Mensagem Apocalíptica dos Apócrifos

APOCALIPTICA, LITERATURA, APOCRIFOS, ESTUDO BIBLICOS, TEOLOGICOS
Falando em termos gerais, a literatura apocalíptica judaica encontrada nos livros apócrifos surge entre a literatura do Antigo Testamento e a do Novo Testamento e está intimamente associada com ambos. Por um lado, é uma continuação do Antigo Testamento, visto que em muitas de suas características é um desenvolvimento da profecia hebraica. Por outro lado, é uma antecipação do Novo Testamento, porque marca um importante período de transição, no qual as crenças que surgem destes escritos, foram adotadas e desenvolvidas dentro do arcabouço do cristianismo; de fato, as importantes mudanças no pensamento religioso que ocorreram no período entre os Testamentos, seriam, até certo ponto, inexplicadas e inexplicáveis, não fosse o fato de que possuímos esse conjunto de literatura judaica. Isso se aplica particularmente à idéia do Messias em sua relação com o Filho do Homem e à crença na vida após a morte. Esses dois conceitos serão tratados nos dois últimos capítulos deste livro e vão indicar a significativa contribuição dada pelos apocalípticos para o desenvolvimento de convicções religiosas durante o período interbíblico.

Durante algum tempo, esses escritos apocalípticos conti¬nuaram a ser populares entre os cristãos. O padrão do apocalíptico judeu é evidente no cânon do Novo Testamento, particularmente no Apocalipse de João e no assim chamado Pequeno Apocalipse de Marcos 13; mas além desses, muitos outros apocalipses foram escritos em imitação aos antigos livros judaicos. Isso não é realmente surpreendente, porque a mensagem dos escritores judeus apocalípticos era bem alinhada com as esperanças e expectativas dos cristãos. Ela dirigia os homens deste mundo mau e atribulado para o grande desdobramento do propósito do Deus Todo-Poderoso que sustentava a história e o destino do mundo na palma de sua mão. O dia em que ele interviria com poder para estabelecer seu reino de justiça e paz estava se aproximando rapidamente; a Idade Messiânica, prestes a se manifestar, traria consigo as bênçãos do Paraíso; o Grande Dia do Julgamento iria testemunhar a ruína dos ímpios e a vindicação dos justos; a Nova Era estava na iminência de surgir, o Reino de Deus estava às portas! Não é absolutamente surpreendente, então, que tais ensinos tenham sido muito bem reputados na igreja cristã, porque essa era seguramente uma antevisão do triunfo daquele mesmo reino no qual os próprios cristãos acreditavam. Apenas quando arrefeceu a expectativa dos cristãos na vinda de Cristo em seus dias, esses livros e seus similares cristãos perderam o prestígio, embora vez por outra, no curso da história, a igreja tenha-se voltado para a mensagem que os apocalípticos proclamaram, a fim de renovar sua inspiração e encorajamento.

É possível traçar padrões e esquemas nos pensamentos desses escritores, mas o leitor não deve esperar encontrar rigorosa consistência ou apresentação lógica nas idéias e crenças, expressas nessa literatura. Como o Dr. F. C. Burkitt observa:


“O principal perigo agora é requerer um padrão muito rígido de consistência e racionalidade dos escritores, para os quais consistência e racionalidade eram considerações totalmente secundárias. Consistência e racionalidade pertencem ao passado e ao curso dos eventos neste mundo: a parte dos apocalípticos é estimular seus companheiros por meio de esboços do futuro. E um futuro em que tudo é coerente... o coração do homem ainda não concebeu”.


Fonte: Between the Testaments: From Malachi to Matthew, de Richard Neitzel Holzapfel.

Veja outros estudos bíblicos relacionados:

Cf. Literatura Não-canônica
Cf. O Cânon do Velho Testamento
Cf. As Escrituras na Dispersão