Citações Apostólicas do A.T. Feitas no N.T.

(Esse é um estudo bíblico longo composto de inúmeras partes complementares devido a sua importância. Caso você tenha chegado ao nosso blog por meio dessa página, sugerimos que acompanhe nosso estudo dentro do seu contexto, começando com: O Nome Divino - YHWH)

TETRAGRAMA, NOVO TESTAMENTO, JEOVÁ, JAVÉ, NOME DE DEUS, ESTUDO BIBLICOS, TEOLOGICOS
§ 4.a As citações do Antigo Testamento feitas pelos escritores do Novo.


“Há evidência de que o Tetragrama, o Nome Divino, aparecia em alguma ou todas as citações do Antigo Testamento no Novo Testamento.” - The ANCHOR BIBLE DICTIONARY, Volume 6 Si-Z Paginas 392-393 (em Inglês)



Os escritores do Novo Testamento citaram as Escrituras Hebraicas (A.T) centenas de vezes. Segundo uma lista publicada por Westcott e Hort, o total das citações e referências ascende a umas 890. (The New Testament in the Original Greek [O Novo Testamento no Grego Original], Graz, 1974, Vol. I, pp. 581-595) Todos os escritores cristãos inspirados recorrem a exemplos das Escrituras Hebraicas. (1Cor. 10:11). O próprio Jesus Cristo fez uso do Antigo Testamento no Seu ministério terrestre. (Cf. Mateus 4:4) O ponto que chama a nossa atenção é que muitas dessas citações do A.T eram de passagens onde o Nome Divino ocorria. Veja alguns exemplos abaixo conforme a tradução American Standard Version.

Evangelho de Mateus 3:3 diz:

“For this is he that was spoken of through Isaiah the prophet, saying, The voice of one crying in the wilderness, Make ye ready the way of the Lord, Make his paths straight.” (TRADUÇÃO LIVRE: “Pois esse é aquele que quem se falou através do profeta Isaías, quando disse: “A Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas.”)

Nessa passagem de Mateus 3:3, o apóstolo sob inspiração divina, estava fazendo uma referência bíblica ao profeta Isaías, conforme o próprio texto menciona em si mesmo.

O texto que Mateus se referiu foi Isaías 40:3, que diz:

“The voice of one that crieth, Prepare ye in the wilderness the way of Jehovah [יְהוָה]; make level in the desert a highway for our God.” [TRADUÇÃO LIVRE: A voz de alguém clamando: “Preparai no deserto o caminho de Jeová; nivelai no deserto um caminho para nosso Deus]

Portanto, se Mateus está citando um texto do A.T que continha o Tetragrama em hebraico, porque razão ele transcreveria todo o texto de Isaías 40:3, mas, ao chegar no tetragrama יְהוָה (YHWH), pularia, ou substituiria pela palavra κύριος (Senhor)? A lógica é que, se ele copiou o texto de Isaías 40:3 diretamente do hebraico, concluí-se que ele usou o Nome Divino יְהוָה, consequentemente o Tetragrama aparecia no Evangelho de Mateus original.

A citação que Mateus faz difere do texto hebraico. Em Mateus, o texto diz: “Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas.” Nessa parte ele usa duas palavras gregas de destaque. (1) “Preparar” (Gr.: hetoimazo) 2. “Endireitar” (Gr.: poieo euthus). Essa é a mesma fraseologia usada na LXX. No entanto, mesmo Mateus tendo citado a LXX, isso não muda o uso do Tetragrama, como ficará explicado nessa em em uma outra matéria sobre a Septuaginta.

Duas coisas que você talvez tenha pensando: (1) Mas todos os manuscritos que temos disponíveis do Evangelho de Mateus hoje dizem κύριος “Senhor” e não יְהוָה“Iavé”. (2) Mateus citou da LXX (Septuaginta) grega, como você mesmo admitiu acima, então ele deve ter seguido o costume rabino de substituir יְהוָהpor κύριος. Dessa forma, uma vez que a LXX dizia em Isaías 40:3: “φωνη βοωντος εν τη ερημω ετοιμασατε την οδον κυριου [Senhor] ευθειας ποιειτε τας τριβους του θεου ημων” [A voz de alguém clamando: “Preparai no deserto o caminho de Senhor [κυριου]; endireitai o caminho de nosso Deus.], então quando Mateus citou do texto grego, ele não poderia fazer outra coisa senão acompanhar a tradução grega do A.T, e assim ele repetiu em Mateus 3:3 a palavra κύριος “Senhor” ao invés de יְהוָה (Iavé).

Se você pensou isso, parabéns, seu raciocínio além de lógico, demonstra que tem um bom conhecimento bíblico. No entanto, gostaria que você, caro leitor, considerasse outros fatores que talvez ainda não tenha visto. Vou comentar o “outro lado” dos dois pontos mencionados assim:

1. Todos os Manuscritos de Mateus dizem “Senhor”.

RESPOSTA: Você tem razão. Mas, lembre-se, a questão levantada não é se as “cópias” gregas do Evangelho de Mateus trazem יְהוָה [Iavé] ou não; esses manuscritos diferem entre si, tanto que há a necessidade de uma crítica textual para se refinar o texto grego e tentar chegar as prováveis palavras apostólicas. Daí, alguns argumentam: “Então, ao invés de dizer que essa teoria do Nome Divino está errada, você prefere dizer que o N.T é que está errado?” Não! Longe disso! Acredito na inerrância das Escrituras (A.T e N.T), mas acredito que a teopneustia (inspiração divina) se deu apenas com os escritos originais, que os originais são uma produção e um trabalho do Espírito Santo de Deus, já as cópias são uma produção e um trabalho do homem, tentando preservar aquilo que Deus lhe deixou. Deus não comete erros, Ele é perfeito (Deut. 32:4) Portanto, se os manuscritos copiados que temos possuem erros e diferem uns dos outros é porque foi a mão do homem imperfeito que operou nesse trabalho tradutório e não a mão perfeita de Deus, caso contrário, todos os manuscritos seriam exatamente iguais uns com os outros e principalmente com o N.T original.

Agora pense: se os copistas acrescentaram e tiraram coisas ao fazerem suas cópias, o que nos garante que não removeram o Tetragrama que estava presente originalmente? Além do mais, o ponto é se o ORIGINAL de Mateus trazia o Tetragrama ou não.

Como dito, Deus inspirou apenas os originais, não as cópias. Por isso, os críticos dos Evangelhos, por exemplo, não podem olhando para os 5.000 manuscritos do N.T dizer que os originais também continha erros e contradições. Eles não podem usar os erros das cópias para julgar o Novo Testamento original, e esse é o argumento de todos os que defendem a inerrância das Escrituras. Como os originais não existem mais, nenhum crítico pode alegar que os erros manuscriturísticos neotestamentários também estavam presentes nos autógrafos.

Da mesma forma, dizer, como fazem alguns que vão contra a possibilidade do Tetragrama no Novo Testamento, que o fato de todos os 5.000 manuscritos não possuírem o Nome Divino é prova conclusiva de que o Tetragrama não aparecia nos originais do N.T na verdade não funciona, assim como o fato de que todos os 5.000 manuscritos possuírem diferenças e erros entre si não implica em dizer que os originais também possuíam os mesmo erros e contradições.

Mesmo assim, talvez você pense: “Mas, como é possível que todos os 5.000 copistas tenham cometido o mesmo erro literário de omitir o Tetragrama?”

1. Nós não afirmamos que todos esses copistas cometerem o mesmo erro literário, como erros ortográficos, por exemplo. Estamos afirmando que todos seguiram um mesmo COSTUME “COPÍSTICO” ERRÔNEO, um costume seguido por todos os copistas posteriores. Era uma mudança consciente e intencional, como um padrão que seria seguido por todos os copistas posteriores. Por exemplo, é bem, bem mais comum você achar uma tradução da Bíblia que no Antigo Testamento tenha SENHOR no lugar de YAHWEH. Qualquer ser pensante sabe que SENHOR com letras maiúsculas não poderia ser uma tradução de um nome próprio, YAHWEH (Javé), mas todos nós sabemos que isso foi uma substituição intencional feita pelos tradutores modernos. Se baseado nessa enxurrada de traduções que usam SENHOR você concluir que o Antigo Testamento original não trazia o Tetragrama, terá caído num erro enorme, pois qualquer pessoa poderá lhe mostrar numa Bíblia Hebraica o Tetragrama YHWH.

Da mesma forma, o fato de que todos os manuscritos, muitos deles apenas fragmentos, terem sempre SENHOR (Gr.: kýrios) ou DEUS (Gr.: theós) não quer dizer que o texto original do N.T não tinha o Tetragrama.

Mesmo que ainda insistindo, nos seja dito: “Mas só acredito em provas materiais. Sem isso prefiro acreditar no que posso ver e tocar. Portanto, se todos os 5.000 manuscritos dizem SENHOR e DEUS é porque o Tetragrama não existiu no Novo Testamento.” Pediríamos para essa pessoa ler essas palavras: “Creste porque me viste? Felizes são os que não vêem, contudo, crêem.” (João 20:29) “pois estamos andando pela fé, não pela vista” – 2 Coríntios 5:7.

2. Os mais de 5.000 manuscritos do Novo Testamento não são textos completos do mesmo. Por exemplo, não existe um manuscrito grego do Evangelho de Marcos inteiro que date o século II. Os manuscritos que temos mais antigos são apenas fragmentos, partes de capítulos, alguns bem grandes, outros do tamanho de um cartão magnético. Alguns são de textos que nem tocam no assunto do Nome de Deus, portanto, como esperar que um fragmento assim devesse exatamente aparecer o Nome Divino? Por exemplo, imagine que temos um fragmento muito, muito antigo de Mateus, mas apenas o capítulo 11 vss 20-24. Se essa passagem, mesmo inteira em nossas Bíblias, não trata do assunto relacionado ao Nome Divino, porque usá-lo como prova de que os escritores originais do N.T não usaram o Tetragrama? Posteriormente nós veremos uma outra razão de nenhum dos manuscritos achados até hoje do Novo Testamento não terem o Nome Divino.

Nós não temos disponível o original do Evangelho de Mateus, portanto, como mencionado no início desse estudo (Cf. Tetragrama no Novo Testamento), negar ou afirmar a presença do Nome Divino no Evangelho em questão é apenas conjecturas. Nesse caso, “ganha” quem apresentar conjecturas mais lógicas e persuasivas, já que é isso tudo o que temos para determinar algo tão importante como esse assunto.

2. Mateus citou da LXX que traz a palavra “Senhor”.

RESPOSTA: A primeira coisa que poderíamos mencionar contra esse pensamento é o fato bem sabido que o Evangelho de Mateus foi escrito originalmente em hebraico. Registros lá do segundo século EC indicam isso. Pelo visto, mais tarde Mateus o traduziu para o grego. Pápias fornece evidência externa de que Mateus escreveu seu Evangelho originalmente no idioma hebraico. Ele diz:

“Ele [i.e Mateus] escreveu as declarações no idioma hebraico, e cada um as interpretava o melhor que podia.”

Jerônimo, em sua obra De viris inlustribus (Sobre os Varões Ilustres), capítulo III, diz:

“Mateus, também chamado Levi, e que de publicano se tornou apóstolo, primeiro produziu um Evangelho de Cristo na Judéia, na língua e nos caracteres hebraicos, para o benefício dos da circuncisão que haviam crido.”

Jerônimo acrescenta que o texto hebraico deste Evangelho foi preservado nos seus dias (quarto e quinto séculos EC) na biblioteca que Pânfilo colecionara em Cesaréia. O erudito bíblico John Gill admite essa grande possibilidade embora não a aceite:

“Os antigos escritores cristãos eram geralmente da opinião que Mateus o escreveu [i.e o Evangelho de Mateus] em hebraico; Papias e (Euseb. Hist. Eccl. l. 3. c. 39. p. 113. Vid. ib. l. 5. c. 8. p. 172. c 10. p. 175. & l. 6. c. 25. p. 226.) Pantaenus tinham esse pensamento, assim como Irineu (Adv. Haeres. l. 3. c 1.), Origenes (In Matt. Tom. l. p. 203. Ed. Huet.) Eusébio (Eccl. Hist. l. 3. cap. 24. p. 95.), Atanásio (Synops. sacr. Script. p. 134. Vol. 2.), Epifânio (Contra Haeres. l. 1. Haer. 29. & 30.), e Jerônimo (Catalog. Script. Eccles fol. 90. Tom. 1. ad Hedib. fol. 46. Tom. 3.); e é afirmado nos títulos das versões Árabe e Persa, assim como no final da versão Siríaca desse Evangelho, que ele foi escrito nessa língua.”

Outra coisa que dá testemunho a essa interpretação é que o Evangelho de Mateus foi escrito para os Judeus. Seria mais conveniente para o apóstolo Mateus escrever o relato da vida de Cristo em hebraico, devido ao preconceito judaico à cultura helenística. Isso fica claro, por exemplo, quando o apóstolo Paulo deu testemunho do Messias para uma multidão de judeus. Atos 21:40-22:2, nos diz que “Paulo, de pé na escadaria, fez sinal com a mão para o povo. Quando se fez um grande silêncio, dirigiu-se a eles no idioma hebraico, dizendo: “Homens, irmãos e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós.” (Pois bem, quando ouviram que se dirigia a eles no idioma hebraico, ficaram ainda mais calados, e ele disse:)”. Ou seja, Paulo, com muita perspicácia, escolheu o hebraico para se dirigir a essa multidão de Judeus, e isso funcionou, pois eles ficaram “ainda mais calados” quando ouviram que ele falava em hebraico. Da mesma forma, se Mateus escreveu seu evangelho para os judeus, para convencê-los que Jesus era o Messias, e segue todo aquele pensamento hebraísta que está impregnado no seu evangelho, concluísse que foi nesta língua que ele escreveu aos judeus originalmente.

Dr. Barcley comenta:

“Primeiro e mais importante, Mateus é o evangelho que foi escrito para os Judeus. Foi escrito por um judeu com o objetivo de convencer Judeus.” (William Barclay's Daily Study Bible)

Ele apresenta inúmeras provas para isso. Nesse contexto Albert Barnes comenta:

“Tem sido geralmente acreditado que Mateus escreveu esse Evangelho em sua língua nativa; ou seja, a língua da Palestina. Essa língua não era hebraico puro, mas uma mistura de Hebraico, Caldeu e Siríaco, normalmente chamado de “Siro-Caldeu” ou “Aramaico.” Nosso Salvador, sem dúvidas, usou essa língua em sua conversa e seus discípulos teriam naturalmente usado essa língua também, a menos que houvesse boas razões de escreverem em uma língua estrangeira.”

Sendo bem honesto nas minhas declarações, não vou citar essas obras apenas quando “me convém” fazê-las. Existem alguns problemas, de fato, ao se considerar o Evangelho de Mateus como escrito originalmente em hebraico. Por exemplo, Em Mateus 27:46 nos diz: “Daí, por volta daquela hora Jesus clamou: “Eli, Eli, lema sabachthani?” que significa, “Meus Deus, meu Deus, porque você me abandonou?”” (Contemporary English Version) Se Mateus escreveu em hebraico, porque ele traduziu essa famosa frase “Eli, Eli, lema sabachthani”? Não seria quase tautológico para um judeu? Não teriam eles entendido devido à similaridade de ambos? (Veja Mateus 1:23, 27:33) Muitos acreditam que essas palavras (“Eli, Eli, lema sabachthani”) são aramaicas, outros siro-aramaico, siro-caldeu, ou uma mistura de hebraico, aramaico, caldeu e siríaco, que era falado na palestina do primeiro século. The Interpreter’s Dictionary of the Bible (O Dicionário Bíblico do Intérprete) diz:

“As opiniões estão divididas quanto ao idioma original da declaração e quanto a se o próprio Jesus teria usado de modo mais natural o hebraico ou o aramaico. . . . Há documentos que indicam que uma forma de hebraico, um pouco influenciado pelo aramaico, talvez tenha sido usado na Palestina no primeiro século A.D.” (Editado por G. A. Buttrick, 1962, Vol. 2, p. 86)

Se isso for verdade, se essa famosa frase for apenas uma mistura de um idioma galileu, então faz sentido, depois de citá-las, Mateus traduzi-las para o hebraico “puro” por assim dizer. Embora houvesse uma similaridade, haveria necessidade de tradução. – Cf. 2 Reis 18:26-28, Esdras 4:7.

Outra possibilidade é a proposta por William Macdonald, que diz:

“Eusébio, o historiador da Igreja, cita Papias como tendo dito que “Mateus compôs a Logia em língua hebraica, e todos a interpretavam como eram capazes.” Irineu, Panteno, e Orígenes, basicamente concordam com isso. “Hebraico” é considerado extensamente como se referindo ao dialeto aramaico usado pelos hebreus no tempo de nosso Senhor, como a palavra é usada no NT. Mas, o que é a “Logia”? Normalmente, esta palavra grega significa “oráculos”, como o A.T contém os oráculos de Deus. Não se pode significar isso na declaração de Papias. Há três principais pontos de vista sobre a sua declaração: (1) Refere-se ao Evangelho de Mateus como tal. Ou seja, Mateus escreveu uma edição do seu Evangelho em aramaico especialmente para ganhar os judeus a Cristo e edificar cristãos hebreus, e só mais tarde fez uma edição grega aparecer. (2) Refere-se apenas às palavras de Jesus, que mais tarde tornaram-se incorporadas ao seu Evangelho. (3) Refere-se a testimonia, ou seja, as citações das Escrituras do A.T que mostram que Jesus é o Messias.”” (Tradução direta do inglês Believer's Bible Commentary publicado no Brasil como Comentário Bíblico Popular)

Se o hebraico que o Evangelho de Mateus foi escrito se refere apenas as citações do A.T., ou mesmo todo o Evangelho foi escrito em idioma tal, não faria sentido Mateus citar o A.T. usando a LXX, ele faria a citação direta do texto hebraico, onde יְהוָה“Iavé” ocorre quase 7 mil vezes, e assim teria preservado dentro do N.T o Nome Divino.

No entanto, mesmo que Mateus tenha citado a LXX, como já foi mencionado, devido às similaridades dos vocábulos gregos, o Tetragrama teria permanecido na citação. Essa parte nós concluiremos em uma outra postagem devido a sua extensão. Nessa, nós mostraremos que, mesmo ao citar a Septuaginta, os escritores do Novo Testamento manteriam o Tetragrama, uma vez que as primeiras cópias da LXX mantinham o NOME DIVINO.