EUCHARISTIA “Ações de Graça” — DTNT

GREGO, PALAVRAS, EUCHARISTIA, TEOLOGIA, NOVO, TESTAMENTO
ευχαριστια (eucharistia), “ações de graça”; ευχαριστεω (eucharisteo), “ser grato”, “agradecer”; ευχαριστος (eucharistos), “agradecido”

CL O sub. deriva-se da raiz chair-char-, cujas palavras principais expressam o sentimentode —> alegria; é um derivado de charis (tudo acerca do qual se regozija;—> Graça), com posto com eu, “bem”, “corretamente”, “apropriadamente”,”muito” (adv.). Significa: (a) atitude de gratidão; (b) sua expressão ao mostrar gratidão, expressão de gratidão, ações de graças (de Hipócrates, século V a.C. em diante). O adj. eucharistos é igualmente antigo, e significa (a) “agradável”, “bem-intencionado”, “espirituoso”, (b) “agradecido”. O vb. eucharisteo se acha com o significado: (a) “ser grato”, “dever gratidão”, de Dem., século IV a.C. em diante; (b) “dar graças”, de Políb., século II a.C. em diante. Naturalmente, estas palavras também se acham frequentemente em inscrições.

AT. Este grupo de palavras se representa uma só vez nos livros canônicos do AT, viz. Pv 11:16, onde o adj. traduz o Heb. hen (que geralmente é traduzido de outras maneiras), “encantador”, “gracioso”, “de bons modos”. Nos livros apócrifos da LXX, o verbo se acha 6 vezes (kid. 8:25; Sab. 18:2; 2 Mac. 1:11; 10:7; 12:31; 3 Mac. 7:16), o sub. 4 vezes (Et 8:13; Sab. 16:28; Sir. 37:11; 2 Mac. 2:27). Ambos se empregam para agradecimentos do homem para o homem e do homem para Deus.

1. Em 2 Mac. 12:31, os macabeus agradecem a certos pagãos pela gentileza que de monstraram aos judeus que viviam em Citopólis. Em Ad. Est. 16:4, certos oficiais recusam a gratidão que devem ao seu benfeitor, o rei da Pérsia. Em Sir. 37:11, a experiência mostra que não se deve consultar com um homem mesquinho a respeito da gratidão. O escritor de 2 Mac. diz que tomou sobre si a tarefa de avaliar suas fontes “a fim de obter a gratidão de Muitos” (2:27 v.1.: “para o benefício de leitores em geral”, NEB).

2. Razões para a gratidão a Deus são: a salvação da opressão pelos inimigos e da perseguição (2 Mac. 1:11; 3 Mac. 7:16), a vitória ganha (2 Mac. 10:7 v. 1. RSV), bem como o ser submetido à provação, que é bem-vinda e aceita como oportunidade para Deus desenvolver a sua salvação na preservação (Jud. 8:25). Sab. 18:2 registra a gratidão dos santos por terem sido preservados da culpa para com aqueles que os maltratam (RSV, NEB, porém, a entende como gratidão dos seus inimigos pela tolerância deles). Sab. 16:28 aconselha os homens a começarem o dia, antes da aurora, com ações de graças. Não há, portanto, nenhuma indicação de que a palavra recebesse do AT qualquer colorido teológico específico.

NT. No NT, as palavras se empregam principalmente por Paulo (o vb. 24 vezes; o sub. 12 vezes). Somente o vb. se acha nos Evangelhos, 11 vezes; Atos tem o vb. duas vezes, e o sub. uma vez; Ap tem o vb. uma vez, o sub. duas vezes. As Epistolas Gerais não empregam as palavras nenhuma vez. O adj. se acha somente em Cl 3:15.

1. eucharisteo e eucharistia se reservam quase exclusivamente no NT para ações de graças dirigidas a Deus. Somente 3 vezes (Lc 17:16; At 24:3; Rm 16:4) é que se empregam para agradecimentos dirigidos a homens, mas o primeiro exemplo e o último devem ser entendidos no contexto da ação espiritual, enquanto temos, em At 24:3, um exemplo de discurso judaico respeitoso.

2. Estas palavras são muito comuns nas introduções das Epistolas de Paulo. Seja qual for a admoestação e crítica que possa se seguir, o apóstolo frequentemente escreve na sua saudação introdutória a sua gratidão a Deus por aqueles aos quais escreve; pela fé deles e a influência que esta tem “em todo o mundo” (Itrn 1:8, notam-se os agradecimentos por meio de Jesus Cristo; cf. também 2 Co 1:11); pela harmonia entre a fé e o amor em ação (Ef 1:15-16; Cl 1:34; 1 Ts 1:3, aqui porque ambos os dons estavam crescendo; Fm 4-5); pela graça concedida à igreja (1 Co 1:4); pela participação no evangelho (Fp 1:5); pela obra divina de eleição (2 Ts 2:13); pela firmeza na esperança (1 Is 1:2-3). Devemos notar que Paulo não empregava um formulário padronizado; pelo contrário, moldava suas ações de graças para introduzir o tema da sua carta.

3. Quando Paulo conclamava seus leitores as ações de graças, no meio da sua exortação, normalmente empregava o substantivo. O termo sempre se emprega de modo absoluto, o que destaca as ações de graças e a demonstração de gratidão como elementos básicos e duradouro da vida cristã. Este aspecto fica explícito em Ef 5:20 (“dando graças em nome do nosso Senhor Jesus Cristo”); Cl 3:17; 1 Ts 5:18; Cl 3:15 (o adj.). Não se pode fazer qualquer petição e intercessão sem simultaneamente dar ações de graças (Fp 4:6; Cl 2:7; 1 Tm 2:1). Uma vida baseada em ações de graças (Ef 5:4) é o inverso de uma vida má.

4. O vb. se acha em Mt 15:36 par. Mc 8:6; At 27:35; Rm 14:6; 1 Co 10:30; e o sub. em 1 Tm 4:3 (o sentimento geral de gratidão se deve excluir nos últimos 3) no sentido técnico de bênção antes de uma refeição, segundo o costume judaico, começando com as palavras: “Bendito és Tu, SENHOR [i.e, Javé], nosso Deus, Rei do universo...” (cf. SB I 685 ff.). O vb. também se acha na instituição da Ceia do Senhor, com o pão e com o vinho em Lc 22:17, 19, e somente com o pão em 1 Co 11:24 (mas v. 25, “do mesmo modo” o subentende para o vinho), com o vinho somente, em Mc 14:23; Mt 26:27 (mas o emprego em “abençoou” com o pão é um equivalente; Abençoar). Desta forma, durante o século II d.C., eucharistia veio a ser o nome geral para a totalidade do culto da Ceia do Senhor, conforme se pode ver na pequena variação textual, eucharistias ao invés de eulogias, em 1 Co 10:16. Temos orações de ações de graças citadas em Lc 18:11-12 (o fariseu satisfeito consigo mesmo) e em Jo 11:4142 (Jesus no túmulo de Lázaro). O termo se emprega de modo absoluto em 1 Co 14:16-17 para uma oração de agradecimento em língua estranha.

5. Paulo, além das introduções em suas Epístolas (ver supra, 2) frequentemente menciona o louvor por dons gerais e específicos da graça, pelo aumento da graça (2 Co 4:15), pela participação “na herança dos santos na luz” (Cl 1:12), pelo recebimento da palavra pregada pelos homens como sendo a palavra de Deus (1 Ts 2:13), pelo dom de línguas (1 Co 14:18). Apesar de tudo isto, há em 1 Co 14:18 (cf. 1:14) uma nota de depreciação, quando ele fala acerca das suas ações de graça, para canalizar o interesse dos seus leitores para a verdadeira edificação e unidade da igreja. A coleta recebida despertaria as ações de graças a Deus, entre aqueles que a recebiam (2 Co 9:11-12).

6. 1 Ts 3:9-10 mostra que Paulo planeja pôr em prática as ações de graças. Sobre 2 Ts 13, ver R. D. Aus, “The Liturgical Background of the Necessity and Propriety of Giving Thanks According to 2 Thes. 1:3”, JBL 92, 1973, 432-38. A falta de qualquer atividade desta natureza demonstra quão inadequado é o conhecimento de Deus entre os pagãos (Rm 1:21).

7. Tanto o sub. como o vb. podem significar as ações de graças contidas nas doxologias dos hinos apocalípticos (Ap 4:9; 7:12; 11:17).


REFERÊNCIAS

R. D. Aus, “The Liturgical Background of the Necessity and Propriety of Giving Thanks according to 2 Thes: 1:3”, JBL 92, 1973, 432-38; G. H. Boobyer, “Thanksgiving” and the “Glory of God” in Paul, 1929; H. Corizelmann, eucharisteó etc., TDNT IX 407-15; J. Jeremias, The Eucharistic Words of Jesus, 19662 ; and The Prayers of Jesus, SBT Second Series 6, 1967; B. A. Mastin, “Jesus said Grace”, SJT 24, 1971, 449-56; H. Schlier. aimamos, TDNT I 177 f.; P. Schubert, Form and Function of the Pauline Thanksgivings, BZNW 20, 1939; A. St6ger, “Thanksgiving”, EBT III 906-10; G. P. Wiles, Paul's Intercessory Prayers: The Significance of the Intercessory Prayer Passages in the Letters of St Paul, Society for New Testament Studies Monograph Series 24, 1974.