estratégica (hebraico/aramaico), comutando de código ao longo da obra para inscrever o texto na ecologia sociolinguística do fim do período persa e início do helenístico (Daniel 2:4b–7:28).
IV. Periodização canônica
A. Aramaico antigo/primitivo (sécs. IX–VII a.C.)
Define-se esta fase como o conjunto de inscrições do Norte da Síria (décimo ao oitavo séculos a.C.), período marcado por escassez de padronização e diversidade dialetal; ainda neste estágio, o inventário fonêmico proto-semítico se mantém, mas o alfabeto cananeu de 22 sinais faz com que certos grafemas representem mais de um fonema (por exemplo: q = q e ḍ; z = z e ḏ; š = š, ś e ṭ; ṣ = ṣ e ṯ̣; ḥ = ḥ e ḫ; ʿ = ʿ e ġ). Quatro inovações pan-aramaicas já se observam e continuarão em todas as fases posteriores: (1) bn → br (“filho”); (2) nivelamento do sufixo de 1ª pessoa do plural em -nā; (3) criação do tema causativo-reflexivo hittaqtal; (4) perda completa do niphal hebraico. Entre as primeiras inscrições, contam-se a estela bilíngue acádio-aramaico de Tell Fakhariyah e a estela de Tel Dan (meados do séc. IX a.C.); esta última, com a referência à “Casa de Davi” (bytdwd), fornece a primeira menção extrabíblica à dinastia davídica. Outros testemunhos notáveis incluem a inscrição de Zakur (com paralelos de estilo aos Salmos de Ação de Graças), os tratados de Sefire (fonte maior para bênçãos e maldições do oeste semítico) e as inscrições de Hadad e Panammu, que documentam um dialeto aramaico samaliano idiossincrático (Zinjirli). Para esta fase, se deve organizar subgrupos: “siriano padrão” (ou aramaico antigo ocidental: BR-HDD; Zakkur; Sefire; Nerab; BR-RKB), “samaliano” de Zinçirli (transição de inscrições em fenício para um aramaico local e depois para aramaico siriano padrão), “Fakhariyah” (bilíngue neo-assírio/aramaico, crucial para a história do alfabeto), “mesopotâmico” (textos econômicos e jurídicos gravados em argila) e “Deir ʿAlla” (o relato de Balaão; a própria classificação mostra que não há linha divisória nítida entre cananeu e aramaico no período). Ainda registra-se traços “cananeizantes” em Samʿal/Zinjirli (por exemplo, 1ª pessoa ʾnk em vez de ʾnh, e ntn em vez de yhb “dar”), uma carta de Assur (c. 650 a.C.) de Bel-etir a Pirawur, e as estelas funerárias de Nerab, com grafias como ʾšrk “teu lugar” (šin por tāw) e nṣr “preservar” (ṣade por ṭēt). Em 1993, um novo fragmento aramaico em Tel Dan reforçou a leitura histórica do conjunto, embora o debate acadêmico tenha discutido leituras específicas; as publicações em Israel Exploration Journal detalham a descoberta e os acréscimos posteriores (BIRAN; NAVEH, An Aramaic Stele Fragment from Tel Dan, 1993, pp. 81-98) Sobre Sefire e o círculo assírio de Šamši-Ilu, veja a edição clássica de André Lemaire e Jean-Marie Durand e o dossiê bibliográfico do Comprehensive Aramaic Lexicon (NA’AMAN, Arpad and Aram: Reflection of a dimorphic Society in the Serîre Treaty, 2016, pp. 79-88)
B. Aramaico oficial/imperial (até ca. 200 a.C.).
Nesta fase, o aramaico se torna uma forma altamente padronizada e homogeneizada, estabilizando traços que caracterizam os dialetos posteriores: uma série de fusões fonêmicas (por exemplo, ḍ>ʿ; ḏ>d; ṯ>t; ṯ̣[=x]>ṭ; ḫ>ḥ; ġ>ʿ), o jussivo feminino plural de yiqtəlān, o infinitivo miqtal do binyán peʿal, o sufixo nominal feminino plural -ān e a definitude como sufixo -āʾ. O nome “oficial/imperial” deriva do uso por todo o Neo-Babilônico e, de modo especial, pelo Império Persa; os achados se espalham por Egito, Arábia, Palestina, Síria, Mesopotâmia, Ásia Menor, Armênia e até o Vale do Indo, em gêneros que incluem cartas, contratos e escrituras, textos literários, incantações e inscrições monumentais. A maior massa de documentos provém do Egito: arquivos em Elefantina/Syene (cartas, testamentos, contratos, transferências de propriedade; início com Dario I; documento mais antigo datado de 497 a.C.; nenhum documento datado após 400 a.C.), a correspondência do sátrapa Arsames, cartas familiares de Hermópolis e materiais de Saqqara (carta de um rei filisteu ao faraó; registros legais e econômicos de sécs. V–IV a.C.). Em Samaria/Wadi Daliyeh (meados do séc. IV a.C.), escrituras de venda fragmentárias foram achadas com restos humanos de fugitivos; o conjunto ilumina práticas jurídicas do fim do período persa. Em termos literários e epistolares, “as cartas ‘oficiais’ em Esdras” são quase certamente imperiais, tanto na língua quanto no estilo epistolar, coerentes com Esdras 4:8–6:18; 7:12–26. A padronização culmina em um ideal de “aramaico literário padrão” cuja matriz parece ter sido o aramaico babilônico tal como escrito por persas escolarizados — uma norma que perdura por mais de um milênio. Também se registra um único texto aramaico “silábico cuneiforme”, uma incantação de Uruk, de época helenística mas de linguagem arcaizante; além disso, registram-se inscrições lapidares periféricas (Sheik Fadl, Teima, Daskyleion), embora — surpreendentemente — não no núcleo Síria-Mesopotâmia. O panorama documental e sua historicidade são amplamente confirmados por estudos de Elefantina (Bezalel Porten; Yochanan Muffs) e por reavaliações recentes do contexto social da colônia judaica, bem como pelos dossiês samaritanos de Wadi Daliyeh (MUFFS, Archives from Elephantine, 1968, pp. 588-591).
C. Aramaico médio (ca. 200 a.C.–200/250 d.C.).
Com as administrações helenística e romana, o grego substitui o aramaico como língua de governo, e os dialetos locais passam a diferenciar-se, embora o “aramaico literário padrão” permaneça como koiné escrita supradialetal. Propõe-se dois blocos: (a) epigráfico: Palmira (inscrições dedicatórias, honoríficas e um decreto tarifário; muitos bilíngues grego-aramaico; a cidade é Tadmor/Palmyra), o reino árabe de Petra (nabatêo), Hatra (reino parta; com achados também em Assur) e um grupo residual (Síria — especialmente Dura-Europos —, Ásia Menor, Armênia, Geórgia, Média, Pártia, Pérsia, Babilônia; além de materiais de arquivo do deserto da Judeia); (b) canônico: as seções aramaicas de Daniel (2:4b–7:28) pertencem a este dialeto, em contraste com o aramaico de Esdras; “Literatura judaica aramaica”: em Qumran, grande parte do material parabíblico não sectário é aramaico (Apócrifo de Gênesis, Targum de Jó, Enoque, Testamento de Levi); Targum Onqelos (Torá) e Jonathan (Profetas) cujos textos consonânticos terão origem palestinense neste período; fórmulas jurídicas preservadas na literatura rabínica. Acrescenta-se “ideogramas médio-iranianos” (uso de ideogramas aramaicos no parto e no pahlavi) e o material demótico do Papiro Amherst 63 (hinos em dialeto misto cananeu/aramaico e um longo relato da disputa entre Assurbanípal e Šamaš-šum-ukīn). A crítica linguística aí apresentada observa diferenças relevantes entre o aramaico do Apócrifo de Gênesis e o de Daniel/Esdras (por exemplo, -n final no perfeito 3mp de verbos terminados em ʾ; preposição composta bdyl “por causa de”), diferenças que o documento interpreta como indício de datação mais tardia do Apócrifo e, portanto, não compatível com uma data macabaica para Daniel. Para o Papiro Amherst 63, pesquisas recentes discutem novos recortes históricos e linguísticos (demótico com língua aramaica), confirmando o caráter inesperado de certas formas.
D. Aramaico tardio (aprox. 200 d.C. até o início da conquista islâmica, ca. 700; por alguns esquemas, até ca. 1200).
Esta fase concentra os maiores corpora e, progressivamente, convive com o avanço do árabe como língua falada. É importante subdivide esta parte em três ramos: (1) palestinense: judaico (inscrições, sobretudo sinagogais; targúmico — dialeto dos Targumim palestinenses: Neofiti, fragmentos de Genizá e Fragmentário; galileu do Talmude e dos midraxim, o Yerushalmî), cristão-palestinense e samaritano; (2) babilônico (oriental): aramaico do Talmude Babilônico e o mandaico (língua religiosa gnóstica do sul da Babilônia); (3) siríaco literário: tradição litúrgica do cristianismo siríaco, o dialeto melhor atestado. No plano linguístico, os dialetos orientais marcam o imperfeito com prefixo l-, enquanto o siríaco usa n-, em contraste com y- das fases anteriores; nota-se declínio dos “estados” absoluto e construto e avanço do pronome possessivo dil-; os passivos internos cedem lugar aos temas prefixados ʾt-; a influência grega é ampla. A sintaxe oriental reestrutura os estados nominais, com o “enfático” (determinado) tornando-se a forma normal (malkā = “o rei” / “um rei”); o construto e as formas com sufixo pronominal retraem-se; no palestinense targúmico evita-se sufixo pronominal em verbos. Participiais assumem valor de “presente” (muitas vezes substituindo o imperfeito), e, no siríaco e no babilônico, pronomes podem ligar-se encliticamente ao particípio como marcadores de sujeito (kāṯeḇ + ʾanā → kāṯeḇnā), ao passo que no ocidental os pronomes precedem o particípio (padrão de que derivam as formas de presente-futuro em Maʿlula). No proto-oriental neo-aramaico desenvolve-se um novo passado a partir do particípio passivo (ketib-li ≈ “eu escrevi”), e o sistema de presente-futuro também se reconfigura: o particípio substitui o imperfeito e formam-se novos presentes. Uma observação dialetal adicional: no targúmico judaico-palestinense e no galileu o prefixo do imperfeito 1cs é n- (não ʾ-). Para a síntese histórica e cultural dessa fase (com siríaco literário e mandaico), ver também a obra de Holger Gzella.
E. Moderno/neo-aramaico (vitalidade e diásporas).
Entre os dialetos vivos, temos: Maʿlula (NE de Damasco), Turoyo e Mlaḥso (Sudeste da Turquia), Neo-Syriac (originário do Curdistão, hoje amplamente disperso) e Neo-Mandaic (Sul do Iraque e Oeste do Irã). Pesquisas recentes documentam a diáspora e novos contextos urbanos (por exemplo, Turoyo em comunidades da América do Norte) e descrevem com detalhes a gramática dos contínuos NENA; no ocidental, o enclave de Maʿlula/Jubbʿadīn/Baḫʿa preserva a última ramificação viva do “ocidental”, com esforços de ensino e padronização gráfica.
(1) Complementos bíblicos e transversais: no corpus da Bíblia Hebraica, o aramaico aparece em Daniel 2:4b–7:28, Esdras 4:8–6:18; 7:12–26, Jeremias 10:11 e a duplicidade toponímica de Gênesis 31:47; o cenário sociolinguístico dos séculos VIII–VI a.C. é ilustrado por 2 Reis 18:26 e Isaías 36:11, onde se supõe que oficiais dominassem o aramaico, não o “povo”.
V. Dialetologia
A. Macrodivisão e critérios.
Embora se fale com frequência numa bipartição “Ocidental × Oriental”, a descrição mais útil para o período tardio é tripartite: “Palestinense, Siriana e Babilônica”, porque cada bloco agrega tradições textuais, usos litúrgicos e hábitos gráficos próprios, sem deixar de revelar interinfluências (especialmente com o grego e, mais tarde, com o árabe). Esse recorte também convive com a dialetologia epigráfica do período médio (palmireno, nabateu, hatreno) e com os contínuos modernos (neo-aramaicos), o que permite mapear, na mesma chave, dialetos de sinagoga e igreja, dialetos de chancela epigráfica e dialetos vivos de base comunitária. Para a moldura geral (e para a distinção entre ramos ocidentais e orientais ao longo do tempo), ver as sínteses de Holger Gzella em A Cultural History of Aramaic (2015, pp. 289-295) e o capítulo “Aramaic” em Cambridge Core, que enquadram a família aramaica dentro do semítico do noroeste e descrevem a ampla atestação temporal e geográfica da língua.
B. Palestinense (Ocidental): judaico, cristão e samaritano.
O bloco palestinense reúne, no judaico, inscrições (sobretudo sinagogais) e o aramaico do Talmude e dos midraxim de “Jerusalém” (Yerushalmî), com traços galileus que a tradição filológica destaca em discussões sobre o ambiente linguístico do século I (compare Daniel 2:4b–7:28, cuja variedade, porém, não é a imperial, mas uma fase média; e Esdras 4:8–6:18; 7:12–26, que testemunham expediente chancelarial). No cristão-palestinense (CPA), o corpus é pequeno e reconhecido sobretudo por lecionários e palimpsestos provenientes da região da Judeia, muitas vezes em escrita siríaca; a bibliografia especializada descreve o CPA como uma variedade palestinense usada por melquitas entre os séculos V–XIII, com forte trânsito tradutório do grego (Bíblia, patrística) e afinidades com o judaico-palestinense e o samaritano. No samaritano, conservam-se duas traduções da Torá, poesia litúrgica e exegese, com valor linguístico paralelo ao do hebraico samaritano. Estudos recentes em sobre Targumim reafirmam que as versões palestinenses preservam um “aramaico literário padrão” com numerosas variantes locais, coerente com um cenário multilingue em que hebraico, aramaico e grego circulam de modo funcionalmente estratificado (Esdras 4:8–6:18; 7:12–26).
C. Siriana (Oriental): siríaco e “literário judaico tardio”.
Na família siriana, o siríaco é a língua litúrgica do cristianismo oriental (com centros em Edessa), o dialeto aramaico mais bem documentado do período, com léxico e gramática ancorados na tradição urbana edessena e uma literatura bíblica, patrística e litúrgica imensa. Também distingue-se um aramaico literário judaico tardio, reconhecido relativamente tarde como dialeto distinto; apesar de transmitido em materiais rabínicos muitas vezes corrompidos, os traços apontam para estreita relação com a área de fala siríaca. A Cambridge History of Judaism descreve, para a Antiguidade Tardia, a centralidade do aramaico (ao lado do hebraico) na vida judaica e detalha as zonas de contato com as variedades sirianas; estudos de Cambridge sobre bilinguismo hebraico–aramaico ajudam a explicar a convivência funcional e a competição por domínios de uso (leitura pública, estudo, liturgia).
D. Babilônica (Oriental): judaico e mandeu.
O babilônico judaico é a língua falada dos judeus da Babilônia (Mesopotâmia), preservada sobretudo no Talmude Babilônico; responsa do Iêmen são fontes particularmente valiosas para a história textual dessa variedade. O mandeu, por sua vez, é a língua (falada e literária) de uma comunidade gnóstica não-cristã; apesar de possíveis origens iranianas do grupo, a língua é plenamente mesopotâmica. Na prática, “babilônico judaico” e “mandeu” formam os dois polos do subgrupo babilônico tardio. Holger Gzella descreve esse conjunto como eixo oriental que convive com a tradição siríaca e com as práticas judaicas palestinenses, num sistema policêntrico típico da Antiguidade Tardia.
E. Dialetologia epigráfica do período médio: palmireno, nabateu, hatreno e outros.
Para o período médio (aprox. 200 a.C.–200 d.C.), recomenda-se separar os materiais em “epigráficos” e “canônicos”. No grupo epigráfico, o palmireno (Tadmor/Palmyra) apresenta inscrições dedicatórias e honoríficas, além de um célebre decreto tarifário datado; muitos textos são bilíngues grego–aramaico. O nabateu (reino árabe de Petra) sobrevive em inscrições tumulares e votivas; materiais nabateus tardo-pérsicos e do período de Bar Kokhba aparecem em Naḥal Ḥever; estudos de epigrafia discutem o contato com o árabe (empréstimos e “arabização” gráfica). O hatreno registra inscrições dedicatórias do reino de Hatra (e um conjunto menor em Assur). Há ainda inscrições esparsas na Síria (especialmente Dura-Europos), Ásia Menor, Armênia, Geórgia, Média, Pártia e Pérsia; materiais de arquivo do deserto da Judeia se agregam a esse “resto” epigráfico. Revisões em JSTOR sobre Palmyra e Nabateu e estudos de gramática de contato confirmam esses perfis dialetais e a pressão sociolinguística do grego e do árabe no corredor siro-arábico.
F. “Canônico” do período médio e pontes com a tradição palestinense.
No grupo canônico do período médio, o aramaico de Daniel (2:4b–7:28) pertence a essa fase (não ao “imperial”), enquanto os Targumim Onqelos (Torá) e Jonathan (Profetas), com texto consonantal de provável origem palestinense, integram a base do que se chama de “aramaico literário padrão” com colorido palestinense; Qumran preserva vasta produção parabíblica aramaica (por exemplo, “Apócrifo de Gênesis”, “Targum de Jó”), e a literatura rabínica guarda fórmulas jurídicas aramaicas de autenticidade tradicional. Atualmente discussões acadêmicas sobre Targumim reforça que, nos séculos imediatamente anteriores e posteriores ao início da era cristã, a situação é de trilinguismo (hebraico, aramaico, grego), com o aramaico predominando nas camadas populares e com intensa variação dialetal na Palestina.
G. Neo-aramaico (moderno): ocidental, siriano e babilônico.
No ocidental, o aramaico permanece vivo na região de Maʿlula e aldeias vizinhas (Jubbʿadīn, Baḫʿa), com léxico fortemente arabizado. Na família siriana moderna, o “siríaco ocidental” (Turoyo) é a língua dos jacobitas de Tur ʿAbdin (sudeste da Turquia), enquanto as variedades “neo-siríacas orientais” (NENA) se difundiram pelo Curdistão e diásporas; a pesquisa destaca que esses neo-dialetos não descendem diretamente de um dialeto literário clássico e apresentam convergências areais. No bloco babilônico, o neo-mandeu permanece, ao menos até recentemente, em comunidades do sul do Iraque e do oeste do Irã. As descrições dialetológicas atuais combinam trabalho de campo com sociolinguística de diáspora; a herança literária do siríaco clássico inclusive conhece um renascimento como veículo erudito em comunidades do Oriente Médio e na imigração europeia e norte-americana.
H. Marcadores diferenciais comparativos
Entre os indicadores mais úteis para separar subgrupos e estágios, o arquivo enumera (e aqui preservo integralmente): no Oriente (babilônico), o prefixo do imperfeito tende a l-; no siríaco clássico, o prefixo é n-; em contraste, estágios anteriores usam y-. Observa-se declínio dos “estados” absoluto e construto e avanço do possessivo dil-; os passivos internos cedem terreno a temas prefixados com ʾt-; a influência grega é ampla; no judaico-palestinense targúmico e no galileu, o prefixo do imperfeito 1cs é n- (não ʾ-). Em variedades ocidentais, pronomes tendem a preceder o particípio; em variedades orientais (siríaco, babilônico), pronomes podem ligar-se encliticamente ao particípio como marcadores de sujeito (padrão do qual derivam, em Maʿlula, as formas de presente-futuro). No proto-oriental neo-aramaico forma-se um “novo passado” a partir do particípio passivo (por exemplo, ketib-li ≈ “eu escrevi”), ao passo que o particípio substitui o imperfeito como presente-futuro, com desenvolvimento de novos presentes. Esses marcadores, combinados aos corpora epigráficos e canônicos acima, organizam com nitidez o mosaico dialetal.
VI. Língua de Jesus e o ambiente linguístico do século I
A. Estado da questão no material enviado.
Esta seção deve se abrir com a afirmação de que há considerável diferença de opinião entre os peritos sobre qual língua Jesus utilizava com mais frequência, e observa que é perfeitamente plausível que Jesus e os primeiros discípulos, como Pedro, falassem em certas ocasiões o aramaico galileu, sem que isso implique que o ensino público de Jesus fosse predominantemente aramaico. BIRELAND (The Language of Jesus), para quem o fato de o aramaico ser a “língua do lar e da conversação” não prova que Jesus tenha instruído em aramaico; ele defende que o ensino foi sobretudo em hebraico “popular”, ainda que com eventuais expressões aramaicas. Deve-se acrescentar que, embora não seja possível demonstrar de forma conclusiva, a expressão “língua hebraica” em Atos 22:2 e 26:14 pode referir-se realmente ao hebraico (ainda que não ao hebraico bíblico clássico), e não ao aramaico, de modo que a cena do discurso de Paulo em Jerusalém permite inferir a inteligibilidade de um hebraico vivo no período. Já na própria Jerusalém, havia “judeus de língua grega” e “judeus de língua hebraica” (Atos 6:1), sinal claro de um convívio trilingue (hebraico–aramaico–grego) que contextualiza o ministério de Jesus e a recepção de sua mensagem. Todos esses pontos — divergência de especialistas, uso doméstico do aramaico, hipótese do ensino em hebraico corrente, leitura de Atos 22:2; 26:14 em favor do hebraico e o quadro social de Atos 6:1 (Atos 6:1; 22:2; 26:14).
B. Evidências bíblicas e judaico-antigas, com reforço documental
O eixo bíblico explicitado — “língua hebraica” em Atos 22:2 e 26:14; distinção social entre “helenistas” e “hebreus” em Atos 6:1 — admite, filologicamente, as duas leituras clássicas: (1) “hebraico” como hebraico mesmo, em sua forma pós-bíblica/mishnaica; (2) “hebraico” como modo antigo de designar o aramaico judaico. A literatura especializada reconhecida internacionalmente corrobora que, no período do Segundo Templo, hebraico e aramaico coexistiram como línguas ativas, com funções complementares, e que a interpretação de Atos oscila conforme o perfil sociolinguístico adotado: há trabalhos que assumem “hebraico” de Atos como aramaico urbano de Jerusalém, e há estudos que defendem a leitura literal — hebraico — em conexão com a sobrevivência do hebraico mishnaico como língua falada e escrita (Atos 22:2; 26:14; 6:1). Entre as análises de fôlego que sustentam a convivência real do hebraico com o aramaico, destaca-se o estudo de S. E. Fassberg, que afirma explicitamente que, “no tempo de Jesus, o hebraico era ativamente falado e escrito, ao lado do aramaico, por muitos judeus palestinos”, tanto em registros cotidianos quanto cultuais (FASSBERG, Which Semitic Language Did Jesus and Other Contemporary Jews Speak? 2012, pp. 263-280). Em perspectiva complementar, P. Lapide mostra, a partir de Qumran e de outros testemunhos, que o hebraico mishnaico “permaneceu vivo na Palestina pelo menos até a derrota de Bar-Kokhba”: Jesus podia mover-se entre um hebraico vivo e um aramaico corrente, com alternância situacional (Atos 6:1; 22:2; 26:14, LAPIDE, Insights from Qumran into the Languages of Jesus, 1975, pp. 483-501). A tradição crítica inglesa e escandinava que recepcionou BIRKELAND na década de 1950-70; BARR oferece um balanço histórico do debate e nota como BIRKELAND defendeu a centralidade do hebraico popular — reforça a plausibilidade de um Jesus bilíngue (ou trilíngue) que ensina em hebraico e dialoga em aramaico, sem excluir usos pontuais de grego (Manchester Hive). A discussão filológica sobre a expressão “no dialeto hebraico” em Lucas-Atos tem sido reexaminada com argumentos a favor do valor literal (“hebraico”, não “aramaico”), especialmente quando Paulo precisa “ser entendido” por um público judaico que reconhece a identidade sacral e patriótica do hebraico (Atos 21:40; 22:2; 26:14). Ao mesmo tempo, levantamentos amplos como o de Aaron Tresham, que percorrem as três línguas em cena (hebraico, aramaico e grego), lembram que a “consenso-scholarly view” do século XX supôs o aramaico como língua habitual de Jesus, mas que uma avaliação mais fina do ambiente do século I exige mapear funções, públicos e gêneros (sinagoga: Lucas 4:16–21; praça; interlocutores gentios; contatos na Galileia; TRESHAM, The Language Spoken by Jesus, 2009, pp. 71-94). Estudos sobre episódios de contato intercultural nos Evangelhos ilustram a necessidade de acomodação linguística (hebraico/aramaico com judeus; grego com estrangeiros), cenário que se pressupõe quando registra a presença de “judeus de língua grega” ao lado dos “de língua hebraica” em Jerusalém (Atos 6:1).
VII. Escrita e paleografia
A. Do alfabeto cananeu/fenício às grafias aramaicas.
Quando os estudiosos “entram em contato” com o aramaico histórico, encontram um alfabeto plenamente formado, essencialmente o mesmo alfabeto cananeu/fenício que vemos na Estela de Mesa (Moabite Stone), não uma escrita silábica. Ele também lembra hipóteses antigas e divergentes sobre a origem mais remota do alfabeto (derivações “hitita”, “egípcia”, “assíria” ou “origem independente”), hoje tratadas como parte da historiografia do tema; o consenso atual coloca aramaico/hebraico no tronco cananeu do alfabeto semítico do Noroeste. A função do aramaico como língua franca em vasta área ajudou a dar certa uniformidade gráfica; e que inscrições e papiros revelam tendência que converge para a escrita quadrática posterior. Para o quadro atualizado: Naveh mostra como a escrita aramaica se difundiu e foi adotada pelos judeus, donde se desenvolveu a “hebraica quadrática”; Yardeni e Cross detalham, paleograficamente, a transição e a normalização do ductus em contexto imperial e pós-imperial.
B. Evolução para a hebraica quadrática (ktav ashurí).
A primeira derivação-chave é a hebraica quadrática (também chamada “assíria”), que substitui gradualmente a paleo-hebraica no período do Segundo Templo e se torna a escrita da Bíblia hebraica massorética. A literatura de referência descreve esse processo como adoção judaica de uma forma aramaica cursiva/administrativa durante e após o exílio, estabilizada em contextos escolares e litúrgicos. Deve-se ressaltar que, no corpus bíblico, as passagens aramaicas (Daniel 2:4b–7:28; Esdras 4:8–6:18; 7:12–26; cf. Jr 10:11) são pós-exílicas e que a vocalização tiberiense (massorética) é notação de leitura medieval aplicada ao texto consonantal; isso vale também para o aramaico bíblico, cuja leitura foi marcada com os mesmos sinais tiberienses usados no hebraico (pontos vocálicos e acentos).
C. Evolução para a nabateia (e a ponte para o árabe).
Estudos paleográficos e epigráficos mostram que a cursividade nabateia (formas ligadas e alongadas de alef, nun, taw etc.) está na origem direta da escrita árabe; há inscrições nabateias que já embutem versos em árabe antigo escritos em letras nabateias, evidenciando a transição. Além disso, trabalhos recentes retomam a controvérsia sobre influências (p. ex., traços siro-orientais), mas a linha principal continua apontando Nabataico → Árabe.
D. Evolução para a samaritana.
A escrita samaritana é descendente direta da paleo-hebraica (não da quadrática), mantida pela comunidade samaritana; contudo, no ambiente amplo aramaico do período persa-helenístico, ela convive com as formas aramaicas (moedas, inscrições e manuscritos). Estudos sintetizam que ao longo dos períodos persa e helenístico, a “escrita judaico-aramaica” (de que decorre a quadrática) prevalece entre os judeus, mas a paleo-hebraica permanece viva em certos círculos — culminando na tradição samaritana, cujo ductus se desenvolve à parte (NAVEH; GREENFIELD, Hebrew and Aramaic in the Persian period, 1984, pp. 115-129).
E. Evolução para a mandeia.
Trata-se da escrita da comunidade mandeísta (ramo arameu sudeste). A descrição padrão (Encyclopaedia Iranica) situa língua e escrita mandeias no leste mesopotâmico; debates técnicos discutem a filiação paleográfica (propostas de derivação de Palmirena/Nabateia vs. Elymaica/Caraceniana). De todo modo, é um ductus aramaico cursivo, com forte uso de matres lectionis e formas finais bem marcadas (Encyclopaedia Iranica).
F. Matres lectionis
Tanto no aramaico imperial quanto em ramos posteriores (notadamente o mandeio), o uso de matres lectionis (ʾālef, hē, wāw, yōd como marcadores vocálicos) é estrutural e crescente. Os papiros de Elefantina (séc. V a.C.) e materiais do fim do período persa ilustram bem a expansão das matres, com escrita administrativa e epistolar em ductus aramaico, já mostrando cursividade e tendências que depois afetam a quadrática.
G. Pontuação massorética aplicada ao aramaico bíblico.
Atendendo à última cláusula: os massoretas de Tiberíades (séculos IX–X) aplicaram seu sistema de vocalização e acentuação também às partes aramaicas da Bíblia Hebraica — Daniel 2:4b–7:28; Esdras 4:8–6:18; 7:12–26; Jeremias 10:11 — como notação de leitura tardo-medieval. A crítica recente lembra que essa vocalização hebraica sobre texto aramaico às vezes é imperfeita para a fonologia do aramaico, e que há Ketiv/Qerê relevantes nessas seções; mesmo assim, ela é a tradição canônica de leitura que herdamos.
VIII. Fonologia histórica
A. Inventário proto-semítico e representação gráfica nas fases mais antigas.
O inventário consonantal herdado do proto-semítico permanece, em linhas gerais, íntegro no aramaico antigo; a limitação do alfabeto linear consonantal (22 sinais de origem cananeia/fenícia) obriga, porém, a uma grafia polifônica: por exemplo, zayin representa /z/ e /ḏ/; ṣade, /ṣ/ e /ẓ/; qop, /q/ e /ḍ/; ḥet, /ḥ/ e /ḫ/; ʿayin, /ʿ/ e /ġ/; e, em certas tradições, samek cobre /s/ e /ṯ/. Essas escolhas gráficas explicam por que textos aramaicos primitivos “se parecem” com cananeu sem implicar, por si, fusões fonêmicas já concluídas. Nota-se também a assimilação de /n/ a consoante seguinte em formas como ʾatt “tu” (com grafia que reflete assimilação de n).
B. Fusões típicas do aramaico e redução de vogais curtas.
A fase imperial consolida uma série de fusões consonantais que caracterizam o conjunto posterior: ṯ→t; ḏ→d; ḍ→ʿ; ẓ→ṣ; ḫ→ḥ (com possíveis exceções dialetais); ġ→ʿ. Já se observa também a tendência inicial para ś→s e uma ortografia por vezes arcaizante (por exemplo, z continuando a escrever um antigo ḏ; q para ḍ). Outro traço distintivo é a redução das vogais curtas em sílabas abertas não acentuadas (de início sobretudo /i, u/), mudança que ajuda a explicar muitos encurtamentos e sinéreses de formas literárias. Estudos de tradição de leitura bíblica e de aramaico targúmico mostram, adicionalmente, que a redução vocálica é sistemática em contextos prosódicos previsíveis (por exemplo, /zimānā́/ > zimnā́, “o tempo”; /malkatā́/ > malkəṯā́, “a rainha”).
C. Contraste com o hebraico: o “Canaanite shift”.
Enquanto o hebraico (ramo cananeu) exibe o Canaanite shift (ā > ō), o aramaico tende a conservar ā. Assim se explicam pares clássicos como hebraico šālōm “paz” versus aramaico šlāmā; de modo semelhante, hebraico lō “não” corresponde a lā. Essa isoglossa é atestada já em materiais do segundo milênio a.C. e segue útil para balizar cronologia e filiação de textos.
D. Alofonia e rafe (begadkefat).
Na transição para o padrão literário, generaliza-se a espirantização pós-vocálica dos oclusivos (o chamado begadkefat), fenômeno marcado graficamente no hebraico massorético por dagesh/rafe e que a tradição filológica longa tempo associou à influência aramaica. Nas fases iniciais, as fricativas [v ɣ ð x f θ] comportam-se como alofones de /b g d k p t/ em posição pós-vocálica não geminada; em diversas tradições aramaicas tardias (siríaco, neoaramaicos), a extensão do processo varia por dialeto.
E. Processos fonéticos adicionais relevantes.
O padrão formal literário registra nasalização frequente com dissimilação de geminadas em n + consoante (por exemplo, mndʿ “conhecimento”), às vezes etimológica (onde n fora assimilado no aramaico antigo), às vezes puramente fonética; o fenômeno é notado como traço característico da koiné literária.
F. Exemplos bíblicos pontuais e implicações.
A leitura tiberiense aplica o mesmo aparato massorético às seções aramaicas (Dn 2:4b–7:28; Ed 4:8–6:18; 7:12–26; Jr 10:11), de modo que a espirantização e os encurtamentos vocálicos aparecem anotados segundo convenções partilhadas com o hebraico — uma camada de leitura tardia sobre um sistema fonológico com história própria.
IX. Morfologia nominal
A. Gênero e número.
O sistema nominal distingue dois gêneros (masculino e feminino) e dois números (singular e plural), com resquícios duais apenas fossilizados em poucos itens. No masculino singular, a forma básica é não marcada (estado absoluto); o feminino singular tende a exibir -t histórico, frequentemente nivelado na escrita bíblica como -ā; os plurais regulares são masculino em -īn (plural “absoluto/indeterminado”) e feminino em -ān / -āt (variação diacrônica e dialetal). Em corpora tardios e orientais, generaliza-se um plural “determinado” masculino em -ē (sobre o qual ver adiante), ao passo que em ramos ocidentais clássicos ocorre -ayyā; esse contraste se comprova em descrições comparativas de aramaico bíblico, targúmico e siríaco (CREASON, Aramaic. In: The Ancient Languages of Syria-Palestine and Arabia, 2008, pp. 108-144).
B. Os três “estados” do nome (absoluto, construto, enfático).
A morfologia nominal organiza-se em três estados. I) Absoluto: forma não marcada, tipicamente indefinida (malk “rei”); II) Construto: forma de encadeamento genitivo (malk em “rei de …”), na qual o primeiro nome se “liga” ao segundo; III) Enfático/determinado: marcação de definitude por sufixo, singular em -ā (masc.)/-tā (fem.) e plural masculino em -ē (no conjunto oriental clássico; cf. ocidental -ayyā) — por exemplo, malkā “o rei”, malktā “a rainha”, malkē / malkayyā “os reis”. Em descritivos de referência, o absoluto e o enfático funcionam como “formas livres”, enquanto o construto é “forma dependente”, e, diacronicamente, o enfático expande o seu domínio em detrimento do absoluto.
C. Pronomes sufixados.
Os pronomes pessoais podem anexar-se a nomes (e a preposições/particípios), codificando posse e objetos pronominais. No padrão clássico: 1cs -ī (bētī “minha casa”), 2ms -āk, 2fs -ēk, 3ms -ēh/-ōh, 3fs -āh, 1cp -ān, 2mp -aykōn, 2fp -aykēn, 3mp -ayhōn, 3fp -ayhēn. A distribuição alomórfica varia conforme o estado do nome e a sílaba final, mas a série é estável desde o aramaico imperial, com continuidade em tradições orientais e ocidentais; estudos de referência descrevem a história e a difusão desses sufixos até os neo-aramaicos (MURAOKA; PORTEN, The Grammar of Egyptian Aramaic,1998, pp. 81-82).
D. Plural masculino -īn × -ē (distribuição diacrônica e dialetal).
O plural masculino em -īn é antigo e panaramaico, típico do estado absoluto e de fases imperiais/medianas. Em conjuntos orientais tardios (e.g., siríaco, babilônico) consolida-se -ē como plural do estado enfático/determinado; já no ocidente (palestinense) persiste de modo saliente -ayyā no enfático plural. Essa diacronia explica por que, em corpora diferentes, “os reis” aparecem como malkē (oriental), malkayyā (ocidental), enquanto o plural indeterminado “reis” tende a manter malkīn.
E. Formas determinadas no plural.
A determinação plural associa-se morfologicamente ao estado enfático: no masculino, -ē (leste) / -ayyā (oeste); no feminino, -āṯā em muitas tradições clássicas. Em textos bíblicos e targúmicos, a preferência por formas enfáticas no plural (em detrimento do absoluto) cresce, funcionando, na prática, como marca de definitude sem artigo “separado” — um traço típico que diferencia o aramaico do hebraico bíblico. Em descrições de manuscritos e versões, a “alfa final” grega em empréstimos de origem aramaica é explicitamente interpretada como reflexo gráfico desse estado enfático (forma determinada).
F. Observações sintático-morfêmicas correlatas.
Em fases mais tardias, a construção analítica de genitivo com partícula d- (ou correlato) concorre com o antigo construto, fenômeno já visível em aramaico bíblico e muito avançado em tradições pós-clássicas; a mudança interage com o sistema de estados (mais enfático + d- e menos construto).
G. Exemplos bíblicos (forma e função no texto).
Em Daniel 2:4, malkā exemplifica o estado enfático singular com valor definido na saudação cortesã (“ó rei, vive para sempre”), enquanto la-ʿabdayik mostra preposição com pronome sufixado 2ms “teus servos”; o trecho aramaico de Esdras oferece paralelos frequentes de -īn no plural indeterminado e do uso de d- para genitivo analítico.
X. Morfologia verbal
A. Raízes e binyanim.
O sistema verbal aramaico organiza-se em padrões (binyanim) derivados de raízes consonantais, com três grupos principais: simples (G = peʿal), intensivo (D = paʿʿel) e causativo (H/C = hap̱ʿel/ʾap̱ʿel). Cada grupo admite vozes ativa, meio-passiva/reflexiva e, em fases antigas, passivas internas; os paradigmas mostram perfeito e imperfeito, além de modos jussivo, imperativo e um energicum marcado por -n final (fóssil, já raro em aramaico oficial) (ver esquemas e resumos de modo/aspeto) . Em aramaico bíblico, a formação do imperfeito nos binyanim derivados acompanha a do peʿal, e já se atesta jussivo; também se documentam imperativos dos derivados e infinitivos com manutenção de ʾ (aleph) enquanto consoante.
B. Hap̱ʿel/ʾap̱ʿel (diacronia h-/ʾ-).
O causativo ocorre historicamente com dois alomorfes principais: hap̱ʿel (prefixo h-) e ʾap̱ʿel (prefixo ʾ-). No corpus bíblico a gramática elementar distingue explicitamente o hap̱ʿel (causativo em h-) e o ʾap̱ʿel (causativo em ʾ-), e materiais didáticos padronizados para aramaico bíblico descrevem conjuntamente hap̱ʿel / ʾap̱ʿel (bem como o raríssimo šap̱ʿel) como causativos (panorama útil para quem lida com Esdras e Daniel) Em fases posteriores do aramaico oriental (p. ex., siríaco e mandeu), a forma com ʾ- generaliza-se, substituindo amplamente a antiga forma em h-, fenômeno assinalado em sínteses de história e gramática do aramaico oriental.
C. Reflexivos e passivos com ʾeth-/ʾith-.
As vozes reflexivas e passivas externas formam-se produtivamente com prefixo t- precedido de ʾ- (grafado ʾeth-/ʾith- conforme o dialeto e o ambiente fonético), combinando-se com os esquemas G/D/H: ʾethpeʿal, ʾethpaʿʿel, ʾethap̱ʿel. Quando a primeira consoante do radical é sibilante, há metátese característica (p. ex., ʾišt-) — fato explicitado em quadros de formação e notas de sandhi; no aramaico bíblico, a variante é muitas vezes hit- em lugar de ʾit- . Gramáticas de siríaco clássico confirmam que, funcionalmente, essas formações t- cobrem o domínio “meio-passivo/reflexivo”, com ausência de um passivo “puro” morfológico no sistema vivo do siríaco.
D. Participiais.
O particípio ativo (e o passivo, quando existente no verbo) é núcleo do aspecto não-pontual, servindo de “presente” e perífrases progressivas ou resultativas; a literatura de aramaico oriental ressalta o uso do particípio com o verbo hwy “ser/estar” para construções durativas (prática visível nos dialetos tardios e em siríaco clássico). Em aramaico bíblico, as terminações do particípio nos derivados acompanham as do peʿal (observação de detalhe nos paradigmas dos derivados). Exemplos exegéticos mostram o particípio como predicado de estado ou ação contínua em narrativas de Daniel (Dn 2–7) e Esdras (Esd 4–7).
E. Infinitivos (m-/ʾ-).
No peʿal, o infinitivo constrói-se regularmente com preformante m- (padrão meqṭal; p. ex., miqṭab “escrever”), e em contextos sintáticos aparece com l- para marcar propósito/compl. verbal (lĕmiqṭab, “para escrever”). Nos derivados, o infinitivo conserva ʾ como consoante de base (nos causativos e nas formas t-) — descrição explicitada nos quadros padronizados e nas notas sobre os derivados em gramática douta de aramaico bíblico .
F. Preformantes do imperfeito (y-/l-/n- por dialeto e época).
O imperfeito (conjugação de prefixos) apresenta variação diacrônica e dialetal do preformante: nas fases antigas e no aramaico bíblico, 3ms é tipicamente y- (yiqṭub), como mostram os paradigmas comparativos; já nas tradições orientais tardias há mudança: em aramaico oriental pré-clássico documenta-se l- (precativo que se generaliza), e no siríaco (e no mandeu) a série com n- toma o lugar das séries antigas, fenômeno descrito em sínteses históricas do aramaico oriental . Em aramaico judeu-babilônico, gramáticas modernas apresentam o sistema de prefixos do pe- (peʿal) com discussão explícita da “prefix conjugation”, permitindo seguir a distribuição de preformantes por pessoa e número.
O modo jussivo (exortação, injuntivo) é formal e funcionalmente distinto do imperativo e, em proibição, associa-se regularmente à partícula negativa ʾal (ʾal + jussivo). Paradigmas sinóticos de aramaico oficial ilustram o jussivo ao lado do imperfeito e do imperativo e registram o energicum com -n final (nun “energético”), forma já rara e sem força modal em muitos contextos tardo-clássicos; gramáticas de aramaico bíblico descrevem jussivos atestados (cf. Dn 5,10; Esd 5,12, exemplos clássicos de discussão) . Tratados didáticos recentes também chamam atenção para o energicum no aramaico bíblico e rabínico (com -n final em certas pessoas). — PAPPAS, Basic Grammar of the Aramaic of the Old Testament, 2020, p. 20.
H. Perda dos passivos internos nas fases tardias.
Os passivos “internos” (isto é, aqueles obtidos por padrões vocálicos dentro do binyan, como peʿil no G e correlatos nos D/H) são produtivos nas fases antigas; porém, estudos de panorama histórico indicam que, já em aramaico pré-moderno, verbos transitivos dos grupos G, D e C perderam cedo seus passivos internos, e a codificação da passiva passou às formas t- de cada grupo (os ʾeth-/ʾith-), tendência que se consolida nas tradições orientais e atinge os neoaramaicos, onde o passivo é preferencialmente perifrástico (particípio + auxiliar).
I. Observações de uso e exemplos bíblicos.
Em Daniel e Esdras, o paʿʿel expressa ação intensiva/iterativa (p. ex., “revelar, proclamar” em contextos de corte), enquanto hap̱ʿel/ʾap̱ʿel marca causatividade (“fazer saber”, “fazer escrever”). O jussivo ocorre em exortações e ordens indiretas (p. ex., fórmulas do tipo “que se faça X”), e a proibição clássica usa ʾal + jussivo; materiais de gramática bíblica ilustram ainda o uso de particípio com valor durativo (Dn 2,22; 4,5) e de formas t- reflexivas (ʾethpaʿʿel/ʾithpaʿʿel) em contextos de “fazer-se / ser feito” (Esd 5,1).
XI. Escrita e paleografia
A. Do alfabeto cananeu/fenício às grafias aramaicas.
Escreve-se com alfabeto consonantal (abjad) de 22 letras, o mesmo tronco cananeu/fenício do hebraico, com os mesmos nomes de letras e sentido da direita para a esquerda; originalmente, “a escrita aramaica era consonantal” e depois recebeu pontos vocálicos dos massoretas, exatamente como aconteceu com o hebraico (Esdras 4:8–6:18; 7:12–26; Daniel 2:4b–7:28; Jr 10:11).
B. Hebraica quadrática (ktav ashurí).
O ocidente “manteve o caráter quadrado que associamos ao hebraico”, enquanto o oriente evoluiu para formas mais cursivas; já os papiros de Assuã mostram tendência rumo ao quadrático posterior, conectando a administração imperial ao processo gráfico que desemboca na escrita bíblica massorética.
C. Nabateia (ponte para o árabe).
A fase nabateia (inscrições palmirenas e nabateias são listadas no quadro histórico) representa um cursivo aramaico cuja evolução gera o alfabeto árabe; corpora “transicionais” documentam Nabateu → Árabe no séc. IV/V EC.
E. Samaritana.
O samaritano “usou uma escrita ainda mais antiga, menos afastada do estilo angular das inscrições”, preservando descendência paleo-hebraica em paralelo ao mundo aramaico-judaico (Pentateuco samaritano).
F. Mandeia.
No sub-dialeto oriental mandeu, a escrita caracteriza-se pelo uso reforçado de matres lectionis em lugar de sinais vocálicos, um cursivo aramaico consolidado na Mesopotâmia oriental.
— Complemento acadêmico: Encyclopaedia Iranica e estudos específicos sobre a origem da escrita mandeia (período parta tardio) apresentam a diacronia e o perfil gráfico.
G. Matres lectionis.
O emprego de ʾālef, hē, wāw, yōd para marcar vogais é estrutural na tradição aramaica e marcado no mandaico (oriental).
H. Pontuação massorética no aramaico bíblico.
As seções aramaicas da Bíblia receberam vocálicos e acentuação tiberienses dos massoretas, exatamente como o texto hebraico; a vocalização é notação de leitura medieval aplicada a um texto consonantal (Dn 2:4b–7:28; Esd 4:8–6:18; 7:12–26; Jr 10:11).
I. Panorama comparativo de ductus.
Oriente: progressiva cursividade; Ocidente: manutenção do quadrático; Samaritano: paleo-hebraico preservado; Assuã: “indica uma tendência para o posterior caráter quadrado”; Siriaco: alfabeto novo de Edessa. Este mosaico explica a árvore gráfica: cananeu/fenício → aramaico (oficial) → quadrático judaico, nabateu (→ árabe), siríaco (estrangelā/serṭo/oriental), samaritano e mandaico.
XII. Sintaxe
A. Ordem dos constituintes (V-final vs. prosa comum)
Em prosa geral, muitas variedades antigas de aramaico preservam ordem verbal inicial típica semítica (VSO). Contudo, nos registros oficiais aquemênidas (Achaemenid Official Aramaic), observa-se tendência a SOV/V-final, atribuída à influência do acádio e do persa imperial na chancelaria; a variação é pragmática (frente/foco), mas a preferência V-final é real em textos administrativos (cartas, decretos, fórmulas). Exemplos bíblicos em aramaico (Daniel 2:4b–7:28; Esdras 4:8–6:18; 7:12–26) exibem ordem relativamente livre, mas com inversões informacionais compatíveis com a tendência documental do período.
B. Relativo e genitivo: dy/zy/d- e subordinação.
O relativo aramaico dy (e variantes zy, d-) é o pivô da subordinação relativa e do genitivo analítico (“X d- Y” = “X de Y”), já desde o aramaico antigo; em corpora epigráficos como o nabateu, vê-se zy nas inscrições mais antigas e dy nas demais, sem flexão — funcionamento que se prolonga na tradição bíblica e targúmica. Na história do aramaico, a obrigatoriedade do relativo para subordinar cláusulas cresce nos períodos médio e tardio. Em paralelo, o genitivo analítico com d- concorre com o construto e, nas variedades orientais, ganha espaço. Exemplos bíblicos: cadeias nominais com d- em Esdras aramaico; relativas introduzidas por dy em Daniel aramaico.
C. Marcação de objeto direto: yāṯ ~ l-.
O marcador de objeto direto antigo apresenta duas vias principais: (1) a forma yāṯ (grafias curtas yt/yṯ), atestada com nitidez na tradição targúmica e no siríaco, com distribuição condicionada (definitude, pronomes); (2) casos documentados de l- como marcador de objeto já no aramaico antigo/imperial (embora restritos e sensíveis ao contexto). Estudos diacrônicos recentes reconstroem a vocalização yāṯ (com reflexos explícitos na Peshitta e nos Targumim) e mostram como, em fases posteriores, o uso se estreita (antes de sufixos, ou diante de D.O. definidos). Em paralelo, trabalhos específicos sobre Old/Imperial Aramaic contabilizam ocorrências de l- para D.O., confirmando que a marcação não é exclusivamente yāṯ no início. Em Daniel e Esdras, a identificação do objeto direto baseia-se sobretudo em ordem e contexto; o contraste com a língua targúmica ajuda a enxergar a evolução do sistema.
D. Perífrases com particípio + hwy (“ser/estar”) e construção aspectual.
O particípio tem valor de presente/durativo no aramaico bíblico (por exemplo, leituras em Daniel; “estão fazendo / fazem”), frequentemente sem auxiliar explícito; já a perífrase com hwy/ hwa + particípio generaliza-se em dialetos posteriores (siríaco; judaico-babilônico) como estratégia de progressivo/resultado. Um levantamento recente nota que a sequência “hwy + particípio” não está documentada no aramaico egípcio de Elefantina nem no aramaico bíblico, surgindo de modo sistemático depois; em estudos de sintaxe histórica, a família de construções com particípio — inclusive o padrão qṭīl lī (particípio passivo + dativo de experienciador) — é analisada para o siríaco e o aramaico judeu-babilônico, mostrando a transferência da “presença” aspectual ao particípio e a reanálise dos auxiliares.
E. Estados nominais na predicação; construto × enfático (variedades orientais).
A predicação nominal explora o sistema de estados: o enfático (com sufixo de definitude) tende a funcionar como forma “de citação/definida” no singular e, nas variedades orientais, avança sobre o uso do absoluto, com o plural enfático em -ē estabilizando-se como padrão; o construto recua na sintaxe de genitivo, compensado pelo analítico d-. Gramáticas de aramaico judeu-babilônico descrevem as formas de estado e a sua sintaxe (predicação, possessão, encadeamento), e panoramas para o período helenístico-romano sublinham a marcação oriental (-ē, generalização do enfático) contra as soluções ocidentais (manutenção de -ayyā no plural enfático). Em textos bíblicos (Daniel; Esdras), a predicação nominal frequentemente emprega enfático para sujeito/predicado definidos; em materiais orientais tardios, o enfático torna-se praticamente default na predicação (SIEGAL, Introduction to the Grammar of Jewish Babylonian Aramaic, 2013, pp. 52ss).
XIII. Léxico e contato
A. Empréstimos acádios (administração/finanças).
O aramaico absorveu vocabulário acadiano sobretudo nas esferas administrativa, burocrática e de comunicação oficial, durante os períodos neoassírio e neobabilônico. A literatura especializada descreve um conjunto de itens acádios difundidos na chancelaria e nos documentos de rotina (cartas, contratos, recibos), repercutindo diretamente no léxico de administração e de contas (“políticos e financeiros”). Estudos de referência sobre influências acádias no aramaico mapeiam essa camada lexical para o que se convencionou chamar de “aramaico mesopotâmico”, com farta documentação epigráfica e papirológica (KAUFMAN, The Akkadian Influences on Aramaic, 1974, p. 196). Em termos de domínio semântico, levantamentos recentes sobre Elefantina e corpora do período persa reforçam que os itens acádios tendem a concentrar-se em termos de gestão, comunicação e aparato estatal (FOLMER, The Linguistic Milieu of Elephantine Aramaic, 2024.
B. Empréstimos persas (jurídico-político).
No período aquemênida, o aramaico oficial incorporou um léxico jurídico e político de origem iraniana (persa antigo), atestado com nitidez em documentação administrativa e também na prosa bíblica aramaica. Entre os exemplos clássicos estão dāṯ “lei”, ʾăḥašdarpān “sátrapa”, pardēs “jardim real” e pitgām “decreto/edicto” (com distribuição e integração fonológica descritas na bibliografia especializada; WILSON-WRITE, From Persepolis to Jerusalem, 2025, pp. 152-167). Em Elefantina, análises de vocabulário sinalizam preferência por empréstimos iranianos em textos legais e oficiais, compatível com o ambiente administrativo do império (MOORE, Judeans in Elephantine and Babylonia, 2020, p. 42). Ao mesmo tempo, há trabalhos que relativizam a profundidade dessa influência no uso cotidiano local, distinguindo a alta frequência em gêneros legais/administrativos do uso escasso em cartas privadas, o que é coerente com a natureza dos corpora. A síntese interna já reconhece influência persa em assuntos políticos e jurídicos, lado a lado com outras camadas.
C. Empréstimos gregos
A partir do período helenístico e, com mais força, nas fases tardias (especialmente no siríaco literário e em aramaicos palestinenses), há grande penetração de empréstimos gregos, majoritariamente substantivos (administração, vida urbana, religião, cultura material). A bibliografia especializada identifica centenas de itens de origem grega incorporados ao siríaco, com discussões específicas sobre integração fonológica e adaptação morfológica (por exemplo, estudos metodológicos e fonológicos de BUTTS (2014), Greek Loanwords in Syriac). A descrição histórica de aramaico tardio já anota “forte influência grega” nos léxicos e estilos, especialmente no ocidente e no siríaco literário.
D. Aramaísmos no hebraico tardio e no grego do NT.
Hebraico tardio. O hebraico bíblico tardio e o hebraico rabínico apresentam forte influência aramaica em gramática e vocabulário (mudanças de preferência lexical, construções analíticas, partículas, calques), fato amplamente registrado em panoramas de língua e enciclopédias acadêmicas. A bibliografia de Jan Joosten discute ainda pseudo-classicismos e a dificuldade metodológica de datar textos apenas por aramaísmos, o que serve de cautela na avaliação cronológica.
Grego do Novo Testamento. O grego do NT preserva expressões aramaicas transliteradas — por exemplo, talithá kum (Mc 5:41), effathá (Mc 7:34), Abbá (Mc 14:36; Rm 8:15; Gl 4:6), Marán athá (1Co 16:22), Gólgota (Jo 19:17), Gábbata (Jo 19:13), Kefas (Jo 1:42) — e variados aramaismos subjacentes na sintaxe e no fraseado. A tradição de estudos inaugurada por obras como An Aramaic Approach to the Gospels and Acts e pelos ensaios de FITZMYER sistematizou esses vestígios no corpus grego.
XIV. Aramaico na Bíblia Hebraica
A. Passagens aramaicas
O corpus aramaico do texto hebraico compreende: Daniel 2:4b–7:28, Esdras 4:8–6:18; 7:12–26, Jeremias 10:11 e a forma dupla de Gênesis 31:47 (Jegar-Saaduta × Galeede). Estes limites canônicos são explicitamente listados na literatura técnica de língua bíblica e em compêndios de linguística semítica, com menção ainda a que Ezra e Daniel pertencem ao período pós-exílico. (Dn 2:4b–7:28; Esd 4:8–6:18; 7:12–26; Jr 10:11; Gn 31:47).
B. Contexto e função dessas passagens
A redação aramaica de Daniel 2–7 é explicada pelo alcance público e imperial de seu conteúdo; já em Esdras, o bloco aramaico preserva correspondência internacional originalmente composta em aramaico, a “língua franca” administrativa do período persa (538–331 AEC). Papiros de Elefantina e outros corpora coevos atestam o mesmo padrão dialetal de aramaico oficial que se lê em Esdras e Daniel, inclusive diferenças regionais e a tendência documental a verbo em posição mais tardia na oração.
C. A “forma dupla” em Gênesis 31:47
O relato menciona o montão de pedras chamado por Labão de “Jegar-Saaduta” (aramaico) e por Jacó de “Galeede” (hebraico), ambas expressões significando “Montão de Testemunho”, documento clássico de contato linguístico hebraico–aramaico já em época patriarcal. (Gn 31:47).
II. Aramaico no Novo Testamento
A. Palavras e expressões aramaicas transliteradas
O texto grego preserva uma série de aramaismos em grafia grega, entre os quais: talithá kum (Mc 5:41), effathá (Mc 7:34), o clamor “Elói, Elói, lemá sabactâni” (Mc 15:34; cf. Mt 27:46), maraná thá / marán athá (1Co 16:22) e Abbá (Rm 8:15; Gl 4:6). Estes itens são arrolados em sínteses bíblicas e em estudos específicos de aramaísmos nos Evangelhos. Entrada de referência de Brill explica maraná thá como a exclamação litúrgica aramaica “Nosso Senhor, vem!”. (1Co 16:22; Ap 22:20). Para o quadro geral dos aramaísmos evangélicos e ecos semíticos, ver a tradição inaugurada por BLACK (1967), An Aramaic Approach to the Gospels and Acts.
XV. Qual língua falava Jesus?
A. Testemunhos e dados textuais
Descreve-se um ambiente plurilíngue (grego, aramaico, hebraico) nas cidades da Palestina do séc. I, com grego e aramaico como línguas comuns, e uso de um hebraico popular aramaizado em contextos religiosos e intra-judaicos. A menção de que Paulo falou “em hebraico” à multidão (At 21:40; 22:2) e que a voz lhe falou “em hebraico” (At 26:14) é tomada por parte da literatura como referência efetiva a hebraico (ainda que não na forma clássica), não a “aramaico”. Indícios patrísticos antigos (Eusébio; Jerônimo) registram a tradição de que Mateus teria produzido um evangelho em hebraico, usada na discussão sobre o alcance do hebraico no período. O episódio de Mt 26:73 (“o teu dialeto te trai”) é frequentemente invocado para a hipótese de aramaico galileu (com a ressalva de que poderia tratar-se também de hebraico com traço regional), enquanto Lc 4:16–21 pressupõe leitura profética em hebraico compreendida na sinagoga de Nazaré; At 6:1 distingue “helenistas” e “hebreus” na comunidade de Jerusalém.
B. Posições em debate
Uma linha de pesquisa (p. ex., Birkeland, The Language of Jesus) sustenta que a escolha escrita do aramaico na Palestina não implica seu uso majoritário por todo o povo, defendendo que Jesus teria usado hebraico popular com frequência, além de expressões aramaicas, num contexto de bilinguismo funcional. Por outro lado, estudos de síntese em linguística semítica e neotestamentária enfatizam que o aramaico era língua dominante no cotidiano, sem excluir o hebraico (especialmente na liturgia e ensino), e que o grego circulava em meios urbanos; é improvável que Jesus não dominasse hebraico além do aramaico. A discussão moderna inclui ainda o estatuto de termos como Abbá, cuja interpretação como “apelativo infantil” foi refinada por pesquisas recentes (BOCKMUEHL, Origins. In: The New Cambridge Companion to Jesus, 2024, p. 118).
C. Balanço de evidências.
A presença de aramaismos explícitos no NT (Mc 5:41; 7:34; 15:34; 1Co 16:22; Rm 8:15; Gl 4:6), a menção a discurso “em hebraico” (At 22:2; 26:14) e a tradição patrística sobre Mateus em hebraico apontam para um quadro plurilíngue em que aramaico e hebraico popular aramaizado coexistem, com grego como veículo amplo.
XVI. Targumim judaicos
A. Origem oral sinagogal e fixação escrita
Após o Exílio, a leitura pública da Torá em hebraico passou a ser acompanhada por interpretação oral em aramaico na sinagoga, a fim de tornar o texto “compreensível” ao povo (Neemias 8:8); essa prática consolidou-se a ponto de cada leitura hebraica ser seguida por uma paráfrase/versão aramaica, e a conservação oral levou à redação escrita dos Targumim. O núcleo do processo é: origem oral sinagogal → padronização → consignação escrita. Entre os mais antigos registros escritos figuram Onqelos (Pentateuco), não anterior a c. 200 EC, e, mais tarde, os Targumim dos Profetas e dos Escritos; o termo “Targum” designa tradução e interpretação. Estudos de história sinagogal e de liturgia identificam o meturgemã (intérprete oficial) como agente dessa performance, com instruções haláchicas sobre a entrega do Targum e a diferença entre contexto oral (sinagoga) e contexto escolar (redação e estudo) (DÉAUT, The Targumim, 1990, pp. 563-590)
B. O corpus clássico: Onqelos (Torá) e Jonathan (Profetas).
Onqelos tornou-se a versão-padrão da Torá; Jonathan (também “Targum Jonathan”) cobre os Profetas. Embora os manuscritos fidedignos de ambos remontem às academias babilônicas, os textos consonantais teriam origem palestinense (fase média), ilustrando a circulação oeste→leste e a estabilização escolar na Babilônia. A datação e o desenvolvimento de Jonathan são discutidos em detalhe na bibliografia (comparação interna, camadas editoriais e função pedagógica-rabínica).
C. Targumim palestinenses: Neofiti e Fragmentário.
O ramo palestinense inclui o Targum Neofiti (Pentateuco) e o chamado Targum Fragmentário (conjunto de fragmentos e testemunhos afins). A descoberta e edição do Neofiti (Vaticano) reconfiguraram o mapa do Targum palestinense no século XX; a crítica documenta testemunhos fragmentários adicionais (Genizá e outros acervos), inclusive uma pequena série de “targum abreviado” recentemente destacada (YORK, The Dating of Targum Literature, 1974, pp. 49-62).
D. Técnicas tradutórias.
Os Targumim combinam tradução técnica (equivalências relativamente literais) e paráfrase exegética, com expansões (aggádicas), clarificações doutrinárias e ajustes para inteligibilidade e uso litúrgico. No eixo Torá–Profetas, observam-se escolhas sistemáticas: regularização sintática, explicitações de referentes, atenuações polêmicas e metáforas teologicamente seguras. Em termos de método, a literatura distingue “literal” × “livre/perifrástico”, mas com gradações por livro e gênero; análises de livros específicos (p. ex., Tg. Malaquias em Jonathan) mostram mistura de técnicas para alcançar aceitabilidade teológica e clareza. No conjunto, os Targumim funcionam como exegese aplicada da Escritura no contexto comunitário, maior corpo antigo de tradução–interpretação bíblica em aramaico.
E. Hebraico–aramaico de base (dialeto e perfil linguístico).
A língua dos Targumim reflete aramaico judaico com variante palestinense e variante babilônica, além de hebraico (bíblico e rabínico) subjacente. Traços dialetais típicos do palestinense targúmico/galileu incluem, por exemplo, prefixo de 1ª sg. do imperfeito em n- (em vez de ʾ-), e uma sintaxe que, ao longo da história, reforça o estado enfático como forma não-marcada na predicação (especialmente no oriente) e reduz o uso do construto em favor do genitivo analítico com d-; também se nota a substituição de passivos internos por formas com ʾt-, e a promoção do particípio como “presente” pleno. No plano histórico-textual, parte essencial do Palestinense (Neofiti, Fragmentário) convive com a fixação escolar babilônica (Onqelos, Jonathan), cenário já mapeado nos compêndios de história do aramaico e das traduções bíblicas.
XVII. Tradição siríaca cristã
A Peshitta é a edição bíblica padrão das igrejas de tradição siríaca: o Antigo Testamento foi traduzido do hebraico (com apoio pontual da Septuaginta e dos Targumim) no séc. II; o Novo Testamento (a forma clássica sem 2Pe, 2–3Jo, Jd, Ap nos códices mais antigos) consolidou-se a partir do séc. V, com base no grego, após a fase anterior dos Evangelhos Antigos (Curetoniano, Sinaítico) e o Diatessaron de Taciano. Como “versão comum” das comunidades siríacas, teve ampla circulação missionária (Cáucaso, Pérsia, até a China tanguta) e permanece em uso litúrgico e editorial (BROCK, Sebastian P.; BUTTS, Aaron M.; KIRAZ, George A.; VAN ROMPAY, Lucas (org.), Gorgias Encyclopedic Dictionary of the Syriac Heritage, ed. eletrônica).
A tradição siríaca produziu uma literatura bíblica vasta (traduções, comentários, catenae), uma patrística original (hinos e prosa de Efrém, Narsai, Jacó de Sarug, Bar Hebreu) e corpora litúrgicos que estruturam os ritos antioquenos em suas duas famílias (oriental e ocidental). A historiografia literária destaca a precocidade e densidade da produção siríaca no cristianismo antigo e o seu papel na transmissão de exegese e teologia entre esferas grega, latina e semítica.
C. Dialetação, ortografias e escolas.
Dialetação. A norma literária se distribui em siríaco ocidental (família jacobita/maronita) e siríaco oriental (família dita “nestoriana”), com diferenças fonéticas (p.ex., realização de a original como o no ocidental, a no oriental), morfossintáticas e toledóticas (linhagens escolares e monásticas). (Panorama descritivo moderno).
Ortografias. A escrita siríaca deriva do aramaico imperial e se fixa em três tipos principais: estrangelā (a forma “redonda” mais antiga, monumental), serṭo (ocidental, cursiva) e oriental (madnḥāyā), com subconjuntos e usos confessionais; há ainda o melquita como tipo minoritário, bem atestado.
Escolas. O desenvolvimento textual e exegético se articula em centros escolares: Edessa (formação clássica; mediação grego–siríaco) e, após seu fechamento, Nísibis (primazia no Oriente), além de círculos como Qenneshre. Estudos de história intelectual mostram a circulação de mestres, a formalização curricular e a continuidade da exegese bíblica e da retórica homilética.
D. Continuidade do siríaco clássico como língua de culto e de erudição.
O siríaco clássico permanece, até hoje, língua litúrgica e erudita nas igrejas siríacas (Ortodoxa Siríaca, Assíria do Oriente, Caldeia, Siríaca Católica, Maronita), com normativas próprias de pronúncia e notação; a kṯōbonōyō (“siríaco de leitura”) descreve o uso atual do padrão clássico em contexto escolar e de culto. Repertórios acadêmicos registram a vitalidade do siríaco em missas, ofícios e editores bíblicos (Peshitta), ao lado de ferramentas lexicográficas e digitais de referência.
XVIII. Mandaico
O mandaico é o dialeto aramaico da comunidade mandeia — grupo gnóstico não cristão enraizado no sul da Mesopotâmia (Iraque e Irã), com tradição própria e alfabeto particular. Sínteses históricas descrevem os mandeus como corpo religioso endogâmico, fixado sobretudo no baixo Tigre–Eufrates, com língua do ramo oriental do aramaico. (Mandeans em Encyclopaedia Iranica) No período contemporâneo, o neo-mandaico sobrevive de modo severamente ameaçado em áreas de Khuzistão (Irã) e no sul do Iraque. (Mandeans and Neo-Mandaic Language, em Encyclopaedia Iranica)
A escrita mandeia é um alifabeto cursivo próprio, distinto de outras grafias aramaicas e excepcional na família iraniana por notar as vogais com letras dedicadas, indo além de simples matres lectionis usuais em outros dialetos do período arsácida–sassânida (HÄBERL, Iranian Scripts for Aramaic Languages: The Origin of the Mandaic Script, 2006, pp. 53-62) Estudos paleográficos vinculam essa escrita às tradições epigráficas do Elymais e da Caracena, marcando sua autonomia no conjunto aramaico.
O acervo sagrado mandeu, redigido em mandaico clássico, inclui:
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Ginza Rba (“Grande Tesouro”), compilação teológico-cosmológica em dois volumes (Direito/Esquerdo), eixo textual da tradição; edições, descrições e recensões críticas modernas detalham sua estrutura e colofões.
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Qolastā (livro de orações para ritos como maṣbuta e masiqta), transmitido em versões não uniformes e amplamente usado no culto.
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Draša ḏ-Yahia (The Mandaean Book of John), texto central editado criticamente em projeto recente de alto nível.
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Conjunto de diwans e rolos rituais (p.ex., Diwan Abatur) e coleções sacerdotais (p.ex., “As 1012 Perguntas”), mapeados por repertórios acadêmicos e pela historiografia dos estudos mandeus.
O mandaico integra o subgrupo sudeste/oriental do aramaico, em proximidade ao aramaico talmúdico babilônico e ao “koiné” babilônico. No quadro tardio, compartilha isoglossas orientais como: prefixo l- no imperfeito (em contraste com n- no siríaco), declínio dos estados absoluto/construto com avanço do analítico (d-/dil-), e substituição de passivos internos por formas com ʾt-, num ambiente de forte influência grega — conjunto explicitado para os dialetos tardios e que abraça o mandaico. Além disso, o léxico mandaico absorve estratos acádios e iranianos, conforme se esperaria para uma comunidade mesopotâmica; levantamentos recentes destacam empréstimos acádios e persas no vocabulário (BOGDAN, The Semitic Languages: An International Handbook, 2012, pp. 670-685). Um traço gráfico-fonológico marcante é a ortografia “plena” de vogais no script, característica rara entre os aramaicos de sua época.
Na periodização histórico-dialetal, o mandaico situa-se no ramo oriental do aramaico tardio, lado a lado com o aramaico babilônico (talmúdico) e distinto da tradição siríaca (literária) — distinção que se vê tanto na morfologia verbal (prefixos do imperfeito) quanto na paleografia e nos usos litúrgicos.
XIX. Aramaico samaritano e cristão-palestinense
A tradição samaritana preserva a Torá como único cânone bíblico (Pentateuco), copiada no alfabeto samaritano e acompanhada de uma versão aramaica — o Targum Samaritano — cuja formação responde à necessidade comunitária de inteligibilidade e culto; sua transmissão manuscrita é complexa, com famílias textuais distintas e uso litúrgico contínuo (edição crítica por Abraham Tal). A própria Torá Samaritana (em hebraico samaritano) e o Targum samaritano funcionam em par, gerando uma tradição exegética e escolar própria. (Samaritan Pentateuch; The Samaritan Targum of the Pentateuch). Do ponto de vista literário, a comunidade produziu poesia litúrgica (piyyuṭim) em cadeia com a leitura e o calendário sacro, hoje acessível em sínteses e antologias críticas, e comentários como o célebre Memar Marqah, exegese haggádica do Pentateuco em aramaico samaritano, séc. IV (LIEBER, Samaritan Language and Literature, 2022). Estudos recentes comparam sistematicamente variantes samaritano-judaicas e o perfil linguístico dos textos samaritano-aramaicos, incluindo a infiltração de hebraísmos e arabismos em fases tardias (HJELM, The Samaritan and Jewish Versions of the Pentateuch: A Survey, 2020, p. 85)
O cristão-palestinense (também chamado “melquita” ou “palestiniano ocidental”) é uma variedade ocidental do aramaico, usada entre os sécs. V–XIII por comunidades melquitas da Palestina, Transjordânia e Sinai. O corpus manuscrito é majoritariamente bíblico em formato de lecionário, com códices datados em 1030, 1104 e 1118, além de palimpsestos preservados sobretudo em Santa Catarina (Sinai), Mar Saba, Genizá do Cairo e outras coleções (ex.: Codex Climaci Rescriptus). As inscrições sobrevivem em mosaicos de igrejas e eremitérios (ʿEn Suweinit, ʿAbūd, ʿUmm er-Rūs, igreja de Sant’Ana em Jerusalém, Uyun el-Umm, Khirbet Qastra; no leste do Jordão: Monte Nebo, Khayyān el-Mushrif, Khirbet es-Samra). Descobertas epigráficas continuam a ampliar o registro, como mosaicos dedicatórios na região de Hippos.
XX. Corpora epigráficos e documentais por período
A. Antigo (sécs. IX–VII a.C.)
O ciclo aramaico “antigo” inclui peças régias, jurídicas e funerárias do Levante setentrional e do vale do Jordão: Zakur (estela régia de Hamate/Lu’ásh, c. 785 a.C., Tell Afis), testemunho histórico de realeza aramaica; Samʿal (Zinğirli): Panamuwa II e Bar-Rakib, com inscrições dinásticas que mostram transição samaliano/aramaico e já toques de aramaico imperial; Sefire (tratados/KAI 222–224), corpus jurídico-diplomático de maldições e cláusulas; Nerab (duas estelas funerárias aramaicas, KAI 225–226), típicas do perfil neoassírio; Deir ʿAllā (a “inscrição de Balaão”, KAI 312), em noroeste semítico próximo do aramaico, com pintura sobre reboco; Tell Dan (estela régia em aramaico antigo com menção à “Casa de Davi”, séc. IX a.C.).
B. Oficial (período aquemênida, sécs. VI–IV a.C.)
Sob os aquemênidas, o aramaico oficial difunde-se como idioma de canceleria imperial, com dossiês extensos no Egito e Anatólia: Elephantine/Assuã (cartas, contratos e peças litúrgicas da comunidade judaíta; edição padrão: Textbook of Aramaic Documents from Ancient Egypt), incluindo a famosa carta a Bagoi sobre o templo de YHW (407 a.C.); cartas e selos ligados ao sátrapa Arsames/Aršāma (corpus Bodleian), que documentam administração, selagens e rede de agentes; Daskyleion (Mísia): inscrições/selos e arquivo satrapal com materiais aramaicos; Taymāʾ (Arábia setentrional): estelas e textos com fórmulas de datação aquemênida; Sardes: a bilingue Lídio-Aramaico (KAI 260, 394 a.C.), “Pedra de Roseta” do Lídio; Wadi Daliyeh (c. 331 a.C.): papiros aramaicos samarianos (deeds, selos), cruciais para pesos e medidas e a história social da província.
C. Médio/Tardio (helenístico–romano)
O ciclo médio/tardio mostra a diversificação regional e confessional do aramaico: Palmyra (alfabeto palmireno; epigrafia funerária e fundacional em massa, sécs. I a.C.–III d.C.); Nabateu (aramaico nabateu de Petra/Bosra/Ḥegrā e papiros de Naḥal Ḥever); Hatra/Assur (panteão e onomástica aramaicos, com forte interface parta-mesopotâmica); Dura-Europos (inscrições aramaicas sinagogais e documentais, além de papiros de ambiente plural); Papiro Amherst 63 (antologia aramaica em demótico, Égito, séc. IV a.C., com paralelos bíblicos e sincretismos como “Anat-Yaho”); incantação de Uruk (tabuinha cuneiforme em aramaico, séc. II a.C., paradigma único de aramaico grafado em sinais silábicos babilônicos, com ecos fraseológicos que remetem a Esd 6:11).
XXI. Aramaico imperial como língua franca
Entre o fim do período neo-babilônico e, sobretudo, sob os aquemênidas (sécs. VI–IV a.C.), consolidou-se um padrão literário e gráfico do aramaico, com ortografia estável e traços fonológicos e morfossintáticos que se tornaram referência para fases posteriores (p.ex., fusões de fonemas; fortalecimento do sufixo -āʾ de determinação; infinitivo miqtal; tendência a substituir passivos internos por formas com ʾt-). Textos do período falam de um “ideal” de língua e ortografia para documentos formais e literatura — a base do chamado “aramaico literário padrão” — que perdurou mais de um milênio. Estudos técnicos sobre o aramaico imperial confirmam a padronização ortográfica e a natureza chanceleresca dessa koiné (FOLMER, Imperial Aramaic as an Administrative Language, 2011).
Como língua de chancelaria e correspondência interprovincial, o aramaico substituiu o acadiano na diplomacia do Oriente Próximo e serviu de idioma imperial sob persas, sendo a língua oficial do governo e do comércio em vasta região (registro em tabuinhas, óstracos, papiros, selos, moedas e inscrições). A própria série epistolar em Esdras preserva cartas “quase certamente” redigidas em aramaico imperial, coerentes na língua e no estilo com a prática aquemênida. Síntese acadêmica de Cambridge sobre o período aquemênida descreve o aramaico como língua franca de administração e relações internacionais (GREENFIELD, Aramaic in the Achaemenian Empire, 1985, pp. 698-713). Para a Anatólia ocidental, estudos sobre Daskyleion sublinham o uso de aramaico como lingua franca imperial (selos, bulas). — GATES, Tracking the Achaemenid Persians in Anatolia, 2005, pp. 789-792.
A massa documental concentra-se no Egito (clima seco), com: papiros da guarnição judaíta de Elefantina/Assuã (cartas, contratos, peças litúrgicas), a correspondência do sátrapa Arsames, cartas familiares (Hermópolis) e outros achados legais e econômicos; há ainda inscrições isoladas em Teima (Arábia), Daskyleion (Ásia Menor) e Sheikh Fadl (Egito). O alcance geográfico vai da Mesopotâmia, Pérsia e Egito à Anatólia e ao norte da Arábia, chegando ao leste até o Afeganistão/Indo; o padrão imperial manteve-se ainda no helenismo. Em sentido estrito de “fronte leste”, os documentos aramaicos de Bactra (coleção Khalili) estendem a rede até a Ásia Central na órbita aquemênida. No Egito, a edição de corpora (p.ex., Textbook of Aramaic Documents from Ancient Egypt) e revisões recentes (Elephantine Revisited) balizam o estado da arte (GREENFIELD, A New Corpus of Aramaic Texts of the Achaemenid Period from Egypt, 1976, pp. 131-135)
XXII. Relação com o hebraico
Após o Exílio, os judeus adotaram a escrita aramaica para escrever o hebraico — a base do “quadrático” (ktav ’ashurí) das tradições judaicas posteriores. A historiografia textual da época do Segundo Templo associa explicitamente a passagem do paleo-hebraico para o “quadrático” à influência aramaica; os massoretas mais tarde registraram a vocalização (PAGET; SCHAPER, The New Cambridge History of the Bible: Volume I: From the Beginnings to 600, 2013, pp. 5, 7, 8). A fase tardia do hebraico bíblico e o hebraico rabínico exibem forte influxo aramaico na gramática e no vocabulário; isso se observa também nas passagens aramaicas preservadas em Daniel, Esdras e Jeremias, e no contato continuado entre as duas línguas. (PAGET; SCHAPER, ibid., 2013, pp. 3-21). A leitura pública e a explicação em Neemias 8:8 pressupõem mediação que a tradição associa à paráfrase aramaica (gênese dos Targumim), típica de uma comunidade bilingue. Testemunhos do séc. I d.C. mostram hebraico e aramaico convivendo com o grego (At 21:40; 22:2; 26:14; Mt 26:73; Lc 4:16–21; At 6:1), quadro confirmado por análises que falam em hebraico popular aramaizado ao lado de aramaico e de grego nas cidades. Sínteses acadêmicas sobre o período persa destacam que hebraico e aramaico eram as duas línguas principais entre os judeus, com funções complementares (NAVEH, Hebrew and Aramaic in the Persian period, 1984, pp. 115-129).
XXIII. Neo-aramaico (situação atual)
O quadro atual reúne quatro polos principais: NENA (neo-siríaco oriental, variedades cristãs e judaicas), Turoyo (sírio ocidental, também chamado Surayt), ocidental de Maʿlula (remanescente do ramo ocidental) e neo-mandaico (ramo babilônico). O elenco “Maʿlula; Turoyo e Mlaḥso; Neo-Siriac; Neo-Mandaic” está explicitado no próprio dossiê, com localização geográfica e nota de dispersão (“originalmente no Curdistão, hoje espalhado”).
Programas universitários documentam todos os dialetos sobreviventes de NENA (coleta de narrativas, trabalho de campo em comunidades do Oriente Médio e da diáspora), registrando deslocamento e queda de transmissão intergeracional (Documentation of North-Eastern Neo-Aramaic Dialect). Para Turoyo/Surayt, a classificação “gravemente ameaçada” no Atlas da UNESCO é citada em currículo acadêmico europeu; a diáspora forma grandes núcleos na Suécia, Alemanha, Holanda e EUA, com iniciativas de ensino comunitário. (European Commission) Maʿlula mantém uso doméstico e litúrgico, porém sofre erosão por guerra e emigração; reportagens e ensaios recentes descrevem esforços locais de ensino e registro em meio a população envelhecida. (New Lines Magazine) Neo-mandaico é descrito como severamente ameaçado, com poucas centenas de falantes em Ahvaz/Khuzistão e quase sem aquisição infantil; estudos de campo e artigos acadêmicos tratam de mudança/abandono linguístico e de variedades residuais. (De Gruyter Brill)
Projetos curriculares universitários e comunitários propõem padrões de ensino para Surayt/Turoyo (material didático, grafia, currículo), confirmando padronização parcial na diáspora. (European Commission) Para NENA, a literatura descreve codificações locais (p. ex., tradição Urmia no séc. XIX) e, hoje, documentação sistemática (gramáticas, corpora falados). (Cambridge University Press & Assessment)
O painel histórico explica traços que alimentam o neo-aramaico: nos orientais consolida-se o prefixo l- no imperfeito (em contraste com n- no siríaco), cresce o uso de d-/dil- para posse, declinam os estados absoluto/construto, e passivos internos dão lugar a formas com ʾt- — um conjunto que já caracteriza o aramaico tardio e prepara a morfologia das variedades modernas.
XXIV. Cronologia linguística & datação textual
A. Critérios diacrônicos operacionais
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Prefixos do imperfeito: y- (antigo) → l- (orientais tardios; inclusive base para desenvolvimentos neo-aramaicos) vs n- (siríaco).
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Passivo interno × séries com ʾt-: progressiva substituição dos internos pelas séries ʾt- nos períodos médios/tardios.
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Estados nominais: retração de absoluto/construto e generalização do enfático como forma “não marcada” na predicação (especialmente no oriente).
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Particípio: elevação a presente pleno (muitas vezes com pronomes enclíticos como marcadores de sujeito em siríaco/babilônico).
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Partículas/locuções: surgimento ou frequência de itens compostos (p. ex., bdyl “por causa de”) ajuda a situar textos em fases posteriores.
B. Daniel/Esdras × Elephantine
A comparação direta entre o aramaico bíblico (Daniel/Esdras) e Elefantina é um dos testes-padrão: fórmulas (p. ex., “Deus do céu”) e perfil sintático-lexical interseccionam os corpora aquemênidas; o próprio dossiê apresenta a seção comparativa “Assuã × Daniel” e destaca as cartas/contratos de Elefantina (século V a.C.).
C. Daniel/Esdras × Targúmico
A literatura targúmica (redação escrita ≥ séc. II d.C.) exibe inovações ausentes ou raras em Daniel/Esdras/Elefantina: ʾith- nas séries derivadas (em lugar de hith- mais antigo), reconfiguração de passivos e sistemas pronominais.
D. Critério qumrânico (datação relativa)
O Gênesis Apócrifo (Qumran) apresenta formas não atestadas em Daniel/Esdras/Elefantina (p. ex., 3ª pl. do perfeito com -n; bdyl), sinalizando fase posterior; o dossiê conclui que o aramaico do Apócrifo é significativamente mais tardio, incompatível com uma datação macabaica de Daniel.
E. Síntese datacional
A coincidência de prefixos, estados, séries verbais e partículas ancora: (i) Elefantina/Esdras/Daniel no horizonte aquemênida; (ii) targúmico em fase pós-bíblica com ʾith- e maior analiticidade; (iii) corpora qumrânicos como posteriores ao bíblico aramaico, embora anteriores a muito do material rabínico.
XXV. Onomástica e toponímia aramaicas
A antroponímia aramaica combina patronímicos, teofóricos e designativos funcionais. O patronímico bar “filho (de)” é pan-aramaico e já se vê na inovação fonológica br “filho” (em oposição ao hebraico ben), traço que caracteriza o ramo aramaico desde a fase antiga; com ele se formam sequências como Bar-Rakib e Bar-Hadad nos dossiês sírio-setentrionais (sécs. IX–VIII a.C.). Em Samʿal (Zinğirli), os monumentos de Panamuwa e de seu filho Bar-Rekub ilustram bem a integração de patronímico e título régio nas inscrições dinásticas, com léxico e ortografia que transitam do local ao padrão sírio-aramaico. Teofóricos com nomes divinos regionais (p. ex., Hadad) marcam dedicatórias régias e privadas; o repertório de Palmira preserva, em epitáfios e fundações, ampla matéria onomástica para padrões de família, linhagem e culto (Aramaic Inscriptions in the Palmyra Museum).
A documentação administrativa aquemênida anexa frequentemente o cargo ao nome próprio (p. ex., registros ligados ao sátrapa Arsames), o que indexa a posição social do portador em cartas, selos e ordens de serviço; a língua de expediente é o aramaico, mesmo quando os agentes falam iraniano ou egípcio, o que reforça fórmulas “de ofício” na identificação pessoal. (Encyclopaedia Iranica)
A marca Bet- (< aram. bēt “casa, templo, local”) permeia a toponímia semítica da Palestina (p. ex., Bet-Šêmeš, Bet-El), espraiando um modelo morfológico que se mantém de épocas bíblicas ao período greco-romano; sínteses toponímicas confirmam a dominância de nomes de fundo semítico na terra de Israel (Toponyms: in the Land of Israel). O elemento Bar-, por sua vez, opera primariamente como patronímico (“filho de”) nos nomes pessoais — compare br “filho” como inovação pan-aramaica —, tornando-se, em contextos epigráficos, marcador quase obrigatório de filiação.
XXVI. Gêneros e fórmulas textuais
A escrita de cartas aramaicas no período imperial e tardo-imperial exibe saudações estereotipadas (“paz/prosperidade”) e sequências formulares para identificação, bênção, assunto e datação; edições clássicas de Elefantina registram, por exemplo, a fórmula de votos de bem-estar em missivas judaico-aramaicas do séc. V a.C. (SPRENGLING, The Aramaic Papyri of Elephantine in English, 1917) Os contratos de Elefantina/Wadi Daliyeh e correlatos mostram cláusulas patrimoniais e datativas altamente padronizadas (ano-X, autoridade, testemunhas), com estudos papirilógicos rastreando variações de cláusulas de preço e transferência na tradição samaritana de Wadi Daliyeh (GROSS, The Aramaic Law of Sale Considered from the Papyrological and Rabbinic Evidence, 2013; ed. online). A chancela decretal e a linguagem jurídico-diplomática já aparecem, na esfera sírio-setentrional, nos Tratados de Sefire, paradigma de bênçãos/maldições de suzerania em aramaico antigo.
A epigrafia votiva e funerária urbana tem seu ponto alto em Palmira (sécs. I a.C.–III d.C.), cujos epitáfios e dedicatórias não apenas consolidam fórmulas textuais e iconografia, mas também abastecem a prosopografia e a onomástica locais.
O ramo siríaco literário constitui uma vasta produção litúrgica que molda estilos de hino, homilia e poesia em aramaico tardo-oriental, com continuidade cultual até hoje; correspondem-lhe, na esfera judaica, tradições targúmicas e rezas. No terreno para-bíblico, os rolos aramaicos de Qumran (p. ex., Gênesis Apócrifo) ilustram narrativa exegética e reescrita bíblica em aramaico, ao lado de outros gêneros canônicos e para-canônicos.
O catálogo de gêneros inclui incantações e composições mágico-rituais, bem atestadas do imperial ao tardio. Um caso singular é o Papiro Amherst 63, com aramaico redigido em demótico egípcio, preservando hinos, versões “sincretizadas” de salmos e materiais rituais — peça-chave para circulação interlinguística e intercultural no Baixo Egito.
XXVII. Contato com línguas vizinhas (calques e empréstimos)
O contato com o acádico deixou marcas lexicais já notadas em domínios político-financeiros, observáveis no aramaico bíblico. Em época parta e sasanida, consolidou-se o uso de palavras aramaicas como logogramas (também chamados aramaeogramas/heterogramas; em persa médio, huzwāreš), lidas como iraniano mas escritas como aramaico, com possibilidade de anexar desinências persas — fenômeno atestado em textos e inscrições pahlavi e também em parta. (Huzwāreš em Encyclopaedia Iranica) Sínteses iranológicas observam, ainda, a continuidade do arameu imperial na moeda e nas inscrições arsácidas, reforçando o bilinguismo gráfico e a aloglotografia no planalto iraniano. (Iranian Languages and Scripts em Encyclopaedia Iranica)
A difusão imperial persa fez do aramaico língua de governo e comércio, com empréstimos persas nos campos jurídico-políticos; a fase tardia conhece forte influência grega (léxico e sintaxe), fato assinalado nas descrições de conjunto.
Após a conquista islâmica, o árabe substituiu progressivamente o aramaico como língua literária e coloquial no Crescente Fértil, embora bolsas de fala aramaica tenham sobrevivido e a tradição siríaca tenha permanecido como língua cultual e erudita.
A convivência multissecular produziu calques semânticos e empréstimos cruzados; no plano gráfico, o caso pahlavi/partho, com aramaeogramas, é o exemplo extremo de calque grafemático (escreve-se aramaico, lê-se iraniano). Paralelamente, a circulação de gêneros (cartas, fórmulas datativas, estruturas contratuais) entre Egito, Síria e Samariana é visível na comparação de Elefantina e Wadi Daliyeh.
XXVIII. Da rotulagem “caldeu” à linguística semítica moderna
A tradição exegética ocidental chamou por muito tempo o aramaico bíblico de “caldaico” ou “caldeu”. O próprio dossiê registra explicitamente essa nomenclatura antiga ao dizer que “o aramaico bíblico, anteriormente chamado caldaico ou caldeu, é encontrado em Esdras 4:8–6:18; 7:12–26; Jeremias 10:11; Daniel 2:4b–7:28”. A linguística semítica dos séculos XIX–XX abandonou o rótulo “caldeu” e consolidou “aramaico” como termo técnico para o conjunto de variedades atestadas de ca. 1000 a.C. ao período islâmico, com periodizações e subgrupos. Sínteses recentes de referência, como a obra de Holger Gzella, descrevem esse arco histórico, cultural e filológico do aramaico do primeiro milênio a.C. até a Antiguidade Tardia, refletindo o estado atual da disciplina. O projeto Comprehensive Aramaic Lexicon (CAL) adotou e difundiu uma periodização ampla — Antigo, Imperial, Médio, Tardio e Moderno —, parâmetro que o próprio dossiê menciona ao apresentar “o principal projeto de pesquisa no campo — o Comprehensive Aramaic Lexicon — e a periodização adotada”.
O aramaico é definido, no mesmo dossiê, como “a língua noroeste-semítica melhor e mais longamente atestada”, com funções de língua internacional do Oriente Próximo entre ca. 600 a.C. e 700 d.C., e como idioma central para os estudos bíblicos, rabínicos, siríacos e mandeus, inclusive com a observação sobre o declínio após a conquista islâmica e a persistência de bolsões de fala e do siríaco clássico como língua de culto. Essa moldura “de ‘caldeu’ ao aramaico como campo filológico autônomo” é hoje a base de projetos digitais e repositórios, com o CAL como eixo lexicográfico de longo curso (Comprehesive Aramaic Lexicon Project).
XXIX. Debates historiográficos e metodológicos
Deve-se sublinhar três frentes clássicas do debate: a) léxico de empréstimos: “cerca de quinze palavras de provável origem persa” nas seções aramaicas de Daniel e “nenhum” empréstimo grego além de três nomes de instrumentos, quadro tomado como argumento contra uma data helenística tardia; b) morfologia: uso de passivos internos em Daniel (padrão mais antigo), em contraste com a dominância posterior de séries com ʾith-; c) paralelos aquemênidas: fórmulas e estilo em afinidade com a documentação de Elefantina. A mesma comparação aparece organizada no trecho “Comparação com o aramaico dos Targuns” e no destaque à expressão “Deus do céu” comum a Esdras, Daniel e aos papiros de Elefantina. O dossiê também ressalta diferenças entre o aramaico bíblico e o Gênesis Apócrifo de Qumran: terceira plural do perfeito com -n e a preposição composta bdyl, ausentes em Daniel/Elefantina e típicas de estágios mais tardios, conclusão usada para afirmar que “a data macabaica de Daniel é incompatível com essa evidência linguística”.
Na historiografia recente, o debate continua vivo. Estudos de filologia aramaica discutem o status das três palavras gregas em Dn 3 e a possibilidade de code-switching em vez de empréstimo, o que mitiga a força de um argumento exclusivamente “helenístico” (SUCHARD, The Greek in Daniel 3: code-switching, not loanwords, 2022) Trabalhos recentes reavaliam os greguismos sob perspectiva dialetal e admitem composições pré-helenísticas compatíveis com aqueles itens, ainda que a datação global de Daniel permaneça disputada em função de critérios históricos e literários. (NOONAN, Daniel’s Greek Loanwords in Dialectal Perspective, 2018, pp. 575-603) O ponto de método, portanto, é duplo: a linguística é necessária, mas não suficiente; e os paralelos aquemênidas (como Elefantina) continuam peças fortes na discussão filológica.
O dossiê linguístico reúne testemunhos que descrevem uma Palestina multilíngue (grego e aramaico como línguas comuns nas cidades; hebraico popular entre grupos judaicos), recupera a tese de Harris Birkeland sobre o uso regular de hebraico popular aramaizado por Jesus e admite o emprego ocasional de aramaico, com exemplos de Marcos e Atos. A discussão acadêmica contemporânea mantém a hipótese de um bilinguismo hebraico–aramaico no ministério de Jesus, com interferências mútuas e com o grego em ambientes urbanos. Estudos de Cambridge sobre hebraísmos e aramaísmos no Novo Testamento revisitam a terminologia “hebraisti” e defendem que o termo distingue hebraico de aramaico, ao mesmo tempo em que reconhecem a presença de aramaísmos textuais (MUSSIES, The Use of Hebrew and Aramaic in the Greek New Testament, 1984, pp. 416-432) Pesquisas de cenário sociolinguístico descrevem com detalhes o ambiente plurilíngue da Judeia do século I (RUTH; NOTLEY, The Language Environment of First Century Judaea, vol. 2, 2014).
XXX. Projetos e infraestrutura de referência (CAL)
O Comprehensive Aramaic Lexicon é o principal projeto lexicográfico e textual da área, sediado no Hebrew Union College, cobrindo “todos os dialetos e períodos de dois milênios de aramaico”, com corpus pesquisável de inscrições, papiros, manuscritos e literatura e instrumentos para lematização, glossários e concordâncias. O dossiê remete diretamente à periodização adotada pelo CAL e à organização das fontes por fases, integrando o projeto à narrativa global da história do aramaico. Além da plataforma principal, a interface de seleção por dialetos/textos permite acesso a corpora como Antigo, Imperial/Oficial, Médio (Palestina, Tel Dan, Sefire, Palmyreno, Hatran), Tardio e Judaico literário, espelhando a prática filológica atual.
A possibilidade de consultar paralelamente corpora (por exemplo, Elefantina e Daniel) operacionaliza justamente os critérios diacrônicos enfatizados no dossiê: presença/ausência de greguismos, distribuição de persianismos, preferência por passivos internos versus séries com ʾith-, e estrutura de fórmulas documentais.
A historiografia recente voltou a traçar o fio “de ‘caldeu’ à moderna linguística semítica”, situando o aramaico como constante civilizacional e destacando sua centralidade para a Bíblia, o judaísmo rabínico, o cristianismo siríaco e as tradições mandeias, perspectiva amplamente refletida em manuais e resenhas acadêmicas.
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GALVÃO, Eduardo. Aramaico. In: Enciclopédia da Bíblia Online. [S. l.], out 2025. Disponível em: [Cole o link sem colchetes]. Acesso em: [Coloque a data que você acessou este estudo, com dia, mês abreviado, e ano. Ex.: 22 ago 2025].