Teologia de Lamentações 2
Teologia de Lamentações 2
Por David W. Smith
O segundo acróstico reforça a ação de Deus contra Israel. Agora Yahweh não é retratado como tendo abandonado a nação. Antes, o Senhor tornou-se um inimigo determinado de Jerusalém (2.4,5). Deus retirou sua proteção da cidade (2.3), a proteção que salvou Sião no tempo de Ezequias e Isaías (2Rs 18 e 19), uma ausência que resultou na destruição do templo, portões e muros de Jerusalém (2.6-9). As festas religiosas, as visões proféticas e o ensinamento da Lei, tudo cessou (2.6,9,10). Uma tristeza inconsolável resultou desses revezes (2.11-13). A confissão do pecado e a súplica a Yahweh são oferecidos na esperança de aliviar a culpa e a miséria (2.14-22). Esse canto fúnebre não deixa dúvida sobre o motivo da calamidade. Na linguagem rememorativa de Jeremias (Jr 2.8; 5.12,13; 6.13-15; 23.13- 20), o texto proclama que os profetas são parcialmente culpados, pois proferiram mentiras (2.14). Gottwald observa: “Todos os terríveis julgamentos poderiam ter sido evitados caso os líderes de confiança tivessem sido fiéis aos seus chamados e o povo pecador ouvido, então, seus conselhos”.
Cari Friedrich Keil complementa que o fracasso dos profetas em pregar o arrependimento impediu Israel de livrar-se da miséria auto-induzida, de renovar sua relação com Deus e evitar o exílio. Yahweh inseriu nesse vácuo profético a “sua palavra, que há muito havia decretado” (2.17). A partir de Deuteronômio 27 e 28 em diante, Deus promete a punição pela infidelidade à aliança. A promessa de julgamento se tornara verdade, pois a palavra de Deus, que conduz a história tão seguramente quanto conduziu a criação, não pode falhar. Os falsos profetas de Israel oraram com negligência contra o pecado, o que fez com que Deus prometesse a devastação, e a palavra de Deus se provou infalível. Do mesmo modo que Lamentações 1, Lamentações 2 concorda com a perspectiva teológica geral encontrada em Deuteronômio, nos Profetas Anteriores, em Jeremias, Ezequiel, Naum, Habacuque e Sofonias. O texto é deuteronômico ao afirmar que o pecado de Israel levou à perda da terra (Dt 27 e 28; 2Rs 17; Jr 34—39). Também defende que a palavra de Deus dita o fluxo da história, um tema encontrado ao longo de Reis e Ezequiel. Todos esses livros consideram a vitória babilónica trágica na medida em que poderia ser evitada.