Interpretação de Números 5

Números 5

Números 5 contém instruções e leis relacionadas a questões de impureza, ciúme e restituição dentro da comunidade israelita. Trata de questões de pureza moral e ritual, bem como da resolução de disputas envolvendo suspeitas de infidelidade. Aqui está uma interpretação de Números 5:

1. Pureza e Santidade: Os versículos iniciais de Números 5 enfatizam a importância de manter a pureza ritual e moral dentro do acampamento israelita. Qualquer pessoa que tenha se tornado ritualmente impura, por exemplo, através do contato com um cadáver, deve ser removida do acampamento para evitar contaminação. Isto sublinha a ideia de que a santidade e a pureza são princípios fundamentais na comunidade israelita.

2. Restituição por irregularidades: O capítulo introduz um processo para a resolução de disputas decorrentes de suspeita de infidelidade ou infidelidade no casamento. Se um marido suspeitar que sua esposa foi infiel, mas não tiver provas, ele pode levá-la ao sacerdote para um ritual conhecido como “oferta de ciúme”. Este processo permite a resolução de suspeitas e promove a harmonia conjugal.

3. A Prova da Água Amarga: A “oferta de ciúme” envolve uma cerimônia na qual água misturada com pó do chão do Tabernáculo é dada para beber à esposa acusada. Se ela for inocente, nenhum dano lhe acontecerá, mas se for culpada, sofrerá consequências físicas. Este teste é visto como um meio de intervenção divina para revelar a verdade.

4. Princípio da Restituição: O capítulo também aborda o princípio da restituição. Se uma pessoa prejudicou outra por meio de engano ou roubo, ela será obrigada a fazer a restituição total por suas ações, juntamente com uma multa adicional de 20%. Isto sublinha a importância da responsabilização e da reparação dos erros cometidos.

5. Manutenção da Harmonia Social: Os procedimentos descritos nos Números 5 destinam-se a manter a harmonia social dentro da comunidade. Ao abordar as suspeitas e fornecer um processo de resolução, visa prevenir conflitos e manter a integridade das relações, especialmente no contexto do casamento.

6. Intervenção Divina: O capítulo carrega um sentido de intervenção e justiça divina. Sugere que Deus intervirá para revelar a verdade e garantir que a justiça seja feita. Isto reforça a ideia de que Deus está ativamente envolvido na vida dos israelitas e que a conduta ética e moral é de suma importância.

Números 5 aborda questões de pureza, justiça e disputas conjugais dentro da comunidade israelita. Sublinha a importância de manter a santidade e a integridade moral, proporcionando ao mesmo tempo um processo para resolver suspeitas e disputas de uma forma que reflita a intervenção e a justiça divinas. Este capítulo serve como um lembrete de que a conduta ética e a responsabilidade são princípios essenciais na jornada dos israelitas pelo deserto.

Interpretação

Primeira Lista Sacerdotal. 5:1 – 10:10.
Leis sobre a guarda da Páscoa foram datadas de um mês antes de Nm. 1 (veja 9:1). Isto se entende quando percebemos que embora fosse observada uma ordem cronológica global, o material foi arrumado e reunido por todos. Racionalmente podemos supor que a obra original estava contida em rolos de pergaminho ou papiro. Tivemos um rolo com o recenseamento e agora nos voltamos para um rolo no qual estão reunidos detalhes cerimoniais adicionais e outros detalhes hieráticos.

Interpretação

A. Separação dos Imundos. 5:1-4.
5:2. Lancem para fora do arraial todo leproso, todo o que padece fluxo, e todo imundo por ter tocado em algum morto. De acordo com a orientação aqui apresentada, estes três tipos de pessoas imundas deviam ser postas fora do acampamento. Mas nas três passagens que tratam com mais detalhes das diversas profanações (Lev. 13; 15; Núm. 19) só os leprosos tinham de ser expulsos do acampamento (Lev. 13:46). De acordo com Levítico 13, uma pessoa não era expulsa do acampamento até que se comprovasse que tinha um caso verdadeiro e permanente de lepra. Quanto ao “que padece de fluxo”, Nm. 5:2 pode igualmente estar se referindo a um fluxo permanente e crônico, exigindo expulsão do acampamento, enquanto Lv. 15 trata apenas de fluxo temporário. A terceira expressão idiomática refere-se a “alguém que se tornou imundo por causa de uma pessoa” (nepesh), que é geralmente a expressão para contaminação por causa de um defunto (Nm. 9:10; 19:11). Este tipo de imundícia não exigia normalmente expulsão do acampamento. Mas, de acordo com 19:20, se o imundo deixasse de se purificar devidamente, devia ser desligado da congregação. Resumindo, os três tipos de imundície aqui mencionados referem-se a casos extremos nos quais a expulsão do acampamento era o único caminho de se preservar a pureza cerimonial da congregação.

Compensação por Ofensas e Honorários Sacerdotais. 5:5-10.
5:7. Pela culpa, fará plena restituição. O hebraico 'eisheim, aqui culpa, é a palavra chave desta passagem. O termo é a expressão de uma ofensa pela qual se podia fazer restituição. Estes pecados são contra homens, em contraste com pecados cometidos contra Deus somente, por isso a E.R.A. que diz pecados em que caem os homens (Nm. 5:6) deveria ser pecados contra o homem. Este pecado, como aquele examinado em Lv. 5:16, exigia restituição integral, mais um quinto do valor da coisa restituída.

5:8. Carneiro expiatório. O meio pelo qual a culpa do homem era expiada (“purificada”) e consequentemente a ira de Deus contra o pecador aplacada (“tornada favorável”). Em Lv. 5:16 este carneiro foi chamado de “o carneiro da oferta pela culpa”, que destaca a ofensa cometida pelo homem (“culpa”); enquanto aqui em Números “carneiro expiatório” destaca a alheação divina.

5:10. Será deste. Se a pessoa a ser compensada já tiver falecido e não tiver nenhum parente-remidor (go'el) para receber a sua recompensa, então esta reverteria para o sacerdote. Os versículos 9 e 10 tornam claro que cada sacerdote era o único possuidor do que recebesse deste modo (Lv. 10:12-15).

Um Julgamento por Ciúme. 5:11-31.
Quando o marido suspeitasse que sua mulher era infiel (não havendo testemunha) e ela sustentasse ser inocente, devia ser levada à presença do sacerdote e colocada diante do Senhor, o único que poderia determinar sua inocência ou culpa. O sacerdote devia mandar que jurasse sua inocência e submetendo-a a uma penosa experiência – beber a água amarga da maldição misturada com o pó do chão do Tabernáculo. Sua culpa seria determinada por meio de certos efeitos que se manifestariam em seu corpo. Se não existissem efeitos indicadores, era inocente e podia retornar a seu mando e dar à luz filhos. Um exemplo notável de julgamento de uma esposa suspeita está registrado no Código de Hamurabi (pars. 131, 132. ANET, pág. 171).

Não devemos imaginar, como certos mestres “liberais”, que este costume entre os hebreus retrocede ao mais remoto período de sua história (ICC, pág. 46) como se isto fosse um remanescente dos seus primórdios pagãos. Nem precisamos ir ao outro extremo ignorando o fato que ao lado de algumas leis bíblicas encontramos paralelos na jurisprudência de certos povos semitas da antiguidade (ANET, págs. 163-188). Tal como Deus escolheu a prática da circuncisão, já muito disseminada entre os povos pagãos (cananeus e egípcios, por exemplo), como ordenança para o seu povo, assim o fato da Torá ser divinamente inspirada não precisa excluir o conhecimento que Moisés tinha dos seus tempos.

Na realidade, até os julgamentos pagãos deste tipo tinham a sua validade psicológica, e o princípio neles latente ainda hoje é usado na detecção moderna dos crimes (o detentor de mentiras, por exemplo). Enquanto os resultados do julgamento dos pagãos só eram parcialmente válidos, não poderia técnica semelhante ser empregada com resultados perfeitamente válidos sob a soberana providência do Senhor? “Esta lei determinava não um julgamento cujos efeitos fossem incertos como os julgamentos de outras nações, mas um juízo divino, do qual a culpada não podia escapar, pois era apontada pelo Deus vivo” (KD, in loco). Deveria se acrescentar que nada havia de peculiar no pó para produzir qualquer resultado. Intervenção sobrenatural tinha de ocorrer em qualquer dos casos.

5:12. Se a mulher de alguém se desviar e lhe for infiel. As leis bíblicas expressam séria condenação para o adultério, em contraste com a atitude frouxa dos vizinhos de Israel e suas práticas imorais (G.E. Wright, Biblical Archaeology, págs. 111-119). Por estranha que esta lei nos possa parecer, ajudava a criar um alto nível de pureza conjugal em Israel (Lv. 20:10).

5:15. Efa de farinha de cevada... não deitará azeite, nem sobre ela porá incenso. Só aqui se ordena cevada para uma oferta de manjares. Geralmente exigia-se flor de farinha (solet) junto com azeite e incenso. O motivo da diferença parece ser que a costumeira oferta de manjares, ao contrário desta, era uma oferta de alegria, geralmente das primícias. A única outra oferta de farinha seca era a oferta pelo pecado do homem pobre (Lv. 5:11). Em ambos os casos a farinha de cevada seca fala de uma circunstância de pecado e humilhação. Oferta memorativa, que traz a iniquidade à memória. O termo memória (zikkeiron) explica o propósito de todo este procedimento fora do comum. Não era para fazer Deus se lembrar (ICC, pág. 51), mas para revelar (“tornar conhecido”) se havia ou não fundamento neste ciúme.

5:17. Água santa num vaso de barro. De barro para que pudesse ser quebrado depois da cerimônia (Lv. 6:28). Água da bacia era santa; mas uma vez que tudo no Tabernáculo era santo, a água impressionava muito mais pela adição do pó sagrado.

5:18. Apresentará a mulher perante o Senhor. Só o Senhor podia resolver este mistério. Repetição do versículo 16 a bem da ênfase. Soltará a cabeleira dela. A palavra peira' significa “desamarra o cabelo” e não descobrir a cabeça. Como alguém sob suspeita, ficava privada deste sinal de dignidade; seu cabelo era solto.

5:23. O sacerdote escreverá estas condições num livro. Esta confirmação eventual do uso de pena ou pincel e tinta enquadra-se bem com um povo que viveu durante gerações no Egito, onde o pincel do escriba já estava em uso constante desde há muito tempo no terceiro milênio A.C. Apagará. Com referência ao significado desse apagamento da maldição, veja o comentário ao versículo 24.

5:24. E fará que a mulher beba. Este versículo antecipa o momento em que a mulher deveria beber depois do sacerdote receber a oferta (v. 26), mas isto porque o ato de beber tinha de estar intimamente associado com o importante detalhe do “apagamento”, no versículo 23. Por meio desse ato as palavras da maldição eram simbolicamente transferidas para água amarga.

5:27. O seu ventre se inchará, e a sua coxa descairá. Ou, seu corpo inchará, e sua coxa se enfraquecerá (ASV). Embora a tradução da ASV seja preferível á da E.R.A., permanece ainda a dúvida quanto ao seu significado. É óbvio que o inchaço do corpo pode se referir à gravidez. O ICC sugere que a coxa enfraquecida significa parto prematuro (pág. 48). A mesma raiz nepel, “queda”, traduz-se por nascimento prematuro em Jó 3:16; Sl. 58:8, 9; Ec. 6:3. Coxa ou quadril (yeirek) usa-se do mesmo modo como a sede do poder da procriação, em Gn. 46:26 (e em outras passagens). Aqueles que saíram da sua coxa” (ou “quadris”). Por isso sua coxa descairá poderia significar “ela dará à luz”. Que neipal “cair”, pode significar “nascer” está claro por causa do seu uso em Is. 26:18. Poderíamos traduzir esta frase assim: “Seu corpo inchará e ela dará à luz (ou terá um aborto) e esta mulher se tornará uma maldição no meio do seu povo”. A mulher culpada, então, não deveria morrer, o que seria injusto, uma vez que o homem culpado permanecia livre. Contudo, filhos ilegítimos não tinham permissão de se tornarem um peso para o acampamento por causa da intervenção sobrenatural de Deus em exemplos como este (cons. Dt. 23:2). Não há evidências de que esta lei vigorasse em qualquer outra ocasião fora do período da liderança de Moisés.

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