Teologia de Lamentações 5
Teologia de Lamentações 5
Por David W. Smith
Ao contrário dos primeiros quatro capítulos, Lamentações 5 não apresenta
um poema acróstico. Ele tem vinte e dois versos, mas não está em forma alfabética.
Além disso, essa passagem é claramente um lamento da comunidade, considerando
que os textos anteriores têm um tom individual. O povo eleva seu clamor por
ajuda, uma prática que torna possível para Deus deixar de ser seu inimigo e
restabelecer os dispersos na Terra Prometida. Yahweh pode reverter suas
difíceis condições e encerrar sua humilhação (5.1-18). Como em Lamentações 3,
as esperanças renovadas nesse momento estão arraigadas no caráter de Deus.
Agora o povo confessa o Senhor de natureza infinita (5.19-22). Os israelitas
sabem que a restauração não ocorrerá num instante, assim sua oportunidade para
renovação e a reconstrução repousa num Deus que transcende o tempo. Só um
Deus, cujo reino não é dependente de circunstâncias materiais e sua natureza
não é limitada pelo tempo, pode dar aos que nada têm, e ainda são finitos,
algum sentimento de alívio. Esses seguidores percebem que, a não ser que o
Senhor os restaure, nunca voltarão das cinzas (5.21). Se Deus os abandonar para
sempre, eles não terão nenhuma esperança. Mas, a presença desse livro no cânon
e sua compreensão do caráter de Deus indicam que eles foram ouvidos. Yahweh não
pode julgar o penitente, pois não é de sua natureza fazê-lo. Deus não seria
Deus se o pecado não fosse castigado, mas também não o seria caso o perdão não
fosse concedido.
Vários salmos vinculam a libertação com a natureza eterna de
Yahweh. Salmos 9.6-10 declara que, no final, o definitivo Senhor julgará o
ímpio. Salmos 93.1-5 e Salmos 103.19
destacam que a eternidade de Deus torna Yahweh o Senhor da história, enquanto
Salmos 102.12,13 indica que a clemência do Deus eterno nunca pode morrer. Ao
mesmo tempo, os seguidores que descobrem a soberania e a eternidade de Deus
perguntam ao Deus da história “até quando” devem sofrer (SI 13.1), por que eles
foram abandonados (SI 22.1) e quando a ira de Deus diminuirá (Sl 79.5).19 Assim,
o procedimento de Yahweh apresenta ao mesmo tempo dificuldades e possibilidades
de sofrimento, mas a confissão dos que se lamentam revela que eles oram ao Deus
cujo caráter não permitirá que seus honestos argumentos sejam ignorados. Conclusão
Como em Jó, nos lamentos de Salmos e em outros textos de sofrimento, o livro
das Lamentações oferece a forma pura da fé de monoteísta. Se existe realmente
um momento em que os crentes poderiam buscar outra divindade, seria o tempo em
que a vida não fosse a desejada. Se os outros deuses pudessem ajudar,
seguramente se clamaria por eles. Em todos esses textos, porém, os seguidores
revelam que não têm para onde se voltar. Eles não têm nenhum outro deus para
buscar; nenhum outro deus a quem possam orar; nenhum outro deus com quem
consigam se relacionar.
Sua confissão nas horas mais sombrias declara que
Yahweh é Deus e não há nenhum outro. Sua fé obstinada é que o Deus eterno é
fiel, e a esperança que os dirige repousa na certeza de que o Deus que pune é
também o Deus que perdoa, restabelece e resgata. Lamentações, além disso,
posiciona-se na última parte dos Escritos, já em direção ao exílio. Cada livro
seguinte está posto no exílio ou tenta superá-lo e construir um novo futuro
para o povo de Deus. Lamentações expressam porque Jerusalém caiu e aponta o
caminho para um retorno a Yahweh e uma volta à pátria. Resta saber de que
maneira essa visão do retorno plenamente se concretizará. Os apelos
desesperados do remanescente de Jerusalém foram aqui expressos, e o terror
experimentado pelo remanescente exilado será em breve descrito nos livros de
Ester e Daniel