Significado de Lucas 7
Lucas 7
Lucas 7 contém vários eventos significativos na vida de Jesus Cristo. O capítulo começa com Jesus curando o servo de um centurião romano, apesar de o homem ser um gentio e não um seguidor do judaísmo. Esse ato de compaixão e inclusão é um exemplo poderoso dos ensinamentos de Jesus sobre amor e aceitação. Mais adiante no capítulo, Jesus ressuscita um jovem dentre os mortos, demonstrando seu poder sobre a morte e sua natureza divina.
Outro evento significativo em Lucas 7 é o encontro entre Jesus e os discípulos de João Batista. João, que estava na prisão na época, enviou seus discípulos para perguntar a Jesus se ele era o Messias. A resposta de Jesus é uma afirmação clara de sua identidade e propósito divinos, e ele aproveita a oportunidade para ensinar aos seguidores de João sobre o reino de Deus.
O capítulo termina com a história de uma mulher que lava os pés de Jesus com suas lágrimas e os unge com perfume. Esse ato de devoção e humildade é um poderoso exemplo do tipo de fé e amor que Jesus chama seus seguidores a demonstrar. Apesar do desprezo dos que a cercam, o ato de adoração da mulher é elogiado por Jesus, que lhe diz que seus pecados estão perdoados.
No geral, Lucas 7 é um capítulo da Bíblia que contém várias histórias poderosas sobre a compaixão, o poder e a divindade de Jesus. Por meio da cura do servo do centurião romano, da ressurreição do jovem dentre os mortos e de suas interações com os discípulos de João Batista, Jesus demonstra sua autoridade sobre a vida e a morte e seu papel como Salvador da humanidade. A história da mulher que lava os pés de Jesus é um lembrete do tipo de fé e devoção que Jesus chama seus seguidores a demonstrar, mesmo diante do ridículo e da oposição.
I. Intertextualidade com o Antigo e Novo Testamento
Lucas 7 encadeia quatro cenas que funcionam como um mosaico intertextual do Reino: a fé gentílica que antecipa a inclusão das nações, a visitação divina que traz vida ao morto, a confirmação messiânica por sinais isaianos e o perdão que libera de “dívidas” jubilares. Cada quadro relê a Torá, os Profetas e os Salmos e já conversa com a missão apostólica do Novo Testamento.
A cura “à distância” do servo do centurião (Lucas 7:1–10) faz convergir três fios. Primeiro, a oração de Salomão pelo estrangeiro que ouviria falar do Nome e seria atendido (1 Reis 8:41–43), aqui encarnada numa figura gentílica que ama Israel e até edifica a sinagoga (Lucas 7:5). Segundo, o paralelo com Naamã, outro oficial estrangeiro que, ao submeter-se à palavra profética sem espetáculo, é curado (2 Reis 5:10–14); do mesmo modo, o centurião confia no puro “dizer” de Jesus (“dize uma palavra”), alinhando-se ao salmista: “enviou a sua palavra e os sarou” (Salmos 107:20). Terceiro, a confissão sobre autoridade (“eu também sou homem sujeito à autoridade”, Lucas 7:8) reconhece no Filho do Homem o detentor do domínio concedido por Deus (Daniel 7:13–14). Quando Jesus declara “nem mesmo em Israel encontrei fé assim” (Lucas 7:9), sela-se uma antecipação do caminho lucano: a fé que floresce em gentios abrirá a porta de Atos (Atos 10:1–48; Atos 11:18), enquanto o paralelo sinótico explicita o banquete escatológico com vindos do oriente e do ocidente (Mateus 8:11–12; cf. Lucas 13:29).
A ressurreição do filho da viúva de Naim (Lucas 7:11–17) reencena, ponto a ponto, Elias e Eliseu. Em Sarepta, Elias devolve o menino vivo à mãe (1 Reis 17:19–23), e Eliseu faz o mesmo com a sunamita (2 Reis 4:32–37); Lucas ecoa até a fórmula da LXX (“e o deu à sua mãe”, Lucas 7:15; cf. 1 Reis 17:23 LXX), sublinhando que “um grande profeta” se levantou e que “Deus visitou o seu povo” (Lucas 7:16). A linguagem da “visitação” conecta-se ao Êxodo (Êxodo 3:16; 4:31), a Rute (Rute 1:6) e ao Benedictus (Lucas 1:68), enquanto o alvo — uma viúva — convoca a justiça de Deus para órfãos e viúvas (Deuteronômio 10:18; Salmos 68:5; Isaías 1:17). Ao tocar o esquife, Jesus inverte a lógica de impureza (Números 19:11–13): sua santidade não é contaminada, mas comunica vida, prenunciando o poder pascal que vencerá a morte (Lucas 24:5–7; 1 Coríntios 15:54–57).
A pergunta de João (“és tu aquele que havia de vir?”) e a resposta de Jesus (Lucas 7:18–35) fazem dos sinais a exegese viva de Isaías: “os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobres é anunciado o evangelho” tece Isaías 35:5–6; 26:19; 29:18; 61:1 (cf. Lucas 4:18–21) e confirma que chegou o “hoje” messiânico. A bem-aventurança “feliz quem não se escandaliza de mim” (Lucas 7:23) responde ao tropeço anunciado por Isaías 8:14–15 e retomado na cristologia apostólica (Romanos 9:32–33; 1 Pedro 2:6–8). Ao avaliar João, Jesus o identifica como o mensageiro de Malaquias 3:1 (e Êxodo 23:20) que prepara o caminho, “mais que profeta”, ainda que “o menor no Reino é maior do que ele” (Lucas 7:26–28) — indicação da virada de época: “a Lei e os Profetas” apontavam; com o Cristo, o Reino irrompe (cf. Lucas 16:16). O comentário narrativo de que “o povo e os publicanos justificaram a Deus” ao receber o batismo, enquanto fariseus “rejeitaram o desígnio de Deus” (Lucas 7:29–30), ressoa o Salmo penitencial: “para que sejas justificado nas tuas palavras” (Salmos 51:4; cf. Romanos 3:4), e prepara a máxima: “a sabedoria é justificada por todos os seus filhos” (Lucas 7:35), que personifica a Sabedoria dos Provérbios e do Sirácida (Provérbios 8–9; Eclesiástico 24) e denuncia a geração que rejeita tanto o ascetismo de João quanto o banquete messiânico do Filho do Homem (Lucas 7:31–34; cf. Deuteronômio 21:20 para a pecha de “comilão e beberrão”).
No banquete da casa do fariseu, a mulher “pecadora” que unge os pés de Jesus (Lucas 7:36–50) encena o evangelho do perdão como aphesis — o mesmo termo de “remissão” e “libertação” do programa jubilar (Lucas 4:18; 24:47; Levítico 25:10; Deuteronômio 15:1–11). A parábola dos dois devedores (Lucas 7:41–43) traduz em economia de crédito a teologia da graça: muito amor é a evidência de muita remissão (Salmos 32:1–2; 103:3; Jeremias 31:34). O contraste entre a hospitalidade falha de Simão (“não me deste água... beijo... óleo”) e a devoção da mulher ecoa o padrão patriarcal de acolhimento (Gênesis 18:4–8) e o profético “misericórdia quero” (Oséias 6:6; cf. Mateus 9:13). A sentença “a tua fé te salvou; vai em paz” (Lucas 7:50) sela a unidade entre fé e amor (Gálatas 5:6), repete a fórmula de salvação nos demais encontros de Jesus (Lucas 8:48; 17:19; 18:42) e envia sob a bênção veterotestamentária de paz (1 Samuel 1:17; Números 6:26).
Vistas em conjunto, as perícopes de Lucas 7 costuram a grande narrativa bíblica. A fé de um gentio que crê na palavra antecipa Cornélio e a visão de um povo de todas as nações (Atos 10:34–48; 15:7–11). A visitação que devolve o filho à mãe reabre Elias/Eliseu e aponta para a vitória final sobre a morte (1 Reis 17; 2 Reis 4; 1 Coríntios 15:20–28). Os sinais isaianos autenticam o Messias prometido e definem o conteúdo do querigma (“arrependimento e remissão” a todas as nações: Lucas 24:46–49; Atos 26:18). E o perdão que quita dívidas funda a ética da comunidade que perdoa como foi perdoada (Lucas 11:4; Mateus 18:21–35; Efésios 4:32; Colossenses 3:13). Desse modo, Lucas 7 não apenas narra milagres e encontros: ele exegese o Antigo Testamento em atos e abre, para o Novo, a estrada em que a palavra eficaz do Rei salva, visita, purifica e chama à fé que se torna amor.
II. Comentário de Lucas 7
Lucas 7.1 Cafarnaum ficava na costa noroeste do mar da Galileia. Era uma importante cidade na parte norte da província, e tinha sua economia centrada na pesca e na agricultura. Altamente judaica, foi o centro do ministério de Jesus na Galileia (Lc 4.31-44).
Lucas 7.2-4 Enviou-lhe uns anciãos. O trecho de Mateus 8.5-13 não menciona os mensageiros. É possível que Mateus tenha reduzido esta passagem, como acontece frequentemente (Mt 9.2,18,19; 11.2,3), pois um emissário na cultura antiga falava oficialmente por aquele que o havia mandado (2 Rs 19.20-34). Isso também acontece hoje. Podemos citar o exemplo da assessoria de imprensa do governo, que muitas vezes fala pelo presidente da República. Lucas 7.2-4 também ilustra uma cooperação exemplar entre judeus e gentios em uma cultura na qual a etnia era divisora.
Lucas 7.5 O governo romano considerava as sinagogas muito valiosas porque sua ênfase moral ajudava a manter a ordem.
Lucas 7.6, 7 O centurião, por intermédio dos mensageiros, comunica sua atitude humilde exemplar e sua fé, sobre a qual Jesus comenta no versículo 9.
Lucas 7.8 O centurião comparou sua autoridade como comandante de soldados à autoridade de Jesus sobre a vida e a saúde. O homem sabia que apenas a palavra de Jesus era suficiente para curar seu servo.
Lucas 7.9 Nem ainda em Israel tenho achado tanta fé. O exemplo de fé do centurião veio de fora da nação de Israel. Este é um dos dois únicos casos em que é dito que Jesus maravilhou-se (Mc 6.6).
Lucas 7.10 Acharam são o servo enfermo. A cura aconteceu sem que Jesus estivesse presente, da forma como o centurião creu.
Lucas 7.11-13 Eis que levavam um defunto. Este era um cortejo fúnebre. O cemitério ficava localizado fora dos muros da cidade. Os funerais eram normalmente realizados no dia da morte porque conservar um corpo em casa durante a noite fazia com que a casa ficasse impura. Antes do sepultamento, o defunto era ungido. Em uma cidade do tamanho de Naim (v. 11), muitas pessoas devem ter parado para compartilhar o luto.
Lucas 7.14.15 O fato de Jesus ter tocado o esquife indica que Ele preferiu ajudar o homem morto do que permanecer cerimonialmente puro (Nm 19.11,16).
Lucas 7.15 E o defunto assentou-se. Uma descrição surpreendente acontece aqui, e indica que o milagre foi a restauração da vida. Outros casos em que Jesus fez mortos ressuscitarem são o da filha de Jairo (Lc 8.40-56) e o de Lázaro (Jo 11.38-44). Observe, novamente, a ação imediata o milagre diante da intervenção de Jesus (Lc 4.39; 5.13,25).
Lucas 7.16, 17 A multidão reconheceu o paralelo entre o restabelecimento da vida do filho da viúva realizado por Jesus e a obra dos grandes profetas Elias (1 Rs 17.17-24) e Eliseu (2 Rs 4.8-37).
Lucas 7.18-21 És tu aquele que havia de vir? A incerteza de João pode ter surgido porque Jesus não mostrava sinais de ser o Messias político e conquistador que a maioria dos judeus estava esperando naquela época.
Lucas 7.22, 23 Jesus prefere que Sua obra fale por si, em vez de fazer afirmações messiânicas. Ele se vale da cura dos cegos, dos coxos, dos leprosos, dos surdos e da ressurreição dos mortos, bem como da ênfase de Sua pregação do evangelho. As alusões rememoram Lucas 4.18,19 e relembram os textos do Antigo Testamento, os quais descrevem o que acontecerá quando Deus trouxer a salvação (Is 35.5-7; 26.19; 29.18,19; 61.1). Os vínculos com Lucas 3 e 4 mostram que Jesus afirma trazer o fim e, deste modo, é o Messias que João Batista anunciou.
Lucas 7.24-26 As perguntas que Jesus fez enfatizaram que João Batista desempenhou uma função especial no plano de Deus. As multidões não foram ao deserto para ver a paisagem, tampouco para ver um homem vestido com roupas finas. As pessoas foram ver um profeta.
Lucas 7.27 Eis que envio meu anjo [mensageiro, na NVI]. Esta é a mesma citação de Malaquias 3.1 (Mt 11.10; Mc 1.2). João Batista era a figura prometida, o precursor que prepararia o caminho para a chegada da salvação de Deus (Lc 1.16,17; 3.4-6). A expressão preparará diante de ti o teu caminho tem relação com a preparação do povo (Lc 1.17). A referência a ti é exclusiva do Novo Testamento e pode fazer alusão a Êxodo 23.20, que diz que a nuvem foi diante do povo para guiá-lo e protegê-lo. O fato de o autor ter feito referência aqui ao povo, e não a Jesus, foi porque a passagem refere-se a Lucas 1.16,17, a qual fala de um povo preparado.
Lucas 7.28 O menor no Reino de Deus é maior do que ele. Apesar de João Batista ter sido o maior dos profetas, foi considerado menor que uma alma remida. João Batista foi o precursor de Jesus e um servo fiel de Deus. Já os remidos tornaram-se os verdadeiros filhos de Deus.
Lucas 7.29, 30 Lucas, de forma geral, contrasta as respostas com a mensagem de João. Os publicanos [...] justificaram a Deus. Isso significa que eles responderam ao comunicado de João, submetendo-se ao seu batismo. Os fariseus, entretanto, rejeitaram o conselho de Deus, o que indica que estes se recusaram a ouvir João e não foram batizados (Mt 3.7-12).
Lucas 7.31-34 Jesus fez uma comparação entre as crianças que brincavam na praça e a geração atual de Israel, ao referir-se especialmente aos líderes religiosos judeus. O Mestre ressaltou que os líderes agiam como crianças ao rejeitarem a missão dele e de João Batista. Uma hora reclamaram e disseram que João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, tinha demônio. Depois, acusaram Jesus, que comia pão e bebia vinho, de viver dissolutamente e estar associado aos pecadores. Qualquer que fosse o estilo de vida do mensageiro de Deus, os líderes religiosos protestavam e rejeitavam o indivíduo.
Lucas 7.35 A sabedoria de Deus é comprovada por aqueles que respondem a ela e recebem suas bênçãos.
Lucas 7.36 Naquela época, a refeição feita com um religioso era realizada de forma que o convidado se assentasse à mesa principal enquanto os outros ficavam ao longo da parede externa ouvindo a conversa. E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele. Este não é o mesmo acontecimento de Mateus 26.6-13; Marcos 14.3-9; Jo 12.1-8, pois estes ocorreram na casa de um leproso, lugar no qual nenhum fariseu iria.
Lucas 7.37, 38 O pecado da mulher não é especificado. Esta não é Maria Madalena, em Lucas 8.2. A unção feita pela pecadora se deu em resposta à mensagem de compaixão de Jesus pelos que cometiam ofensas (v. 41-43, 50). Um vaso de alabastro era produzido com um tipo de pedra própria para lavrar, por isso preservava a qualidade do caro e precioso perfume. Há humildade e devoção no ato servil da mulher, bem como uma grande dose de coragem, pois ela realizou tal façanha em frente à multidão que sabia de suas ofensas. Embora a pecadora não fale uma palavra durante toda a passagem, sua ação diz muito a respeito de seu coração arrependido.
Lucas 7.39 Se este fora profeta. Vemos aqui que o fariseu duvidou da identidade de Jesus, porque o associara abertamente aos pecadores. A reunião de Jesus com os ofensores é um tema proeminente em Lucas (Lc 1.34; 5.8,30,32; 13.2; 15.1,2,7,10; 18.13; 19.7; 24.7). Um fariseu rejeitava tal agrupamento.
Lucas 7.40 Jesus responde indicando que sabia a respeito da reputação da mulher, todavia estava mais interessado no que a mulher poderia vir a ser por meio da graça de Deus.
Lucas 7.41 Jesus frequentemente comparava o pecado a um débito financeiro. Um denário [NVI] equivalia à diária de um trabalhador braçal. Assim, quinhentos denários correspondiam aproximadamente ao ordenado de um ano e meio.
Lucas 7.42, 43 Qual deles o amará mais! Aqui Jesus quis dizer que o tamanho do amor demonstrado pelo Salvador será diretamente proporcional à gravidade dos pecados que Ele perdoara. A mulher sabia que ela tinha sido perdoada por coisas graves, e, como consequência, ela mostrou ter um amor profundo pelo Senhor.
Lucas 7.44-46 Jesus contrastou as ações da mulher com as atitudes do fariseu Simão, dando a entender que a pecadora sabia mais a respeito de perdão do que aquele homem (v. 47).
Lucas 7.47, 48 Seus muitos pecados lhe são perdoados. Jesus confirmou que o amor da mulher, demonstrado por suas ações, veio do perdão recebido.
Lucas 7.49 Quem é este, que até perdoa pecados? O murmúrio por causa da declaração de Jesus a respeito do pecado indica que pelo menos algumas pessoas no público rejeitaram Sua autoridade.
Lucas 7.50 Fé é o meio humano de receber a benevolência de Deus (Ef 2.8,9).
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