Significado de Gênesis 10
Gênesis 10
Gênesis 10 também é conhecida como Tabela das Nações, pois fornece uma genealogia dos descendentes dos três filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé. O capítulo descreve a dispersão das nações após a torre de Babel e fornece informações sobre as origens de diferentes nações e suas relações umas com as outras.
O capítulo começa com uma lista dos descendentes de Jafé, incluindo Gomer, Magog e Tubal. Os descendentes de Ham também estão listados, incluindo Cush, Egito e Canaã. O capítulo também lista os descendentes de Shem, incluindo Arpachshad, o pai de Shelah, que era o pai de Eber, de quem os hebreus são descendentes.
A Tabela das Nações fornece um contexto histórico e cultural para as origens de diferentes nações e suas relações umas com as outras. Ele também destaca a genealogia de diferentes nações e seu lugar no mundo.
O décimo capítulo de Gênesis serve como uma ponte entre a história de Noé e a Torre de Babel e as histórias seguintes de Abraão e seus descendentes, fornecendo uma genealogia detalhada das nações que moldariam o mundo em que Abraão viveu.
I. A Septuaginta e o Texto Hebraico
Gênesis 10 organiza a “tabela das nações” por meio de uma fórmula genealógica que a LXX verte para o koiné, oferecendo ao Novo Testamento um vocabulário pronto para falar de povos, línguas e limites. O hebraico abre com ʾēlleh tôlĕdôt bĕnê nōaḥ (“estas são as gerações dos filhos de Noé”), e a LXX espelha: hautai hai geneseis tōn huiōn Nōe; a própria rubrica “gerações” (tôlĕdôt // geneseis) sinaliza que a narrativa agora classifica povos e territórios, não só indivíduos.
A repartição das famílias de Jafé (v. 5), Cam (v. 20) e Sem (v. 31) é formulada, no hebraico, com o par “terras/nações” e “línguas” (ʾiyyê haggôyim... kĕlāšōnām), que a LXX estabiliza como nēsōi tōn ethnōn... kata glōssas autōn — e o colofão final repete: “nēsōi tōn ethnōn se espalharam pela terra depois do kataklysmos”. Essa tríade phylai–glōssai–ethnē torna-se fórmula canônica no Novo Testamento para a abrangência do evangelho.
Esse mesmo eixo reaparece explicitamente em Pentecostes, como re-leitura de Gênesis 10 à luz do Espírito: “E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu.” (Atos 2:5). “E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas...” (Atos 2:4). “Como, pois, os ouvimos... na nossa própria língua... Partos e medos, elamitas, e os que habitam na Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia...” (Atos 2:8–11). O arquivo léxico de Gênesis 10 em grego (glōssai, ethnē) é reativado para descrever a missão universal.
No retrato de Ninrode (10:8–12), o hebraico chama-o de gibbôr ṣayid liphnê YHWH (“poderoso caçador diante do SENHOR”), e a LXX o define gigas kynēgos enantion kyriou (“gigante/valente caçador diante do Senhor”), acrescentando o provérbio e situando o início do seu reino (Babel, Ereque, Acad, Calné) — uma ponte direta para a terra de Sinear e a narrativa de Babel.
A seção de Sem introduz um detalhe textual com impacto neotestamentário: onde o massorético encadeia ʾarpakšad → šēlaḥ, a LXX inclui um elo adicional, Kainan: “Arphaxad gerou Kainan; Kainan gerou Sala...”. Lucas adota exatamente essa tradição quando traça a genealogia de Jesus: “Salá era filho de Cainã; Cainã, de Arfaxade...” (Lucas 3:36). Assim, a genealogia lucana conversa abertamente com a forma septuagintal da tôlĕdôt de Sem.
Outro fio fino mas decisivo é o de glōssai e a retórica de universalidade. O próprio colofão de Gênesis 10:32, em grego, fala das “nēsōi tōn ethnōn... após o kataklysmos”; quando o Cordeiro é louvado em Apocalipse, a igreja canta com a mesma tríade: “...com o teu sangue nos compraste para Deus de toda tribo, e língua, e povo, e nação.” (Apocalipse 5:9). A continuidade de phylē–glōssa–laos–ethnos mostra que a gramática da missão e do culto no Novo Testamento está ancorada na taxonomia de Gênesis 10 tal como vertida pela LXX.
O capítulo ainda embute chaves teológicas sobre providência e limites. Ao listar terras e fronteiras (10:19; 10:31), a LXX fala em horia (limites) e chōrai (territórios), o mesmo campo semântico que Paulo pressupõe ao afirmar que Deus “de um só fez toda a geração dos homens... determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação” (Atos 17:26). A tabela, portanto, não é neutra: ela afirma uma ordem comum preservada por Deus entre povos.
Por fim, a tradição judaica fixou a conta simbólica de “setenta nações” em Gênesis 10 (fruto do cômputo dos descendentes), enquanto testemunhos ligados à LXX contam “setenta e duas” devido a variantes e acréscimos (como Kainan). Em ambos os casos, o ponto é o mesmo: a totalidade do mundo das nações sob a providência de Deus — exatamente o horizonte que a missão cristã assume.
II. Comentário de Gênesis 10
Gênesis 10.1—11.32 Nestes capítulos, aprendemos que todas as pessoas da terra são descendentes da família de Noé, mas ainda permanecem alguns mistérios, pois há menção de nomes de indivíduos junto a nomes de povos e cidades, e o ponto de vista narrativo data de anos mais tarde, quando Israel tinha Canaã como seu território. Sendo assim, mesmo que haja referência geral à humanidade, a perspectiva global é omitida. Por último, os capítulos não nos dão uma clara compreensão de tempo; há uma distância de muitos anos entre os fatos narrados.Gênesis 10.1 O registro das gerações ou genealogias (hb. tôledôt) é encontrado em dez passagens significantes em Gênesis (Gn 2.4) Os nomes dos filhos de Noé foram citados pela primeira vez em Gênesis 5.32 (outras ocorrências: Gn.10; 7.13; 9.18).
Gênesis 10.2-4 A lista de nomes dos filhos de Jafé é mais curta do que a lista com os nomes dos filhos dos irmãos dele. Entre os descendentes de Jafé aparece Javã (v. 2, 4), um antigo nome para o povo grego. É possível que muitos dos descendentes dele tenham migrado para a Europa.
Gênesis 10.5 As migrações dos povos para diferentes territórios provavelmente se deram após o fato narrado em Gênesis 11.1-9 (a queda da torre de Babel).
Gênesis 10.6 Os quatro filhos de Cam foram Cuxe, Mizraim, Fute e Canaã. Cuxe é o antigo nome da Etiópia; Mizraim é o antigo nome do Egito. Os nomes dos filhos de Cuxe são citados nos versículos 7 a 12; os de Mizraim nos versículos 13 e 14, e os de Canaã nos versículos 15 a 19. Este trecho não cita os nomes dos filhos de Fute.
Gênesis 10.7-11 Entre os filhos de Cuxe, está Ninrode (v. 9-12), que é descrito como um poderoso caçador diante da face do Senhor (v. 9). E o princípio do seu reino foi Babel, e Ereque, e Acode, e Calné, na terra de Sinar. Desta mesma terra saiu ele à Assíria e edificou a Nínive, e Reobote-Ir, e Cala. O profeta Miquéias mais tarde descreveria a região da Assíria, que sofreria julgamento de Deus, como a terra de Nínrode (Mq 5.6). De Acade (hb. ‘akkad) viria o nome da língua falada na antiga Babilónia e Assíria [o acádio].
Gênesis 10.12-15 Os nomes dos descendentes de Canaã (Gn 9.22) deram origem aos povos que se estabeleceram na região da grande Canaã. Alguns [os filisteus, jebuseus, amorreus, girgaseus, heveus, fereseus] ainda habitavam a região nos tempos de Abraão. Lugares como Sodoma e suas cidades aliadas (v. 19) foram mais tarde destruídos pelo fogo que desceu do céu (Gn 19).
Gênesis 10.16-20 Nestes versículos são citados nomes de povos e cidades. E uma espécie de prólogo da história da torre de Babel (Gn 11.1-9).
Gênesis 10.21-24 Aqui é listada a linhagem de Sem. Eber [ARC] ou Héber [ARA] é o nome que deu origem ao termo hebreu, usado pela primeira vez por Abraão em Gênesis 14.13. Tal designação é patronímica, pois deriva do nome de um patriarca. Eber foi mencionado antes de todos os outros por causa de sua importância para o povo hebreu. Ele era filho de Salá (v. 24). Abraão é o pai da nação hebreia (Gn 12.1-3), mas Abraão descende de Héber, e este de Sem. Os outros nomes associados a Sem são: Elão, Assur e Arão, as maiores famílias no Antigo Testamento. Estes outros povos, incluindo Israel, tornaram-se conhecidos como semitas, uma palavra derivada de Sem.
Gênesis 10.25-31 Para alguns, a repartição da terra mencionada aqui pode ser uma referência à grande separação das placas tectônicas [que deu origem aos continentes, como conhecemos hoje], embora seja sabido que tal movimento foi bastante gradual. Não obstante, a divisão da terra que ocorreu foi o principal fator que afetou os padrões de migração dos antigos povos.
Gênesis 10.32 Embora não tenham sido listados os nomes de cada um dos clãs, apenas das famílias dos filhos de Noé, segundo as suas gerações, em suas nações, os esclarecimentos nos versículos que antecedem este são importantes no que concerne à variedade de povos na terra, uma vez que todos foram descendentes de Noé. As diferenciações entre eles são meramente resultado de circunstâncias posteriores.
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