Livro de Naum

Livro de Naum
O Livro de Naum é o sétimo livro dos Profetas Menores. Em linguagem poética, Naum descreve a queda de Nínive, a capital da Assíria, que foi conquistada pelos babilônios em 612 a.C. Ele vê a queda de Nínive como o castigo que Deus manda sobre um povo perseguidor e cruel.


Origem

Além de seu lugar de origem, elcota, uma cidade perto da fronteira filisteia de Judá (Na 1:1), pouco se sabe sobre o profeta Naum, cuja visão o livro preserva. Basicamente, com base no v. 15 e no possível uso litúrgico do livro, vários estudiosos afirmam que Naum era um profeta de culto, mas o livro não tem referências a Jerusalém ou preocupações cultuais padrão.

A profecia foi datada, pela maioria dos estudiosos, no sétimo século a.C. A referência em 3:8-10 à queda de Tebas ao Assírio Assurbanipal a colocaria depois de 663 a.C.. O foco da “visão” (1:1) é a destruição de Nínive em 612 a.C. por Nabopolassar, fundador da Neo-Império Babilônico. Aqueles que vêem a profecia como data de previsão, pouco antes, quando a queda da Assíria era iminente, ou mesmo antes da restauração de Tebas em 654 a.C., quando Judá sentiu totalmente a ameaça dos assírios brutais e consequentemente buscou libertação ou mesmo retaliação; outros colocam a composição do livro nos anos imediatamente posteriores a 612 a.C., ou sugerem que um pronunciamento anterior foi revisado em termos dos eventos reais (cf. 2:6 [MT 7]). Alguns estudiosos interpretam os eventos no contexto do período Macabeu (helenístico) (cf. o comentário do Naum do Mar Morto [4QpNah], que interpreta Nah. 2:11-13 [MT. 12-14] em termos de Demétrio III e Antiochus IV Epiphanes).

O profeta

Naum faz parte daquele grupo de profetas que não apresentam uma biografia. Uma referência escassa (1.1) é o único registro que temos de sua vida; e seu nome, escrito assim, não ocorre em outra parte do Antigo Testamento. Há outros nomes semelhantes com os quais está provavelmente relacionado (cf. 1 Cr 4.19; Ne 7.7), e seu significado é quase idêntico a Neemias. Conjectura-se, baseado em inscrições descobertas em fragmentos de cerâmica achados no sul da Palestina, que Naum era de uma família cuja tradição profissional era a olaria. O título do livro diz que Naum é “elcosita” (1.1). Por esta informação, deduzimos que era de uma localidade chamada EIcós. Não se conhece lugar com esse nome na Palestina. Certos estudiosos acreditam que a cidade estava situada na Mesopotâmia e que o profeta era um dos descendentes dos israelitas cativos. O fato de Naum estar tão familiarizado com a cidade de Nínive dá apoio a este ponto de vista (ver mapa 1). Há argumentos a favor de um local na Galileia e em Judá baseados em certas referências não-canônicas. Há quem sugira que Cafarnaum era a cidade em questão, visto que seu nome significa “cidade de Naum”. O nome do profeta significa “cheio de consolo”, formado pela palavra hebraica similar a outras que significam “cheio de graça” e “cheio de compaixão”. Certos estudiosos não vêem a conveniência desta designação, visto que Naum proclama uma mensagem de destruição e devastação. Mas um exame mais detido revela que a natureza de sua profecia está no cerne do consolo - para o povo de Deus.

O Livro

Atualmente, a profecia de Naum é criticada com base em certas pressuposições sobre Deus. Há quem diga que o livro carece de valor e que sua mensagem é ética e teologicamente deficiente. Este raciocínio fundamenta-se no parecer de um Deus que exclui todo senso de ira ou justiça e que declara que a natureza do Senhor é não-punitiva. O ponto de vista bíblico mostra que o antagonismo ao pecado e o seu devido castigo são compatíveis com a natureza divina, e é, na realidade, de sua própria essência. Além das críticas citadas, os estudiosos criticam Naum por: 1) ser cegamente patriótico e nacionalista ao ignorar o pecado de Israel; 2) manifestar aversão mali ciosa e alegria mal-intencionada com a destruição de Nínive; 3) ser profeta do judaísmo principiante; 4) ser falso profeta em comparação aos outros mensageiros de Deus; e 5) refletir uma escatologia “pan-babilônica”. A acusação relativa a Naum ignorar os pecados do seu povo está implicitamente em 1.12 e também se relaciona com as considerações sobre a data do livro. 

Data

Há três fatores a serem levados em conta ao fixarmos a data da profecia de Naum. Estes fatos também proporcionam um cenário histórico para o livro. Nenhum deles, declaremos com antecedência, porá a questão cronológica fora de dúvida. Há, em primeiro lugar, a referência em 3.8-10 à destruição assíria da cidade egípcia de Tebas (conforme as traduções mais recentes; “Nô-Amom” na ARA; ECA; RC). O texto diz claramente que o acontecimento está no passado. A data da queda dessa cidade foi em 663 a.C. Este fato poria o oráculo subsequente a essa data. A principal consideração é a queda de Nínive, que é o propósito principal que o livro tem a predizer. Esta cidade era a poderosa capital do Império Assírio. Alcançou grande glória quando Senaqueribe a restabeleceu por sua capital. Esar-Hadom e Assurbanipal, seus dois sucessores, prosseguiram com o seu desenvolvimento. Em tomo dela havia um sistema de fortificações que a tornava praticamente inexpugnável. Supunha-se que três carros podiam transitar, lado a lado, em cima dos muros. Dentro da cidade havia edifícios esplendorosos, ornamentos volumosos de obras arquitetônicas e monumentos maciços, uma grande biblioteca, ruas e jardins. 

Há pouca discordância sobre a data de sua queda. Os registros arqueológicos a estabelecem firmemente em 612 a.C. A Assíria era a conquistadora e o terror das nações. Sua maldade, sobretudo sob o reinado de Assurbanipal, era agravante, como atestam seus próprios registros: “As vítimas eram trancadas em gaiolas, expostas à derrisão de espectadores zombeteiros, forçadas a levar em procissão as cabeças de seus companheiros de farda. As casas eram queimadas e os tesouros, saqueados”. Não admira que Naum tenha concluído sua profecia com as palavras: “Todos os que ouvem a notícia a teu respeito batem palmas sobre ti” (3.19, ECA). Tamanha maldade carregava consigo as sementes da destruição. Este conheci mento incontestável junto com o poder ascendente dos babilônios e dos medos deram apoio externo ao lampejo profético de Naum. Outro arauto da ruína iminente foi a queda, em 614 a.C., da cidade de Assur diante dos medos. No local das ruínas desta cidade, estes e os babilônios se uniram em aliança. Talvez, os referidos acontecimentos tenham desencadeado as declarações proféticas de Naum. É bem provável que o profeta recebera visões de Deus, ao começar a agir, a fim de que seu povo recebesse os benefícios pertinentes. 

A descoberta de alguns anais de Nabopolassar, na ocasião rei da Babilônia, revela o fato de que ele e Ciaxares, rei dos medos, já estavam em conflito aberto com a Assíria em 616 a.C., embora separadamente. A própria cidade de Nínive chegou a ser atacada, em 614 a.C., pelos medos, sob o comando deste monarca, os quais foram derrotados. O terceiro fator previamente mencionado é o silêncio de Naum em relação aos peca dos de sua gente. Se esta não for mera reflexão de sua preocupação por outros assuntos, pode indicar vima perspectiva esperançosa por causa das reformas religiosas do rei Josias. Estas mudanças ocorreram em 621 a.C., e ele estava no trono, no prosseguimento da reforma, até morrer em 609 a.C. Talvez Naum não tenha percebido o caráter temporário e os problemas encobertos do movimento como Jeremias compreendeu. A comparação entre Naum 1.15 e 2 Reis 23.21 dá certo apoio à opinião de que ele era favorável aos esforços de Josias.

De qualquer modo, Naum era contemporâneo de Jeremias e Sofonias. Semelhantemente, a tendência geral do texto o coloca no limiar dos acontecimentos que prediz, desta forma, para dar crédito a uma data anterior, entre 616 e 613 a.C. Se esta for adotada, Naum também é contemporâneo de Habacuque.

Conteúdo

Após a introdução (1:1), o “oráculo” (Heb. maśśā˒; KJV “fardo”) começa com um poema acróstico incompleto descrevendo o avanço de Yahweh na teofania para vingar-se de seus inimigos (vv. 2-8). Cada linha começa com a letra sucessiva do alfabeto hebraico, aleph até kaph; em grande parte por meio da emenda, alguns eruditos tentaram estender o acróstico através do substantivo (v. 9), samech (v. 10) ou até mesmo do alfabeto inteiro (2:3–4). A seção seguinte (1:9–2:2 [MT 3]) alterna palavras de condenação sobre a Assíria (1:9–11, 14; 2:1 [MT 2]) e esperança para Judá (1:12–13, 15 [MT 2:1]; 2:2 [MT 3]).

Como uma unidade, caps. 2–3 pode ser considerado uma canção provocativa contra a Assíria. Naum 2:3–12 (MT 4–13) é composto de dois poemas proclamando a derrota de Nínive. vv. 3–9 (MT 4–10) representam graficamente as forças de Yahweh, o guerreiro divino, invadindo e saqueando a cidade; outros relatos antigos corroboram as inundações milagrosas do rio Tigre, que coincidiram e ajudaram no ataque (vv. 6–8 [MT 7–9]). vv. 10–12 (MT 11–13) descrevem a desolação de Nínive, o lar do leão predador; a figura continua no v. 13 (MT 14), um oráculo em prosa pronunciando o julgamento do Senhor dos Exércitos contra a cidade. Cap. 3 começa com um oráculo de aflição (hebraico hôy) contra a “cidade sangrenta” (v. 1-7), retratada como uma prostituta a quem Yahweh, e depois as nações, tratará com desprezo. O destino de Nínive é o de Tebas, que os próprios assírios saquearam (vv. 8–9); a população sofrerá brutalidade semelhante àquela pela qual a Assíria era notória - cativeiro e carnificina (vv. 10-13). O profeta sarcasticamente ordena os assírios para preparar-se para o cerco pelo qual eles serão destruídos (vv. 14-17). Todos os que ouvem do destino de Nínive regozijam-se (vv. 18-19).

Resumo: Naum 1 Naum 2 Naum 3

Estilo Literário

O livro de Naum é exemplo da melhor literatura hebraica. É poesia do mais alto grau de perícia literária inteligente. O professor Brewer, ainda que não aprecie a mensagem do profeta, exalta em termos entusiásticos a habilidade poética dele: “Suas palavras são soberbas, sua capacidade retórica está acima do elogio. Na descrição do ataque, destruição e saque da cidade, mostra imaginação vívida e grande poder de expressão poética”. Vemos melhor o estilo poético de Naum nas traduções mais recentes (e.g., NVI) do que no formato em prosa. Todo empenho em discutir a estrutura literária do livro levanta problemas que es tão fora do âmbito proposto por esta série de comentários. Por conseguinte, um esboço literário é pouco inteligente. Resta-nos, pois, tomar providências para fazer uma divisão essencial altamente generalizada da obra. 

Teologia

O tema que permeia a profecia de Naum é a soberania absoluta de Yahweh, aqui expressa em termos de seu julgamento anunciado (e executado) sobre o Império Assírio, uma força poderosa e repugnante na vida de seu povo escolhido. Como em outras coleções de “oráculos contra nações estrangeiras” (por exemplo, Isaías 13–21; Jeremias 46–51; Ezequiel 25–32), o profeta proclama a supremacia do Deus de Israel sobre a história e os deuses dos inimigos de Israel ( por exemplo, 1:2-8). Alguns estudiosos afirmam que o livro foi composto como uma liturgia para o festival anual de Ano Novo, celebrando assim a soberania de Yahweh sobre as nações.

A preocupação primordial de que Deus exerça vingança contra a Assíria (por exemplo, 2:13 [MT 14] -3:5) - um constrangimento para muitos intérpretes - na verdade ressalta seu papel como juiz universal. Embora “devagar na ira”, o Senhor não pode “de modo algum limpar o culpado” (1:3). A mensagem é de esperança para Judá, que conheceu em primeira mão o “mal incessante” dos assírios (3:19). Deus fala conforto (cf. Hb. naham) através de Naum, e a sua longanimidade, mas desencorajou as pessoas a manterem a fé (cf. 1:15 [MT 2:1]), pois elas não seriam mais afligidas pela Assíria (v. 12-13). ).

Excepcionalmente, o livro carece de qualquer desafio direto ao caráter moral ou espiritual de Judá, talvez por causa das recentes reformas de Josias (c. 622/621).

Interpretação: Naum 1 Naum 2 Naum 3

Importância

Esta curta profecia é apenas um texto de interesse histórico? É mera lembrança que Deus pode revelar acontecimentos aos seus profetas antes de acontecerem? Ou há outra mensagem permanente a extrair deste oráculo de vingança? Talvez seja verdade que Naum estava tão preocupado com o bem-estar social que sua mensagem espelhou seus interesses políticos mais que suas convicções religiosas e teológicas que os apoiavam. Não obstante, havia certas verdades proféticas fundamentais que moldaram suas declarações. Duas, pelo menos, são evidentes. Uma é a soberania final de Deus sobre a história. A outra é que o universo está tão moralmente estruturado, que quem viola sua constituição é destruído por ele. Quem opta viver pela espada pela espada morrerá (Mt 26.52). 

Bibliografia
 R. J. Coggins and S. P. Re˒emi, Israel Among the Nations. ITC (1985), pp. 1–63; W. A. Maier, The Book of Nahum (St. Louis:1959); J. D. W. Watts, The Books of Joel, Obadiah, Jonah, Nahum, Habakkuk and Zephaniah. CBC (1975).