Significado de Lucas 2
Lucas 2
Lucas 2 é um capítulo fundamental no Evangelho de Lucas, pois relata o nascimento de Jesus Cristo e vários eventos importantes que ocorreram logo depois. O capítulo começa com o decreto de César Augusto de que todo o mundo deveria ser registrado, levando Maria e José a viajarem para Belém, onde Jesus nasce em uma manjedoura.
O nascimento de Jesus é anunciado aos pastores nos campos por uma hoste de anjos, que proclamam "Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens a quem ele quer" (Lucas 2:14). Os pastores então visitam o menino Jesus recém-nascido e espalham a notícia de Seu nascimento para outras pessoas.
O capítulo também inclui a história da apresentação de Jesus no templo, onde é reconhecido por Simeão e Ana como o tão esperado Messias. Mais tarde, o jovem Jesus é encontrado no templo, discutindo com os mestres e mostrando Sua sabedoria e compreensão das Escrituras.
No geral, Lucas 2 é um capítulo poderoso que destaca a natureza milagrosa do nascimento de Jesus e o papel central que Ele desempenha no plano de salvação de Deus. O capítulo enfatiza as circunstâncias humildes que cercam o nascimento de Jesus e o reconhecimento de Sua natureza divina tanto por anjos quanto por humanos. Lucas 2 serve como um lembrete da alegria e esperança que vem com o nascimento de Cristo e o incrível significado de Sua vida e ministério.
I. Intertextualidade com o Antigo e Novo Testamento
Lucas 2 insere o nascimento, a infância e a primeira autoconsciência messiânica de Jesus na tessitura das promessas veterotestamentárias e no horizonte missionário do Novo Testamento. O edito de recenseamento que leva José e Maria de Nazaré a Belém (“cidade de Davi”, Lucas 2:1–4) não é mero detalhe histórico, mas um mecanismo providencial que faz convergir a identidade davídica de Jesus com a profecia do Messias nascido em Belém (Miqueias 5:2) e com a promessa da casa de Davi cujo trono seria estabelecido para sempre (2 Samuel 7:12–16; Salmos 89:3–4, 29–37). Ao qualificá-lo como “da casa e família de Davi” (Lucas 2:4), o evangelista amarra o fio régio do Antigo Testamento ao querigma do Novo Testamento que proclama Jesus como “descendente de Davi segundo a carne” e “declarado Filho de Deus com poder” (Romanos 1:3–4). O nascimento em condições humildes — envolto em faixas e deitado numa manjedoura (Lucas 2:7) — contrapõe-se à expectativa triunfalista e ecoa o sinal de Deus que subverte grandeza com humildade: o boi e o jumento reconhecem o dono, mas Israel não compreende (Isaías 1:3), e Aquele que é “rico” se faz “pobre” por amor de muitos (2 Coríntios 8:9). A ausência de lugar na hospedaria antecipa a rejeição (“veio para o que era seu, e os seus não o receberam”, João 1:11) e se harmoniza com a autodefinição posterior do Filho do Homem, que “não tem onde reclinar a cabeça” (Lucas 9:58).
A epifania aos pastores (Lucas 2:8–20) mobiliza a simbologia davídica, pois Davi foi tomado do rebanho (1 Samuel 16:11–13) e Deus prometera visitar seu povo como Pastor (Ezequiel 34:11–16; Salmos 23:1), de modo que o anúncio em campos pastorís sinaliza que o Rei-Pastor chegou. A “glória do Senhor” que os envolve (Lucas 2:9) remete à kavod que enchia o tabernáculo (Êxodo 40:34–35) e o templo (1 Reis 8:10–11), agora irrompendo no campo aberto e deslocando a presença de Deus para onde o Cristo está. A tríplice titulação do menino — “Salvador, Cristo, Senhor” (Lucas 2:11) — costura títulos do Antigo Testamento e do Novo: “Salvador” é nome do próprio Deus (Isaías 43:11; Isaías 45:21) e, aplicado a Jesus, prepara a soteriologia apostólica (Atos 5:31; Tito 2:13); “Cristo” atualiza a unção régia messiânica (Salmos 2:2; 2 Samuel 7:12–16) e estrutura a confissão primitiva (Atos 2:36); “Senhor” traduz o domínio divino (Salmos 110:1) e, no uso cristão, densamente identifica Jesus com o Kyrios (Filipenses 2:9–11). O cântico angélico — “Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens do seu agrado” (Lucas 2:14) — ecoa Isaías 9:6–7 (“Príncipe da Paz”) e Isaías 57:19 (“paz... ao que está longe e ao que está perto”), adiantando o tema lucano-paulino da paz como reconciliação que abate muros (Efésios 2:14–17) e oferece perdão (Atos 10:36). O “sinal” dado aos pastores — um bebê em faixas, numa manjedoura — conjuga a pequenez de Isaías 7:14 (a criança-sinal) com o padrão bíblico de Deus agir por meios humildes (Juízes 6:15; 1 Coríntios 1:27–29), enquanto o retorno dos pastores “glorificando e louvando a Deus” (Lucas 2:20) antecipa a resposta discipular e a doxologia que marcará Atos (Atos 2:46–47; 3:8).
A circuncisão ao oitavo dia e a imposição do nome “Jesus” (Lucas 2:21) inscrevem o menino na aliança abraâmica (Gênesis 17:9–12; Levítico 12:3) e cumprem a ordem angélica (Lucas 1:31), sendo o nome soteriológico por excelência (“Ele salvará o seu povo dos pecados”, Mateus 1:21; cf. Atos 4:12). A apresentação no templo e a oferta de “um par de rolas, ou dois pombinhos” (Lucas 2:22–24) obedecem a Levítico 12:6–8 e Êxodo 13:2, 12 (consagração do primogênito), revelando a pobreza dos pais e alinhando Jesus ao “pobre” dos Salmos, sustentado pela misericórdia de Deus (Salmos 34:6; 72:12–13). Em Simeão, “justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel” (Lucas 2:25), vê-se a atualização de Isaías 40:1 (“Consolai, consolai o meu povo”) e a atuação do Espírito em continuidade com as promessas (Isaías 11:2; 61:1; cf. Lucas 4:18–21). O Nunc Dimittis (“Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo...”, Lucas 2:29–32) tece Isaías 52:10 (“o Senhor desnudou o seu santo braço... todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus”) com os cânticos do Servo: “luz para as nações” e “glória de Israel” (Isaías 42:6; 49:6). Essa binaridade — luz aos gentios e glória de Israel — antecipa o programa lucano em Atos 1:8; 13:46–47 e a leitura paulina da bênção abraâmica alcançando as nações (Gálatas 3:8, 14).
A profecia de Simeão sobre o menino “posto para queda e elevação de muitos em Israel” e “sinal que é contraditado” (Lucas 2:34) reenvia a Isaías 8:14–15 (pedra de tropeço e rocha de escândalo), texto depois reinterpretado cristologicamente (Romanos 9:32–33; 1 Pedro 2:6–8), enquanto a espada que traspassará a alma de Maria (Lucas 2:35) prenuncia a dor da mãe ao pé da cruz (João 19:25–27) e a divisão escatológica causada pela verdade (Mateus 10:34–36; cf. Zacarias 12:10, lido em João 19:37). Ana, a profetisa viúva que “falava a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (Lucas 2:36–38), faz ponte com o cântico de Ana (1 Samuel 2:1–10), com a figura da viúva piedosa nos escritos proféticos (Isaías 54:4–8) e com o vocabulário da “redenção” (Isaías 52:9; 63:4) que mais tarde definirá a obra de Cristo (Lucas 24:21; Romanos 3:24; Efésios 1:7).
O retorno a Nazaré e o crescimento do menino (“crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele”, Lucas 2:39–40) ecoam o retrato de Samuel (“o menino Samuel crescia em estatura e em graça...”, 1 Samuel 2:26) e a pedagogia sapiencial que associa sabedoria e favor divino (Provérbios 3:1–4). A cena pascal no templo aos doze anos (Lucas 2:41–52) concentra múltiplos fios. Três dias de procura (Lucas 2:46) prenunciam o tríduo pascal da paixão e ressurreição (Lucas 24:7, 21, 46). O cenário é a Páscoa (Êxodo 12), quando se celebra a libertação do Êxodo — agora, na narrativa lucana, o menino que um dia realizará o “êxodo” definitivo (Lucas 9:31) está no templo do Pai. A resposta de Jesus — “não sabíeis que me convém estar nas coisas de meu Pai?” (Lucas 2:49) — reformula o Salmo 27:4 (o desejo pela casa do Senhor) e marca a consciência filial que culminará na oração do Getsêmani (“não a minha, mas a tua vontade...”, Lucas 22:42) e na confissão final (“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”, Lucas 23:46; Salmos 31:5). O contraste entre a incompreensão dos pais e a sabedoria de Jesus entre os mestres (Lucas 2:47, 50) prepara a dialética lucana de revelação e mal-entendido que atravessa o evangelho (Lucas 9:45; 18:34). O retorno a Nazaré com submissão aos pais (Lucas 2:51) cumpre o mandamento de honrar pai e mãe (Êxodo 20:12; Deuteronômio 5:16), mostrando que o Filho cumpre a Torá em sua própria carne (Mateus 5:17), e o sumário “crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lucas 2:52) espelha 1 Samuel 2:26 e antecipa o favor público que se tornará conflito à medida que a missão se desdobre (Lucas 4:22, 28–29).
Em conjunto, Lucas 2 articula um tríptico intertextual: a realeza davídica e a vocação pastoral convergem no nascimento em Belém (Miquéias 5:2; 2 Samuel 7; Ezequiel 34); a economia cultual do Antigo Testamento — circuncisão, purificação, primogênito, templo — desemboca em Cristo como cumprimento e transição para a nova era (Gênesis 17; Levítico 12; Êxodo 13; Lucas 24:44–47; Hebreus 10:1–10); e os cânticos proféticos (Simeão e Ana), iluminados por Isaías, reorientam a esperança de Israel para uma salvação que é “luz para revelação aos gentios e glória de Israel” (Lucas 2:32; Isaías 49:6), programa que estrutura Atos do começo ao fim (Atos 1:8; 13:47; 28:28). Assim, o capítulo não apenas retrata a infância do Messias, mas inaugura a gramática teológica do evangelho e de Atos: promessa cumprida, presença de Deus deslocada do templo para o Filho, reversão pela humildade, e missão universal que irradia de Israel às nações.
II. Comentário de Lucas 2
Lucas 2.1, 2 César Augusto foi o imperador de Roma (31 a.C. a 14 d.C.), e Cirênio [Quirino, na NVI] foi o empreendedor de um importante censo, organizado para facilitar o pagamento de taxas. O único recenseamento vinculado a Cirênio em registros não bíblicos data de 6 d.C., mas tal acontecimento é tardio para se tratar do referido aqui. Por causa disso, muitos estudiosos consideraram esta nota de Lucas como errônea.
Entretanto, é possível que Cirênio tenha atuado como governador por duas vezes em sua vida, visto que há uma lacuna de governança registrada entre 4 a.C. e 1 d.C., no período entre Varo e Gaio César. O problema é que este espaço se segue à morte de Herodes, e não a precede, como o ajuste de tempo do nascimento de Jesus exigiria (Mt 2). Pode ser que o censo tenha se estendido desde Varo até Cirênio, e fora associado com o nome daquele que o finalizou, no período seguinte à morte de Herodes. Neste caso, Lucas diminuiu historicamente a data, como era comum se fazer, e isso não é um erro.
Outra explicação possível é que o termo primeiro algumas vezes pode ser traduzido como anterior (Jo 15.18). Sendo assim, o que Lucas possivelmente teria dito é que o recenseamento precedeu a administração de Cirênio, e isso também não configura um erro.
Lucas 2.3, 4 O registro, seguindo o costume judaico, acontecia na cidade natal das pessoas (2 Sm 24) A viagem de Nazaré a Belém durava aproximadamente três dias, cerca de 145 km.
Lucas 2.5 O fato de Maria fazer a viagem com José sugere que eles já estavam casados. Entretanto, o casamento não tinha sido consumado (Mt 1.24,25).
Lucas 2.6 Há uma base histórica que explica o tradicional 25 de dezembro, aceita nas igrejas gregas e latinas, como uma data aproximada. O dia do nascimento de Jesus pode ser fixado com alguma precisão, considerando que Mateus 2.19 diz claramente que Ele nasceu numa época próxima à de Herodes, o Grande.
Estudiosos mencionam que a morte de Herodes aconteceu entre um eclipse e a Páscoa. O único eclipse mencionado neste período ocorreu em março de 4 a.C., enquanto a Páscoa teria acontecido no meio de abril. Então, Jesus nasceu pelo menos alguns meses antes da primavera de 4 a.C., no inverno de 5 a.C, ou na primavera seguinte. Por isso as datas do nascimento de Jesus compreendem de 5 a 4 a.C.
A fixação da data do Natal no dia 25 de dezembro aconteceu por volta da época de Constantino (306—337 d.C.). A celebração se tornou a maneira de a Igreja festejar o nascimento de Jesus e apresentar uma alternativa à comemoração de uma popular festa pagã.
Lucas 2.7 Os panos eram tiras de tecido enroladas ao redor do bebê para manter seus braços e pernas seguros. A manjedoura era provavelmente um cocho de alimentação dos animais. E possível que Jesus tenha nascido em um estábulo ou em uma gruta que servia como tal. A estalagem, ao que tudo indica, era um quarto para receber pessoas em uma casa particular ou um abrigo público, e não uma grande construção com vários quartos individuais.
A expressão filho primogênito indica que Maria teve outros filhos (Mt 1.25; 13.55; Mc 3.31-35).
Lucas 2.8 As vigílias eram feitas para proteger as ovelhas de ladrões e animais selvagens.
Lucas 2.9 A palavra glória faz referência ao sinal da presença majestosa de Deus, mais tarde associada a Jesus (At 7.55). Neste cenário, a glória é a aparição da luz em meio às trevas.
Lucas 2.10 Novas de grande alegria. A associação desses dois conceitos [boas novas de salvação e alegria] ocorre apenas aqui e em Lucas 1.14, mas eles resumem qual deve ser a resposta à presença de Jesus.
Lucas 2.11, 12 A cidade de Davi, aqui, faz referência a Belém. Em outras passagens, a expressão quer dizer Jerusalém (2 Sm 5.7). Salvador, Cristo e Senhor são três títulos que juntos sumarizam a ação salvadora de Jesus e Sua posição soberana. Deus foi chamado de Salvador em Lucas 1.47, e Jesus recebe o mesmo título aqui. A palavra Cristo quer dizer Ungido, aludindo à posição real e messiânica de Jesus. A palavra Senhor era o título de um soberano. O significado do termo foi definido por Pedro em Atos 2.30-36. Jesus estava destinado a sentar-se ao lado de Deus e conceder-nos os benefícios da salvação reinando com o Pai.
Lucas 2.13 A expressão exércitos celestiais faz referência a um séquito de anjos.
Lucas 2.14 O termo glória, aqui, faz alusão ao louvor a Deus. Boa vontade para com os homens. Esta expressão indica que as pessoas são os objetos da graça divina. No antigo judaísmo, esta frase descrevia um grupo limitado de indivíduos, os recebedores da graça especial de Deus. A promessa de paz (Lc 1.79) e de boa vontade chegaria àqueles que acolhessem o único Filho de Deus.
Lucas 2.15-20 De forma semelhante ao nascimento de João (Lc 1.65,66), o nascimento de Jesus gerou maravilha e admiração.
Lucas 2.21 De acordo com a Lei, um menino judeu deveria ser circuncidado no oitavo dia (Gn 17.12; Lv 12.3).
Lucas 2.22-24 O termo purificação faz referência ao rito no qual a mulher que deu à luz era declarada cerimonialmente pura de novo (Lv 12.6). A solenidade acontecia 40 dias após o nascimento. Neste ritual, a mãe poderia oferecer um cordeiro ou dois pombinhos (Lv 12.8). A família de Jesus levou as aves (v. 24), indicando que ela não possuía nem podia comprar outro animal. A distância de Belém a Jerusalém era apenas 8 km. A expressão apresentarem ao Senhor alude à apresentação comum do filho primogênito ao Senhor (Êx 13.2,12; Nm 18.6; 1 Sm 1; 2). Lucas mostra que os pais de Jesus eram judeus fiéis e que eles cumpriam as exigências da Lei.
Lucas 2.25, 26 Simeão estava esperando pela consolação de Israel, o Confortador de Israel, uma esperança que tem paralelo com a esperança do resgate nacional expresso nos dois hinos do capítulo 1. Este resgate envolveria a obra do Messias, como o versículo 26 sugere, o mesmo trecho em que Lucas destaca a presença do Espírito no começo da obra de Deus em Jesus.
Lucas 2.27, 28 O local para onde foram dentro do templo não é citado, mas a presença de Maria sugere ou o pátio dos gentios ou o pátio das mulheres.
Lucas 2.29 Segundo a tua palavra. Vemos aqui que Simeão agradece a Deus (glorifica a Deus) e recorda o cumprimento da promessa do Senhor (v. 26). Esta é a promessa que sugere que Simeão é um ancião, embora sua idade não seja mencionada. Simeão, um exemplo de fé, poderia descansar sabendo que o plano de Deus seria cumprido, ainda que ele não visse toda a realização durante sua vida.
Lucas 2.30 Simeão identificou a salvação de Deus como personificada em Jesus. A vinda de Cristo era a vinda da salvação do Senhor.
Lucas 2.31 Tu preparaste. Esta expressão indica o desígnio de Deus e o cumprimento do plano.
Lucas 2.32 Luz para alumiar as nações e para glória de teu povo Israel. Esta é a primeira frase explícita em Lucas que inclui os judeus e os gentios. A salvação é ilustrada como luz (Lc 1.79). Isso era uma revelação para os gentios, pois eles poderiam participar da bênção de Deus com a completude que não fora revelada no Antigo Testamento (Ef 2.11-22; 3.1-7). Jesus é a glória porque, por intermédio dele, a nação veria o cumprimento das promessas de Deus. O papel especial da nação no plano do Senhor seria reivindicado (Is 46.13; 60.1-3; Rm 9.1-5; 11.11-29).
Lucas 2.33, 34 Eis que este é posto para queda e elevação de muitos. Esta declaração de Simeão é o primeiro sinal de que a trajetória de Jesus não seria somente rosas. O plano é enfatizado pela expressão é posto. A ilustração da queda e elevação é conceitualmente paralela a Isaías 8.14,15 e 28.13-16, que são frequentemente usados no Novo Testamento para descrever a divisão que Jesus trouxe para a nação (Rm 9.33; 1 Pe 2.6-8; Lc 20.17,18).
Há uma discussão se a alusão se dá a um grupo em Israel que se eleva e depois cai, ou se a referência é feita em relação à divisão da nação em dois grupos. É mais provável que seja a segunda hipótese, visto que Lucas recorre à ideia da divisão causada por Jesus (Lc 6.20-26; 13.28, 29, 33-35; 16.25; 18.9-14; 19.44, 47, 48; 20.14-17, especialmente em Lc 12.51). A menção de que Jesus seria um sinal que é contraditado também acrescenta ênfase ao registro de divisão.
Lucas 2.35 A ilustração de uma espada usada por Lucas é para expressar que Maria sofrerá muito ao ver a rejeição de Jesus e ao vê-lo formar um novo grupo com prioridades que levam a tal rejeição. Esta observação, como o texto registra, é um parêntese.
A expressão manifestem os pensamentos é o reconhecimento de que Jesus é o meio pelo qual as pessoas se posicionam perante Deus. Ele é o Juiz que exporá os pensamentos do povo (At 10.42,43; 17.30, 31).
Lucas 2.36, 37 Não fica claro no texto se os 84 anos mencionados correspondem à idade de Ana, ou ao tempo que esta era viúva. O testemunho desta mulher devota complementa o testemunho de Simeão. Ambos perceberam a obra de Deus muito cedo na vida de Jesus. O trabalho de Ana como profetisa no templo indica que ela falava a todos que precisavam ouvi-la, como faziam Miriã (Ex 15.20), Débora (Jz 4-4) e Hulda (2 Rs 22.14). As filhas de Filipe também são exemplos de profetisas no Novo Testamento (At 21.9).
Lucas 2.38 A expressão redenção em Jerusalém é outra forma de falar da consolação de Israel (v. 25).
Lucas 2.39 A família finalmente retorna ao lugar que será seu lar em Nazaré. Lucas não registra nenhuma das visitas ou viagens que Mateus 2 relata.
Lucas 2.40 E o menino crescia. Com este comentário, a história da infância de Jesus termina. A narrativa recomeça 12 anos depois, no versículo 41. Esses dois versículos revelam o crescimento da natureza humana de Jesus, enquanto, em Sua natureza divina, Ele era imutável e infinito. Os cristãos devem pesar estas duas naturezas quando falam do Senhor Jesus.
Lucas 2.41 A peregrinação anual a Jerusalém era costumeira para muitos que viviam fora da cidade. A Lei ordenava três peregrinações para os homens todos os anos: a da Páscoa, de Pentecostes e da Festa dos Tabernáculos (Êx 23.14-17). No primeiro século, a maioria dos homens judeus fez uma peregrinação anual por causa da distância que muitos tinham de percorrer devido à dispersão dos israelitas na Ásia Menor.
Lucas 2.42 Nesta idade (12 anos), Jesus começou a ter uma instrução intensiva, a fim de prepará-lo para a chegada da responsabilidade dos 13 anos, quando um menino era aceito na comunidade religiosa como um homem encarregado de cumprir a Lei.
Lucas 2.43-45 Membros de famílias inteiras frequentemente viajavam juntos. Essa situação pode ter contribuído para que os pais de Jesus não tivessem notado Sua ausência até o anoitecer no acampamento.
Lucas 2.46-48 Os doutores eram rabinos judeus. Note que Jesus não estava dando sermões, mas envolvendo os rabinos em discussões teológicas (v. 47).
Lucas 2.49 Apesar de ter apenas 12 anos, Jesus sabia que Deus o tinha encarregado de cumprir certas tarefas nesta terra (Lc 4.43; 9.22; 13.33; 17.25; 19.5; 22.37; 24.7,44). A primeira indicação no Evangelho de Lucas de que Jesus sabia que tinha uma missão singular e uma relação ímpar com o Pai é: me convém tratar dos negócios de meu Pai. O texto em grego é elíptico aqui e diz: “Eu devo estar no... de meu Pai”, sem especificar um lugar ou uma atividade. Tanto Jesus pode estar próximo da obra de Deus, assim como a tradução sugere, quanto pode estar na casa de Deus, discutindo Sua verdade. No final, as duas possibilidades não diferem muito uma da outra.
Lucas 2.50-52 Apesar da revelação que os pais de Jesus tiveram, eles ainda estavam tentando entender os aspectos da missão de seu filho. Os discípulos passariam por problemas semelhantes (Lc 9.45; 10.21-24; 18.34). A compreensão de quem é Jesus, às vezes, leva algum tempo, considerando que a Pessoa e a missão são únicas e quebram alguns conceitos (Mt 16.21-23; Jo 18.10,11).
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