Interpretação de Mateus 4

Mateus 4

Mateus 4 continua a narrativa do Evangelho de Mateus, seguindo os eventos imediatamente após o batismo de Jesus. Este capítulo enfoca a tentação de Jesus no deserto, o início de Seu ministério na Galileia e o chamado de Seus primeiros discípulos.

Depois de ser batizado por João, Jesus é levado pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo. Durante esse período de jejum e solidão, Satanás tentou Jesus três vezes, tentando explorar Sua fome física, orgulho e desejo de poder. No entanto, Jesus resiste a cada tentação confiando na Palavra de Deus, demonstrando Sua obediência inabalável e compromisso com a vontade do Pai.

Vencidas as tentações, Jesus volta para a Galileia, onde inicia Seu ministério público pregando a mensagem do arrependimento e da chegada do Reino dos Céus. Ele proclama: "Arrependam-se, pois o reino dos céus está próximo", convidando as pessoas a abandonar seus pecados e abraçar um novo modo de vida por meio da fé Nele.

Enquanto Jesus viajava pela Galileia, Ele realiza várias curas milagrosas, demonstrando Seu poder divino e compaixão pelos necessitados. Sua fama se espalha e grandes multidões de diferentes regiões se reúnem para vê-lo e ouvi-lo.

No meio de Seu ministério, Jesus chama Seus primeiros discípulos, Simão Pedro, André, Tiago e João, que eram pescadores profissionais. Ele os convida a se tornarem pescadores de homens, significando seu novo papel na divulgação da mensagem do Reino de Deus e levando as pessoas a um relacionamento transformador com Ele.

O capítulo termina com um resumo do ministério de Jesus, descrevendo Seu ensino, pregação e atividades de cura em várias regiões da Galileia, alcançando judeus e gentios. Seu impacto sobre as pessoas é significativo, chamando a atenção de todas as esferas da vida.

Em termos gerais, Mateus 4 retrata o triunfo de Jesus sobre a tentação, o início de Seu ministério na Galileia e o chamado de Seus primeiros discípulos. Este capítulo destaca a autoridade divina de Jesus, a compaixão e o cumprimento de Seu papel como o Messias, ao proclamar o Reino dos Céus e chamar as pessoas ao arrependimento e à fé Nele.

Interpretação

4:1-11 O sentido mais óbvio desta passagem, com suas paralelos, é que foi uma experiência realmente histórica. Os pontos de vista que negam isto não diminuem as dificuldades de interpretação. Os diversos testes foram dirigidos contra a natureza humana de Jesus, e ele resistiu nesse reino. Entretanto, a perfeita união das naturezas divina e humana na sua pessoa fizeram que o resultado fosse esse, pois Deus não peca nunca. Mas isso não diminuiu de maneira nenhuma a força do ataque.

4:1. Foi Jesus levado pelo Espírito. Uma indicação da submissão (voluntária) de Cristo ao Espírito durante o seu ministério terreno. Para ser tentado. Uma palavra significando tentar ou experimentar, às vezes, como neste caso, um engodo para o mal. O Espírito conduziu Jesus para que esse teste fosse realizado. O diabo. O nome significa caluniador, e indica uma das características de Satanás, grande oponente de Deus e do povo de Deus.

4:2. Quarenta dias e quarenta noites. As três provas registradas aqui seguiram-se a este período de tempo, mas outras tentações ocorreram através do período (Lc. 4:2).

4:3, 4. Se és Filho de Deus não implica necessariamente uma dúvida da parte de Satanás, mas antes cria a base para a sua sugestão. A sutileza da prova está evidente, pois nem o pão nem a fome são pecados em si. Não só de pão viverá o homem (Dt. 8:3) foi a resposta escriturística de Cristo. Até mesmo Israel vagando no deserto ficou sabendo que a fonte do pão (isto é, Deus) era mais importante do que o próprio pão. Jesus recusou-se a operar um milagre com a finalidade de fugir ao sofrimento pessoal quando esse sofrimento fazia parte da vontade de Deus para ele.

Mateus 4:3-4

A Primeira Tentação

A primeira tentação do inimigo está no terreno das necessidades corporais. A fome é uma necessidade corporal. O diabo propõe que o Senhor satisfaça Suas necessidades corporais usando o poder que possui para fazer pão com pedras. É um pensamento impressionante ver que o Senhor Jesus realmente precisa de algo que Ele poderia prover para Si mesmo com o poder que possui. Aqui novamente vemos o mistério insondável de Sua Pessoa que Ele é completamente Homem e também verdadeiramente Deus.

Não é pecado ter fome, nem é pecado comer, nem é pecado o Senhor usar Seu poder. Mas Ele é o Homem dependente. Seria um pecado para Ele se Ele fornecesse Sua comida sem que Deus o tivesse dito. A tentação aqui é realizar um ato independente de Deus. O mundo tem sido governado desde a queda por atos dessa natureza. Eles provam que o homem que perde Deus se torna um egoísta, alguém que só pensa em si mesmo.

Com as palavras “se Tu és o Filho de Deus”, o diabo desafia-o a prová-lo, ordenando que as pedras se transformem em pães. Mas Seu Pai não lhe disse para fazer isso. Portanto, Ele não o faz. Isso também se aplica a nós. Se não temos uma instrução clara de Deus para fazer algo, devemos sempre esperar que Ele nos dê. A fé, a confiança, prova-se esperando que Deus revele Sua vontade.

O Senhor tomou o lugar de um servo, e esse não é o lugar para comandar. Pessoalmente Ele tem o poder de fazer pão das pedras. Nós não temos esse poder. No entanto, também podemos fazer pão da pedra no sentido espiritual. Fazemos isso quando usamos as coisas bonitas e atraentes no deserto do mundo para satisfazer nossas necessidades. Isso levanta a questão: com que enchemos nossa mente, com que comida?

O Senhor não quer usar Seu poder para Si mesmo, independente de Deus. É uma característica constante da obra do Espírito Santo nos filhos de Deus que eles não usem poderes milagrosos para si mesmos ou para seus amigos. Paulo não usou esse poder para si mesmo ou para seus colegas de trabalho.

O poder das ações do Senhor está na Palavra de Deus. Com isso Ele responde ao diabo, sem entrar em discussão com ele. Em Sua resposta, Ele mostra que a verdadeira vida só pode ser encontrada no que Deus disse (Dt 8:3). Se nos concentrarmos nisso, seremos preservados de agir em nosso próprio poder e dos atos danosos que daí resultam.
4:5-7. A segunda tentação aconteceu no pináculo, ou aba do Templo em Jerusalém, talvez o alpendre que se elevava sobre o vale do Cedrom. Satanás usou as Escrituras (Sl. 91:11, 12) para que Cristo provasse Sua declaração de que Ele vivia de toda palavra que saía da boca de Deus. Também está escrito apontava para a totalidade das Escrituras como guia de conduta e alicerce da fé. Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt. 6:16; compare com Êx. 17:1-7). Tal atitude presunçosa de colocar Deus à prova não é fé mas dúvida, como a experiência de Israel comprovou.

4:8-11. Um monte muito alto é literal, mas sua localização é desconhecida. Por meio de algum ato sobrenatural, Satanás mostrou a Cristo todos os reinos do mundo. Tudo isto te darei indica que Satanás tem algo a conceder; caso contrário a prova não teria valor. Como o deus deste mundo (II Co. 4:4) e príncipe das potestades do ar (Ef. 2:2), Satanás exerce controle sobre os reinos da terra ainda que na qualidade de usurpador e dentro de certos limites. Ele ofereceu este controle a Jesus em troca de adoração, e com isto ofereceu a Cristo aquilo que consequentemente será dEle de maneira muito mais gloriosa (Ap. 11:15).

A ligação entre adorar e servir na resposta de Jesus (de Dt. 6:13) é significativa, pois uma envolve a outra. Para Cristo inclinar-se diante de Satanás seria reconhecer o senhorio do diabo. Uma oferta dessas mereceu uma réplica direta de Cristo. A declaração de Mateus, com isso o diabo o deixou, mostra que a sua ordem das tentações é cronológica (contraste com Lc. 4:1-13). Jesus repeliu o mais poderoso ataque de Satanás não com um raio dos céus, mas com a Palavra de Deus escrita empregada na sabedoria do Espírito Santo, um meio à disposição de cada cristão.

4:12-25:46 A análise de Mateus do ministério de Cristo foi baseada sobre quatro áreas geográficas facilmente notáveis: Galileia (4:12), Pereia (19:1), Judeia (20:17) e Jerusalém (21:1). Como os outros sinóticos ele omite o anterior ministério na Judeia, que ocorre cronologicamente entre 4:11 e 4:12 (confira com Jo. 14). Talvez Mateus comece com Cafarnaum, na Galileia, porque foi o lugar de sua própria associação com Cristo (9:9)

4:12. Ouvindo porém Jesus. O aprisionamento de João, com a resultante publicidade, tornou a retirada de Cristo uma necessidade prática para o interesse de seu trabalho.

4:13. Deixando Nazaré. Lucas 4:16-31 mostra que o motivo da retirada para Cafarnaum foi a tentativa do assassinato de Cristo depois de um culto na sinagoga. Cafarnaum tornou-se o lar de Jesus pelo resto do seu ministério.

4:14-16 Para que se cumprisse refere-se a Is. 9:1, 2, de onde os termos geográficos foram com particular liberdade transcritos. Além do Jordão, uma frase um tanto enigmática aqui, mas compreendida de preferência como sendo a Pereia, a qual, com a Galileia, formavam o setor limítrofe de Israel. Esta região, mais exposta a influências estrangeiras do que a Judeia, tinha uma população mista, e o estado espiritual do povo costumava ser baixo. A vinda da luz de Cristo em tal área de trevas espirituais foi profetizada pelo profeta e a sua profecia cumpria-se agora.

4:17. Arrependei-vos. A mesma mensagem que João pregou na Judeia estava sendo agora proclamada por Jesus na Galileia (cf. 3:2).

4:18-22. Jesus já tinha se encontrado com alguns desses homens, se não todos, na Judeia, quando João Batista ainda estava em atividade (Jo. 1:35-42). Agora, na Galileia, esse relacionamento foi renovado e tomou-se permanente (compare com Mc. 1:16-20; Lc. 5:1-11).

4:18-20. Mar da Galileia. Um lago no vale do Jordão a 680 pés abaixo do nível do mar, com 7 milhas de largura, 14 milhas de comprimento, abundando em peixes, e sujeito a tempestades súbitas. Simão lançava a rede com seu irmão André, que o apresentara a Jesus há alguns meses atrás (Jo. 1:40,41). O convite, Vinde após mim, chamava esses crentes para a companhia constante de Jesus. Os planos de Cristo para eles exigiam um treinamento que os prepararia para recuperar homens perdidos. imediatamente. A prontidão revela o grande impacto de seu encontro anterior.

4:21, 22 Tiago e João, outro par de irmãos, eram sócios de Simão e André (Lc. 5:10). Consertando as redes./ Mateus e Marcos concordam sobre este fato, mas parece que Lucas difere. Em lugar de aceitar dois incidentes, parece-lhe mais razoável harmonizar os acontecimentos de algum modo, tal como faz S.J. Andrews (The Life of Our Lord upon the Earth, pág. 247, 248). É mais provável que os homens estivessem ocupados em lançar redes e remendá-las quando Cristo se aproximou da primeira vez. Então nosso Senhor usou o barco de Simão, produziu a pesca maravilhosa e chamou Simão e André para segui-lo. Depois de retornar à praia, Tiago e João começaram a consertar a rede rasgada e, então, Jesus também os chamou para segui-lo.

4:23-25 Estes versículos dão um sumário dos acontecimentos expostos nos capítulos seguintes. O ministério de Cristo durante aqueles dias envolveu instrução (didaskõn), proclamação (kêrussõn) e cura (therapeuõn).

4:23, 24. Sinagogas. Recintos locais para adoração e instrução religiosa. Para exemplo da pregação de Jesus em sinagoga, veja Lc. 4:16-30. Evangelho do reino eram as boas novas proclamadas por Jesus que o rei messiânico já chegara para estabelecer o reino prometido. Acompanhando esta proclamação havia os milagres de cura preditos em relação ao reino e, assim, as credenciais do rei (Is. 35:4-6; Mt. 11:2-6). Síria. Aqui é uma referência à região que se dirige para o norte. Os endemoninhados. As Escrituras fazem aqui uma clara distinção entre a possessão demoníaca e a enfermidade física comum.

4:25 Além daqueles que vinham para serem curados, outros o seguiam, vindos de longe, sem esta motivação. Decápolis. Uma federação de dez cidades gregas independentes sob a proteção da Síria, à leste da Galileia. Dalém do Jordão. A região do leste conhecida por Pereia. Assim, toda a Palestina, e as áreas adjacentes, tiveram a influência deste ministério.

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