Lucas 5 — Comentário Evangélico

Lucas 5

Esse capítulo descreve quatro even­tos que ilustram a preocupação do nosso Senhor com os indivíduos e com seu ministério a eles.

I. O chamado para o trabalho (5:1 -11)

Um ano antes, Pedro, André, Tiago e João conheceram Jesus (Jo 1:35-42) e o seguiram por um curto período de tempo e, depois, retornaram ao seu negócio de pesca. No versícu­lo 10, Jesus chama seus discípulos para deixar tudo e segui-lo de forma permanente como seus colaborado­res. É provável que houvesse sete pescadores no grupo dos discípulos (veja Jo 21:2). Os pescadores sabem como trabalhar em grupo, não de­sistem com facilidade, são corajo­sos e trabalham com afinco. Essas são qualidades ideais para os discí­pulos de Jesus Cristo. O fato de que os homens planejavam sair ao mar de novo após limpar a rede compro­va que eles não desanimavam com uma noite de fracasso. Pedro estava humilde, não por causa da noite de fracasso, mas pelo sucesso espantoso da pescaria, e essa é a marca do verdadeiro cará­ter. Se o sucesso o deixa humilde, então o fracasso o edifica. Se o su­cesso o deixa inchado, então o fra­casso o destrói. Pela fé, os homens deixaram tudo e seguiram Cristo. Eles pescavam peixes vivos que morriam quando eram pegos. Ago­ra, eles pescariam peixes mortos — pecadores — que viveriam quando fossem pegos!

II. A purificação do leproso (5:12-15)

Os leprosos não podiam se aproxi­mar das pessoas (Lv 13:45-46), no entanto Jesus permitiu que esse ho­mem fosse a ele para dizer o que pre­cisava. Todos podem se aproximar do nosso Senhor, mesmo as pessoas rejeitadas pelos outros. Jesus não só falou com o homem, mas também o tocou, o que significava que o Se­nhor ficou cerimonialmente impuro por causa da doença. Entretanto, o toque libertou o leproso da doença, em vez de sujar Jesus! Os que se perguntam se ele está disposto, ou não, a salvar as pessoas deviam ler 1 Timóteo 2:4 e 2 Pedro 3:9. Para conhecer as leis que regem o exa­me e o cerimonial de purificação dos leprosos, leia Levítico 13 e 14. Observe que o capítulo 14 oferece um belo retrato da obra expiatória de nosso Senhor Jesus Cristo.

III. A cura do pecador (5:16-26)

Por que a multidão era tão grande a ponto de quase impedir que os necessitados chegassem a Jesus? Muitas pessoas eram apenas espec­tadores que vinham assistir aos mi­lagres; outras queriam ouvir a Palavra de Deus; e outras, ainda, esta­vam presentes apenas para ouvir e criticar. Devemos elogiar os quatro homens por sua fé e determinação. Eles levaram o paralítico para o te­lhado pela escada externa, tiraram as telhas e o colmo e o desceram diante de Jesus. (A palavra grega traduzida por “telha” corresponde à nossa palavra para “ladrilho”.) Não houve estrago permanente, já que era fácil consertar o telhado. Que privilégio fazer parte de um milagre! O esforço dos amigos va­leu a pena!

Claro que é muito fácil dizer: “Estão perdoados os teus peca­dos”, porque ninguém pode provar que isso não aconteceu. Por isso, Jesus curou o homem instantanea­mente e deu algo visível aos fari­seus e escribas. Talvez a condição do homem fosse resultado de seus pecados (Jo 5:14). O perdão tem o mesmo efeito para a alma que a cura para o corpo (SI 103:1-3). Je­sus afirmou ser Deus ao perdoar os pecados. Seus críticos sabiam disso e o acusaram de blasfêmia.

IV. A mudança na vida dos homens (5:27-39)

Lucas apresenta-nos dois coletores de impostos que criam em Jesus — Levi (Mateus [Mt 9:9]) e Zaqueu (Lc 19:1-10). Já era bastante ruim quan­do os gentios coletavam impostos para Roma, mas os judeus, quando faziam isso, eram ainda muito mais estigmatizados. Levi não apenas se­guiu Jesus, mas convidou muitos de seus “amigos pecadores” para co­nhecer Jesus. Esse é um bom plano para os cristãos seguirem: apresen­tar os antigos amigos ao novo Amigo antes de eles abandonarem você.

Mais uma vez, os escribas e fariseus estavam por perto para criticar (vv. 21,30). Todavia, Jesus defendeu a si mesmo e aos novos amigos usando três exemplos. Pri­meiro, ele comparou-se ao médico que atende aos doentes. Jesus via os pecadores perdidos como do­entes que precisavam de cura, não como inimigos a serem condena­dos. Segundo, comparou-se a um noivo feliz que convida os famintos e os infelizes para sua festa. Para os escribas e fariseus, a religião era um funeral, mas para Jesus era uma festa de casamento!

Seu terceiro exemplo referia-se ao antigo e ao novo. Não se remen­da uma veste velha usando um pe­daço de uma veste nova, pois “ras­gará a nova, e o remendo da nova não se ajustará à velha”. Se você põe o vinho novo em um odre ve­lho, a fermentação do líquido pro­duz gás, e o odre se rompe. Jesus não veio para “remendar” a vida das pessoas, mas para torná-las ín­tegras. Ele não veio para misturar o antigo com o novo, mas para trazer vida nova para todos os que creem nele (2 Co 5:17). A tragédia é que as pessoas dizem: “O antigo é me­lhor!”, e não querem o novo. O re­lato de Hebreus tem a finalidade de mostrar como a nova aliança de fé é muito melhor que a antiga.