Provérbios 19: Significado, Teologia e Exegese
Provérbios 19
Provérbios 19 oferece uma série de contrastes incisivos que ressaltam a superioridade da integridade e da prudência sobre a riqueza e a tolice. A mensagem geral do capítulo enfatiza que o caráter de uma pessoa e suas ações justas são mais valiosos que posses materiais, e que a paciência, a humildade e a atenção à instrução são caminhos para uma vida de favor, tanto humano quanto divino. No original hebraico, o capítulo continua a fazer uso extensivo do paralelismo antitético, que contrasta ideias opostas (como o pobre íntegro e o rico perverso, ou o lento para a ira e o irascível) para ensinar verdades morais de forma memorável.
Essa estrutura concisa e didática se harmoniza profundamente com o Novo Testamento, que também valoriza a conduta reta acima das aparências externas (Mateus 5:3-12; Lucas 6:20-26). A ênfase na paciência, no controle da ira e na compaixão pelos pobres ecoa ensinamentos de Jesus (Mateus 5:7, 39) e de apóstolos como Tiago (Tiago 1:19-20), que ligam a verdadeira sabedoria à uma vida de humildade, misericórdia e justiça.
📝 Resumo de Provérbios 19
Provérbios 19 inicia destacando a superioridade do caráter sobre a riqueza e as consequências do engano. Nos vv. 1–3, o texto afirma que é melhor ser pobre e íntegro do que rico e enganoso em suas palavras. Uma pessoa que age sem conhecimento ou discernimento comete erros, e a precipitação nos passos leva a desvios. A loucura de uma pessoa, muitas vezes, arruína seu próprio caminho, e depois ela culpa o Senhor por seus infortúnios.
Já nos vv. 4–7, a sabedoria explora a natureza das relações sociais e a solidão da pobreza. A riqueza atrai muitos amigos, mas o pobre é abandonado até mesmo por seu vizinho. Uma testemunha falsa não ficará impune, e quem profere mentiras não escapará. Muitas pessoas buscam o favor de príncipes, e todos são amigos de quem oferece presentes. É ressaltado que todos os irmãos do pobre o detestam, e mais ainda seus amigos se afastam dele; mesmo que ele os persiga com súplicas, eles não o encontram.
No que se refere à aquisição de sabedoria e a importância do controle da ira, em Pv 19:8–11, quem adquire sabedoria ama sua própria alma e quem guarda o entendimento encontra o bem. A testemunha falsa não ficará impune, e quem profere mentiras perecerá. Não convém que um tolo viva no luxo, muito menos que um servo domine príncipes. A inteligência de uma pessoa a torna paciente, e sua glória reside em perdoar uma ofensa.
Em seguida, nos vv. 12–15, a sabedoria compara a ira do rei com seu favor, e as consequências de um lar problemático. A ira do rei é como o rugido de um leão, mas seu favor é como o orvalho sobre a grama. Um filho tolo é a desgraça de seu pai, e as contendas de uma esposa são como uma goteira contínua e irritante. Casas e riquezas são herdadas dos pais, mas uma esposa prudente e sábia é um presente do Senhor. A preguiça leva a um sono profundo, e o indolente padecerá de fome.
Ainda sobre a obediência aos mandamentos e a provisão divina, em Pv 19:16–18, quem guarda o mandamento preserva sua vida, mas quem despreza os caminhos de Deus morrerá. Quem se compadece do pobre empresta ao Senhor, e Ele o recompensará por sua boa ação. A sabedoria aconselha a disciplinar o filho enquanto há esperança, mas sem arruiná-lo em seu ímpeto de ira.
Os provérbios seguintes, nos vv. 19–23, tratam das consequências da ira e da importância do conselho. O homem de grande ira pagará o preço; se você o livrar uma vez, terá que fazê-lo novamente. É sábio ouvir o conselho e aceitar a instrução, pois assim se tornará sábio no futuro. Embora o coração do homem possa ter muitos planos, o propósito do Senhor é que prevalecerá. A lealdade de uma pessoa se revela em sua bondade, e é melhor ser pobre do que mentiroso. O temor do Senhor conduz à vida, traz contentamento e o livra do mal.
Finalmente, a preguiça e a punição aos zombadores concluem o capítulo. Nos vv. 24–26, o preguiçoso esconde a mão no prato e não consegue levá-la à boca para comer. A punição de um zombador serve de lição para o ingênuo, e repreender o homem de entendimento lhe dá mais conhecimento. O filho que rouba o pai e expulsa a mãe causa vergonha e desonra. A sabedoria encerra o capítulo, nos vv. 27–29, com a advertência de parar de ouvir a instrução que desvia do conhecimento. A testemunha perversa zomba da justiça, e a boca dos ímpios devora a iniquidade. O juízo está preparado para os zombadores, e o açoite para as costas dos tolos.
📖 Comentário de Provérbios 19
Provérbios 19.1 Este provérbio apresenta a pessoa pobre sob uma luz mais favorável do que a rica (Pv 28.6). Neste caso, a vida da pessoa pobre é marcada pela sinceridade, enquanto a de sucesso obteve sua riqueza fraudando e enganando. O livro dos Provérbios não diz que saúde e riqueza são prémios; concede esta honra à integridade (Pv 3.1-12).Provérbios “melhores do que” (comparativos) transmitem valores relativos. Os sábios certamente diriam que é melhor ter alguma riqueza, se não ser rico, do que ser pobre. No entanto, as qualidades éticas são mais importantes do que as posses materiais. Este provérbio afirma o princípio de que a loucura é um conceito ético. Os tolos não são apenas estúpidos e fazem coisas estúpidas; eles também são pessoas más. Em particular, de acordo com este provérbio, eles falam de uma forma que não reflete fielmente a realidade (“lábios tortos”). A metáfora do “caminhar” no primeiro ponto é uma alusão à metáfora da vida como caminho, fortemente desenvolvida nos primeiros nove capítulos do livro.
Provérbios 19.2 Muitos provérbios empregam a expressão “não é bom”. Este diz que não há nada de bom em quem não tem conhecimento. Nesta pessoa, só existe uma corrida para a destruição. Os pés dos tolos estão sempre prontos a correr para a ruína (Pv 21.5). Este provérbio pode estar próximo do conhecido aforismo “a pressa é inimiga da perfeição”. Se alguém é impulsivo, não pensando antes de agir, então cometerá erros. O desejo impulsiona a pessoa a agir de uma forma que satisfaça esses desejos, mas este provérbio adverte o ouvinte a pensar antes de fazer qualquer coisa. O conselho é absolutamente claro: Pense e reflita antes de agir!
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Provérbios 19:2: A Sabedoria Evita a Precipitação e Ilumina a Alma. |
Na primeira parte do versículo, o hebraico usa a palavra “tôv”, que significa “bom”, para dizer que não é bom (lōʿ-tov) agir sem conhecimento — sem daʿat. Esse termo daʿat está ligado à ideia de sabedoria prática e discernimento (cf. Provérbios 1:7, “o temor do Senhor é o princípio do conhecimento”). Quando alguém age só por impulso, sem pensar, está longe do caminho da sabedoria que os provérbios tanto exaltam. Por isso, Isaías 5:13 diz que o povo foi levado ao exílio “por falta de conhecimento”, e em Oséias 4:6 Deus afirma: “O meu povo foi destruído por falta de conhecimento”. O Novo Testamento também alerta sobre isso: em Romanos 10:2, Paulo diz que os judeus tinham zelo, mas “sem entendimento” (gr.: agnoia, “ignorância”), o que os levava a seguir caminhos errados.
A segunda parte do versículo fala sobre “apressar os pés” — em hebraico, a raiz ʿuwwts transmite a ideia de correr ou se apressar impulsivamente. Esse tipo de atitude é contrário à sabedoria bíblica, que valoriza a prudência (hebr.: ormah) e a reflexão. Provérbios 14:29, por exemplo, ensina que “o longânimo é grande em entendimento, mas o de espírito impaciente exalta a loucura”. E no Novo Testamento, Tiago 1:19 orienta: “Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”. Esse é o espírito desse provérbio: viver com pressa e sem reflexão não é apenas falta de sabedoria — é caminho de tropeço e de destruição.
Provérbios 19.3 Quantas vezes as pessoas se perderam em sandices autodestrutivas e depois clamaram a Yahweh para ajudá-las a sair da situação que criaram? Muitas vezes Deus pode ter a bondade. Este provérbio primeiro observa que é a estupidez das pessoas que as impede de progredir na vida. A metáfora do caminho é bem conhecida em Provérbios, particularmente nos primeiros nove capítulos, como uma metáfora do curso da vida de alguém. A estupidez impede as pessoas de progredir. Mesmo assim, essas pessoas não se culpam e tentam corrigir seus erros aprendendo estratégias corretas de vida. Em vez disso, eles se enfurecem contra Deus, a quem culpam por todos os seus problemas. Como eles não colocam a culpa de seus problemas no lugar certo, eles não podem melhorar suas vidas. Como Whybray comenta com razão, “A loucura e a blasfêmia estão intimamente ligadas aqui”. [Whybray, Proverbs, p. 276.]
Provérbios 19.4 Este versículo aponta uma particularidade na relação entre a posição social e as amizades. Geralmente, as pessoas providas de boa condição financeira atraem muitos amigos, enquanto as que ocupam uma posição social baixa têm poucos amigos, pois a pobreza costuma manter a maior parte das “amizades” distantes. Vale destacar que, como um cônjuge fiel, um amigo leal não tem preço (Pv 14-20).
Todo mundo quer ser amigo do rico, mas ninguém quer se associar com o pobre. Os pobres, afinal, têm problemas e podem precisar de ajuda ou mesmo de doações generosas para sobreviver, enquanto os ricos pelo menos aparentam poder ajudar. Este provérbio é uma observação que todos os que conhecem ricos e pobres podem entender. No entanto, é mais difícil determinar a atitude por trás da declaração, se houver. Em outras palavras, o provérbio entende que os amigos dos ricos são verdadeiros amigos ou parasitas? Neste último caso, pode ser apropriado colocar “amigos” entre aspas. De fato, Qoheleth entendeu que a riqueza atrai as pessoas, mas também deixou claro que elas eram sanguessugas: “Quando a prosperidade aumenta, aumentam aqueles que a consomem. Então, que sucesso existe para seu dono, exceto admirá-lo?” (Ecles. 5:11 [10 MT]).
Provérbios 19.5 A necessidade da verdade é muito importante para uma sociedade organizada. A falsidade não deve ser tolerada. O ensino em Provérbios sobre mentir no tribunal é abrangente (veja especialmente 6:19; 12:17; 14:5, 25; 19:9; 21:28) e claro. Este verso em particular enfatiza o certo destino negativo daqueles que se envolvem em tal discurso. Embora o cenário primário seja claramente legal, o princípio se aplica a todas as falas.
Provérbios 19.6 Usar de bajulações e agrados para conseguir atenção e favores de pessoas dotadas de poder e riquezas é um costume presente desde aquela época. Assim, supostos amigos e desconhecidos aproveitam inclusive nos dias de hoje para tirar algum proveito daqueles que se encontram em condições e posições favoráveis (Pv 17.8; 18.16). Dar presentes não é intrinsecamente mau, mas quem o dá pode perfeitamente ser mau.
O provérbio está na forma de uma observação. As pessoas se apresentam positivamente àqueles de quem esperam obter favores. Os governantes geralmente são ricos e têm posições de influência e, portanto, as pessoas são gentis com eles, pelo menos na cara, na esperança de obter vantagens. O mesmo é verdade com qualquer outra pessoa conhecida por trazer presentes. O propósito do provérbio, se houver, é mais difícil de desvendar. Este é um conselho sobre como ganhar o favor dos ricos e influentes? Está tirando sarro de pessoas que agem positivamente em relação aos outros por interesse próprio? É crítico? Pelo menos informa quem o lê da realidade da situação para que possa agir em conformidade. Este versículo faz um ponto semelhante a 19:4.
Provérbios 19.7 A conduta daqueles que abandonam um amigo por estar na pobreza deve ser confrontada pela postura de amigos verdadeiros, destacada em textos como Provérbio 17.17 e 18.24. 19:7. As duas primeiras colas têm um significado bastante claro e estão de acordo com a mensagem de 19:4. Ninguém gosta de estar perto de gente pobre, nem de seus parentes (“irmãos”) e nem de seus amigos. Os pobres são muito problemáticos e não ajudam os outros.
A dificuldade neste versículo está no terceiro cólon. Pode ser, como muitos comentaristas sugerem, [Murphy, Proverbs, p. 141.] que este terceiro cólon seja o remanescente corrompido de outro bicolon. Juntamente com versões como NIV e NRSV, tentamos fazê-lo caber como um terceiro dois pontos, embora a conexão seja tênue. A ideia é que nem irmãos nem amigos estejam presentes quando os pobres tentam falar com eles sobre seus problemas.
Provérbios 19.8 Em última análise, a expressão “achará” o bem significa encontrar o Senhor em Sua Palavra (Pv 16.20). Essa observação serve como motivação para trabalhar na aquisição de sabedoria. “Coração” denota caráter, na minha opinião. Muitos estudiosos acreditam que “coração” aponta especificamente para a mente de alguém, e certamente o paralelo com “competência”, uma palavra formada a partir do verbo “entender” (tĕbûnâ de bîn) ajudaria a apoiar essa ideia. No entanto, o segundo dois pontos não fornece um paralelo exato com o primeiro dois pontos, mas, em vez disso, especifica o significado com mais cuidado. Assim, entendo a primeira vírgula dizendo que quem quer melhorar o caráter quer o melhor para si, e a segunda vírgula falando mais especificamente de um aspecto do caráter: a competência, o conhecimento prático.
Nesta última linha, o interesse próprio é usado como motivação. Por que as pessoas deveriam trabalhar no desenvolvimento do caráter? Porque está em seus melhor interesse.
Provérbios 19.9 Este versículo é uma ligeira variação de Provérbio 19.5; e um repúdio aos males causados pelo falso testemunho, desrespeito a um dos Dez Mandamentos (Ex 20.16; Dt 5.20) e uma ruptura do pacto de confiança entre Deus e o Seu povo.
Provérbios 19.10 É ultrajante o insensato ocupar posições de destaque e viver em luxo. Esta posição deveria ser reservada ao homem que a ganha mediante a observância da lei. A expressão “não está bem” também pode ser traduzida como “não convém” (Pv 17.7).
Os sábios tinham um senso definido do que era apropriado em termos de arranjos sociais. Da perspectiva da sabedoria, o primeiro cólon é obviamente verdadeiro. Não está de acordo com o que é certo que os tolos tenham facilidades materiais. Que tal comentário deve ser feito, no entanto, nos alerta para o fato de que os sábios sabiam que às vezes os tolos têm luxo. A segunda linha parece indicar uma certa ideia rígida de estratificação social. Os servos servem. Eles não mandam, e quando o fazem, não é bom.
Este ensinamento é semelhante ao encontrado em Eclesiastes 10:5–7, que também comenta negativamente sobre a situação inversa – reis, nobres e ricos tendo posições sociais baixas. A ideia do “mundo de cabeça para baixo” é um tema frequente na sabedoria do antigo Oriente Próximo. Além de Provérbios (ver também 30:21-22) e Eclesiastes na tradição hebraica, o mesmo tema também pode ser encontrado nas admoestações egípcias de Ipu-Wer. Esse tema também é encontrado na literatura apocalíptica (ver Isaías 24:2; bem como nas profecias acadianas de Marduk e Shulgi). Ver Van Leeuwen, “Provérbios 30:21–23”.
Provérbios 19.11 A paciência e o autodomínio são virtudes da sabedoria (Pv 16.32). O mesmo não se pode afirmar da impetuosidade e dos rompantes violentos. Estas características são comuns no homem tolo e imprudente. Aqueles com sabedoria (“insight” está associado a ḥokmâ) evitam conflitos. Aqui eles fazem isso controlando suas emoções. Às vezes, ao responder a uma ofensa irritante, as pessoas criam mais problemas e aborrecimentos para si mesmas. Assim, os sábios não são rápidos em responder com raiva a alguém. Deus ele mesmo é lento para pegar ofensa (Êx 34:6; Mq 7:18).
Provérbios 19.12 As descrições do bramido do leão e do orvalho sobre a erva são especialmente adequadas quando o monarca tem poder absoluto. Sua ira pode ser violenta e imprevisível como um leão, e o seu favor, agradável é restaurador como o orvalho. Um bom rei deve exortar e conceder sua graça por bons motivos.
Os reis têm poder sobre os outros, até mesmo o poder da vida e da morte. A observação desse provérbio ajuda a lembrar aos sábios que é tolice provocar a ira de um governante. A raiva o torna como um leão destruidor, mas dizer ou fazer coisas que trazem seu favor trará à pessoa refrigério que é como o orvalho na grama. O orvalho na Palestina seca e árida trouxe vida à vegetação. Para outros ensinamentos sobre o rei em Provérbios, veja 8:15–16; 14:28, 35; 16:10, 12, 13, 14, 15; 19:12; 20:8, 26, 28; 21:1; 22:11; etc., especialmente 20:2.
Provérbios 19.13, 14 A expressão “gotejar contínuo” pode ser uma referência a uma briga constante em uma família. A mulher prudente demonstra sabedoria ou argúcia. Encontrar o cônjuge certo é uma benção de Deus (Pv 18.22).
Provérbios 19:13 Este provérbio combina duas preocupações abordadas individualmente em outros provérbios. A perspectiva é a do homem mais velho da casa e lida com dois relacionamentos importantes. Por um lado, um filho que toma decisões tolas na vida é um desastre para o pai (ver 10:1; etc.). Afinal, um filho tolo acaba se metendo em todos os tipos de problemas que o pai sente intensamente por causa de seu amor pelo filho. O segundo relacionamento íntimo que pode ser fonte de aborrecimento é a esposa (21:9, 19; 25:24). Resmungar é aqui comparado à tortura de pingar água. Não é uma força avassaladora, mas desgasta.
A perspectiva masculina mais velha é uma função dos destinatários originais do provérbio. As mulheres precisam simplesmente substituir “marido” por “esposa” (ver “Gênero e Teologia” na introdução).
Provérbios 19:14 Coisas boas (“casa e riqueza”) vêm da geração anterior, mas isso não é nada comparado ao presente que só pode vir de Javé: uma esposa sábia. Este provérbio equilibra o anterior, que fala de uma esposa contenciosa. Provérbios não critica as mulheres como mulheres, apenas aquelas que perturbam a harmonia social na família. Provérbios reserva seus maiores elogios às mulheres virtuosas (31:10-31). Veja também 18:22.
Provérbios 19.15 Os provérbios não possuem palavras boas para se referir a preguiça, o vício do indolente (Pv 6.6,9). Os provérbios conclamam misericórdia e compaixão pelos pobres e necessitados, mas pelos indolentes, apenas desprezo (Pv 19.17; 10.4, 5). Este provérbio faz parte de uma série de afirmações sarcásticas sobre a preguiça. O sábio acredita que os preguiçosos adotaram uma estratégia tola para viver, o que levará à sua própria autodestruição. Aqui, o preguiçoso prefere dormir do que trabalhar. Nem mesmo seus apetites os motivarão a sair e trabalhar. Eles seria em vez de morrer de fome para morte.
Provérbios 19.16 A sabedoria e a insensatez são questões de vida ou morte, como é amplamente demonstrado pelos ensinamentos de Provérbio 1-9 (ex. Pv 1.32,33). Assim, buscar a sabedoria é, em última analise, uma atitude de quem tem genuína autoestima (Pv 19.8). Buscar a tolice é abraçar a morte. Para o significado do “mandamento”, veja 2:1, onde foi argumentado que a palavra aponta para a lei e fornece uma ponte para a Torá. Guardar a lei de Deus, bem como seguir o conselho do pai, permite viver a vida de uma forma que minimiza as possibilidades de morte prematura. No entanto, a morte virá para aqueles que ignoram a estratégia de uma vida adequada (e, portanto, desprezam suas vidas [“caminho”]).
Provérbios 19.17 Fazer caridade aos pobres e necessitados é visto, neste versículo, como um empréstimo a Deus. Se você quer fazer um empréstimo a alguém, que seja a Ele. O Senhor o recompensara. A preocupação de Yahweh com os pobres está bem documentada nas Escrituras (ex. Dt 10.18,19). Este provérbio usa a metáfora do crédito para elogiar o comportamento generoso para com os pobres. Dar aos pobres é como um empréstimo ao próprio Deus, que recompensará aqueles que o fizerem. Isso sugere que o principal tipo de comportamento gracioso ou generoso em mente é em termos de bens materiais. Aqueles que dão sustento aos pobres descobrirão que seus próprios bens materiais aumentam, embora seja possível que outras recompensas imateriais sejam destinadas ou incluídas. Compare Dt. 15:1–11.
Provérbios 19.18 Se o pai recusar-se a aplicar disciplina, ele condena o futuro do filho (Pv 13.24). Disciplina, um termo que tem implicações de punição física, é a chave para a sabedoria. As crianças não são naturalmente sábias, mas devem ser treinadas na sabedoria. Os sábios enfatizam muito a urgência de instruir os jovens nos caminhos da sabedoria. Se lhes for permitido envelhecer sem serem influenciados para o caminho da sabedoria, então eles ficarão presos a uma mentalidade tola, e a tolice leva à morte. Assim, reter a instrução das crianças é considerado um atentado contra suas vidas.
Uma compreensão alternativa da relação das duas colas é representada pela tradução de Murphy:
Discipline seu filho enquanto há esperança,Nesta interpretação, o segundo dois pontos impõe restrições ao primeiro. Discipline seu filho, mas não se deixe levar e bata nele tanto que ele morra. Na minha opinião, esse entendimento, embora possível, não é a leitura mais natural, pois sabemos de outro lugar (23:13-14) que a ideia de disciplinar uma criança tem como objetivo protegê-la da morte que vem para aqueles que seguem o caminho da loucura.
mas sem morte! Não fique sobrecarregado!
[Murphy, Proverbs, p. 145.]
Provérbios 19.19 A raiva desmedida é uma insensatez, assim como a disciplina sem temperança. Nada muda realmente quando uma pessoa de “pavio curto” é salva de uma situação problemática. Ela precisara ser salva outras vezes.
Este provérbio faz uma observação sobre as pessoas que são caracteristicamente zangadas. Eles contêm as sementes de sua própria punição. Eles ficam com raiva e trazem o ressentimento das pessoas sobre eles. A observação é, na verdade, dirigida não a pessoas que não conseguem controlar sua raiva, mas àqueles que as ajudam a sair de apuros. É um lembrete de que o problema é habitual. Talvez a mensagem implícita não seja tentar resgatar essas pessoas; como o tolo que não merece uma resposta (26:4), a pessoa irada não deve ser ajudada.
Provérbios 19.20 A sabedoria leva a um futuro glorioso. Trata-se de uma porta para a eternidade. No Novo Testamento, a ideia que corresponde a busca pela sabedoria em textos como esse e o objetivo de parecer-se com Cristo, modelar-se a Sua imagem. Em ultima analise, ser sábio (no sentido bíblico) e ser como Jesus.
Tornar-se sábio não é uma coisa automática ou da noite para o dia. É preciso ouvir outras pessoas sábias e aceitar suas instruções corretivas. Com o tempo, então, a pessoa cresce em sabedoria. Este provérbio pode parecer mais naturalmente dirigido aos jovens no início de sua jornada, mas pode ser seguido até pelos mais experientes (veja a admoestação de que os sábios ouçam para que se tornem ainda mais sábios em 1:5).
Provérbios 19.21 O sábio confia seus propósitos ao Senhor (Pv 16.3). A pessoa que não busca a vontade de Deus (como no Sl 2.1-3) pode tornar-se uma verdadeira inimiga do Criador. Aquele, porém, que confiar sua vida ao Pai certamente obterá o sucesso (Pv 16.1, 9). Esse pensamento é semelhante ao expresso em 16:1 e 9, e semelhante aos vv. 2, 3 e 33 do mesmo capítulo. As pessoas têm muitas estratégias, mas, a menos que sigam o conselho de Deus, não darão frutos. Essa observação desencoraja a ideia de que a estratégia humana pode levar ao sucesso. Devemos depender sobre Deus.
Provérbios 19.22 O pobre integro tem mais honra do que a pessoa de sucesso que obteve seu cargo ou situação por meio de fraudes (v. 1). A palavra “beneficência” também pode significar “beleza”. A fidelidade é bela, enquanto que a fraude desfigura o caráter (Pv 3.14; 31.18). Este provérbio, entretanto, não é fácil de entender, explicando assim as diferenças nas traduções. A interpretação provisoriamente adotada aqui é a seguinte. A primeira vírgula afirma que as pessoas desejam ḥesed, um termo que descreve o cerne do relacionamento da aliança.
Ḥesed pode se referir tanto ao relacionamento divino-humano quanto humano -humano, e é provável que o último se refira aqui. A segunda vírgula dá um provérbio melhor que privilegia a integridade sobre a riqueza. Novamente, não diminui a riqueza, mas apenas apresenta valores relativos. A conexão com o primeiro cólon seria então uma questão de aguçar o foco do “amor da aliança”. Ḥesed envolve muitas virtudes, uma das quais é a integridade, a fidelidade na área dos relacionamentos. Aqueles em um relacionamento de convênio devem permanecer fiéis à sua palavra. A mentira é uma violação fundamental da confiança, frequentemente denunciada em Provérbios (6:16–19; 13:5; 14:5; 25:18).
Provérbios 19.23 Este provérbio ressalta a natureza perene da verdadeira devoção e as fartas recompensas que ela proporciona. O temor do Senhor é comparado com todos os outros prazeres (Pv 15.16,33), porque só ele conserva a inocência do cristão e proporciona satisfação a vida inteira. O temor de Javé (para o qual ver 1:7 no comentário e “Medo de Javé” na introdução) expulsa todos os outros medos e conduz à vida (ver também dois pontos 1 de 14:27) e não à morte. O medo específico em vista no cólon 2 parece estranho, mas pode ser ilustrado por algumas histórias bem conhecidas no AT. Em Gen. 19 e em Jz. 19, temos histórias de viajantes que pernoitam em uma cidade estranha e enfrentam um mal incrível, embora tenham buscado refúgio na casa de alguém. Essas histórias nos informam que viajar no mundo antigo não era uma questão segura, e o único recurso seguro era Javé.
Provérbios 19.24 Aqui fala de alguém que é tão preguiçoso que não quer nem levar a mão a boca repetidas vezes para comer! Então ele se curva, enfiando a cabeça no prato e deixando as mãos ao lado (Pv 26.15). Os sábios estão em seu melhor sarcástico ao descrever os preguiçosos. Eles podem reunir energia suficiente para colocar a mão em uma tigela para comer, mas nem mesmo a fome pode motivá-los a terminar o trabalho levando-a à boca. Para outros provérbios sobre preguiça.
Provérbios 19.25 A pessoa simples [“inexperiente”, na NVI], aquela que ainda tem de estabelecer qual será o seu caminho na vida, pode aprender observando o sofrimento do escarnecedor. Este pode até não aprender nada com o próprio sofrimento, mas quem estiver pronto a aprender pode. O vocabulário deste provérbio lembra as instruções dos caps. 1–9 (“zombeteiro”, lēṣ; “simples”, petî; etc.). Este provérbio inspira o difícil trabalho da educação. “Zombadores” (lēṣ) não podem aprender porque ficam na defensiva em relação aos seus erros.
Eles vão zombar daqueles que tentam instruí-los. No entanto, esse provérbio indica que o esforço para educá-los por meio do tipo de punição física geralmente associada ao aprendizado em Provérbios pode não ajudá-los (porque eles podem ser espancados sem nenhum efeito; cf..17:10); ainda assim, tal punição ensinará uma lição a uma pessoa imatura, cujas defesas não são tão altas (para “simples”, veja 1:4). O segundo dois pontos nos lembra que aqueles que já estão do lado da sabedoria podem continuar aprendendo, e assim a correção dirigida a eles levará a um aumento em seu conhecimento. Para um de perto relacionado provérbio, veja 21:11.
Provérbios 19.26, 27 O desejo de ter um bom filho é tema de diversos provérbios (10. 1). O filho que maltrata os pais envergonha e desobedece as ordens de Deus (Pv 20.20; Ex 20.12; Dt 5.16), A justaposição do provérbio (v. 27) dirigido ao filho meu pela primeira vez desde os capítulos de 1 a 9 após falar sobre o filho tratante no versículo 26 e proposital. O filho tratante se envergonha, enquanto que o filho obediente é fiel e tem sucesso.
Provérbios 19:26 Os filhos devem honrar seus pais (Êxodo 20:12); quando eles não apenas não os honram, mas também os envergonham positivamente, eles são dignos de total desprezo. O provérbio é uma observação que serve de advertência contra o comportamento impróprio para com os pais.
Provérbios 19:27 Não basta seguir conselhos sábios uma vez: é um processo contínuo. O sábio adverte o filho a não pensar que chegará a um ponto em que não será necessária mais instrução. Reunir sabedoria é um processo ao longo da vida. O pai ironicamente (uma dinâmica comum nos capítulos 1–9, mas atestada apenas aqui em 10–31) instrui o filho a parar de ouvir as instruções. As consequências negativas expressas no segundo ponto deixam claro que ele realmente não quer que seu filho siga esta instrução em particular.
Provérbios 19.28 Eis um provérbio que vincula o falso testemunho (Pv 19.5) aos ímpios (o homem de Belial, Pv 16.27). Esta pessoa escarnece da justiça e proclama largamente toda forma de iniquidade. Ainda outro provérbio que condena o falso testemunho, particularmente em um tribunal (14:5, 25; etc.), mas o princípio certamente foi entendido de forma mais ampla do que isso. A segunda linha pode significar especificamente que os ímpios atribuem culpa onde ela não é justificada. Para “sem valor”, veja 16:27; ver também 1 Sam. 2:12.
Provérbios 19.29 Em vez de receitar necessariamente um castigo físico, este versículo pode estar descrevendo o fardo dos teimosos. Eles mesmos atraem o seu castigo. O versículo pode ser lido metaforicamente ou no sentido literal. Há um ajuste natural entre punição e tolos. Eles merecem isso. Essa observação pode servir de motivação para evitar tal comportamento. O versículo pode ser uma resposta ao imediatamente anterior, que sugere que os escarnecedores zombam da “justiça” (a mesma palavra hebraica, que aqui traduzimos “castigos”).
🙏 Devocional de Provérbios 19
Provérbios 19:1-5 (A Superioridade do Íntegro e a Falsidade da Mentira)Provérbios 19 se inicia estabelecendo a prioridade da integridade moral sobre a astúcia e a advertência contra a insensatez. O versículo 1 afirma categoricamente que é melhor ser pobre e caminhar em integridade do que ser perverso nos lábios e insensato, sublinhando que o caráter vale mais que a condição social. O v. 2 adverte sobre a imprudência de agir sem conhecimento e como a pressa nos passos pode levar ao erro, indicando que a sabedoria exige ponderação. O v. 3 atribui a própria insensatez do homem como a causa da sua ruína, mesmo que ele, em seu coração, se irrite contra o Senhor, demonstrando a cegueira da culpa. Os vv. 4-5 lidam com a natureza volátil das riquezas e a certeza do julgamento divino sobre a falsidade: a riqueza atrai muitos amigos, mas o pobre é abandonado até pelo seu amigo mais próximo. Contudo, uma falsa testemunha não ficará impune, e quem profere mentiras não escapará do castigo.
A aplicação prática dessas verdades ressalta a primazia do caráter e a ineficácia da desonestidade. Para o seguidor de Cristo, a integridade é um bem inestimável que transcende qualquer condição material, pois é na retidão de coração que se encontra a verdadeira riqueza (Provérbios 28:6). A paciência e a reflexão são virtudes essenciais, pois agir precipitadamente, movido pela ignorância ou pela impaciência, invariavelmente conduz a erros. No lar, pais têm o dever de ensinar seus filhos a valorizar a honestidade e a pureza de caráter acima de qualquer ganho material, mostrando que a verdadeira reputação é construída sobre a verdade. Eles devem também alertar contra a irresponsabilidade de culpar a Deus ou terceiros pelas próprias falhas, incentivando a autoavaliação e a responsabilidade pessoal.
Filhos aprendem que a pressa sem discernimento leva a caminhos tortuosos, e que a amizade genuína não se baseia na riqueza, mas na lealdade. No ambiente profissional, a integridade é o alicerce de uma carreira sólida; a falsidade e a testemunha enganosa não podem sustentar o sucesso a longo prazo e atraem o justo castigo, seja ele ético ou legal. Um funcionário que age com diligência e sabedoria, sem pressa imprudente, é mais confiável. Na comunidade eclesiástica, a honestidade e a verdade são pilares da comunhão; a mentira, em qualquer de suas formas, corrói a confiança e enfraquece o testemunho da igreja (Efésios 4:25). Como cidadãos, somos chamados a ser modelos de integridade na sociedade, combatendo a corrupção e a falsidade, e a denunciar a injustiça, lembrando que a punição divina e humana aguarda aqueles que usam a mentira para deturpar a verdade e prejudicar o próximo.
Provérbios 19:6-10 (A Falsa Amizade da Riqueza e a Inconsistência do Tolo)
Este bloco de Provérbios 19 prossegue com a exploração das relações humanas, a natureza da tolice e a incompatibilidade da dignidade com o insensato. O versículo 6 reitera a facilidade com que muitos buscam o favor do príncipe e como todos se tornam amigos de quem dá presentes, mostrando a superficialidade das relações baseadas no interesse. O v. 7 lamenta o abandono do pobre por seus próprios irmãos, e quão mais longe estão seus amigos, pois, apesar de buscar amizade, não a encontra, ilustrando a dura realidade da pobreza. O v. 8 elogia aquele que adquire sabedoria e entendimento, pois ele ama a sua própria alma e encontra o bem, indicando a autoedificação através da busca pelo conhecimento. O v. 9 reafirma a inevitabilidade do castigo para a falsa testemunha e o mentiroso. Por fim, o v. 10 questiona a adequação de um tolo viver em luxo, ou de um servo governar sobre príncipes, indicando que a prosperidade e a autoridade deveriam ser acompanhadas de sabedoria e caráter.
A aplicação prática dessas verdades nos convida a buscar relacionamentos autênticos e a cultivar a sabedoria como prioridade. Para o seguidor de Cristo, a verdadeira amizade não está atrelada ao status social ou à riqueza material, mas ao amor sacrificial e à lealdade, como exemplificado em Jesus, que foi “amigo dos pecadores” (Mateus 11:19). A busca pela sabedoria e pelo conhecimento de Deus é um ato de amor-próprio, pois conduz ao bem-estar da alma. No lar, pais devem ensinar seus filhos a distinguir entre amigos superficiais, atraídos por interesses, e companheiros leais, que permanecem na adversidade. Eles devem também modelar a valorização da sabedoria sobre o luxo e a busca por um caráter justo, independentemente da posição social. Filhos aprendem a buscar conhecimento e a discernir a quem confiar, evitando a futilidade da ostentação.
No ambiente profissional, a busca por uma posição de influência deve ser acompanhada por um caráter íntegro e sabedoria, pois a ascensão de um tolo ao poder é uma desgraça para a organização. A honestidade e a confiabilidade na fala são a base para qualquer relacionamento de trabalho sólido. Na comunidade eclesiástica, a verdadeira comunhão se expressa no acolhimento aos necessitados e na valorização do caráter sobre o status. A igreja deve ser um lugar onde a sabedoria é buscada e o falso testemunho é confrontado (Provérbios 24:28). Como cidadãos, somos chamados a valorizar a sabedoria na liderança, questionando a adequação de pessoas sem caráter em posições de poder. A solidariedade com os mais pobres e a condenação da falsidade são atitudes que promovem uma sociedade mais justa e compassiva, onde a verdadeira honra é concedida àqueles que amam a sabedoria e a retidão.
Provérbios 19:11-14 (A Discreção da Ira, o Domínio da Razão e a Provisão de Deus)
Este segmento de Provérbios 19 oferece insights sobre a gestão da ira, a superioridade da razão sobre a paixão e a provisão divina em aspectos fundamentais da vida. O versículo 11 ensina que a prudência do homem o torna tardio para a ira, e sua glória está em passar por cima da transgressão, destacando a sabedoria do autocontrole e do perdão. O v. 12 compara a indignação do rei ao rugido de um leão, mas seu favor à relva refrescante – uma poderosa imagem do contraste entre a punição e a bênção da autoridade. O v. 13 afirma que um filho tolo é a calamidade para o pai, e as contendas da esposa são uma goteira contínua, ilustrando fontes de aflição no lar. Finalmente, o v. 14 estabelece que casa e riquezas são herdadas dos pais, mas uma esposa prudente vem do Senhor.
A aplicação prática dessas verdades nos impele a cultivar o domínio próprio, a prudência nas relações e a confiança na provisão divina. Para o seguidor de Cristo, a paciência e a capacidade de perdoar são virtudes que honram a Deus e promovem a paz, lembrando-nos de que somos chamados a “ser tardios para se irar” (Tiago 1:19) e a perdoar como fomos perdoados (Efésios 4:32). O reconhecimento de que a bênção de um bom cônjuge é uma dádiva divina nos leva à gratidão e à oração. No ambiente familiar, pais podem ensinar seus filhos a controlar a raiva, mostrando a dignidade que há em perdoar ofensas. Eles devem também buscar em Deus a sabedoria para escolher seu cônjuge, e edificar um lar sobre a prudência e o respeito mútuo, evitando a contenda. Filhos aprendem a reconhecer a aflição que a tolice pode trazer aos pais e a valorizar a importância de um lar pacífico, buscando a bênção divina para suas futuras relações.
No ambiente profissional, a paciência e a capacidade de perdoar deslizes de colegas ou superiores contribuem para um clima de trabalho mais saudável. Um líder que demonstra controle sobre sua ira e que promove a reconciliação é mais eficaz e respeitado. Na comunidade eclesiástica, a moderação na ira e a disposição para o perdão são essenciais para manter a unidade do corpo de Cristo. A igreja deve ser um lugar onde casamentos saudáveis são valorizados como dádivas de Deus e onde se ensina a importância da prudência na construção de lares estáveis. Como cidadãos, somos chamados a modelar o autocontrole em nossas interações públicas, promovendo o diálogo em vez da agressão. A busca por parceiros que demonstrem prudência e sabedoria é crucial para a formação de famílias estáveis, que são a base de uma sociedade saudável, e a convicção de que Deus provê os bens essenciais, inclusive um bom cônjuge, nos leva a uma vida de gratidão e confiança.
Provérbios 19:15-18 (Os Custos da Preguiça e a Sabedoria da Disciplina)
Este bloco de Provérbios 19 aborda as consequências da preguiça e a importância crucial da disciplina na formação do caráter. O versículo 15 descreve como a preguiça lança em profundo sono, e a alma indolente passará fome, revelando a inevitabilidade das consequências da inação. O v. 16 estabelece um princípio fundamental: quem guarda o mandamento guarda a sua alma, mas quem despreza os seus caminhos morrerá, ligando a obediência à vida e a desobediência à ruína. O v. 17 apresenta um ensinamento poderoso sobre a caridade: quem se compadece do pobre empresta ao Senhor, e Ele lhe retribuirá o seu benefício, destacando a retribuição divina pela benevolência. Finalmente, o v. 18 aconselha a disciplinar o filho enquanto há esperança, e não desejar a sua destruição, enfatizando a responsabilidade parental na correção.
A aplicação prática dessas verdades nos impulsiona à diligência, à obediência e à compaixão. Para o seguidor de Cristo, a preguiça não é apenas uma falta de ação, mas um pecado que leva à miséria espiritual e material, ao passo que a obediência aos mandamentos de Deus é um caminho de vida e proteção (João 14:15). A compaixão pelos pobres é um ato de adoração que agrada a Deus e garante Sua recompensa. No lar, pais devem ensinar seus filhos sobre o valor da diligência e da responsabilidade nas tarefas, mostrando que a inação traz consequências. A disciplina, aplicada com amor e no tempo certo, é essencial para moldar o caráter dos filhos e evitar que eles sigam caminhos destrutivos, lembrando que a ausência de correção é uma forma de negligência.
Filhos aprendem a evitar a preguiça que leva à escassez e a obedecer aos pais, compreendendo que a disciplina visa o seu bem. No ambiente profissional, a diligência é um requisito para o sucesso; o profissional preguiçoso não apenas prejudica a si mesmo, mas também a equipe e a organização. A obediência às normas e a dedicação às responsabilidades são pilares da excelência. Na comunidade eclesiástica, a compaixão pelos necessitados é uma expressão concreta do amor de Cristo (Mateus 25:40), e a disciplina eclesiástica, quando necessária, deve ser aplicada com esperança de restauração, visando o bem do indivíduo e da comunidade. Como cidadãos, somos chamados a combater a preguiça social e a promover a responsabilidade individual. A caridade e a compaixão pelos mais vulneráveis são virtudes cívicas que constroem uma sociedade mais justa e solidária, e o investimento na educação e disciplina das novas gerações é fundamental para o futuro de qualquer nação.
Provérbios 19:19-22 (As Consequências da Ira e a Sabedoria da Busca por Entendimento)
Este bloco de Provérbios 19 aborda as consequências da ira descontrolada e a importância da busca por entendimento e fidelidade. O versículo 19 adverte que o homem de grande ira sofrerá o dano, e se alguém tentar livrá-lo, terá de fazê-lo novamente, indicando um ciclo vicioso de problemas causados pela impulsividade. Os vv. 20-21 incentivam a ouvir conselhos e aceitar a instrução para se tornar sábio no futuro, e reafirmam a soberania divina: há muitos planos no coração do homem, mas o propósito do Senhor é que prevalecerá. Finalmente, o v. 22 declara que o desejo do homem é a sua benevolência, e é melhor ser pobre do que mentiroso, valorizando o caráter sobre a falsa riqueza.
A aplicação prática dessas verdades nos impele ao autocontrole, à abertura para a instrução e à busca pela genuína bondade. Para o seguidor de Cristo, a ira descontrolada é um inimigo da paz e da sabedoria, trazendo repetidos problemas. A busca por conselhos sábios e a submissão à vontade de Deus são caminhos para a verdadeira sabedoria e para que os planos divinos prevaleçam (Tiago 1:19-20). A bondade e a veracidade de caráter são mais valiosas do que qualquer disfarce de riqueza ou sucesso. No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a controlar a raiva, mostrando-lhes que a impulsividade traz consequências negativas e contínuas. Eles devem também modelar a abertura para o conselho e a busca pela instrução, incentivando os filhos a aprenderem e a cultivarem a bondade em suas ações. Filhos aprendem a evitar a ira que lhes causa danos e a buscar a sabedoria que vem de ouvir e aceitar a instrução. No ambiente profissional, um profissional que se deixa levar pela raiva pode prejudicar suas relações e sua carreira.
A humildade em aceitar conselhos e a honestidade são qualidades que promovem um ambiente de trabalho mais produtivo e confiável. A busca pela benevolência e a recusa à mentira são pilares para a construção de uma reputação sólida. Na comunidade eclesiástica, a paciência e a abertura para a instrução são essenciais para o crescimento espiritual e para a resolução pacífica de conflitos. A benevolência genuína e a veracidade devem caracterizar todas as interações entre os irmãos, pois a mentira destrói a comunhão. Como cidadãos, somos chamados a modelar o autocontrole em nossas interações públicas, buscando a sabedoria e a verdade acima de tudo. A promoção da bondade e a denúncia da falsidade são cruciais para a construção de uma sociedade mais justa e compassiva, lembrando que, acima de todos os planos humanos, a vontade de Deus se cumpre, e a verdadeira dignidade reside na honestidade e na benevolência.
Provérbios 19:23-29 (O Temor do Senhor, a Preguiça e a Justiça Divina)
Este bloco final de Provérbios 19 encerra o capítulo com a exaltação do temor do Senhor e a inevitabilidade das consequências da preguiça e da insensatez. O versículo 23 declara que o temor do Senhor conduz à vida, e aquele que o tem passará a noite satisfeito, sem ser visitado pelo mal, destacando a segurança e a paz que a reverência a Deus proporciona. O v. 24, de forma pitoresca, descreve o preguiçoso que mete a mão no prato, mas nem sequer consegue levá-la à boca, ilustrando a inação extrema que leva à própria miséria.
O v. 25 instrui a castigar o zombador para que o simples aprenda a prudência, e a repreender o entendido para que ele ganhe conhecimento. O v. 26 condena o filho que desonra e expulsa o pai, e que envergonha a mãe, apontando para a gravidade da ingratidão filial. O v. 27 adverte para parar de ouvir a instrução que nos desvia das palavras do conhecimento. Os vv. 28-29 concluem que a testemunha perversa zomba da justiça, e a boca dos ímpios devora a iniquidade. Finalmente, os juízos estão preparados para os zombadores, e os açoites para as costas dos tolos.
A aplicação prática dessas verdades nos impele a viver em temor ao Senhor, a combater a preguiça e a buscar a justiça. Para o seguidor de Cristo, o temor do Senhor não é medo paralisante, mas uma reverência profunda que é a fonte da vida, da paz e da segurança contra o mal (Provérbios 9:10). A diligência em todas as áreas da vida é um reflexo desse temor, pois a preguiça traz consequências amargas. A prontidão em repreender o erro e em aceitar a correção é um sinal de sabedoria e de amor pela verdade. No lar, pais devem ensinar seus filhos a temerem ao Senhor como o princípio da sabedoria, incentivando a diligência nas tarefas e na aprendizagem.
A correção disciplinar, quando necessária, deve ser aplicada com discernimento, visando o aprendizado e a formação do caráter. É vital também nutrir o respeito e a honra pelos pais, pois a desonra filial traz vergonha. Filhos aprendem que a preguiça leva à necessidade e que a desonra aos pais é um grave erro, buscando a sabedoria para aceitar a correção e discernir a verdadeira instrução. No ambiente profissional, a diligência é uma virtude que garante o sucesso e a satisfação, e a recusa em participar de práticas desonestas é um testemunho de integridade. A capacidade de dar e receber feedback construtivo é essencial para o crescimento individual e da equipe. Na comunidade eclesiástica, a reverência a Deus e a diligência no serviço são fundamentais para o florescimento da fé.
A igreja deve ser um lugar onde a correção é aplicada com amor e justiça, visando à restauração e ao crescimento dos irmãos. Como cidadãos, somos chamados a temer a Deus em nossas ações públicas, agindo com diligência e combatendo a preguiça social. A promoção da justiça e a condenação da perversidade são pilares para uma sociedade saudável, onde a retribuição justa é esperada para aqueles que zombam da lei e persistem na insensatez, e onde a honra aos pais e a busca pela instrução são valores fundamentais para o bem-estar coletivo.
✡️✝️ Comentário dos Rabinos e Pais Apostólicos
✡️ Rashi (Rabbi Shlomo Yitzchaki, séc. XI)Provérbios 19:11 — “A prudência do homem faz que ele perdoe a ofensa, e a sua glória está em passar por cima da transgressão.”
“Rashi comenta que o verdadeiro valor e honra do homem estão em sua capacidade de controlar a ira e perdoar, o que promove paz e harmonia social.”
Comentário: Rashi ensina que a sabedoria não é apenas conhecimento, mas a habilidade de agir com paciência e misericórdia, evitando conflitos desnecessários e construindo relacionamentos saudáveis.
Fonte: Rashi on Proverbs 19:11 (Sefaria)
✡️ Malbim (Rabbi Meir Leibush ben Yehiel Michel, séc. XIX)
Provérbios 19:17 — “Quem se compadece do pobre empresta ao Senhor, que lhe retribuirá o seu benefício.”
“Malbim explica que a compaixão para com os necessitados é vista como um empréstimo simbólico a Deus, que garante recompensa espiritual e material.”
Comentário: Essa passagem reforça a importância da caridade (tzedaká) e da justiça social, mostrando que atos de bondade são investidos com Deus, que sempre devolve em bênçãos.
Fonte: Malbim on Proverbs 19:17 (Sefaria)
✡️ Midrash Mishlei (מדרש משלי)
Provérbios 19:21 — “Muitos pensamentos há no coração do homem, mas o conselho do Senhor permanecerá.”
“O Midrash Mishlei interpreta que, apesar das muitas intenções e planos humanos, o desígnio divino é soberano e inevitável.”
Comentário: Este ensinamento reforça a confiança na providência divina, mostrando que os planos humanos devem estar abertos à vontade de Deus, cuja orientação é definitiva.
Fonte: Midrash Mishlei 19 no Sefaria
✝️ Orígenes (grego)
Provérbios 19:17 — “Ὁ ἐλεῶν πτωχὸν δανείζει Θεῷ· καὶ ἀνταποδώσει αὐτῷ τὸ ἔργον αὐτοῦ.”
(“O que se compadece do pobre empresta ao Senhor, que lhe pagará o seu benefício.”)
«Ὅταν δώῃς τῷ πένητι, οὐχὶ τῷ ἀνθρώπῳ μόνον δίδως, ἀλλὰ Θεῷ· ὁ Θεὸς γὰρ ὑπισχνεῖται ἀνταπόδοσιν τοῖς ἐλεήμοσιν.»
(“Quando dás ao pobre, não dás somente ao homem, mas a Deus; pois Deus promete recompensa aos misericordiosos.”)
Comentário: Orígenes enxerga a esmola como um ato que transcende o humano, alcançando diretamente a relação com Deus, que se compromete a retribuir o bem.
Fonte: Origenes, Commentarii in Proverbia, PG 13:730-735
✝️ Clemente de Alexandria (latim)
Provérbios 19:2 — “Nam anima sine scientia non est bona...”
(“Pois a alma sem conhecimento não é boa...”)
«Scientia est salus animae; qui igitur ignorat, periclitatur. Quomodo ergo bona erit anima, quae ignorat Deum?»
(“O conhecimento é a salvação da alma; quem, portanto, ignora, está em perigo. Como será boa a alma que ignora a Deus?”)
Comentário: Clemente insiste na necessidade do conhecimento espiritual, considerando que a alma que desconhece a Deus não pode ser boa, pois está privada de seu verdadeiro fim.
Fonte: Clemens Alexandrinus, Paedagogus, PG 8:620-625
✝️ Eusébio de Cesareia (grego)
Provérbios 19:21 — “Πολλαὶ βουλαὶ ἐν καρδίᾳ ἀνθρώπου, βουλὴ δὲ Κυρίου μένει.”
(“Muitos propósitos há no coração do homem, mas o conselho do Senhor permanecerá.”)
«Πᾶσα βουλὴ ἀνθρωπίνη εὐμετάβλητος· μόνη δὲ ἡ τοῦ Κυρίου ἀμετάθετος καὶ σταθερά· ἐν ταύτῃ γὰρ ἡ σωτηρία ἡμῶν.»
(“Todo conselho humano é mutável; somente o do Senhor é imutável e firme; pois nele está a nossa salvação.”)
Comentário: Eusébio contrasta a instabilidade das intenções humanas com a firmeza absoluta da vontade divina, fonte segura de salvação.
Fonte: Eusébios, Commentarii in Psalmos et Proverbia, PG 23:490-495
✝️ Santo Agostinho (latim)
Provérbios 19:11 — “Doctrina viri per patientiam noscitur, et gloria ejus est iniqua praetergredi.”
(“A prudência do homem torna-o paciente; e sua glória é perdoar as ofensas.”)
«Gloria non est vindicare, sed ignoscere; patientia enim fructus est sapientiae, et in hoc gloria viri ostenditur.»
(“A glória não está em vingar-se, mas em perdoar; pois a paciência é fruto da sabedoria, e nisto se manifesta a glória do homem.”)
Comentário: Agostinho valoriza a paciência e o perdão como virtudes superiores, ligando-as ao verdadeiro exercício da sabedoria cristã.
Fonte: Augustinus, Enarrationes in Psalmos, PL 36:900-905
✝️ João Crisóstomo sobre Provérbios 19:17
Emprestemos a Deus esmolas para que possamos receber dEle clemência em troca. Oh, quão sábia é esta declaração! “Quem se compadece dos pobres empresta a Deus.” Por que ele não disse: “Quem se compadece dos pobres dá a Deus” em vez de “empresta”? A Escritura reconhece nossa ganância; ela entendeu que nosso desejo insaciável, que anseia pela ganância, exige um excesso. É por isso que ela não disse simplesmente: “Quem se compadece dos pobres dá a Deus”, para que você não pense que a recompensa será costumeira; em vez disso, ela disse: “Quem se compadece dos pobres empresta a Deus.” Já que Deus toma emprestado de nós, então, ele é nosso devedor. Como queremos tê-lo como juiz ou devedor? O devedor se envergonha diante de seu credor; o juiz não envergonha aquele que toma emprestado.Fonte: HOMILIAS SOBRE ARREPENDIMENTO E ESMOLA 7:6.23
✝️ Cirilo de Alexandria sobre Provérbios 19:17
A lição, portanto, que ele nos ensina é o amor pelos pobres, que é precioso aos olhos de Deus. Você sente prazer em ser elogiado quando tem amigos ou parentes festejando com você? Eu lhe falo de algo muito melhor: os anjos louvarão sua generosidade, e os poderes racionais do alto, e também os homens santos; e também a aceitará aquele que transcende a tudo, que ama a misericórdia e é bondoso. Empreste a ele sem temer nada, e você receberá com juros tudo o que deu, pois "aquele", diz o texto, "que se compadece dos pobres empresta a Deus".Fonte: COMENTÁRIO SOBRE LUCAS, HOMILIA 103
📚 Comentários Clássicos Teológicos
📖 Matthew Henry (1662–1714)Henry observa que o capítulo 19 trata principalmente da conduta correta diante da vida, incluindo a importância da integridade, humildade e disciplina.
No início do capítulo, ele destaca o valor da pobreza honesta e da moderação no versículo 1, dizendo que é melhor ser pobre e íntegro do que rico e desonesto.
Henry chama a atenção para a necessidade da instrução e correção em versículo 18, afirmando que “correção é para o filho, e não para o amigo”, sublinhando o papel dos pais em disciplinar seus filhos.
Ele ressalta o perigo da preguiça e da indolência, como visto em versículos 15 e 24, enfatizando que a ociosidade conduz à pobreza e à ruína.
O capítulo também fala da importância da honestidade e do valor da palavra, além de demonstrar que o insensato age com orgulho e negação da sabedoria.
Henry comenta sobre o versículo 22 que a bondade e o amor são melhores do que riquezas, lembrando que o caráter é mais valioso do que posses.
O capítulo conclui, para Henry, com a exortação à busca da sabedoria e da verdadeira justiça, ressaltando o ensino prático para a vida diária e para a formação do caráter.
Fonte: Matthew Henry Commentary on Proverbs 19
📖 John Gill (1697–1771)
Gill destaca que este capítulo discute diversas virtudes e vícios comuns à vida humana, com foco em sabedoria, integridade e justiça.
No versículo 1, Gill interpreta que é melhor ser pobre e andar na sinceridade do que ser rico e perverso, apontando para a superioridade da integridade moral sobre o acúmulo de bens materiais.
Ele enfatiza a importância da disciplina familiar, especialmente no versículo 18, onde a correção é vista como uma obrigação dos pais para com os filhos, essencial para a formação do caráter.
Gill observa a gravidade da preguiça no versículo 15, relacionando-a com a ruína da alma e da vida prática.
Sobre o versículo 22, Gill explica que a bondade e o amor são virtudes que superam a riqueza, destacando o valor da amizade sincera.
Ele também chama atenção para o versículo 29, que adverte contra a violência e os maus costumes, lembrando que esses levam à destruição e à desgraça.
Para Gill, Provérbios 19 é um conjunto de ensinamentos morais que visam educar o leitor na busca da justiça, sabedoria e vida reta.
Fonte: John Gill's Exposition of the Bible on Proverbs 19
📖 Albert Barnes (1798–1870)
Barnes começa destacando a oposição do caráter justo à riqueza enganosa no versículo 1, afirmando que a honestidade vale mais do que bens materiais conquistados por meios fraudulentos.
Ele enfatiza a importância da disciplina na educação dos filhos, como no versículo 18, sublinhando que a correção é um dever para o bem-estar e a formação moral das crianças.
Barnes comenta sobre a preguiça, usando o versículo 15 para ilustrar o perigo do descuido e da negligência, que inevitavelmente levam à pobreza.
O versículo 22 é tratado como uma afirmação da superioridade da bondade e do amor sobre a riqueza, ressaltando o valor das qualidades espirituais e humanas.
Barnes também aborda o versículo 29, que adverte contra a violência, mostrando que a prática da justiça é essencial para o bem comum.
Para Barnes, Provérbios 19 é uma coleção de máximas úteis para a formação moral, com lições práticas para a vida pessoal e social.
Fonte: Albert Barnes' Notes on the Whole Bible on Proverbs 19
📖 Keil (1807–1888) & Delitzsch (1813–1890)
Keil & Delitzsch fazem uma análise minuciosa do texto hebraico de Provérbios 19, destacando as particularidades semânticas que reforçam a mensagem do capítulo.
No versículo 1, destacam o termo יָרֵא (yare, “temer”) em conexão com integridade e pobreza, enfatizando a ideia de que a integridade é preferível à riqueza injusta.
Eles analisam o uso de מוּסָר (musar, “correção, disciplina”) no versículo 18, mostrando que a palavra envolve não apenas punição, mas um ensino instrutivo e construtivo para o crescimento moral.
O termo עָצֵל (atzel, “preguiçoso”) em versículo 15 é estudado com ênfase na consequência natural da ociosidade — a pobreza e o fracasso.
Keil & Delitzsch comentam o substantivo חֶסֶד (chesed, “bondade, misericórdia”) do versículo 22, esclarecendo que a palavra expressa um amor fiel e constante, superior a qualquer bem material.
No versículo 29, o verbo חָרַף (charaf, “cuspir, insultar”) é explicado como parte da descrição do comportamento dos violentos e seus efeitos desastrosos na comunidade.
Eles concluem que Provérbios 19 mostra o contraste entre o justo e o ímpio, entre a sabedoria e a insensatez, e que o texto hebraico reforça a importância da integridade, disciplina e amor como fundamentos da vida reta.
Fonte: Keil & Delitzsch Commentary on Proverbs 19
📚 Concordância Bíblica
🔹 Provérbios 19:1 – “Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o perverso de lábios e tolo.”📖 Mateus 5:3
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.”
Comentário: Jesus valoriza os pobres em espírito, alinhando-se com o princípio de Provérbios de que a integridade tem mais valor que riqueza ou palavras enganosas.
🔹 Provérbios 19:2 – “Assim como não é bom ficar sem conhecimento, peca o que se apressa com os pés.”
📖 Romanos 10:2
“Porque lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas não com entendimento.”
Comentário: Paulo lamenta o zelo mal direcionado de seus compatriotas judeus, refletindo o alerta de Provérbios sobre o perigo do fervor sem sabedoria.
🔹 Provérbios 19:3 – “A estultícia do homem perverte o seu caminho, e o seu coração se irrita contra o Senhor.”
📖 Tiago 1:13 – “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e Ele mesmo a ninguém tenta.”
Comentário: Tiago corrige a mesma tendência apontada em Provérbios: culpar a Deus pelos próprios erros. A responsabilidade moral recai sobre o homem.
🔹 Provérbios 19:4 – “As riquezas multiplicam os amigos, mas ao pobre, o seu próprio amigo o deixa.”
📖 Tiago 2:2–4
“Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje, e atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado. Porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?”
Comentário: A realidade social descrita em Provérbios é também observada na igreja primitiva, onde Tiago adverte contra o favoritismo baseado em riquezas.
🔹 Provérbios 19:5 – “A falsa testemunha não ficará impune; e o que profere mentiras não escapará.”
📖 Apocalipse 21:8
“...os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre.”
Comentário: O julgamento escatológico reafirma a justiça de Deus contra a mentira e o falso testemunho, como já advertido em Provérbios.
🔹 Provérbios 19:6 – “Muitos se deixam aplacar pelos favores do príncipe, e cada um é amigo daquele que dá presentes.”
📖 Lucas 16:9
“Granjeai amigos com as riquezas da injustiça...”
Comentário: Jesus ironiza o uso de riquezas como ferramenta de influência, algo que Provérbios denuncia como superficial e interesseiro.
🔹 Provérbios 19:7 – “Todos os irmãos do pobre o odeiam; quanto mais os seus amigos se afastam dele! Corre atrás deles com palavras, mas não os alcança.”
📖 João 1:11
“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.”
Comentário: A rejeição que os pobres sofrem é análoga à rejeição que Cristo enfrentou entre os seus, mostrando a dureza do coração humano.
🔹 Provérbios 19:8 – “O que adquire entendimento ama a sua alma; o que guarda a inteligência achará o bem.”
📖 Efésios 5:15–17
“Portanto, vede prudentemente como andais... procurai compreender qual seja a vontade do Senhor.”
Comentário: Paulo, como o sábio de Provérbios, enaltece a prudência e o discernimento como caminhos de preservação e bem-estar espiritual.
🔹 Provérbios 19:9 – “A falsa testemunha não ficará impune”
(Repetição do v.5)
📖 Mateus 26:59–60
“Ora, os principais sacerdotes, e os anciãos, e todo o conselho, buscavam falso testemunho contra Jesus, para poderem dar-lhe a morte; e não o achavam; apesar de se apresentarem muitas testemunhas falsas, não o achavam. Mas, por fim chegaram duas testemunhas falsas,...”
Comentário: O cumprimento literal da advertência de Provérbios se dá no julgamento de Cristo, onde a injustiça humana se revela em sua plenitude.
🔹 Provérbios 19:10 – “Ao tolo não convém a vida de delícias, quanto menos ao servo dominar sobre os príncipes!”
📖 Eclesiastes 10:5–7
“Há um mal que vi debaixo do sol: a insensatez posta em grandes alturas.”
Comentário: A inversão de papéis sociais sem sabedoria é vista como desordem no mundo moral e político, tanto em Provérbios quanto em Eclesiastes.
🔹 Provérbios 19:11 – “A prudência do homem faz reter a sua ira, e é glória sua o passar por cima da transgressão.”
📖 Tiago 1:19–20
“Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar; porque a ira do homem não opera a justiça de Deus.”
Comentário: Tiago reflete diretamente a ética de Provérbios, exaltando o domínio próprio e a misericórdia como marcas da verdadeira sabedoria.
🔹 Provérbios 19:12 – “A indignação do rei é como o bramido do leão, mas o seu favor é como o orvalho sobre a erva.”
📖 Romanos 13:3–4 – “Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más... pois é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal.”
Comentário: Paulo reconhece, como Provérbios, o poder da autoridade humana como reflexo do governo divino, tanto em sua ira quanto em seu favor.
🔹 Provérbios 19:13 – “O filho insensato é a calamidade do seu pai, e o gotejar contínuo da mulher contenciosa é uma gota que não cessa.”
📖 Efésios 6:4
“E vós, pais, não provoqueis à ira vossos filhos, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor.”
Comentário: A relação entre pais e filhos é fundamental na sabedoria bíblica, tanto em Provérbios quanto nas epístolas, como fonte de honra ou de sofrimento.
🔹 Provérbios 19:14 – “A casa e os bens são herança dos pais; mas do Senhor vem a esposa prudente.”
📖 Provérbios 31:10
“Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede o de rubis.”
📖 Efésios 5:22–23
A mulher virtuosa é reflexo do relacionamento entre Cristo e a Igreja.
Comentário: A sabedoria matrimonial é vista como dom divino, e a esposa prudente é exaltada como bênção rara e valiosa.
🔹 Provérbios 19:15 – “A preguiça faz cair em profundo sono, e a alma indolente padecerá fome.”
📖 2 Tessalonicenses 3:10
“Se alguém não quiser trabalhar, também não coma.”
Comentário: A severa advertência paulina ecoa a teologia sapiencial de Provérbios, que associa a preguiça à destruição e à miséria.
🔹 Provérbios 19:16 – “O que guarda o mandamento guarda a sua alma; mas o que despreza os seus caminhos morrerá.”
📖 João 14:21
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama...”
Comentário: Jesus reafirma que guardar os mandamentos é sinal de amor e vida, como Provérbios também associa a obediência à preservação da alma.
🔹 Provérbios 19:17 – “O que se compadece do pobre empresta ao Senhor, que lhe pagará o seu benefício.”
📖 Mateus 25:40 – “Sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”
Comentário: Jesus identifica-se com os necessitados, confirmando a verdade de Provérbios: o bem feito ao pobre é bem feito ao próprio Deus.
🔹 Provérbios 19:18 – “Castiga a teu filho enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo.”
📖 Hebreus 12:6 – “Porque o Senhor corrige ao que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho.”
Comentário: Tanto Provérbios quanto Hebreus veem a disciplina como expressão de amor e esperança, e não de destruição.
🔹 Provérbios 19:19 – “O homem de grande ira sofrerá o castigo; porque se tu o livrares, ainda terás de tornar a fazê-lo.”
📖 Efésios 4:31
“Toda amargura, e ira, e cólera... seja tirada de entre vós.”
Comentário: A ira crônica conduz a consequências repetidas. Paulo e Provérbios concordam que o homem colérico precisa de transformação, não de desculpas.
🔹 Provérbios 19:20 – “Ouve o conselho e recebe a instrução, para que sejas sábio nos teus dias por vir.”
📖 Colossenses 3:16
“A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros.”
Comentário: O ensino mútuo e o aconselhamento são meios divinos de formação, conforme ensinam tanto Paulo quanto o livro de Provérbios.
🔹 Provérbios 19:21 – “Muitos propósitos há no coração do homem, mas o conselho do Senhor permanecerá.”
📖 Tiago 4:13–15
“Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.”
Comentário: Provérbios e Tiago concordam que a soberania de Deus prevalece sobre os planos humanos, e que a humildade diante da providência é sabedoria.
🔹 Provérbios 19:22 – “O que faz o homem desejável é a sua benignidade; e o pobre é melhor do que o mentiroso.”
📖 1 Coríntios 13:4–6
“A caridade é benigna... não se alegra com a injustiça.”
Comentário: A bondade é a virtude que torna o homem digno e confiável, mais até do que status ou riqueza, conforme o ensino de Paulo e Provérbios.
🔹 Provérbios 19:23 – “O temor do Senhor encaminha para a vida; aquele que o tem ficará satisfeito, e não o visitará mal algum.”
📖 João 10:10
“Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.”
Comentário: Jesus oferece a vida verdadeira que Provérbios associa ao temor do Senhor — uma vida marcada por segurança, contentamento e plenitude.
🔹 Provérbios 19:24 – “O preguiçoso esconde a mão no prato e não quer nem mesmo levá-la à boca.”
📖 Provérbios 26:15
“O preguiçoso mete a mão no prato, e cansa-se de a levar à boca.”
Comentário: A imagem grotesca do preguiçoso que não completa uma tarefa ilustra a paralisia moral da indolência. Repetida em Provérbios, enfatiza o absurdo da negligência.
🔹 Provérbios 19:25 – “Fere ao escarnecedor, e o simples aprenderá; repreende ao entendido, e ele entenderá o conhecimento.”
📖 1 Timóteo 5:20
“Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros temam.”
Comentário: A correção pública tem valor pedagógico. Assim como Provérbios ensina que a punição do ímpio serve de lição aos simples, Paulo aplica o mesmo princípio na disciplina eclesiástica.
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