Lamentações 3 — Comentário Teológico
Lamentações 3
Lamentações 3
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Jó
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Vs. 1
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Jó 9.34
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Vs. 2
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Jó 19.8
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Vs. 3
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Jó 7.18
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Vs. 4
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7.5; 30.30
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Vs. 5
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Jó
19.6,12
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Vs. 6
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Jó
23.16,17
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Vs. 7
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Jó 19.8
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Vs. 8
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Jó 30.20
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Vs. 9
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Jó 19.8
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Vss. 10 e 11
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Jó 16.9
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Vss. 12 e 13
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Jó
16.12,13
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Vs. 14
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Jó 30.9
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Vs. 15
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Jó 9.18
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Vss. 16-18
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Jó
19.10; 30.19
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3.1 Eu sou o homem que viu a aflição. O profeta, tomando
lugar ao lado do povo, era um colega sofredor e tinha visto as mesmas desgraças
e sentido as mesmas dores que eles. Ele é outro Jó, conforme demonstra
o gráfico anterior. A vara de Yahweh lhe foi aplicada, atingindo-o
com muitos e severos golpes, e ele sangrava, debilitado. Ele levantou a
voz para expressar sua miséria, que era também a de Jerusalém, devastada pelo
exército babilônico. Os primeiros clamores eram contra Deus, que fizera
tais coisas, seguindo as linhas dos queixumes de Jó. Os vss. 21 ss. tèm
uma diferença marcante de tom: o aflito tornou-se humilde e reconheceu
que aquilo que ele tinha sofrido era justo, e isso em contraste com
Jó, que manteve sua inocência até o fim. “Em uma longa lista de metáforas,
Jeremias enumerou as muitas aflições que ele, na qualidade de
representante de Judá, tinha sofrido da parte da ira de Deus (cf.
Lam. 2.2,4; 4.11). Ele se sentiu confuso ao observar que Deus
aparentemente reverteu suas atitudes e atos passados” (Charles H. Dyer, in
loc.). Cf, Isa. 10.5, onde a Assíria é chamada de vara da ira de
Yahweh.
3.2 Ele me levou e me fez andar. O homem pobre foi levado
para um lugar totalmente destituído de luz. Ali, em meio às densas trevas, foi
brutalmente espancado pela vara da ira de Deus, e não compreendeu o porquê. Cf.
este versículo com Jó 9,34 ; 19.8. Há muitos paralelos com aquele livro,
conforme demonstro no gráfico na introdução a este capítulo. “Trevas” aqui
significam os sofrimentos e a falta de compreensão ou esperança. Ajax
(Homero, ilíada xvii.647) disse: “Mata-me, se é teu dever, mas mata-me à
luz”. O vs. 6 deste mesmo capítulo traz de volta a metáfora das trevas. “Nos
escritos sagrados, as trevas com frequência representam a calamidade,
ao passo que a luz representa a prosperidade” (Adam Clarke, in loc.).
Cf. este versículo com Sal. 97.11; 112.4.
3.3 Deveras ele volveu contra mim a sua mão. A mão
divina voltou-se contra o homem, aplicando-lhe repetidos golpes, dia após
dia. Entrementes, o homem espancado não sabia por que Deus estava tão
irado com ele. A mão divina oferece bênçãos e maldições, dependendo do que
cada indivíduo merece. Ver sobre mão, em Sal. 81.14; e sobre mão
direita, em Sal. 20.6. Ver sobre braço, como o poder divino em
ação, em Sal 77.15; 89.10; 98.1. “A mão de Deus, antes favorável,
tornou-se um punho de adversidade” (Charles H. Dyer, in loc.). Diz
o hebraico original aqui, literalmente: “ele volveu, ele volveu”, que
forma uma expressão ímpar, usada somente aqui em todo o Antigo Testamento,
mas a ideia da mão golpeadora de Deus é bastante comum. Cf. este versículo com
Jó 7.18.
Por muitas vezes palmilhamos a vereda diante de nós
Com um coração cansado, ardente.
Com frequência labutamos em meio a sombras,
Todo o nosso labor renderá dividendos,
Quando as sombras se tiverem dissipado E as névoas
tiverem desaparecido.
(Annie Herbert)
3.4 Fez envelhecer a minha carne e a minha pele. Punições divinamente aplicadas tinham piorado muito a
saúde do profeta. Cf. Sal. 38.2,3. Cf. este versículo com Jó 7.5 ;
30.30. Ver o gráfico na introdução ao capítulo 3 quanto aos
muitos paralelos entre Jó e este capítulo. A pele e a carne do
homem tinham envelhecido, e seus ossos estavam quebrados, figuradamente.
Ver sobre ossos, em Sal, 102.3. Talvez os termos pele, carne
e ossos representem o ser inteiro, e não apenas o corpo. É fácil observar
como crises profundas podem envelhecer rapidamente uma pessoa.
3.5 Edificou contra mim. O pobre homem foi cercado e assediado tal e qual acontecera
a Jerusalém. Mas seus assediadores e o exército que franzia a testa contra
ele eram a amargura e a tribulação, ambos acontecimentos funestos.
Veneno. Algumas traduções dizem aqui “fel”, outras falam em “amargor”. Está em
foco alguma erva amargosa, citada figuradamente para indicar situações e
acontecimentos que azedam a vida das pessoas. Cf. este versículo com Jó
19,6,12. “O sentido é que ele estava cercado por tristezas e aflições tão
desagradáveis quanto as ervas mais amargas e venenosas” (John Gill, in
loc.). Cf. Jer. 8.14. “O ataque da tristeza é apresentado sob a figura
de um assédio militar” (Ellicott, in loc.). Da mesma maneira que
Jerusalém não pôde escapar de seu assédio, o profeta pôde escapar do
seu. Ver os vss. 7 e 9.
3.6 Fez-me habitar em lugares tenebrosos. Cf. o vs. 2, onde o homem é conduzido a
lugares tenebrosos. Isso é aqui definido como um presságio
de morte, visto que aqueles que morrem há muito tempo estão em um lugar
escuro. A referência pode ser ao sheol. Nas Escrituras, esse lugar
usualmente é apenas a morte ou o sepulcro, ou seja, onde os homens são
sepultados. Mas, de outras vezes, está em vista alguma espécie de vida
pós-túmulo. Essa doutrina passou por uma transição, tal como sucedeu à doutrina
do hades, no Novo Testamento. Quanto a versículos que parecem
levar-nos além da mera ideia de sepulcro, ver Sal. 88.10; 139.8; Pro.
5.5; Isa. 14.9; 29.4. Noas livros pseudepígrafos e apócrifos, temos novos
avanços da ideia. Parte do sheol destinava-se aos ímpios, e outra
parte era devotada aos justos. Em I Enoque, foram acesas as chamas do
inferno pela primeira vez, e essa ideia passou para algumas passagens do
Novo Testamento. Ver o detalhado artigo sobre o Hades, no Novo
Testamento Interpretado. O vs. 6 é uma citação direta de Sal.
143.3, com leve mudança na ordem das palavras, adaptando o trecho ao
estilo acróstico do profeta. Quanto aos poemas acrósticos, ver a
introdução a Sal, 34. Provavelmente nada diz respeito ao sheol. Está em
vista o sepulcro ou, talvez, esquecimento seja a ideia aqui apresentada.
Se o profeta estava pensando no sheol,
interpretava isso como outro nome para o sepulcro. O Targum fala sobre o
sepulcro, por meio do qual os homens vão para o outro mundo, e alguns
intérpretes modernos concordam com essa avaliação. Mas é difícil reconciliar
isso com a ideia de trevas, O profeta dificilmente poderia pensar
em ir para um lugar escuro por meio da morte, a menos que a doutrina de sheol
ainda estivesse nos primeiros estágios do desenvolvimento. Cf. Jó 23.16,17.
3.7 Cercou-me de um muro, já não posso sair.
Encontramos aqui um quadro sobre o cerco e a captura da vitima de um exército,
Mas o sujeito oculto (ele) é Yahweh como Sabaote, o Capitão
dos Exércitos que liderou o exército babilônico à vitória sobre Jerusalém.
As muralhas servem de proteção, mas algumas têm por objetivo conservar as
pessoas encerradas, como as paredes de uma prisão. O homem foi aprisionado
em sua miséria e não tinha como escapar. Ele foi capturado e preso com pesadas
correntes — sua liberdade acabou-se, e sofrimentos lhe foram adicionados —
uma das condições mais deploráveis que podem ocorrer a um homem. Cf. este
versículo com Jó 19.8.
Ele me encerrou, pelo que não pude sair.
Ele me prendeu com pesadas correntes.
(NCV)
Vss. 7-9. Jó 3.23; Osé. 2.6. Não foi visando a eterna
ruína que Israel foi encerrada, mas visando o seu bem, em última análise. A
aprisionada nação de Israel não podia continuar em suas veredas tortuosas
e tinha de voltar-se para Yahweh, finalmente. Foi assim que ela retornou a
seu “primeiro marido”, abandonando seus amantes (as práticas pagãs, os Ídolos
etc.).
3.8 Ainda quando clamo e grito. As orações do profeta deixaram
oe ser ouvidas e respondidas, uma das piores coisas que pode acontecer a um
homem espiritual. Essa é uma provação realmente difícil, quando a oração
não mais modifica as coisas. Portanto, o homem nessa situação fica sujeito
aos ataques do caos. Jó enfrentou a mesma calamidade, conforme lemos em Jó
30.20, Ver no Dicionário o artigo chamado Oração, quanto às vantagens
que os homens esperam alcançar da súplica a Deus. A oração é onde se
encontra a ação. Quando a oração para de funcionar, o homem bom fica
sujeito ao temor e à incerteza. Cf. este versículo com Sal. 22.2. Quanto à
aparente indiferença de Yahweh em relação aos homens, ver Sal.
10.1; 28.1; 59.4; 82.1 e 143.7. Esse é um dos temas principais dos
salmos de lamentação, que é a classe mais numerosa dos 18 tipos de salmos.
Quanto a essas classificações, ver o frontispício ao livro de Salmos, onde
apresento um gráfico que mostra os tipos de salmos e quais pertencem a
cada classificação.
Ensina-me a suportar as lutas da alma,
A enfrentar a dúvida que se ergue, o suspiro rebelde.
Ensina-me a paciência da oração sem resposta.
(George Croly)
3.9 Fechou os meus caminhos com pedras lavradas. A ideia do lugar fechado se
repete (ver o vs. 7), mas agora o agente encerrador são pedras lavradas,
um material mais forte do que aquele geralmente usado nas paredes
(tijolos), E, então, no lugar dos grilhões de bronze, temos aqui a nota de
que as veredas do pobre homem se tornaram tortuosas e levavam a lugares
para onde ele não queria ir, não lhe dando a liberdade de “escolher
o seu caminho”. É conforme diz o antigo hino: “Eu gostava de escolher e
ver meu caminho, mas agora lidera-me Tu” (John H. Newman). O homem
afligido foi forçado a seguir veredas tortuosas para a destruição, o que
ele jamais escolheria. Ele tinha perdido o poder da vontade e estava
seguindo um destino tristonho. A maciça parede de pedras não permitiria
que o homem avançasse, pelo que ele foi desviado para um labirinto cheio
de confusão e abismos. Cf. este versículo com Jó 19.8. Quanto aos
muitos paralelos entre este capítulo e o livro de Jó, ver o gráfico no começo
do capítulo.
3.10,11 Fez-se-me como urso à espreita. A aflição do homem é agora comparada a alguém que foi
emboscado e atacado por animais ferozes, como o urso ou o leão. Os
perigos que ele enfrenta podem ser temíveis, trazer tristeza, dor e,
finalmente, morte. Portanto, ele pode ser despedaçado e devorado por esses
animais. Na Palestina alguns animais bem grandes eram tão numerosos que
corriam selvagens e constantemente ameaçavam a vida humana, bem como os animais
domésticos. Cf. os vss. 10 e 11 com Jó 10.16; 16.9. O pobre homem que caiu na vereda
seguida pelo leão foi despedaçado (vs. 11). No entanto, foi Yahweh quem levou
a vítima à emboscada, fazendo-o ser apanhado pelo leão ou pelo
urso, porquanto é Deus quem intervém na história da humanidade e
controla os eventos, pessoais e nacionais, O leão é enviado para atacar
o pecador. Cf. estes dois versículos com Osé. 6.1 ; 13.8; Amós 5.19; Jer.
4,7; 5.6; 49.19 ; 50.44. O resultado dos ataques é a desolação, havendo
pesadas perdas.
3.12,13 Entesou o seu arco. Yahweh é o arqueiro especialista cujas flechas nunca erram o
alvo. As flechas infligem danos e dor, e também matam. Os vss, 12 e 13 são
similares a Jó 16.12,13. Ver também Jó 6.4 ; 7.20. O leão (vs. 10) sugere
o caçador, mas quando ele aparece em cena, como que para salvar a vítima,
o caçador torna-se outro atacante e completa a obra da destruição. Sua
aljava vive cheia de flechas mortíferas, e assim ele as atira rapidamente,
atravessando o coração do homem (vs, 13). A ponta das flechas de
Yahweh tinham sido mergulhada em veneno mortífero, pelo que elas eram
duplamente eficazes (Jó 6.4). “Os julgamentos de Deus são representados
por várias metáforas, como a espada, a fome, a pestilência, os animais
ferozes (Deu. 32.23,42; Eze. 5.16; 14.21) e as flechas (Sal. 38.2)” (John
Gill, in loc.).
3.14 Fui feito objeto de escárnio para todo o meu povo. Além de ser um alvo para as flechas divinas, o pobre
homem era objeto das zombarias do povo, ou seja, dos inimigos, dos amantes e
dos ex-aliados de Judá. Ver as zombarias dos escarnecedores em Jer. 20.7.
Cf. o versículo com Jó 30.9. Alguns estudiosos pensam que este versículo
tem um reflexo messiânico, por ser Ele o tema do cântico dos beberrões
(ver Sai. 69.12), mas essa interpretação por certo representa um exagero. O
terceiro capitulo do livro de Lamentações dificilmente e messiânico. O texto
massorético aqui diz: “lodo o meu povo”. Se esse é o texto correto, então
os judaitas são retratados como quem zombava das vítimas das punições
divinas. Alguns manuscritos massoréticos, além da versão siríaca, dizem “de
todos os povos”, mudando assim a direção das zombarias dos pagãos. Isso está
mais próximo da verdade do que aconteceu, mas a mudança pode ter sido
feita de propósito, para dar ao versículo essa ideia, visto que “meu povo”
parecia estar fora de lugar, Ver no Dicionário o artigo chamado Manuscritos
do Antigo Testamento, onde incluo material sobre como os textos corretos
são escolhidos quando aparecem variantes. Ver também, no Dicionário,
o verbete chamado Massora (Massorah): Texto Massorético. Alguns
destacam Jer. 20.7,8, que narra a perseguição de Jeremias por
seus conterrâneos de Anatote, e talvez seja isso o que esteja em vista
aqui. Como é claro, ele caiu presa de seu próprio rei, foi aprisionado e
sofreu terrores. Ver Jer. 37. Mas esses acontecimentos ocorreram antes do
cerco de Jerusalém por parte dos babilônios. Talvez o terceiro capítulo de
Lamentações ir mais longe que aqueles relacionados aos acontecimentos
finais.
3.15 Fartou-me de amarguras. O profeta ficou amargurado
por seus sofrimentos. O absinto era uma erva amarga como o fel.
Ver sobre ambas as coisas no Dicionário. Cf. Jer, 9.15 e Jó 9.18.
Ver também Lam. 1.4 e o vs. 5 deste capitulo. O profeta ficou amargurado
por punições extremamente severas, o que também aconteceu à dama,
Jerusalém. O povo comia e bebia das ervas amargas e venenosas de suas
refeições, e ia sendo encaminhado para a destruição. Cf. Êxo. 12.8 e Núm.
9.11. Ver Lam. 5.19. “... amargas aflições e calamidades, que o profeta e
o povo experimentavam” (John Gill, in loc.). E eles se embriagaram
com a bebida amarga (ver Isa. 51.17,21; Jer. 25.27).
3.16 Fez-me quebrar com pedrinhas de areia os meus
dentes. Mais e mais figuras são empregadas para expressar os severos
sofrimentos do profeta sofredor. Agora, mediante o poder de Yahweh, ele
foi forçado a mascar pedrinhas, como se só tivesse areia como alimento.
Ademais, foi “esmagado no pó”, pelo pé divino, que o pisava (NCV). Mas a
Revised Standard Version diz “cobrir de cinzas”. “Pisado aos pés, privado
de paz e prosperidade e, assim, levado ao desespero” (Charles H. Dyer, in
loc.). Ver Jó 19.10 e 30.19, que tem paralelo nos vss. 16-18.
“Que figura para expressar desgosto e dor, com a
consequente incapacidade de receber alimentos para sustentar a vida. Um homem,
em vez de pão, é forçado a comer pedrinhas, que ele se esforça por partir
com os dentes. Dificilmente alguém pode ler essa descrição sem sentir dor
de dentes... Então o homem vê-se coberto de cinzas — a ideia de morrer
sufocado... Dificilmente alguém pode ler isso sem sentir a respiração
embargada e os pulmões apertados! Por acaso alguém já conseguiu pintar
a tristeza como esse homem?” (Adam Clarke, in loc.). “Coberto de
cinzas, conforme costumava acontecer aos lamentadores... O Targum diz:
‘Ele me humilhou’. A Vulgata e a versão árabe dizem: ‘ele me alimentou
com cinzas', que leva avante a metáfora da alimentação” (John Gill, in
loc.).
3.17 Afastou a paz de minha alma. Coisas altamente valorizadas, como a paz e a
prosperidade, foram aniquiladas por todo aquele sofrimento. A alegria
desapareceu. A felicidade se acabou. A vida do homem não mais valia a pena ser
vivida. A expressão “minha alma” é simples substituto do pronome “eu”, O
profeta não estava falando sobre o bem-estar e o destino da alma imortal.
Antes, falava sobre o bem-estar físico que tinha sido roubado dele pelas
suas calamidades. O roubo duraria pelo resto de sua vida mortal. Os dias
bons tinham desaparecido. “Ele se tinha afastado tanto da paz e da
prosperidade que perdera toda a noção sobre essas coisas... Ele nunca
esperava vê-las de novo” (John Gill, in loc.).
3.18 Então disse eu: Já pereceu a minha glória. A vida
gloriosa tinha-se afastado do profeta. A alegria dada pela prosperidade
transformou-se em amargura. Sua força foi completamente debilitada. Ele perdeu
a esperança. Yahweh não era mais seu ajudador. De fato, tinha-se
tornado seu inimigo. A fonte de toda essa miséria era divina. O profeta
estava sendo punido por causa do pecado. A esperança é o apoio dos miseráveis,
mas quando ela se perde a morte é a atração para a qual os homens correm, “a
fim de dominá-la”. Cf. Sal. 31.22.
Vivo na esperança, e penso que assim fazem todos
aqueles que vêm a este mundo.
(Robert Bridges)
Ver no Dicionário o artigo chamado Esperança.
Ver Isa. 26.4; 45.24 e Jer. 14.8.
A Esperança do Profeta (Lm 3.19-40)
3.19 Lembra-te da minha aflição e do meu pranto. Yahweh é
aqui invocado para abandonar Sua indiferença, ouvir as orações do profeta e
correr em seu auxilio. Quanto à indiferença divina, ver Sal. 10.1;
28.1; 59.4; 82.1; 143,7. Embora em total desespero, o profeta levantou a
voz a Yahweh, o qual podia ajudá-lo se assim desejasse. Este versículo contém
tanto o fel (vs. 4) como o absinto (vs. 15), que
foram usados para simbolizar a amarga condição do profeta. Se Yahweh lembrasse
(notasse) sua condição, poderia usar Sua misericórdia para remediar a situação.
A condição do profeta era paralela às condições do povo, incluindo tanto
as aflições externas (vs. 19a; vss. 1-4) quanto a turbulência
interna (vs. 19b; vss. 5,13,15). Se o profeta fosse ouvido pelo ouvido
divino, outro tanto aconteceria ao povo. Cf. Lam. 1.7. O profeta prefaciou
sua esperança (e oração) invocando Yahweh a abandonar Sua esperança.
3.20,21 Minha alma continuamente os recorda. A miséria e o
sofrimento do homem (vs. 19) estavam sempre diante de seus olhos e de sua alma.
Essas durezas lhe tinham consumido a vida. De fato, tinham-se tornado a
sua vida, que não era mais digna de ser vivida. Lembrar essas coisas
servia somente para torná-lo mais triste e desanimado. Portanto, ele
levantou sua oração e suas esperanças, pois somente Yahweh agora poderia
ajudá-lo.
Desce até as profundezas das promessas de Deus,
As bênçãos nunca serão negadas.
Ele ama e se lembra de Seus filhos,
E todas as coisas boas são supridas.
(Sra. Frank A. Breck)
“Ele se humilhou sob a poderosa mão de Deus, e então
sua esperança se reviveu” (Adam Clarke, comentando sobre o vs. 21). Sua alma
foi rebaixada (vs. 20); ele foi humilhado, mas então a esperança se ergueu
dentre as cinzas. Sua própria fraqueza (vss. 19,20) deu-lhe a esperança de
que Deus interviria, visto que a força Lhe pertencia (Sal. 25.11,17;
42.5,8; II Cor. 1.9,10).
Mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim
repouse o poder de Cristo.
(II Coríntios 12.9)
“O primeiro raio de esperança irrompeu a melancolia.
A tristeza não fora em vão. Isso produziu humildade, e é da humildade que a
esperança surge” (Ellicott, in loc.). Jarchi retratou a alma
esperando até que Deus se lembrasse dela.
3.22 As misericórdias
do Senhor são a causa de não sermos consumidos. Este versículo é um dos mais
conhecidos e citados do livro de Lamentações. Talvez seja a luz mais
brilhante do livro. Fala de uma misericórdia abundante ou, conforme
diz a Revised Standard Version, de um “amor constante”, traduzindo o termo
hebraico hesed. Deus lembra a aliança com Seu povo e mostra-se
longânimo para com os pecados deles. Portanto, não trata com eles de
maneira estrita, punindo-os por seus pecados, quando seria razoável
feri-los em Sua ira. Ele permanece com o povo que escolheu e continua a
aplicar Sua disciplina sem destruí-los. Deus trabalha visando a
modificação do povo, e não a sua destruição. Seu amor é poderoso e, assim,
atinge mais aito que a mais distante estrela e mais baixo que o mais
profundo inferno. Até seus juízos são remediais, e não meramente retributivos
(ver I Ped. 4.6). Os artigos do Dicionário, chamados Misericórdia
e Amor, oferecem muito material, incluindo poemas ilustrativos.
“Judá fora rebaixado, mas não eliminado. Deus estava
punindo os judeus por seus pecados, mas não os rejeitou como o povo em pacto
com Ele... O pacto não fora ab-rogado. De fato, o amor leal de Deus podia
ser visto em Sua fidelidade, ao cumprir Suas maldições (ver Deu. 28)”
(Charles H. Dyer, in loc). O julgamento é um dedo da amorosa mão do
Senhor. Ver no Dicionário o verbete intitulado Pactos e em
Gên. 15.18 o artigo Pacto Abraâmico. Ver a mensagem paralela de Mal.
3.6.
Este versículo tira o livro da futilidade. Deus ainda
haveria de escrever outro capítulo contando a história da tragédia e insuflando-a
com esperança e prosperidade, finalmente. Diz a Septuaginta: “As misericórdias
do Senhor não me abandonaram”. A versão siríaca diz: “As misericórdias do
Senhor, elas não têm fim”. Aben Ezra lembrou que “não há fim das
misericórdias do Senhor”. “O Senhor' é cheio de misericórdías, que Ele
concede de maneira livre e soberana. Elas são a mola da todas as coisas
boas e nunca falham. Eis a razão pela qual o povo de Deus nunca é, e nunca
será, consumido, ainda que falhe. As misericórdias divinas são de eternidade a
eternidade, e estão guardadas em Cristo, o Cabeça dos pactos. Ver Sal.
89.28; 103.17” (John Gill, in loc.).
3.23 Renovam-se cada manhã. Do mesmo modo que cada novo
dia traz o sol de novo, e os homens olham para o alto e sentem a esperança no
ar, pois a vida continua, assim também a grande fidelidade de Deus
é renovada a cada nascer-do-sol. Cada novo dia põe fim à noite anterior e
começa a vida outra vez, e é isso que sucede ao amor constante de
Deus, pois grande é a Sua fidelidade.
Grande é tua fidelidade, ó Deus, meu Pai;
Não há sombra de mudança em Ti.
Tu não mudas, Tuas compaixões não falham.
Como sempre foste, para sempre serás.
Verão e inverno, primavera e colheita,
Sot, lua e estrelas, em seus cursos lá em cima,
Juntam-se a toda a natureza, em múltiplo testemunho,
A tua grande fidelidade, misericórdia e amor.
(T. O. Chisholm)
“Com a aurora de todos os dias, descem também as
misericórdias de Yahweh” (Ellicott, in loc.). “Quem poderia existir por
todo o dia, não fora uma contínua providência superintendente? Quem
poderia ser preservado à noite, se o Vigia de Israel dormitasse ou
dormisse?” (Adam Clarke, in loc.). Ver no Dicionário o
artigo Providência de Deus.
“Não temas, crê somente”. (Mar. 5.36). Essas
palavras, conforme alguém disse, são o coração da fé cristã.
3.24 A minha porção é o Senhor, diz a minha alma. “Digo a mim mesmo: ‘O Senhor é o que me resta
e, por isso, tenho esperança”'(NCV). Cf. este versículo com Sal. 119.57. “Deus
oferece um suprimento novo de amor leal a cada dia, a Seu povo, em pacto
com Ele. De maneira muito parecida com o maná no deserto, esse suprimento
não se exaure. Essa verdade levou Jeremias a clamar em louvor: ‘Grande é a tua
fidelidade’. Por causa disso, o profeta continuou a esperar no Senhor.
Haveria cura e restauração” (Charles H. Dyer, in loc.). “O Senhor é
a porção do Seu povo, na vida e na morte, no tempo e na eternidade. Tudo
quanto Ele é e tem, pertence a eles. Eles são Seus herdeiros. Ele é uma
porção grande e plena, incalculavelmente rica e grande... Assim sendo, Seu
povo continua a esperar Nele, pedindo livramento dos males; no presente,
suprimento da graça para aprazimento da glória e da felicidade futura”
(John Gill, in loc.). “Yahweh, minha porção, uma ideia que
nos faz lembrar de Sal. 16.5; 73.26; 142.5; 119.27; o pensamento repousa
primariamente sobre Núm. 28.21. Essa é a herança do povo de Deus
que eles têm da parle do Pai. Ver Núm. 18.20. Os levitas não
tinham herança na terra, conforme acontecia às demais tribos. Yahweh era
sua herança. Ver Jer. 10.16. “Cada crente agora é um sacerdote de Deus e
pode apropriar-se da mesma linguagem” (Fausset, in loc.).
3.25,26 Bom é o
Senhor para os que esperam por ele. Diz o hebraico aqui,
literalmente, “esperam ansiosamente” ou “suspiram por”. Para eles, por causa
de sua sinceridade, Yahweh é bom.
Visto que Ele me ordena buscar Sua face,
Crer em Sua palavra e confiar em Sua graça,
Lançarei sobre Ele todo o meu cuidado.
(W. W. Walford)
“Aqui o poeta recebe nova e profunda percepção,
dando-nos uma bela declaração do real significado de nossa relação com Deus,
nosso Pai. Cum-pre-nos buscá-Lo e esperar quietamente pela salvação do Senhor,
sabendo que é bom para um homem suportar o jugo em sua juventude... Um
grande psicólogo disse, certa ocasião: ‘Se houver um pecado contra o
Espírito Santo, é o pecado de fazer alguma coisa para prejudicar a própria
juventude ou a juventude de outrem” (William Pierson Merrill, in loc.).
“Um homem sábio aconselha à submissão e à penitência, em reconhecimento da
retidão e da misericórdia de Deus” (Oxford Annotated Bible,
comentando sobre o vs. 25). Cf. este versículo com Heb. 11.6; Pro. 8.17;
Mat. 7.7; Rom. 2.7; Sal. 9.10 e 69.32. O Deus que proferiu as maldições
referidas em Deu. 28 também cumpriría a restauração prometida em Deu. 30. Ver
no Dicionário o artigo chamado Salvação.
Sete Princípios Concernentes à Aflição:
1. A aflição pode ser suportada
pelo homem que mantém a esperança, em geral e na salvação de Deus,
ou seja, na restauração final (vss. 25-30). A salvação tem um aspeto
temporal e um aspecto espiritual.
2. A aflição é temporal e temperada
pelo amor e pela misericórdia de Deus (vss. 31-32).
3. Deus não se deleita em afligir
os homens, mas eles precisam ser disciplinados (vs. 33).
4. As aflições que nos chegam
através de nossa injustiças não são aprovadas por Deus, nem é Ele a fonte
originária das aflições (vss. 34-36).
5. A soberania de Deus controla as
aflições (vss. 37-38).
6. Foram os pecados de Judá que
levaram Yahweh a afligir Seu povo (vs. 39).
7. O propósito das aflições é
efetuar o arrependimento e a restauração (vs. 40).
3.27 Bom é para o homem... O jugo provém da lei, que instrui e guia (ver Deu 6.4 ss.). O
jugo é a disciplina de Yahweh por meio de Sua lei. O homem
instruído recebe livramento dos efeitos do pecado, tal como Judá foi
libertado do cativeiro babilônico. Então o jugo conduz à salvação
espiritual da alma. Os ensinos no caminho divino devem começar na
juventude. Ver Heb. 12.7-11.
No Novo Testamento, o jugo é de Cristo. Ele ensina o
discípulo obediente. Ver Mat. 11.29. O ministério do Espirito Santo toma o
lugar dos mandamentos da lei, mas a mesma moralidade é ensinada. Todavia,
há uma espiritualidade mais profunda no Novo Testamento, em relação ao
Antigo. Ver no Dicionário o artigo chamado Desenvolvimento
Espiritual, Meios do.
“Os hábitos antigos, quando bons, são valiosos. Uma
disciplina iniciada cedo é igualmente boa” (Adam Clarke, in loc., que
passa a falar sobre a restrição saudável na juventude, que produz, mais
tarde, um homem útil).
Semeai um ato, e colhereis um hábito,
Semeai um hábito, e colhereis um caráter.
Semeai um caráter, e colhereis um destino.
Semeai um destino, e colhereis... Deus.
(Prof. Huston Smith)
Jugo. Os mandamentos (Targum); a disciplina ou
correção (Aben Ezra).
3.28 Assente-se solitário e fique em silêncio. Um homem disciplinado não exprimirá objeção
nem causará confusão. Ele se sentará e ficará em silêncio, aprendendo o que
deve do jugo que lhe foi imposto por Yahweh, que provê o ensino e a disciplina.
Yahweh é o condicionador da alma, bem como o objeto do andar do homem bom.
“Ele não luta contra o jugo, como um boi não acostumado ao jugo (ver Jer.
31.18; Atos 9.5)” (Fausset, in loc.). “Ele se senta sozinho, Já
aprendeu a lição necessária da independência” (Adam Ciarke, in
loc). Esse homem não é alguém da multidão que segue as maneiras dos
pecadores. Antes, vive separado deles, um homem espiritual que anda na
luz.
3.29 Ponha a sua boca no pó. “Ele deve prostrar-se diante do Senhor com o rosto em terra. Talvez
ainda haja esperança” (NCV). Este versículo fala da humildade que um
homem deve ter para garantir as bênçãos de Deus. Ver o orgulho e a
humildade contrastados, nas notas sobre Pro. 11.2; 13.10. Ver também
Pro. 6.17. Quanto a olhos altivos, ver Pro. 14.3; 15.25; 16,5,18. O
homem bom deve ”prostrar-se perante o Senhor” (Targum). Esse é o homem que
pode obter a esperança mesmo nas situações de desespero. Cf. o versículo
com Jó 42.6. “A imagem é a das prostrações dos súditos orientais diante de
um rei. O rosto deles está no pó, pelo que não podem falar” (Ellicott, in
loc). No pó há espaço para a esperança, que foge do homem orgulhoso.
Ver no Dicionário o artigo chamado Esperança.
Por ocasião do cativeiro babilônico, Judá conservou o
rosto em terra e ali encontrou esperança de restauração. Mas a orgulhosa Judá
não escapou da severa disciplina procedente da mão de Yahweh, que enviou o
exército babilônico para punir Seu povo por causa de seus muitos pecados.
3.30 Dê a face ao que o fere. O castigo
divino veio mediante o imenso abuso dos babilônios, com sua matança e
saques, mas veio porque o povo de Judá o merecia. “Foi mais difícil
aceitar o castigo divino que veio através de agentes humanos” (Ellicott, in
loc). Quanto a concordâncias verbais, ver Isa. 50.6 e Mat. 5.39. Mas
esses são exemplos do justo que sofre nas mãos de homens ímpios
e desvairados. Aqui, a culpada nação de Judá sofre nas mãos dos pagãos.
Todavia, alguns vêem aqui o castigo do justo como se fosse correto, e então as
referências dadas são paralelas. Parece melhor, porém, ver aqui a Judá
pecaminosa sendo restaurada por meio das aflições. O vs. 31 confirma tal
interpretação, visto que aqueles uma vez rejeitados (entregues às
mãos dos babilônios para serem punidos) finalmente foram restaurados,
depois de sofrerem com paciência e terem aprendido com a punição. Tudo
isso fazia parte do sofrer o jugo do vs. 27. Os vss. 28 ss. descrevem o
processo disciplinador e o aprendizado, e não a experiência de um inocente
perseguido. O Senhor impôs merecida tristeza, mas depois mostrou compaixão
(vs. 32). Há uma aflição contra o justo que Yahweh não aprova (vss.
34-36), mas isso já é outro assunto.
3.31 O Senhor não rejeitará para sempre. Embora fosse severo, o castigo do cativeiro
babilônico tinha por finalidade expurgar Judá. Após 70 anos (Jer.
25.11,12), o remanescente voltou para Jerusalém e reconstruiu a cidade.
Foi o “recebimento” do povo por parte de Yahweh, o que deu início a um
Novo Dia. Isso tipificou a maneira como Deus trata Seu povo: o juízo
divino é restaurador, e não meramente retributivo. Cf. Sal. 77.7 e Jer. 3.5,12.
“A vontade primária e eterna de Deus está ao lado do amor, e o castigo,
por assim dizer, é algo contrário à Sua vontade final” (Ellicott, in
loc.). O juízo traz arrependimento e renovação, Ver Sal. 94.14. Ver
Rom. 11.2. Esse princípio é universal, e não provincial (aplicado somente
a Israel). Ver na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia o
artigo chamado Restauração.
3.32 Pois, ainda que entristeça a alguém. A tristeza resulta do julgamento, mas a restauração
ocorre na compaixão de Deus, outro nome para o amor que resulta da
multidão de Suas misericórdias. Ver no Dicionário os artigos chamados Compaixão;
Amore Misericórdia, quanto a completas ilustrações sobre esses princípios
divinos. Os castigos divinos duram por algum tempo; Sua misericórdia é
para sempre. O amor escreverá o último capítulo da história humana, e
todos os outros capítulos foram apenas preliminares. Ademais, o julgamento
faz a obra do amor, produzindo mudanças favoráveis. O amor eterno de Deus
é que escreverá o capítulo final. A vontade final de Deus está ao lado do
amor.
Cessei de minhas vagabundagens e desvios,
Meus pecados, que são muitos, foram todos lavados.
Tenho uma esperança firme e segura.
Há uma luz-no vale da morte para mim.
(R. H. McDanie!)
3.33 Porque não aflige nem entristece de bom grado. O amor de Deus não aflige os homens. Deus não
é um poder sádico e maligno, como eram muitos dos deuses gregos. Ele é a
epítome do bem e do amor. Logo, quando Deus julga, visa realizar algum bom
propósito e produzir a restauração. A vontade divina está ao lado do amor
eterno e das bênçãos que esse principio impõe. Por outro lado,
o julgamento e o amor são sinônimos, visto que o primeiro é um dedo
da amorosa mão de Deus, operando para produzir o bem do homem. Note aqui o
leitor o título universal de “filhos dos homens”. Os princípios benévolos
do Senhor aplicam-se a todos os homens, e não apenas a Israel ou a algum
grupo seleto. O hebraico literal é que Deus “não aflige do coração”. O
coração de Deus não está no castigo. Antes, está no amor, pois o Nome
de Deus é amor {ver I João 4.8).”... coração, o centro da volição, bem
como das emoções” (Ellicott, in loc.). “Deus não se deleita em
nossa dor e miséria. No entanto, como pai terno e inteligente, Ele usa a
vara, não para agradar a Si mesmo, mas para nosso proveito e salvação” (Adam
Clarke, in loc.).
Por misericórdias tão grandes como posso retribuir?
Eu O amarei, eu O servirei com tudo quanto tenho,
Enquanto perdurar a minha vida.
(T. O Chisholm)
3.34 Pisar debaixo dos pés, A palavra “presos” alude ao remanescente cativo na Babilônia,
mas a ideia foi generalizada para indicar todos os homens, de todos
os lugares, que são prisioneiros do mal, de pecados múltiplos, de
horrendos vícios da maldade. Não está no coração de Deus esmagar esses
prisioneiros. Antes, Seu negócio consiste em libertá-los e conduzi-los a
uma nova vida. “Deus nunca nos aflige, a não ser para o nosso bem. Ele nos
castiga para que possamos participar de Sua retidão” (Adam Clarke, in
loc.). Este versículo é um ótimo João 3.16 de Lamentações. O amor de Deus O levou a dar Seu
Filho; e isso produziu a missão universal de amor, para que os homens não
pereçam. A prisão rouba o homem de sua individualidade. Mas a salvação
liberta os homens para que cumpram seu potencial espiritual, transformados
segundo a imagem de Cristo (Rom. 8.29 e I João 2.2). Ver no Novo
Testamento Interpretado o verbete intitulado Transformação segundo
a Imagem de Cristo.
3.35 Perverter o direito do homem. O amor de Deus O deixa indignado quando Ele “vê
alguém ser tratado injustamente na presença do Deus Altíssimo” (NCV). Ver
no Dicionário o artigo sobre o nome divino Altíssimo. De Seu
exaltado lugar, Ele pode ver todas as injustiças que os homens perpetram
uns contra outros, e certamente Ele os julga. A alusão é ao sofrimento dos
judeus durante o cativeiro na Babilônia. Houve muitos abusos e também
muitas injustiças. Yahweh considerava responsáveis aqueles pagãos, por causa do
que faziam, embora eles estivessem administrando um castigo merecido por parte
de Judá, por ordem do Senhor. Um cruel castigo faria cessar aqueles que
tratavam cruelmente os prisioneiros judeus na Babilônia. Além disso, o princípio
geral da justiça não permite que a injustiça prevaleça nos tribunais
de justiça. Ver Êxo. 23.6. Muitos direitos humanos eram violados nos
tribunais de Israel (bem como de outros povos). Yahweh, de Sua elevada
posição nos céus, via tudo quanto estava sendo feito, e requeria
retribuição, no final. Cf. este versículo com Eclesiastes 5.8.
3.36 Subverter ao homem no seu pleito, não o veria o
Senhor? Êxo. 23.6 e Deu. 10.17 estavam na mente do autor quando ele escreveu
este versículo. Ele mudara dos abusos e injustiças dos babilônios contra o
remanescente judeu, cativo na Babilônia (vs. 34), para os abusos e
injustiças dos tribunais, ou para qualquer lugar onde os direitos dos
homens estivessem sendo negados e a injustiça prevalecesse. A NCV diz: “Se
alguém for enganado em sua causa no tribunal”, que é a referência primária. São
condenadas a perversão deliberada de justiça em um tribunal público no
qual os homens, ao que se presume, atuam em nome de Deus (ver Êxo. 23.6),
e toda forma de injustiça, mesmo privada, não ligada a tribunal de lei.
Homens ímpios esperam que Deus não veja o que eles fazem. Ver Eze. 9.9.
Mas essa esperança é vã. Deus olha para tais coisas e as abomina (Hab,
1.13). Diz o Targum: “Será possível que tal coisa não fosse revelada diante do
Senhor?”.
3.37 Quem é aquele que diz, e assim acontece... A soberania de Deus controla o resultado de
todas as coisas, Ademais, o que o homem planeja não pode ocorrer a menos
que a soberania de Deus a cause ou a permita. Nenhum homem pode provocar
coisa alguma meramente ordenando-a. Ver no Dicionário o
artigo chamado Soberania. Este versículo reverbera Sal. 33.9. “O
mal que Ele permite está sob o controle de Seus propósitos amorosos”
(Ellicott, in loc.). Deus falou, e a criação veio à existência. Os
homens são agentes ativos que fazem coisas acontecer, mas suas palavras
não são poderosas, a menos que Deus esteja na questão, provocando ou
permitindo os acontecimentos. Essas palavras atuavam como um consolo para
o remanescente cativo na Babilônia. A palavra de Deus em breve haveria de
libertá-los, e todas as más manipulações dos homens não poderiam
entravar isso. O decreto de Ciro obedeceu à vontade de Deus, e os judeus
tiveram a liberdade de voltar a Jerusalém e reconstruí-la. Foi assim
que nasceu um Novo Israel e raiou um Novo Dia.
Enquanto palmilho o labirinto escuro,
E as tristezas se espalham a meu redor,
Sê Tu meu guia.
Ordena que as trevas se transformem em dia.
Enxuga as lágrimas da tristeza,
E não me deixes desviar-me Para longe de Ti.
(Ray Palmer)
3.38 Acaso não procede do Altíssimo...? O bem supremo é declarado pela boca do Altíssimo
(ver a respeito no Dicionário). O mal também é pronunciado,
ou seja, os homens devem sofrer por seus pecados. Deus é assim a fonte do
bem supremo e do julgamento esmagador, mas, em última análise, essas
coisas são iguais, pois ambas se originam em Seu amor eterno. Neste
versículo não há ideia sobre o ser de Deus como fonte do mal e do senso
moral, embora Ele use os homens imorais para fazer Sua vontade. E por
certo não há aqui ideia de Deus como a Causa Única, como se homens
ímpios não fossem a causa de muitas tristezas deste mundo. A teologia dos
hebreus era fraca quanto a causas secundárias e, algumas vezes, advogava Deus
como a causa única, fazendo Dele a causa do mal. Isso, porém, é uma teologia
unilateral, que o calvinismo extremado também defende.
“A calamidade e a prosperidade não procedem
igualmente de Deus?” (Jó 2.10; Isa. 45.7; Amós 3.6) (Fausset, in
loc.).
3.39 Por que,
pois, se queixa o homem vivente? Nenhum homem pode queixar-se porque o
mal que Deus envia é punição contra os pecados. O remanescente cativo estava
pagando por seus pecados, em consonância com a Lei Moral da Colheita segundo
a Semeadura (ver a respeito no Dicionário). Nenhum
homem tinha o direito de queixar-se do sofrimento que ele mesmo havia
causado por sua iniquidade. Aquele que peca deve esperar consequências
desagradáveis de seus atos. “Nenhum homem deve queixar-se quando é punido
por seus pecados” (NCV). Cf. este versículo com Jer. 45.5.0 queixador
potencial deste versículo continuava vivo, a despeito de
suas aflições. Outros tinham sido removidos desta vida por causa de seus
pecados. Portanto, por que o homem vivo deveria queixar-se de seu
julgamento inferior? Este versículo não subentende punição além
do sepulcro. Estamos tratando apenas de castigos temporais, neste versículo. A
retribuição contra o pecado não é uma injustiça. Ademais, o castigo vem do Pai,
que corrige Seus filhos. Os juízos divinos podem ser amargos, mas são
doces quando fazem o que devem fazer. Cf. Heb. 12.6,7.
3.40 Esquadrinhemos os nossos caminhos. Em vez de
queixar-se da dor, quando castigado, o sábio examinará seus caminhos e verá
onde errou e se rebelou. Em seguida, arrepender-se-á e retornará ao Senhor.
Isso acalmará a ira divina, que começará a abençoar o homem, pois agora
ele está andando na luz. Começando aqui, o poeta se identificou com o povo, e
esse modo de expressão continua até o vs. 47. “O sofrimento chama um homem ao
auto-escrutínio. Devemos conhecer os pecados que o castigo pretende punir
e corrigir” (Ellicott, in loc).
O profeta aliou-se aos sofrimentos do remanescente
judeu na Babilônia e convidou que se fizesse um sábio exame dos erros que
causaram o cativeiro na Babilônia. “A aflição de Deus tinha por desígnio
servir como medida corretiva de restaurar o Seu povo desviado (ver Deu.
28.15-68). Seu desígnio foi forçar o povo a voltar-se para o Senhor (Deu.
30.1-10)” (Charles H. Dyer, in loc).
A Oração do Pecador (Lm 3.41-66)
3.41 Levantemos os nossos corações. A oração resulta
do exame da vida. Os homens arrepender-se-ão e buscarão o perdão e o consolo de
Deus, além de nova direção para a vida. Ver no Dicionário o artigo
chamado Oração. O profeta descreveu, mediante termos claros
e simples, o que se espera de um homem que foi tocado pelo Espírito de
Deus, no que tange a desejar uma vereda melhor. Ele deve reconhecer
claramente sua culpa e bLscar reforma. Tem de humilhar-se e deixar a
rebeldia. Precisa “limpar a tábua”, mediante o arrependimento. Deve elevar
seu coração a Deus, sinceramente. O quadro é de um suplicante
sincero. Cf. este versículo com Sal. 141.2 e I Tim. 2.8. “O coração deve
estar ao lado da oração do homem, ou de nada adiantará. A alma deve
ser elevada a Deus” (John Gill, in loc).
3.42 Nós prevaricamos, e fomos rebeldes. A Confissão. O povo judeu transgrediu a lei mosaica, especialmente
quanto à questão da idolatria. Tornou-se culpado de
idolatria-adultério-apostasia. Eles foram rebeldes porque tinham luz
suficiente para saber que o que faziam era iniquidade e perversão
da fé histórica de Israel. Continuaram rebeldes, e Yahweh não os perdoou.
Por isso o juízo divino sobreveio, e o exército babilônico avançou contra
Jerusalém. Os babilônios mataram e saquearam, e os poucos sobreviventes
foram levados à Babilônia como cativos. Todos esses golpes divinos mudaram
a maneira de pensar dos rebeldes, e eles voltaram purificados. Tornaram-se
assim instrumentos da restauração, mas não antes da temível remoção da
vasta maioria, mediante feroz destruição. Ambos os pronomes usados neste
versículo são enfáticos. Os suplicantes pecaram; e
Deus ainda não (nos, vos) havia perdoado.
3.43 Cobriste-nos de ira, e nos perseguiste. A Figura do Caçador. O feroz caçador, coberto de ira como se fosse uma
veste, perseguiu o animal insensato. Ele o alcançou e o matou sem dó. Ou
a figura é a de um soldado em perseguição, atrás de uma vítima
impotente que tentava escapar, mas que acabou sucumbindo diante do
caçador. As vestes do caçador podem aludir à armadura e às armas
do soldado sem misericórdia. O Targum faz a cobertura aplicar-se à vítima:
“Tu nos cobriste com a Tua ira”. A vítima foi perseguida, ao
que o Targum adicionou “no cativeiro”.
3.44 De nuvens te encobriste. A cobertura
do vs. 43 agora torna-se diferente quanto à sua natureza, a saber, uma nuvem
que ocultava Yahweh das orações feitas pela vítima. A nuvem significa
que Yahweh se tomou indiferente para com Judá, enquanto a
nação estivesse na rebeldia. Quanto à aparente indiferença de Deus, ver
Sal. 10.1; 28.1; 59.4; 82.1 e 43.7. Deus deixou de responder às orações de
Seu povo rebelde e apostatado. Isso fazia parte do castigo, o qual era
remedial, e não apenas retributivo.
3.45 Como cisco e refugo nos puseste. As
tribulações da nação (estando ela sob a ira de Deus; cf. Lam. 2.1,3,6,22; 3.43)
incluíam o fato de que suas orações não eram respondidas, e de que eles se
tornaram como o refugo rejeitado pelos outros povos. E, desnecessário é
dizer, esse refugo também era rejeitado por Yahweh como indigno de
atenção. ‘Tu nos fizeste o refugo e o lixo entre as outras nações” (NCV). “Os
apóstolos foram tratados assim (ver I Cor. 4.14), mas se
regozijavam diante disso, pois eram inocentes” (Fausset, in loc).
Judá era culpada de seu pecado e merecia ser humilhada entre as
nações, como o mais vil dos povos que tinha abandonado seu Deus e se tinha
voltado para deuses de nada, os ídolos.
Refugo. A sujeira tirada de um objeto mediante lavagem; a varrição da sujeira e
dos escombros das ruas; a escória dos metais refinados; o lixo tirado dos
soalhos de uma casa; as crostas extraídas das panelas de uma cozinha.
Eles eram, realmente, o lixo que as pessoas jogavam fora.
3.46 Todos os nossos inimigos... Para piorar ainda mais as
condições, os inimigos de Judá zombavam deles, condenando-os com declarações
cortantes. Em outras palavras, eles adicionavam insultos às injúrias. Este
versículo é similar a Lam. 2.16, onde ofereço outras notas. “Como se
fossem leões e outras feras, eles abriram a boca para nos devorar; ou
escarneciam e zombavam de nós; derramando suas reprimendas e zombarias... O
Targum adiciona: ‘para ordenar contra nós maus decretos'“ (John Gill, in
loc).
3.47 Sobre nós vieram o temor e a cova. Caçados como uma
fera por um caçador sem misericórdia, o povo se encheu de pânico e terror. Eles
caíram nas valetas e foram apanhados pelas armadilhas, e assim acabaram destruídos.
Depois de Judá experimentar tais calamidades, eles foram forçados a
reexaminar sua vida e buscar reforma da parle de Yahweh. O hebraico
literal aqui é “cova e laço”, que também se vê em Jer. 48.43 e Isa, 24.17.
O animal que era perseguido fugiu em pânico e terror, mas de súbito foi
apanhado por um laço. Judá foi devastado e tornou-se desolado,
virtualmente desabitado (Jer. 10.25). O terrível trio espada-fome-pestilência
reduziu Judá a virtualmente nada. Ver sobre esse trio em Jer. 14.12;
24.10; 27.8; 29.17; 42.17 ; 44.13,
3.48 Dos meus olhos se derramam torrentes de águas. A
metáfora dos rios de água, indicando copioso choro devido à calamidade sofrida
por Judá, já tinha sido empregada em Lam. 1.16 e 2.18. As notas dadas ali
também têm aplicação aqui. Ver também Jer. 9.1,. onde a mesma metáfora é
usada. Cf. Sal. 119.136. Esse uso “denota a grandeza de sua tristeza e
tribulação diante das aflições do povo, por quem o autor chorava muitas
lágrimas” (John Gill, in loc).
3.49,50 Os meus olhos choram. O fluxo copioso de lágrimas
(vs. 48) continuava sem cessar, pois as calamidades prosseguiam e o profeta não
via fim em suas tristezas; e elas continuariam até que
Yahweh, lá nos céus, olhasse para baixo, tivesse piedade e fizesse algo
sobre a questão (vs. 50). Como é claro, temos aqui uma hipérbole oriental,
visto que seria fisicamente impossível para um homem continuar chorando
dia após dia. Mas não há como exagerar a descrição da destruição de
Jerusalém, que foi terrível “só de contar”, quanto mais na realidade, como
Homero costumava dizer quanto a calamidades drásticas. Havia uma promessa de
que Israel seria restaurada após os desastres (ver Deu. 30.2,3), pelo que
o profeta continuava esperando por isso. Ver também Isa. 63.15. Diz o Targum: ”Até
que ele olhe e veja a minha injúria”.
3.51 Os meus olhos entristecem a minha alma. Os olhos de Jeremias causavam-lhe imensa tristeza,
quando ele via a sorte das donzelas da cidade. “Filhas”, aqui, pode apontar
para a população geral, visto que Jerusalém era representada como uma mulher
(ver Lam. 1.6,15; 2.1,2,4,5,10; 4.8,10,13 etc.). Alguns eruditos,
porém, supõem que o profeta estivesse falando aqui especificamente sobre o
que sucedera às jovens da cidade, matanças e violações, bem como
transporte 'de mulheres seletas para aumentar os haréns da Babilônia, e
das mulheres não tão bonitas para servir como escravas. As mulheres e
crianças eram as vítimas que mais dó causavam, no ataque e subsequente
cativeiro. Mas alguns pensam que as “filhas” sejam as cidades secundárias
de Judá, caso em que Jerusalém seria a mãe, e elas seriam as filhas. O
sentido aqui pode ser: “Meu coração foi mais afetado por essas calamidades que
atingiram o mais terno sexo feminino, do que as calamidades que atingiram as
outras classes”.
3.52 Caçaram-me como se eu fosse ave. A Metáfora da
Pobre Ave. A maior parte das aves é composta de criaturas impotentes
que nos excitam a piedade. Judá inteira era como uma ave, quando os
caçadores babilônios a perseguiam com redes e desígnios assassinos. O
caçador estava resolvido a matar a ave, embora não tivesse razão
para fazer isso. Este versículo ignora o raciocínio, comum nas cenas
proféticas de condenação, no qual a matança e o saque tinham sido
ordenados por Yahweh contra um povo desobediente. Ver o vs. 32, onde
aprendemos que Be causou a tristeza sofrida por Judá. Para
extrair sentido das palavras “sem motivo”, alguns intérpretes pensam que este
versículo se refere aos sofrimentos pessoais do profeta, que foi
perseguido e ameaçado por seus conterrâneos de Anatote (ver Jer. 11). Em
seguida, Jeremias foi perseguido pelo rei e lançado na prisão (cap. 37). Mas
ele era homem inocente, odiado por dizer a verdade, pelo que as palavras “sem
motivo” se ajustam pessoalmente a ele, ao mesmo tempo que dificilmente se
ajustam ao culpado povo de Judá. Alguns queriam sua execução (ver Jer.
26.7-9), embora não houvesse razão alguma para ele ser odiado daquele
modo. Nisso, Jeremias foi tipo do Messias (ver João 15.25). Ver também
Sal. 69.4 ; 109.3,4.
3.53 Para me destruírem, lançaram-me na cova. A alusão, aqui, é à “experiência de Jeremias na
masmorra”, quando ele foi aprisionado (Jer. 37), ou à sua permanência nas
cisterna (Jer. 38). A referência à pedra que bloqueava o caminho pode ser
literal, visto que pedras eram usadas para tapar as saídas das masmorras,
embora também possa ser figurada. A Revised Standard Version usa o plural
aqui, “pedras”, tal como se vê em nossa versão portuguesa. Isso poderia
significar que o profeta, em sua masmorra ou na cisterna, foi apedrejado, não
para morrer, pois seus perseguidores somente jogaram pedras contra ele.
Mas a experiência toda simbolizava a perseguição sofrida por Judá no cativeiro
babilônico (ver a respeito no Dicionário). Cf. com a
experiência de Jesus, em Mat. 27.60. Os judeus, no cativeiro, foram
comparados a cadáveres em seus sepulcros (ver Eze. 37.11), e este
versículo pode apontar para isso.
3.54 Águas correram sobre a minha cabeça. Esta poderia ser
uma hipérbole oriental para o fundo úmido da cisterna (Jer. 38), ou então uma metáfora
para salientar o severo teste que o profeta experimentou, tai como sucedeu
a Judá, no ataque e subsequente cativeiro por parte dos babilônios. “...
um emblema de calamidades avassaladoras (ver Sal. 69.2; 124.4,5)”
(Fausset, in loc.).
Sua graça é grande o bastante para satisfazer grandes
coisas As ondas empoladas que avassalam a alma,
Os ventos uivantes que nos deixam tontos,
As tempestades súbitas fora de nosso controle.
(Annie Johnson Flint)
3.55 Da mais profunda cova, Senhor... Estando na masmorra,
o profeta apelou para sua única esperança, a oração. Ele levantou
a voz para Yahweh, que aparentemente se mostrava indiferente diante de
seus suspiros (ver Sal. 10.1; 28,1 ; 59,4). Cf. Sal. 88.6.”... quando toda
a esperança tinha morrido e toda outra ajuda tinha falhado, ainda
havia Deus, um Deus a quem orar. Nunca é tarde demais para invocá-Lo”
(John Gill, in loc).
Em nossas alegrias e em nossas tristezas,
Dias de labuta e horas de lazer.
Contudo Ele nos dá cuidados e prazeres.
(Sra. Cecil F. Alexander)
Ver Jon. 2.2. O profeta Jonas invocou o Senhor quando
estava no ventre do grande peixe, em circunstâncias totalmente impossíveis. A
resposta de Deus reverteu sua condição de condenação.
3.56 Ouviste a minha voz. A oração de desespero foi
ouvida, e o Espírito de Deus se aproximava da vítima da calamidade. O profeta
continuava respirando forte em sua aflição, e a cada tomada de fôlego
havia nova oração. Em vez de respiração, alguns dizem suspiros e
soluços. A palavra hebraica em questão pode significar ofego.
“Ele foi obrigado a sussurrar sua oração a Deus. Foi apenas
uma respiração” (Adam Clarke, in loc.).
Eu lhe conto minhas dúvidas, tristezas e temores;
Oh, com quanta paciência Ele escuta!
E minha alma cambaleante è animada.
Quando a alma está desmaiada e sedenta,
Por baixo da sombra de suas asas,
Há frescor e abrigo agradável,
Estando Ele tão próximo.
(Ellen Kakshmi Goreh)
3.57 De mim te aproximaste no dia em que te invoquei. Deus
resolveu pleitear a causa do homem pobre e assim aproximou-se dele e proferiu
palavras de ânimo. Disse ao homem para não temer, e assim
dissiparam-se os seus temores. ”Vieste perto quando eu te invoquei.
Disseste: ‘Não temas’” (NCV). “Quando as pessoas se aproximam de Deus...
invocando Seu nome, Ele se avizinha e opera a salvação com graça e
misericórdia. Diz o Targum: ‘Vieste como um anjo e, ache-gando-te, me livraste,
no dia em que orei a Ti’. Ver Isa. 41.10” (John Gill, in loc.).
Que Amigo temos em Jesus,
Todos os nossos pecados e tristezas Ele leva!
Que privilégio é levar Tudo a Deus em oração.
(Joseph Scriven)
3.58 Pleiteaste, Senhor, a causa da minha alma. Quando o
Senhor se aproxima, Ele o faz como Redentor e Advogado. Ele pleiteou a causa do
pobre e então o redimiu de todas as suas dificuldades. Cf. Sal. 35.1 e Miq.
7.9. “Yahweh apareceu como advogado ou parente próximo protetor do profeta. As
perseguições tinham por fim arrebatar-lhe a vida. Temos aqui outras
referências pessoais à vida do profeta. Cf. Jer. 26.8-17; 37.14 ; 38.4”
(Ellicott, in loc.). Ver no Dicionário o verbete
chamado Goel. “Jeremias tornou-se assim um exemplo vivo do amor
leal de Deus e de Sua fidelidade (cf. Lam. 3.22-23)” (Charles H. Dyer, in
loc). Cf. este versículo com Jer. 51.36.
Oh! que paz com frequência perdemos,
Oh! quanta dor desnecessária sofremos,
Tudo porque nós não levamos,
Tudo a Deus em oração.
(Joseph Scriven)
3.59 Viste, Senhor, a injustiça que me fizeram. Alguém fez
uma injustiça contra o profeta, pelo que foi mister Yahweh defender a causa
dele. Ninguém estava por perto para ajudar, e quem estava ali só queria
prejudicar. Grandes injustiças estavam sendo perpetradas. Jeremias foi o
profeta da condenação de Judá, desdizendo as palavras dos falsos profetas, que
prometiam paz e prosperidade. Jeremias, porém, advogava a rendição diante
dos babilônios, um poder irresistível, para que os judeus salvassem sua
vida. Seus conterrâneos o ameaçaram (Jer. 11) e o acusaram de traição. Ele
foi ameaçado de morte, mas escapou (Jer. 26). Foi aprisionado (Jer. 37) e
lançado em uma cisterna para morrer (Jer. 38). Todas essas coisas foram
graves injustiças contra ele, perpetradas por homens ímpios e desvairados.
Mas ele foi vindicado quando suas profecias se mostraram
verazes; Judá foi aniquilado, e os poucos sobreviventes foram levados para
o cativeiro na Babilônia. E então Jeremias foi levado para o Egito pelos
judeus que abandonaram a Terra Prometida. Ao que tudo indica, o profeta morreu
ali em paz. Ele foi invencível e sua missão se completou, e o Senhor o
livrou de todas as crises que lhe ameaçavam a vida. A graça divina foi
suficiente para ele.
(II Coríntios 12.9)
3.60 Viste a sua vingança toda. Este versículo reitera a ideia central do vs. 59: as
perseguições que Jeremias sofreu às mãos de homens ímpios. Sumario,
naquele versículo, os piores ataques contra a sua vida. Yahweh tinha plena
consciência do que estava ocorrendo, mas, por fim, atacaria os atacantes,
endireitando assim as contas. Yahweh viu o “espírito de vingança deles; a
sua ira e fúria, e como eles requeimavam com o desejo de prejudicar o
profeta. Ele viu seus atos desprezíveis, seu comportamento vil; entendeu a
iníqua imaginação deles, a elaboração de seus planos e esquemas” (John Gill, in
loc.). ‘Tudo está aberto diante dos olhos de Deus, oh, alma
aflita... Ele derrotará infalivelmente todos os planos deles e te salvará”
(Adam Clarlte, in loc.). ”Todos os seus pensamentos, as mesmas
palavras que os planos referidos em Jer. 11.19 e 18.18, aos quais o autor sacro, como é óbvio,
se refere” (Ellicott, in loc.).
3.61 Ouviste as suas afrontas, Senhor. O profeta repisa a questão, relembrando os escárnios
de seus inimigos, as zombarias de homens ímpios que lhe faziam carrancas
de ira. Seus atos eram acompanhados pela fala insolente. Eles usaram de
linguagem abusiva contra um homem inocente e então prosseguiram com
seus planos assassinos de tirar-lhe a vida. Ver no Dicionário o
verbete intitulado Linguagem, Uso Apropriado da, bem como notas
adicionais sobre o assunto, em Sal. 5.9; 12.2; 15.3 ; 17.3.”... a
linguagem desprezível deles, seus escárnios, suas zombarias e mofas”
(John Gill, in loc.), o que reflete a imaginação de seu
coração, por meio da qual eles tinham esperado aniquilar o profeta.
3.62 As acusações dos meus adversários. Este versículo refaz levemente as coisas que já
tinham sido ditas no vs. 61. Yahweh tinha consciência do que aqueles
homens insolentes estavam dizendo com os lábios, e era conhecedor
de seus pensamentos, que inventavam atos destruidores o dia
inteiro. Os lábios são paralelos às “afrontas” do vs. 61.
3.63 Observa-os quando se assentam e quando se levantam. “Vede! Em tudo quanto
fazem, zombam de mim com cânticos” (NCV). O hebraico diz aqui, literalmente, sentam-se
e levantam-se, atos comuns da vida que representam todas
as atividades. Em tudo quanto faziam, não se esqueciam de escarnecer do
profeta. Ele se tornou a letra da canção daqueles homens iníquos e
embriagados. Cf. Sal. 69.12, onde temos algo similar. O vs. 14 deste
capitulo nos dá a substância dessa queixa. Ver as notas ali.
3.64 Tu lhes darás a paga, Senhor. Os homens que agirem como faziam aqueles réprobos (conforme se
descreve nos vss. 58-63) sofrerão a retribuição divina apropriada. O que eles
semearam, terão agora de colher (Gál. 6.7,8). Ver no Dicionário o
verbete chamado Lex Talionis (retribuição conforme o crime cometido). A
Septuaginta e a Vulgata Latina apresentam as palavras deste versículo como
uma profecia. Esses pecadores não escaparão da vingança divina, porquanto a
palavra profética predisse a condenação deles, Cf. Jer. 50.15,29. Ver Sal.
28.4, que é bastante similar a este versículo. Paulo reproduziu esse sentimento
em II Tim. 4.14.
3.65 Tu lhes darás cegueira de coração. A vingança contra aqueles homens Ímpios e desvairados
significa que eles sofrerão tremenda tristeza no coração. Eles saberão o
que significa ser ferido pelo golpe divino e sofrer ansiedades e temores,
como sucedeu às suas vitimas. A maldição de Deus estará sobre
eles.
“Os líderes, responsáveis por terem rejeitado e
perseguido a Jeremias, foram punidos pela Babilônia (ver Jer. 39. 4-7;
52.7-11,24-27). O paralelo de Jerusalém é óbvio. A cidade também foi
perseguida por inimigos (Lam. 3.46,47), mas confiava que Deus a vindicaria
antes de seus inimigos, se ela se voltasse para Ele” (Charles H. Dyer, in
loc). Cf. este versículo com Isa. 6.10 e II Cor. 3.14,15. Aqueles
homens tinham o coração coberto pela cegueira e pela rebelião. O coração
deles era duro, pelo que eles praticavam o mal que agradava sua
mente perversa. Isso não poderia continuar. Eles tinham de ser afastados
dali. A Septuaginta substitui “cegueira de coração” por “cobertura de
coração”, que é uma tradução possível. Estão em foco a cegueira e a
dureza. O coração deles tinha-se tornado insensível a qualquer
apelo divino, pelo que eles estavam destinado à ruína. Esses homens sofreram de
Cegueira Judicial (ver a respeito na Enciclopédia de Bíblia,
Teologia e Filosofia).
3.66 Na tua ira os perseguirás, Yahweh, em Seu
alto céu, envia relâmpagos e fere aqueles homens miseráveis. Da mesma forma que
eles haviam perseguido e destruído, serão perseguidos e destruídos,
provavelmente por meio de instrumentos humanos, como os babilônios. Ver Jer.
39.4-7 ; 52.7-11,24-27. Assim teria cumprimento a Lei Moral da Colheita
segundo a Semeadura (ver a respeito no Dicionário). “Este
versículo parece aludir à predição caldaica em Jer. 10.11. Por sua
conduta, eles atraíram contra si mesmos a maldição denunciada contra
seus inimigos” (Adam Clarke, in loc.). “Destrói-os da terra do
Senhor” (NCV). Diz o hebraico, literalmente: “de sob os céus de Yahweh”,
referindo-se à terra localizada debaixo dos céus. “A frase é excepcional
mas, como é óbvio, equivalente ao mundo inteiro, considerado o
reino de Deus” (Ellicott, in loc.).
Este capítulo é paralelo a Lm 2, e ambos falam dos
juízos de Yahweh contra homens ímpios e desvairados. Jeremias voltou a falar
sobre as calamidades de Jerusalém, decorrentes de sua idolatria-adultério-apostasia.
Foi provido contraste entre as condições daquela cidade antes e depois do
cerco efetuado pelo exército babilônico (vss. 1-11). As causas do cerco
são declaradas nos vss. 12-20. A esperança da restauração é levantada nos
vss. 21 e 22.
Alguns Paralelos em Lam. 4.1-11. Temos aqui um artifício literário para efeito de
ênfase, onde os vss. 1-6 recebem paralelos nos vss, 7-11:
1. Vss.
J-6
Vss. 7-11
O valor dos
filhos de O valor dos
príncipes
Sião é desprezado
é desprezado
2.
Vss. 3-5 Vss. 9,10
Criancinhas e adultos Crianças
e adultos
sofrem juntos
sofrem juntos
3. Vs. 6
Vs. 11
Conclusão: a calamidade do castigo divino
Este capitulo é aliado
próximo de Lm 2. “Contrasta a humilhação de Jerusalém às mãos dos babilônios
com seu anterior esplendor, e lança a culpa sobre os sacerdotes e profetas
(vss. 13-16). Tal como o capítulo 2, trata-se da obra de uma testemunha
ocular do cerco, e é ao mesmo tempo vivida e concreta” (Theophile J. Meek,
in loc).