Gênesis 31 — Explicação das Escrituras
Gênesis 31
31:1–18 Depois que Jacó descobriu que Labão e seus filhos estavam ficando com ciúmes e ressentidos, o SENHOR lhe disse que havia chegado a hora de voltar para Canaã. Primeiro ele ligou para Rachel e Leah e discutiu o assunto, contando como Labão o havia enganado e mudado seu salário dez vezes, como Deus havia anulado para que os rebanhos sempre se reproduzissem a seu favor, como Deus o havia lembrado do voto que ele havia feito vinte anos antes (28:20–22), e como o Senhor lhe havia dito para retornar a Canaã. Suas esposas concordaram que seu pai não havia agido honestamente e que deveriam ir embora.
Griffith Thomas aponta vários princípios interessantes para discernir a orientação de Deus aqui. Primeiro, Jacó teve um desejo (30:25). Em segundo lugar, as circunstâncias exigiam algum tipo de mudança. Em terceiro lugar, a palavra de Deus veio fortemente a ele. E, finalmente, houve confirmação do apoio de suas esposas, apesar de seus laços naturais com Labão (W. H. Griffith Thomas, Genesis: A Devotional Commentary, p. 288.). Observe que o Anjo de Deus (v. 11) é o Deus de Betel (v. 13).
31:19–21 Antes da partida secreta, Raquel roubou os ídolos da casa de seu pai e os escondeu na sela de seu camelo. A posse desses deuses domésticos implicava na liderança da família e, no caso de uma filha casada, assegurava ao marido o direito à propriedade do pai. (Unger, Bible Dictionary, p. 550.) Visto que Labão tinha seus próprios filhos quando Jacó fugiu para Canaã, somente eles tinham o direito aos terafins de seu pai. O roubo de Rachel foi, portanto, um assunto sério, destinado a preservar para o marido o título principal da propriedade de Labão.
31:22–30 Quando Labão soube de sua partida, ele e seus homens os perseguiram por uma jornada de sete dias, mas o Senhor o advertiu em um sonho para não incomodar Jacó e sua caravana. Quando finalmente os alcançou, ele apenas reclamou que lhe fora negado o privilégio de dar-lhes uma despedida real e que seus ídolos haviam sido roubados.
31:31–35 À primeira reclamação, Jacó respondeu que saiu secretamente por medo de que Labão tomasse suas filhas (Raquel e Lia) dele à força. À segunda denúncia, ele negou ter roubado os deuses e imprudentemente decretou a morte do culpado. Labão fez uma busca minuciosa na caravana, mas em vão. Rachel estava sentada neles e se desculpou por não descer da sela do camelo para homenagear seu pai porque era seu período menstrual - ou assim ela disse.
31:36–42 Agora foi a vez de Jacó ficar zangado. Ele denunciou Labão por acusá-lo de roubo e por tratá-lo tão injustamente por vinte anos, apesar do serviço fiel e generoso de Jacó. Esta passagem revela que Jacó era um trabalhador esforçado e que a bênção do Senhor estava sobre ele em tudo o que fazia. Somos fiéis aos nossos empregadores? A bênção de Deus repousa sobre nosso trabalho?
31:43–50 Labão evitou o assunto protestando de forma ineficaz que não faria mal a suas próprias filhas, netos ou gado, e então sugeriu que eles deveriam fazer um pacto. Não foi uma aliança graciosa e amigável, pedindo ao Senhor que cuidasse deles enquanto estavam separados. Em vez disso, foi um acordo entre dois trapaceiros, pedindo ao Senhor para garantir que eles fizessem o que era certo quando estivessem fora de vista um do outro! Na verdade, era um tratado de não agressão, mas também incumbia Jacó de não tratar as filhas de Labão com severidade nem de se casar com outras esposas. Labão chamou o pilar de pedras que marcava o pacto de Jegar Sahadutha, uma expressão aramaica. Jacó o chamou de Galeed, uma palavra hebraica. Ambas as palavras significam “a pilha de testemunho”. Nenhum dos dois deveria passar pela pilha de pedras para atacar o outro.
31:51–55 Labão jurou pelo Deus de Abraão, o Deus de Naor e o Deus de seu pai, Terá. A capitalização de Deus na NKJV (também Moffatt, NIV, etc.) indica que os tradutores sentiram que Labão estava se referindo ao único Deus verdadeiro que Abraão veio a conhecer. No entanto, como o hebraico não tem letras maiúsculas e minúsculas, não podemos dizer se Labão poderia estar se referindo aos deuses pagãos que esses homens adoravam em Ur. Jacó jurou pelo temor de seu pai Isaque - isto é, o Deus a quem Isaque temia. Isaque nunca foi um idólatra. Jacó primeiro ofereceu um sacrifício, depois fez um banquete para todos os presentes e acampou toda aquela noite na montanha.
De manhã cedo, Labão deu um beijo de despedida nos netos e nas filhas e foi para casa.
Notas Adicionais:
31.3 Temos aqui excelente exemplo de orientação do Senhor: 1) Desejo e saudade - O pensamento e o desejo de voltar à sua terra sobreveio a Jacó quando José nascera. Teria ele, então, admitido ser José o Messias, isto é, a Semente Prometida? (cf. 30.25); 2) As circunstâncias convergem no sentido da providência. Labão e os filhos criaram as circunstâncias próprias para que Jacó se sentisse pressionado a ir embora (31.1-2); 3) A mensagem divina. Jacó, entretanto, só encetou a viagem quando o Senhor Jeová a mandara (3). Estes três elementos decorrem da orientação do Senhor.31.13 O memorial erigido a Deus em Betel, a coluna que lembrava o voto ali anteriormente feito, era muito a propósito pelo fato de que Jacó, com toda probabilidade, não tinha pensado demoradamente em Deus durante sua permanência em Padã-Arã.
31.15 “Ele nos vendeu” é a referência feita à compensação pela dotação que Jacó ofereceu mediante serviços e também ao extraordinário crescimento da riqueza conseguida em virtude da bênção de Deus sobre o trabalho de Jacó.
31.19 Os ídolos, que Raquel furtara, eram “Terafins”, ou “deuses domésticos” pertencentes a Labão (cf. 30). Os tabletes de Nuzi indicam que os “terafins” provavam então, que os possuidores eram os legítimos herdeiros. É provável que Labão não tivesse nenhum herdeiro varão ao tempo da vinda de Jacó para sua casa. Uma vez casado com suas filhas, Jacó deveria, naturalmente, ser admitido como filho adotivo e herdeiro. Entretanto, posteriormente nasceram filhos a Labão (31.1) e os costumes de então estabeleciam que os filhos tivessem precedência sobre os adotivos. Transparece, na descrição dos fatos, que Raquel estava determinada a tudo fazer no sentido de que se mantivessem os direitos do esposo e dos descendentes. Jacó estava na plena ignorância dos atos de Raquel. Ele deveria estar consciente do direito de primogenitura em sua própria família, isto é, de Isaque.
31.23 Sete dias para percorrer cerca de 650 quilômetros não seria algo além das possibilidades para camelos adestrados em viagens.
31.27 Jacó conseguiu excelente folha de serviços, como pastor de ovelhas. O Código de Amurabe (contemporâneo) estabelecia que o pastor teria de fornecer uma lista dos animais que lhe fossem confiados. Alguns poderiam ser usados para alimentação; ele não ficava responsável pelos que fossem devorados pelos leões ou mortos pelos raios. Do pastor, porém, esperava-se que devolvesse o rebanho com razoável incremento e que pagasse em dobro as ovelhas que se tivessem perdida por negligência. Os versículos que sequem ficam bem esclarecidos em face do referido Código.
31.42 O temor de Isaque é tradução literal da frase cuja significação é: “Aquele a quem presta culto” (cf. 53). O comporta- mento decisivo apresentado por Jacó em sua amarga argumentação consistia em asseverar que Deus tinha pronunciado uma sentença e condenado os atos de Labão. Tal maneira de arrazoar levou Labão a propor o estabelecimento de uma aliança, com Jacó (cf. v 44).
31.46 A antiga praxe de tomar uma refeição para firmar um compromisso é bem conhecida. Posteriormente, oferecia-se também um sacrifício, o qual se fazia acompanhar de uma festa de ação de graças (54). Mediante a participação no sacrifício e os compromissos mutuamente assumidos, não se podia admitir nenhuma violação (cf. também 26.30).
31.47 Jegar-Saaduta, frase aramaica que significa: “mente do testemunhos”. Galeede é palavra hebraica equivalente.
31.49 Mispa, “posto de vigilância”. A ereção de uma coluna ou “monte” tinha por objetivo indicar que ficava estabelecida uma linha divisória através da qual nenhum dos compromissados haveria de passar com intuitos hostis.
31.54 Irmãos nesta passagem poderá ter a significação de parentes próximos referindo-se, provavelmente, aos filhos de Labão. O termo “filhos” em hebraico (55) não raro inclui todos os filhos e, neste caso, os netos de Labão. Pelo menos nesta fuga, Jacó não deixara um parente ou irmão tão ofendido que precisaria temer por sua vida, como foi no caso de Esaú. Foi uma lição de fé para Jacó, ouvir como Deus tinha advertido a Labão para não vingar-se. Não foi a astúcia de Jacó, mas o cuidado de Deus que o salvara (29.31).
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