Deus Tem Propósitos?

PROPÓSITO, DEUS, EFÉSIOS, ESTUDO BÍBLICO, TEOLOGICO

Deus Tem Propósitos? Certa vez, um dos nossos leitores nos enviou um email indignado por ter visto em uma de nossas matérias a expressão “propósito de Deus”. Segundo ele, Deus não pode ter propósitos, visto que os propósitos são guiados por desejos e vontades, e sendo Deus Supremo acima de tudo, Ele mesmo não poderia ser guiado por estes a ponto de desenvolver propósitos.

Sinceramente, não saberia nem por onde começar ao refutá-lo. Não iremos mencionar o nome do prezado leitor com o objetivo de preservar sua integridade diante dos milhares de leitores que nos visitam todos os dias.

Pela forma em foi escrita a crítica, me pareceu que o mesmo não acreditava nas Escrituras Sagradas como padrão de verdade absoluta, me pareceu um pseudo-filósofo. Mesmo assim, poderia apenas raciocinar que, quando entendemos Deus dentro do escopo humanístico, fazendo-O à imagem do homem, ao invés do aposto, uma vez que os humanos são guiados, controlados e até escravizados por suas vontades, então poderíamos dizer que a ideia não se encaixa em Deus, visto que Ele não é “escravo” de Sua vontade, como se Sua emoção dominasse Sua razão.

Cf. Cristologia: Estudo sobre Jesus Cristo
Cf. Teologia Bíblica e o Cânon
Cf. Literatura no Judaísmo
Cf. Tradição Apocalíptica

No entanto, devemos lembrar que Yahweh é o Criador, estando, portanto, fora do escopo de meras criaturas, principalmente na realidade da imperfeição. Assim sendo, embora o Criador tenha vontades (Mt. 6:10b), Ele mesmo não é guiado por elas; ao contrário, Ele é que as guia de acordo com a Sua razão perfeita, e a essência de Seu Ser que é o amor ágape, (1 Jo. 4:8) um amor guiado por princípios eternos e imutáveis, ao invés de vontades cegas, prejudiciais e momentâneas.

Assim, podemos dizer que é da vontade de Deus que sejamos felizes, é da vontade de Deus que tenhamos a vidade eterna and so on.

Além disso, as Escrituras falam claramente que Deus é um Deus de propósitos, e que o ser humano, por ser criado à Sua imagem, também tem essa capacidade. Na verdade, o ser humano precisa de um propósito para que não se sinta vazio, e esse propósito apenas o Criador Deus pode fornecer.

Ao escrever a sua Epístola aos Efésios, Paulo disse-lhes:


“...Segundo o propósito eterno que ele formou em conexão com o Cristo, Jesus, nosso Senhor,...” - Carta aos Efésios 3:11.

Será que o escritor das palavras gregas originais, em Efésios 3:11, queria dizer que Deus, o Criador, tinha um plano relacionado com a humanidade por meio de Seu Messias? O que queria dizer ao usar a palavra πρόθεσις (Gr.: próthesis) na sua carta escrita no grego do primeiro século? Ela significa literalmente “propor ou colocar diante”, expondo assim algo à vista. Foi por isso que os judeus alexandrinos, ao traduzirem as inspiradas Escrituras Hebraicas (A.T) para o grego, usaram esta palavra grega para o pão sagrado, colocado na mesa dourada no compartimento Santo da tenda sagrada de adoração, erigida pelo profeta Moisés. Este pão é chamado de pão da apresentação, mas a Versão dos Setenta grega fala dele como sendo “pães da proposição” πρόθεσις (Gr.: próthesis). De modo que estes pães, apresentados na mesa dourada, estavam sendo postos em exposição, cada sábado semanal havia um novo suprimento deles. — 2 Crônicas 4:19.

A palavra πρόθεσις (Gr.: próthesis) era também usada para significar “declaração” ou “pagamento antecipado”, e, na gramática, significava “preposição”. Era também usada para significar “prefixação” ou “anteposição”. Visto que a palavra era também usada para significar o fim ou objetivo proposto, ou propor-se algo a ser realizado ou conseguido, era usada para significar “propósito”. (Sobre isso, veja A Greek-English Lexicon de Liddell e Scott, Volume II, páginas 1480-1481, reimpressão de 1948, sob próthesis.) Este último significado é reconhecido pela maioria dos tradutores da Bíblia nas línguas modernas. De modo que a “próthesis” de Deus é sua determinação, sua decisão primária, seu propósito.

Em Efésios 3:11, a palavra é seguida pela expressão ton aiónon, que significa literalmente “das eras”. De modo que esta combinação de palavras é traduzida por alguns “o propósito das eras”, “propósito das eras”, “propósito perene” ou “propósito dos séculos”, e por outros, “eterno propósito” ou “propósito eterno”.

O “propósito das eras” de Deus é Seu “propósito eterno”. De que modo? Ora, aqui, uma Era significaria um período indefinido, mas relativamente longo, nos assuntos humanos, havendo mais ênfase na duração da era do que nos seus fenômenos ou nas suas características.

De modo que o “propósito das eras” de Deus não significa um “propósito” que tenha que ver com certos períodos designados, tais como uma “era patriarcal”, uma “era judaica”, uma “era evangélica” e uma “era milenar”. Antes, dá-se ênfase ao tempo, a períodos de longa duração. Para uma era seguir outra era, cada era individual teria de ter começo e fim. Contudo, uma sucessão de eras estender-se-ia pelo tempo afora. E, visto que na expressão “propósito das eras” não se especifica o número de eras, o número de eras pode ser infindável. Assim, a expressão “propósito das eras” deixa indefinido o total do tempo envolvido, e é um “propósito” por tempo indefinido, sem ter realmente limite fixo. Desta maneira, o “propósito” torna-se assunto de eternidade e torna-se “propósito eterno”. O propósito de Deus relacionado com o seu Messias ou Ungido teve começo, mas deixam-se passar eras de tempo antes de este propósito ser cumprido. Para o “Rei da eternidade”, neste caso, a questão do tempo não é problema.

Concluímos assim que Deus tem um maravilhoso propósito eterno para nossas vidas individual e coletivamente falando. Esse propósito se tornará realidade por meio do Seu filho, nosso Senhor Jesus Cristo.

Quem nega que Deus seja um Deus de propósito é porque ele mesmo não tenha um propósito na vida, visto que vemos o mundo como um reflexo de nós mesmos.