Lucas 7 — Comentário Evangélico
Comentário Evangélico de Lucas 7
Lucas 7
A forma como esse capítulo registra o ministério de nosso Senhor ilustra as graças cristãs da fé, da esperança e do amor (1 Co 13:13).
I. Fé (7:1-10)
O centurião romano comandava cem soldados. Os quatro mencionados no Novo Testamento eram homens de caráter (Mt 27:54; At 10 e 27:1,3,43). O fato de esse centurião específico ter construído uma sinagoga para os judeus e ter uma preocupação afetuosa por um servo é algo que o recomenda como um homem de bem. Também admiramos a forma humilde como pediu ajuda para Jesus e sua fé no poder da palavra de Cristo. Ele, como soldado, percebeu que Jesus estava sujeito à autoridade e, por isso, também podia exercer autoridade. As doenças obedeciam a Jesus, da mesma forma que os soldados obedeciam ao centurião!
Em Nazaré, Jesus admirou-se da incredulidade (Mc 6:6); em Cafarnaum, da grande fé (v. 9; veja Mt 15:28). O fato de ter curado o menino a distância foi apropriado, pois ministrava aos gentios (Ef 2:11-22). Esse soldado gentio, que não tem todos os privilégios espirituais dos judeus, é uma censura à nossa pouca fé.
II. Esperança (7:11-35)
Jesus encorajou duas pessoas desesperançadas: uma viúva solitária cujo filho único morrera (vv. 11-18) e um profeta desanimado que achou que fracassara em seu ministério (vv. 19-35).
A. A viúva (vv. 11-18)
Naim ficava a cerca de 40 quilômetros de Cafarnaum, e Jesus viajou essa grande distância a fim de confortar uma viúva pesarosa. Provavelmente, o rapaz morrera havia um dia e, quando Jesus e seus acompanhantes se encontram com ela e seu cortejo, era de tarde. O Autor da vida (At 3:15) está para se encontrar com o último inimigo, a morte (1 Co 15:26), e vencê-la. O rapaz estava em um esquife aberto e provavelmente enrolado em panos com perfumes por causa do sepultamento. Imagine o espanto dos pranteadores quando ele se sentou e começou a falar!
Os evangelhos registram três milagres de ressurreição: o desse rapaz morto talvez havia um dia, da menina de 12 anos que acabara de morrer (8:41 -56) e do homem idoso que ficou sepultado durante quatro dias. O rapaz provou estar vivo ao sentar-se e falar; a menina, ao andar e comer; e Lázaro, ao espalhar as vestes mortuárias (Cl 3:1ss). Em todos esses casos mencionados aqui, Jesus trouxe vida pelo poder de sua palavra Jo 5:24).
B. O profeta (vv. 19-35)
João Batista tinha discípulos que lhe serviam e traziam relatos do ministério de Jesus. João anunciara que o ministério do Messias seria de julgamento (3:7-9,16-17), todavia escutava apenas relatórios de um ministério de misericórdia. João deveria rememorar Isaías 29:18-19 e 35:5-6 e agradecer a Deus que o Messias realizava os propósitos de Deus; contudo, naquele momento, ele caminhava pela visão, não pela fé. Seria muito fácil João sentir-se desencorajado, afinal era um homem de vida ao ar livre que foi confinado em uma prisão por um rei perverso. Hoje, sentimo-nos desencorajados em situações muito melhores que a dele!
Jesus louvou João, embora os mensageiros deste não estivessem presentes para ouvir suas palavras e relatá-las ao mestre. João não era um “caniço agitado pelo vento” ou uma celebridade popular; ele era o maior de todos os profetas (Is 40:1-3; Ml 3:1). No entanto, hoje, o crente mais humilde tem uma posição mais elevada em Cristo que João teve como profeta, porque ele pertencia à antiga dispensação da Lei. Os crentes de hoje sentam-se com Cristo nos céus (Ef 2:1-10), privilégio que nunca foi dado a João.
João pensa que fracassou em seu ministério, mas Jesus menciona que foram os líderes judeus (vv. 29-30) e o povo (vv. 31-35) que fracassaram. Os líderes rejeitaram a Palavra de Deus enviada a eles por intermédio de João (20:1-8), e o povo era infantil. Nada agradava a ele: nem a austeridade de João nem a sociabilidade de Jesus. As pessoas realmente sábias demonstram sabedoria em sua vida (vv. 29-30).
III. Amor (7:36-50)
Não sabemos por que Simão, o fariseu, convidou Jesus para jantar em sua casa. Talvez ele quisesse conhecê-lo melhor ou esperasse conseguir uma nova evidência para acusá-lo. Com certeza, Simão sentiu-se embaraçado quando uma prostituta entrou em sua casa para ungir Jesus! Essa podería ser uma experiência transformadora de vida para Simão, porém ele estava cego demais para ver as verdades envolvidas nesse ato.
E uma lástima que estudiosos descuidados confundam essa mulher com Maria Madalena (8:2) e com Maria de Betânia (Mt 26:6- 13), quando as diferenças entre elas são óbvias. De acordo com Harmony of the Gospels [Harmonia dos evangelhos], pouco antes desse evento, Jesus fizera seu grande convite ao descanso (Mt 11:28-30), e é provável que essa pecadora, naquele momento, respondeu a Jesus e creu nele. Ela foi transformada; assim, publicamente, foi a Cristo e deu-lhe seu amor e adoração. Ela expressou seu amor ao tomar o jugo dele.
Simão disse consigo mesmo: “Ela é uma pecadora”; ele, contudo, é quem precisava dizer: “Eu sou um pecador”. Em sua parábola, Jesus deixa claro que todos nós temos uma dívida com Deus e não podemos pagá-la, porque estamos falidos espiritualmente. As duas dívidas (500 denários versus 50 denários) representam não o montante de pecados, mas a consciência da culpa. A mulher sabia que pecara contra Deus, mas Simão não tinha convicção de seu próprio pecado. Todavia, ele também precisava muito ser perdoado! E teria sido perdoado se tivesse se humilhado e crido em Jesus.
De forma afável, Jesus mencionou o pecado de omissão de Simão, pois não tratara nosso Salvador com amabilidade e hospitalidade. A mulher era culpada de pecados carnais, mas Simão era culpado de pecados do espírito: atitude crítica e coração duro (2 Co 7:1). O versículo 47 não ensina a salvação por meio de obras, pois o versículo 50 deixa claro que a mulher foi salva pela fé. Suas obras eram a prova de sua fé (Tg 2:14-26; Tt 3:4-7) e foram motivadas pelo amor (GL 5:6).
Mais uma vez, seus inimigos acusam-no de blasfêmia por perdoar pecados (5:21), porém a mulher sabia que fora perdoada, porque ele lhe disse isso. Como sabemos que somos perdoados? Temos a garantia da Palavra de Deus (Is 55:6-7; Rm 4:7-8; Hb 8:12). A mulher conseguiu “paz com Deus”, porque foi justificada pela fé (v. 50; Rm 5:1). Jesus ofereceu-lhe descanso (Mt 11:28-30), e ela recebeu-o pela fé.