A Teologia Bíblica e o Cânon

A Teologia Bíblica e o CânonA Teologia Bíblica e o Cânon
(Enciclopédia Bíblica Online)

A questão de por que o estudo da teologia bíblica limita-se aos sessenta e seis livros canônicos da Bíblia será sempre suscitada. Não deveríamos incluir a literatura judaica do período intertestamentário? O Livro de Enoque não pode ser considerado como tendo a mesma importância que o de Daniel? O Livro de 4 Esdras não poderia ser colocado ao lado do de Apocalipse? O Livro de Judite com o de Ester? Na realidade, Stauffer insiste que “a antiga tradição bíblica” na qual a teologia bíblica fundamenta seu trabalho, deveria incluir essa literatura judaica não-canônica. (E. Stauffer, NT Theology (1955), capítulo 1) Entretanto, Stauffer negligencia um fato muito importante. Os escritos canônicos têm essa consciência de que participam da história redentora, ao passo que aos escritos não-canônicos falta este senso da história redentora.

A antigüidade está repleta de registros literários que preservam as experiências históricas, as aspirações religiosas e os produtos literários das várias épocas. Em certo sentido, os escritos canônicos são semelhantes a outros documentos antigos pelo fato de preservarem os produtos históricos e literários dos homens que viveram em um ambiente histórico distante do nosso, visando atender a objetivos específicos imediatos. Contudo, há uma diferença fundamental: os escritos das Escrituras canônicas participam do caráter da história sagrada. Eles constituem-se naqueles registros que incorporam a história das atividades de Deus na história. Há muitos elementos que são compartilhados pelos livros canônicos e não-canônicos. O Livro dos Jubileus e o Gênesis tratam do mesmo assunto; Enoque e Daniel compartilham vários traços marcantes da literatura apocalíptica. Ocorre, porém, que falta aos livros não-canônicos o senso de história sagrada encontrado nos livros canônicos.

O Apocalipse de Baruque e o Apocalipse de João foram escritos quase na mesma época e ambos tratam da escatologia apocalíptica; porém, um reflete a esperança judaica por um futuro melhor, e o outro é uma conclusão da narrativa bíblica como um todo, no qual o propósito de Deus - expressado pelos profetas, manifestado na encarnação de Cristo e explicado nas epístolas - é visto em termos de sua consumação final. Esses propósitos divinos, que estiveram sempre operantes dentro do contexto da história sagrada, finalmente são perfeitamente realizados em uma consumação que conduz a história, em sua totalidade, para o seu fim divinamente determinado. Os livros canônicos, desse modo, partilham da unidade da história redentora, unidade esta que é intrínseca a eles, e não sobreposta a partir de algo exterior. (Veja B.S. Childs, Biblical Theology in Crisis (1970), 70 e ss.54. Cf. F. V. Filson, One Lord, One Faith (1943); E. Stauffer, NT Theology; C. H.) Nenhuma coleção de sessenta e seis livros extraídos dos escritos apócrifos judaicos e da literatura apócrifa cristã pode ser reunida de modo a demonstrar qualquer espécie de unidade interior como a que encontramos nos livros da Escritura.


FONTE: Teologia do Novo Testamento - Ladd, George Eldon.