Significado de Atos 17
Atos 17
Em Atos 17, Paulo continua sua jornada missionária e viaja para várias cidades para pregar o evangelho. Ele começa em Tessalônica, onde encontra aceitação e oposição de judeus e gregos. Ele então segue para Berneia, onde as pessoas são mais receptivas e pesquisam as Escrituras para verificar os ensinamentos de Paulo.
Mais adiante no capítulo, Paulo vai a Atenas, um centro de debates intelectuais e filosóficos. Lá, ele se envolve com vários pensadores e proclama a mensagem de Cristo para judeus e gentios. Ele até faz um sermão no Areópago, usando a própria cultura e crenças da cidade para explicar a natureza do único Deus verdadeiro.
Atos 17 mostra a capacidade de adaptação e abordagem estratégica de Paulo na divulgação do evangelho para diferentes públicos e contextos. Também demonstra a importância de pesquisar e verificar as Escrituras, como faziam os bereanos, para garantir a veracidade dos ensinamentos. Finalmente, destaca a universalidade da mensagem do evangelho, que é relevante e aplicável a pessoas de todas as culturas e origens.
I. Intertextualidade com o Antigo e Novo Testamento
Atos 18 desloca a narrativa de Atenas para Corinto e, com isso, costura missão, trabalho, sinagoga e praça sob o fio da Escritura. Paulo encontra Áquila e Priscila, judeus vindos de Roma, e trabalha com eles na confecção de tendas, enquanto “todo sábado” discute nas sinagogas e persuade judeus e gregos (Atos 18:1–4). O retrato do apóstolo que se sustenta “com as próprias mãos” dialoga com sua própria ética em cartas: “trabalhando noite e dia, para não sermos pesados” (1 Tessalonicenses 2:9; cf. Atos 20:34), sem abdicar do direito apostólico (1 Coríntios 9:6–15). A cadência “primeiro na sinagoga” segue o eixo da promessa a Abraão para todas as famílias da terra (Gênesis 12:3) e o padrão do Servo “luz para as nações” que, porém, começa em Israel (Isaías 49:6; Romanos 1:16).
Com a chegada de Silas e Timóteo, Paulo se “entrega de todo ao testemunho”, enfrentando resistência e blasfêmia; então sacode as vestes e declara: “o vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo; desde agora vou para os gentios” (Atos 18:5–6). O gesto e a fórmula são bíblicos: “sacudir o regaço” para sinalizar responsabilização aparece em Neemias 5:13, e o “sangue sobre a cabeça” ecoa a linguagem do sentinela de Ezequiel, que se considera limpo por ter advertido (Ezequiel 33:4–9), além do sinal missionário de “sacudir o pó” quando rejeitados (Mateus 10:14). A virada “aos gentios” retoma a justificação profética de Atos 13:46 (“era necessário… mas já que a rejeitais, voltamo-nos para os gentios”) e se ancora em Isaías 49:6. Paradoxalmente, a porta que se fecha na sinagoga abre-se ao lado: na casa de Tício Justo, vizinha à sinagoga, onde Crispo, principal da sinagoga, crê “com toda a sua casa”, e “muitos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados” (Atos 18:7–8). Essa “salvação doméstica” atravessa Atos (Atos 10:24, 48; 16:15, 31–34) e encontra ressonância em 1 Coríntios, onde Paulo lembra ter batizado “a Crispo e a Gaio” (1 Coríntios 1:14).
O encorajamento noturno do Senhor crava a missão em promessas antigas e na eleição que conduz a história: “Não temas, pelo contrário, fala e não te cales; porque eu estou contigo… pois tenho muito povo nesta cidade” (Atos 18:9–10). “Não temas… eu estou contigo” é o refrão do chamado profético (Josué 1:9; Isaías 41:10; Jeremias 1:8), e a garantia de que “ninguém te acometerá para te fazer mal” ecoa a proteção prometida ao enviado (Jeremias 1:18–19; Salmos 121). O “muito povo” do Senhor em Corinto conversa com a linguagem joanina do dom do Pai ao Filho (“todo o que o Pai me dá virá a mim”, João 6:37) e com as “outras ovelhas” que ouvirão a voz do Pastor (João 10:16). Por isso Paulo permanece “um ano e seis meses” ensinando a palavra (Atos 18:11), enquanto mais tarde lembrará aos coríntios que veio a eles “em fraqueza, temor e grande tremor” para que a fé se firmasse no poder de Deus (1 Coríntios 2:1–5), justamente o poder que o Senhor lhe prometera naquela noite.
O episódio diante de Gálio, procônsul da Acaia, enquadra o evangelho num cenário jurídico que, sem o pretendido, favorece a sua livre circulação. Os acusadores querem transformar a fé em “questão de lei”, e Gálio recusa intervir, expulsando-os do tribunal (Atos 18:12–16). O “tribunal” (bēma) em Corinto, onde se buscava veredito humano, ironicamente aponta ao “tribunal de Cristo” no qual todos hão de comparecer (2 Coríntios 5:10; Romanos 14:10), e a recusa do magistrado ecoa a soberania de Deus que faz até decisões civis servirem ao avanço da palavra (Provérbios 21:1; Atos 18:18). Sostínes, principal da sinagoga, é espancado diante do bēma, e Gálio “não se incomoda” (Atos 18:17); mais adiante, um “Sostínes, o irmão”, aparecerá ao lado de Paulo (1 Coríntios 1:1), sinal de que a graça pode tomar até nomes associados à oposição e torná-los cooperadores (Atos 9:1–20).
Ao partir de Corinto, Paulo “corta o cabelo em Cencreia, pois tinha voto” (Atos 18:18), gesto que remete às práticas votivas de Israel, especialmente ao voto nazireu com corte do cabelo ao término (Números 6:1–21), e à piedade que “paga os votos ao Senhor” (Salmos 116:14; Eclesiastes 5:4–5). Cencreia, porto de Corinto, será também o lugar de onde servia Febe, “diaconisa da igreja” (Romanos 16:1), mostrando o florescimento eclesial naquele eixo. Em Éfeso, Paulo discute na sinagoga; pedem-lhe que fique, mas ele se despede com um “voltarei, se Deus quiser” (Atos 18:19–21), fórmula que alinha prudência e providência (Tiago 4:13–15; Provérbios 16:9) e que ele mesmo adotará na correspondência (1 Coríntios 4:19; 16:7). Deixa Priscila e Áquila em Éfeso — casal que, como “cooperadores” (Romanos 16:3–5), mostra que a missão se faz em casas, ofícios e ensino partilhado.
O relato de Apolo, judeu alexandrino “eloquente e poderoso nas Escrituras”, “instruído no caminho do Senhor”, mas conhecendo “apenas o batismo de João”, entrelaça continuidade e completude (Atos 18:24–25). O batismo de João preparava para o que viria (Marcos 1:7–8; Atos 19:4), e Priscila e Áquila o “expõem com mais exatidão” o caminho de Deus (Atos 18:26), à maneira do Ressuscitado que abriu as Escrituras “começando por Moisés e por todos os profetas” (Lucas 24:27). Com cartas de recomendação dos irmãos — prática que Paulo citará ao falar de “cartas de recomendação” e de a própria igreja ser a “carta” do apóstolo (2 Coríntios 3:1–3) —, Apolo atravessa para a Acaia, onde “ajudou muito aos que pela graça haviam crido” e “com grande veemência… demonstrava pelas Escrituras que o Cristo era Jesus” (Atos 18:27–28). O seu ministério é o contraponto perfeito ao de Paulo em 1 Coríntios: “eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento” (1 Coríntios 3:6), e o conteúdo é o mesmo querigma escriturístico: o Ungido prometido em Salmo 2, Salmo 110 e Isaías 53 é Jesus (Salmos 2; 110:1; Isaías 53).
Até nos detalhes Atos 18 dialoga com a Escritura. A passagem de sinagoga para casa vizinha remete ao movimento profético de Deus que, quando fechado no templo, encontra casa aberta para o seu Nome (1 Reis 8:41–43; Atos 10:44–48); a visão de encorajamento soma-se às aparições que marcam viradas (Gênesis 26:24; Atos 23:11); o voto cumprido em Cencreia conecta-se ao zelo que não dispensa a graça; o “se Deus quiser” amarra decisão e dependência; e Apolo, “poderoso nas escrituras”, confirma que a missão às nações não abandona Moisés e os Profetas, mas os lê na luz do Ressuscitado (Lucas 24:44–47). Desse modo, Atos 18 mostra que o Senhor que disse “tenho muito povo nesta cidade” é o mesmo que abre portas (1 Coríntios 16:9), sustenta o seu servo diante de tribunais (Atos 18:12–16), reúne casas inteiras sob o batismo (Atos 18:8), acolhe votos sinceros e corrige teologias incompletas com mansidão (Atos 18:26), para que, de Corinto a Éfeso e de Cencreia a Antioquia, a Escritura seja cumprida e a graça faça crescer a igreja “pela fé que é em Cristo Jesus” (Atos 18:23; 20:32).
II. Comentário de Atos 17
Atos 17:1-4 Disputou com eles sobre as Escrituras. Havia muitas evidências nas Escrituras que Paulo podia usar para defender seus argumentos. Por exemplo, Salmos 22, escrito por Davi mais de mil anos antes, descreve a crucificação do Messias. Paulo também podia citar Isaías 53 e Zacarias 12 para falar do sofrimento, da morte e da ressurreição do Messias, cuja vinda foi predita pelos profetas. O Antigo Testamento está repleto de evidências sobre a natureza e a vida do Messias que conferem perfeitamente com Jesus (Lc 14-25-27).
Atos 17:5, 6 Os judeus aqui são os líderes da sinagoga que se sentiram ameaçados pelo evangelho, pois contrariava os ensinamentos deles.
Atos 17:7, 8 Procedem contra os decretos de César. Em 49 a. C., o imperador romano Cláudio expulsou todos os judeus de Roma por causa de tumultos causados por um grupo de judeus radicais. Esses revolucionários defendiam uma insurreição contra Roma e eram contra a instituição de um novo rei. Os acusadores de Paulo queriam que ele fosse visto como um revolucionário que estava levando um motim em Tessalônica.
Atos 17:9-10 Tendo, porém, recebido satisfação de Jasom e dos demais, os soltaram. Receber satisfação é o mesmo que pagar fiança hoje em dia. Era uma segurança de que o apóstolo Paulo não causaria mais problemas e não voltaria mais a Tessalônica. Depois disso, Paulo e Silas viajaram 80 km a sudoeste para a cidade de Bereia.
Atos 17:11-14 Estes judeus examinavam cada dia nas Escrituras para descobrir a verdade. E é isso que Deus deseja de todos os cristãos hoje também; foi por isso que Ele nos deu a sua Palavra.
Atos 17:15 Chegando a Atenas, Paulo percebeu que precisaria da ajuda de Silas e Timóteo. Então, ordenou-lhes que viessem para ficar com ele.
Atos 17:16 O seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria. Paulo sentiu-se muito incomodado ao ver tantos altares e templos pagãos em Atenas. Em sua carta aos coríntios, ele explica por que ficou tão indignado com aquela situação (1 Co 10.20). Os sacrifícios das pessoas eram oferecidos aos demônios. E, ao fazerem isso, os gentios estavam tendo comunhão com os poderes das trevas. Paulo ficou muito conturbado porque aquelas pessoas estavam sendo enganadas pelo diabo.
Atos 17:17 Paulo não era turista. Ele estava na praça pregando aos que passavam por ali.
Atos 17:18 Uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos. Alguns filósofos em Atenas zombaram de Paulo, chamando-o de “pardal”, um pequeno pássaro que junta migalhas. Paulo estava sendo acusado de reunir vários pensamentos, sem antes ter analisado ou meditado mais sobre o que estava ensinando. Por não falar de modo eloquente (1 Co 2.1), alguns filósofos soberbos de Atenas ridicularizaram Paulo, dizendo que não podiam levar a sério alguém tão simplório. Outros acharam que ele estava falando de deuses estrangeiros chamados Jesus e Ressurreição, incorretamente compreendidos como uma deidade masculina e feminina.
Atos 17:19-21 O Areópago. A sudoeste da Acrópole em Atenas ficava uma colina chamada Colina de Ares (Marte), deus da guerra. Era li que se reunia o tribunal que tratava de assuntos relacionados a questões religiosas e morais. Em Atenas, a mensagem do evangelho foi examinada pelos supostos mestres em filosofia e religião.
Atos 17:22-31 Já que as pessoas em Atenas não tinham conhecimento das Escrituras hebraicas, Paulo começou seu discurso dando um panorama geral sobre a criação. No sexto século a. C., havia uma história de que um poeta de Creta chamado Epimênides livrou o povo de Atenas de uma terrível praga clamando a um deus que o povo nunca tinha ouvido falar. Um altar foi construído a esse deus então, e os atenienses passaram a chamá-lo de o deus desconhecidos. Paulo certamente conhecia a história de Epimênides; é desse poeta que ele fala em Tito 1.12. Deste modo, Paulo começou sua apresentação do evangelho falando sobre a revelação natural e dizendo certas verdades aos poetas atenienses. E de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra. Em Sua soberania, Deus criou um homem, Adão. E, embora os descendentes de Adão tenham se multiplicado e se tornado nações, é Deus quem está no controle deles (Dn 2.20, 21). Para que buscassem ao Senhor. Deus pôs dentro de cada um de nós o desejo de adorá-lo e buscá-lo. E, muitas vezes, o homem o busca criando imagens para adorar, sejam ídolos de cera sejam seus próprios desejos. Sem uma revelação definitiva de Deus, nós continuaríamos adorando esses deuses. Mas Paulo afirma que Deus não está longe; nós podemos ter comunhão com Ele. Na verdade, nós dependemos dele todos os dias para viver. Nosso amado Criador enviou Seu Filho, Jesus Cristo, para nos mostrar o Seu amor. O que precisamos fazer é aceitar Jesus como Salvador e segui-lo.
Atos 17:32, 33 Ao falar sobre a ressurreição dos mortos, Paulo fez com que os atenienses reagissem na mesma hora. Os gregos repudiavam a ideia da uma ressurreição física. Embora acreditassem no conceito de que a alma vive para sempre, eles negavam a ideia de uma ressurreição física porque consideravam o corpo maligno, algo a ser descartado. Esse conceito, conhecido como dualismo, advinha dos filósofos gregos Sócrates e Platão. Eles afirmavam que tudo que é físico é maligno e tudo que é espiritual é bom, não fazendo diferença alguma o que alguém faz com seu corpo, contanto que seu espírito seja bom. Infelizmente, a crença dos atenienses nessa filosofia os cegou para a verdade do evangelho.
Atos 17:34 Alguns [...] creram. O sermão de Paulo não foi um fracasso, embora ele tenha pregado de outro modo para um público diferente em Corinto (1 Co 2.1, 2). Havia entre os cristãos de Atenas pessoas muito influentes, inclusive um juiz chamado Dionísio.
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