Números 22 — Análise Bíblica
Análise Bíblica de Números 22
Número 22
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22:1—36:13 Nas campinas de Moabe
Os acontecimentos relatados nessa seção final do
livro de Números ocorreram nas campinas de Moabe, onde Israel acampou na
fronteira com Canaã. Dali, o Senhor mostrou a Moisés toda a terra de
Canaã: “Então, subiu Moisés das campinas de Moabe ao monte Nebo, ao cimo
de Pisga, que está defronte de Jerico; e o Senhor lhe mostrou toda a
terra de Gileade até Dã” (Dt 34:1). Esses acontecimentos finais antes
de Israel ocupar a terra da promessa incluem a bênção de Balaão quando o povo
atravessou o território de Moabe (22:1—24:25) e a rebelião final e morte da
geração mais velha (25:1-18). 0 livro termina com o surgimento da
nova geração (26:1-65) e um relato das leis e decisões legais
que visavam orientar o povo antes da ocupação final da terra.
Há ocasiões em que o grande poder de Deus é visível
muito além de Israel, a nação escolhida. Num episódio dramático, um
adivinhador chamado Balaão descobre que é impossível frustrar os
propósitos do Senhor nem interferir neles e que a feitiçaria não pode
sobrepujar nem distorcer os desígnios do Deus Todo-Poderoso. A narrativa
revela, ainda, que a autoridade de Deus não pode ser manipulada por
nenhum governante terreno nem por meios materiais.
A história de Balaão também mostra que, apesar de
Deus ser santo e perfeito, ele escolhe meios imperfeitos como um
adivinhador estrangeiro e uma jumenta para realizar seus propósitos. “Pelo
contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os
sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e
Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não
são, para reduzir a nada as que são” (ICo 1:27-28). Deus é soberano sobre
toda a história; nenhum ser humano pode frustrar seus planos.
22:1-22 Balaque contrata Balaão para amaldiçoar
Israel. Diante do que havia acontecido com seus vizinhos, o
rei Balaque de Moabe percebeu que seria incapaz de conquistar os
israelitas sem uma intervenção divina. Assim, em seu desespero, buscou uma
força superior à do seu exército, convencido de que um adivinhador
verdadeiramente poderoso seria capaz de amaldiçoar os israelitas e fazer
algo que não estava ao alcance do mero poderio militar. Com essa
ideia em mente, Balaque procura Balaão, um adivinha-dor profissional originário
da região próxima ao Eufrates, a centenas de quilômetros de Moabe
(22:2-7). O rei elabora cuidadosamente o seu pedido a Balaão e envia uma
delegação de príncipes para se encontrar com o adivinhador e lhe oferecer
um pagamento em prata e ouro.
Balaão se interessa pela oferta do rei, mas espera a
orientação divina. 0 Senhor lhe diz que não acompanhe os mensageiros nem
amaldiçoe os israelitas (22:8-12), e Balaão manda embora os mensageiros
do rei. Aflito, Balaque envia uma delegação ainda mais poderosa e oferece
mais dinheiro para persuadir Balaão a amaldiçoar o povo de Israel (22:15-17).
Mais uma vez, Balaão se recusa a contrariar as ordens do Senhor: Ainda
que Balaque me desse a sua casa cheia de prata e ouro, eu não podería
traspassar o mandado do Senhor, meu Deus (22:18). Mas, ao que
parece, apesar de suas belas palavras, o adivinhador é tentado pelo
dinheiro e volta a pedir a orientação do Senhor, não obstante a instrução
clara recebida anteriormente (22:19). Desta vez, o Senhor permite
que ele acompanhe os enviados do rei, mas adverte: Farás somente o que
eu te disser (22:20). Deus dá permissão a Balaão para
acompanhar os mensageiros do rei, mas não permitirá que o adivinhador
amaldiçoe Israel. Em vez disso, Balaão os abençoará.
O fato de Deus se irar com Balaão por ir ao encontro
do rei Balaque depois de ter dado permissão ao adivinhador pode causar
perplexidade (22:22). 0 que Balaão fez de errado? A resposta pode
estar relacionada à decisão de Balaão de consultar Deus novamente (22:19),
apesar de já haver recebido uma resposta (22:12). Balaão afirmou que
estava consultando a Deus, mas, na verdade, talvez estivesse tentando
negociar com ele a fim de adequar o plano de Deus à sua cobiça por
dinheiro. Deus sabia que Balaão não estava buscando sinceramente sua
vontade. Assim, não mudou de ideia quando permitiu a Balaão ir ao encontro
de Balaque, mas permitiu que tudo acontecesse conforme havia decidido em
seu coração.
22:23-41 Balaão, a jumenta e o anjo Apesar de Balaão ser um adivinhador que se comunica
com Deus, o episódio registrado nessa passagem mostra que sua jumenta
tem mais consciência da presença de Deus do que ele, pois o Senhor
expressa seu desprazer cegando Balaão para as realidades espirituais.
A jumenta vê o Anjo do Senhor parado no caminho,
com a sua espada desembainhada (22:23a). A palavra
“anjo” significa “mensageiro” ou “aquele que é enviado”, mas, no AT,
“o Anjo do Senhor” parece ser mais do que um simples mensageiro. Ver o
próprio Deus teria provocado a morte, pois Deus dissera a Moisés: “Hão me
poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá” (Êx 33:20).
Assim, quando Deus desejava aparecer a seres humanos, fazia-o representado por
esse anjo. É possível que o Anjo do Senhor fosse uma forma de manifestação
do próprio Deus. A aparição desse anjo é associada aos relatos bíblicos do
nascimento de figuras importantes como Isaque (Gn 18:9-15), Sansão (Jz
13:3) e João Batista (Lc 1:11). O Anjo do Senhor também foi enviado como
mensageiro; falou com Abraão antes da destruição de Sodoma e Gomorra
(Gn 18:1) e com Moisés quando Deus o chamou para tirar o povo do
Egito (Êx 3:2). Também é associado às guerras nas quais os israelitas
lutaram, pois Deus prometeu: “Enviarei o Anjo adiante de ti; lançarei fora
os cananeus, os amorreus, os heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus”
(Êx 33:2). 0 Anjo do Senhor aparece, ainda, no AT no contexto de
julgamento, como quando Débora canta: “Amaldiçoai a Meroz, diz o Anjo do
Senhor, amaldiçoai duramente os seus moradores, porque não vieram em
socorro do Senhor, em socorro do Senhor e seus heróis” (Jz 5:23). 0 anjo
que Balaão encontrou vem para julgar.
A jumenta vê o Anjo do Senhor e se recusa a
prosseguir pelo caminho (22:236-27). Balaão espanca a jumenta até que
esta recebe de Deus o poder de falar, o qual ela usa para informar que seu
comportamento estranho não é injustificado (22:28-30). Então, Deus
abre os olhos de Balaão, e ele vê o anjo; o adivinho é informado, então, que
sua vida foi salva pela jumenta (22:31-33). A capacidade
da jumenta de falar e a aparição do anjo nos lembram um
fato importante: Deus pode usar qualquer meio que desejar
para realizar seus propósitos de salvar e abençoar seu povo.
Aterrorizado com esse encontro com o Senhor, Balaão
se dispõe a voltar para casa (22:34). Mas o anjo lhe diz que
seguisse viagem, certificando-se, porém, de obedecer à vontade de Deus
naquilo que dissesse (22:35). Ao chegar em Moabe, Balaão é recebido
pelo rei e lembrado da recompensa que receberá se amaldiçoar Israel (22:36-37).
Seguindo a ordem do anjo, o adivinhador responde: A palavra que
Deus puser na minha boca, essa falarei (22:38).
Ao longo de todo
esse episódio, Deus usa um homem de fora da comunidade de Israel como seu
mensageiro. O mesmo acontece posteriormente, quando Ciro, rei da
Pérsia (outro estrangeiro), é usado pelo Senhor para publicar
um decreto libertando os israelitas do cativeiro na Babilônia
e enviá-los de volta à sua terra para reconstruir o templo
em Jerusalém (2Cron 36:22-23). Em sua sabedoria, Deus escolhe e usa
quem lhe apraz para realizar seu plano, não obstante o sexo, a
nacionalidade, a raça ou a condição social.Mais: Números 1 Números 2 Números 3 Números 4 Números 5 Números 6 Números 7 Números 8 Números 9 Números 10 Números 11 Números 12 Números 13 Números 14 Números 15 Números 16 Números 17 Números 18 Números 19 Números 20 Números 21 Números 22 Números 23 Números 24 Números 25 Números 26 Números 27 Números 28 Números 29 Números 30 Números 31 Números 32 Números 33 Números 34 Números 35 Números 36