Livros Apócrifos do Novo Testamento

Livros Apócrifos do Novo Testamento

por Richard Neitzel Holzapfel.

CRISTIANISMO, NOVO TESTAMENTO, LITERATURA, APOCRIFOS, JUDAÍSMO, ESTUDO BIBLICOS, TEOLOGICOS
Ao ler o Novo Testamento, torna-se bem óbvio que seus escritores e leitores dos primeiros dias estavam familiarizados com, pelo menos, alguns dos livros apócrifos, não apenas aqueles que eles herdaram dos judeus na Septuaginta, mas também com uma coleção mais ampla de escritos. A referência mais clara pode ser encontrada em Judas, versículos 14-16, onde o autor faz uma citação, sem dúvida de memória, de Enoque 1.9, lembrando a profecia de “Enoque, a sétima geração depois de Adão”. A exceção dessa citação mais ou menos direta, muitas alusões à literatura apócrifos. As palavras, “Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate”, registradas em Hebreus 11.35, nos faz lembrar o martírio de Eleazar e dos Sete Irmãos em II Macabeus 6 e 7, e “foram... serrados pelo meio” de Hebreus 11.37 é, sem dúvida, uma alusão ao Martírio de Isaías, enquanto as frases “o resplendor da glória” e "a expressão exata de seu Ser" em Hebreus 1.3 nos lembra forçosamente o Livro de Sabedoria 7.26. Ecos do Livro de Sabedoria provavelmente podem ser ouvidos também nas palavras dos principais sacerdotes em relação a Jesus, em sua agonia, em Mateus 27.43: “Pois venha livrá-lo agora, se de fato lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus” (cf. Sabedoria 2.18); assim também nas cartas de Paulo, tais como a Carta aos Romanos 1.20-32 (Sabedoria 14.22-31), Romanos 9.21 (Sabedoria 15.7), II Coríntios 5.4 (Sabedoria 9.15) e Efésios 6.13-17 (Sabedoria 5.18-20). Além disso, certos sentimentos e frases familiares ao leitor cristão nos Evangelhos têm seu paralelo direto no Testamentos dos Doze Patriarcas, expressões como perdoar o próximo (Mateus 18.21, cf. Testamento de Gade 6.3,7), amar de todo o coração (Mateus 22.37-39, cf. Testamento de Dã 5.3), e retribuir o mal com o bem (Lucas 6.27s, cf. Testamento de José 8.2). Isso demonstra como o conteúdo dos ensinamentos morais de Jesus estava próximo do ideal moral do judaísmo.

A disputa entre Miguel e o diabo, pelo corpo de Moisés em Judas 9, deriva de A Assunção de Moisés, e a doutrina dos espíritos aprisionados em I Pedro 3.19 é baseada em Enoque 14-15. A Carta de Tiago tem muito em comum com os livros apócrifos; o escritor certamente estava familiarizado com Ben Sira, de cujo pensamento e experiência ele compartilhava (cf. por exemplo, Tiago 1.19 e Ben Sira 5.11). O Novo Testamento faz referências a escritos desconhecidos (cf. I Coríntios 2.9; Efésios 5.14; I Timóteo 3.16) e faz citações de fontes desconhecidas (Mateus 23.34,35; cf. Lucas 11.49-51), enquanto em uma passagem (II Timóteo 3.8) faz alusão a Janes e Jambres, cujos nomes foram usados para o título de um livro apócrifo, do que temos conhecimento a partir de escritos que surgiram posteriormente.

Sem dúvida, os cristãos primitivos consideravam esses livros religiosamente edificantes, não apenas em suas devoções pessoais, mas também no ensino dos catecúmenos. A questão da canonicidade não era sequer cogitada a essa altura. Esse problema ainda seria suscitado e resolvido pela igreja em expansão.


Fonte: Between the Testaments: From Malachi to Matthew, de Richard Neitzel Holzapfel.

Veja outros estudos bíblicos relacionados:

Cf. Literatura Não-canônica
Cf. O Cânon do Velho Testamento
Cf. As Escrituras na Dispersão