Carta de Paulo aos Hebreus


Carta de Paulo aos Hebreus

Carta de Paulo aos Hebreus

Tema: Uma adoração superior e seus requisitos

Talvez se pergunte: De que valor é uma antiga carta, que trata extensivamente duma forma ainda mais antiga de adoração? Sim, de que proveito é para nós, agora, uma carta de 1.900 anos de idade? Cada um de nós, porém, certamente pode tirar grande proveito daquilo que temos disponível no livro bíblico de Hebreus, conforme veremos.

Quem escreveu este importante e esclarecedor livro de Hebreus? Há muitos motivos para crer que foi o apóstolo Paulo. Em primeiro lugar, os argumentos contidos neste livro são desenvolvidos logicamente à maneira de paulina. Seu autor obviamente conhecia muito bem as Escrituras Hebraicas, assim como por certo se dava com Paulo. A fraseologia, as figuras de retórica e as alusões também podem ser citadas como apontando para Paulo. O mesmo se dá com os fatos de que o escritor conhecia intimamente a Timóteo e esperava viajar com ele, e que escreveu da Itália.

Além disso, os cristãos gregos e asiáticos, desde os tempos mais primitivos, acreditavam que Paulo escreveu o livro de Hebreus. Talvez entre as evidências mais conclusivas esteja o Papiro N.° 2 de Chester Beatty (P46), descoberto em 1931. Faz parte dum códice e consiste em oitenta e seis folhas, começando com Romanos, seguido por Hebreus e depois por mais sete das cartas de Paulo. Isto torna claro que, por volta do ano 200 E. C., o livro de Hebreus era reconhecido como uma das cartas de Paulo.

É verdade que muitos eruditos bíblicos, desde os tempos pós-apostólicos até os nossos dias, não concordam com isso, mas não existe nenhum argumento apresentado por eles que não possa ser refutado com bom êxito. Eles fazem grande questão do fato de que parte do vocabulário usado em Hebreus não é tipicamente paulino. Mas, quando compreendemos o objetivo da escrita e seu possível desejo de permanecer no anonimato, podemos ver amplos motivos para ele usar um vocabulário um pouco diferente. Isto explicaria também usar ele um grego mais elegante do que nas suas outras cartas. Estava realmente compondo um tratado, em vez de escrever uma carta, conforme vemos desde o começo.

Levanta-se também a objeção de que Paulo, nas outras treze cartas dele, repetidas vezes menciona seu nome, mas não faz isso nem uma única vez no livro de Hebreus. Por que desejaria permanecer no anonimato? Sem dúvida, por causa do preconceito pessoal que os judeus tinham contra ele e por ser conhecido como apóstolo para as nações ou gentios. E embora Paulo fosse enviado como apóstolo para os gentios, foi dito a Ananias que Paulo pregaria também aos “filhos de Israel”. — Atos 9:15.

Escrever Paulo tal carta está em harmonia com sua profunda preocupação com os seus conterrâneos judaicos. Sentia grande angústia por causa da descrença deles. (Rom. 9:1-5; 10:1-4) E trabalhava para prover socorros aos judeus cristãos em Jerusalém. (2 Cor., caps. 8 e 9) Portanto, era típico de Paulo, observando a perseguição e a pressão religiosa que os judeus cristianizados tinham de suportar, escrever-lhes tal carta, cheia de exortação, admoestação, exposição esclarecedora, encorajamento e sérias advertências.

Embora não se possa afirmar dogmaticamente que o título deste tratado ou carta, “Aos Hebreus”, fosse escrito pelo próprio Paulo, certamente é bem apropriado. Especialmente os cristãos que antes haviam sido judeus podiam apreciar plenamente os argumentos apresentados por Paulo, para mostrar a superioridade do novo sistema cristão de coisas sobre o antigo. Mas, a que hebreus escreveu Paulo? Aos espalhados através do Império Romano? É verdade que todos estes podiam tirar proveito disso, mas, em vista de algumas de suas palavras finais, a carta parece ter sido endereçada aos cristãos hebreus em determinado lugar. Assim, Paulo fala de ele ‘lhes ser restituído mais cedo’, e diz que “Timóteo foi livrado, sendo que vos verei junto com ele, se vier em breve”. (Heb. 13:19, 23) Este lugar, mais provavelmente, era Jerusalém.

Quando escreveu Paulo esta carta? A própria carta torna evidente que ainda se realizava a adoração no templo, de modo que deve ter sido escrita antes de 70 E.C., quando o templo foi destruído. E visto que Paulo esperava ser liberto da prisão ou acabava de ser liberto, a data mais provável é o ano de 61 E.C. Donde escreveu esta carta? Já que envia saudações dos que estavam com ele na Itália, deve tê-la escrito enquanto ainda estava naquele país, pelo visto, em Roma.

A superioridade do sistema cristão: Segundo o ensino rabínico, o prometido Messias seria superior a Abraão, superior a Moisés e superior até mesmo aos anjos. Paulo, mostrando a superioridade do sistema cristão, certamente confirma isso. Inicia a sua carta por mostrar que, embora Yehowah, nos tempos passados, havia falado ao seu povo por meio dos profetas, falava agora por meio de um porta-voz muito superior, seu Filho, por intermédio de quem Deus criou todas as coisas. Ora, ele é superior até mesmo aos anjos, porque possui um nome mais excelente do que eles! O seu é mais elevado. E ele é o Filho, ao passo que eles são apenas servos. — Heb. 1:1-14.

O novo sistema cristão de adoração também tem um sumo sacerdote superior. Os sumos sacerdotes sob a Lei tinham de oferecer sacrifícios para si mesmos, bem como para seu povo, e isto dia após dia, ano após ano. Jesus, como sumo sacerdote, sendo “cândido, imaculado, separado dos pecadores”, não precisou oferecer sacrifícios para si mesmos, mas apenas para os demais da humanidade. E visto que o dele era um sacrifício perfeito, precisava ser oferecido apenas uma vez. Os sumos sacerdotes, sob a Lei, entravam com o sangue de novilhos e de bodes num lugar santo feito por mãos. Jesus, porém, entrou com seu próprio sangue no próprio céu, a fim de fazer expiação para toda a humanidade. — Heb. 4:14, 15; 5:5, 10; 7:26-28; 8:1-3; 9:7-12, 25-28.

Além disso, os sumos sacerdotes, sob a Lei, morriam e tinham sucessores. Jesus, porém, recebeu a imortalidade, quando foi ressuscitado, e por isso não morre mais, nem precisa de sucessores. Também, ele não só é sumo sacerdote, mas rei-sacerdote, à maneira de Melquisedeque. A superioridade do sacerdócio melquisedequiano sobre o arônico é visto em que Abraão ofereceu dízimos a Melquisedeque, e o mesmo fez Arão, no sentido de que ainda estava nos lombos de Abraão. Apesar de sua superioridade, este sumo sacerdote foi submetido a uma prova, de modo que agora pode ajudar seus seguidores, quando estes são submetidos a uma prova similar. — Heb. 7:1-24; 2:17, 18.

Concordemente, o sistema cristão também tem sacrifícios superiores, porque o sangue de novilhos e de bodes nunca poderia tirar pecados, o que o sangue de Cristo pode fazer e faz. Tem também um mediador melhor, assim como o Filho perfeito de Deus é superior ao servo imperfeito Moisés. Jesus é mediador dum pacto melhor, que atinge seu objetivo de produzir um “reino de sacerdotes”, algo que o antigo pacto deixou de fazer. (Êxo. 19:5, 6) As leis do sistema cristão não estão inscritas em tábuas de pedra, mas sim em carnais, em corações humanos. O antigo sistema tinha diversos sábados, mas os israelitas, sob ele, deixaram de entrar no descanso de Deus. O novo sistema, porém, provê um sábado em que todos os cristãos podem entrar pela fé e pela obediência. Deveras, o sistema cristão de é muito superior ao antigo. — Heb. 10:1-20; 4:1-11.

Encorajando, exortando e advertências: Na carta de Paulo aos hebreus encontramos também muito encorajamento e exortação, bem como advertências sérias contra a apostasia. Por meio deste tratado, todos os cristãos atuais, assim como os cristãos hebreus dos dias de Paulo, podem deveras ser fortalecidos na fé e melhor equipados para lidar com opositores. Aquelas palavras excelentes de Paulo também nos motivam a servir a Deus de modo certo e a suportar oposição e perseguição. Assim, seu primeiro capítulo termina com a idéia animadora de que Deus usa anjos para ministrar aos seguidores das pisadas de Cristo.

A seguir, Paulo nos exorta a prestar mais do que a costumeira atenção às coisas que ouvimos, a fim de que nunca nos desviemos. Adverte contra a severa punição, se ficássemos descuidados e negligenciássemos a provisão de salvação feita por Deus. (Heb. 2:1-4) Em continuação, Paulo assegura aos cristãos que eles serão da “casa” de Cristo, se fizerem firme seu apego à franqueza no falar e à esperança, até o fim. Por isso, ele adverte: “Acautelai-vos, irmãos, para que nunca se desenvolva em nenhum de vós um coração iníquo, falto de fé, por se separar do Deus vivente; mas, persisti em exortar-vos uns aos outros cada dia, enquanto se possa chamar de ‘hoje’, para que nenhum de vós fique endurecido pelo poder enganoso do pecado.” Que advertência oportuna! O fato de que cada ano alguns são excomungados da congregação por conduta imoral, destaca quão necessário é esta advertência! — Heb. 3:6, 12, 13.

No capítulo quatro, Paulo exorta-nos a fazer o máximo para entrar no descanso de Deus, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência, manifestado pelos israelitas durante os séculos. E como podemos entrar no descanso de Deus? Por fazer aquilo que os israelitas deixaram de fazer: Ter fé e ser obedientes. Nunca devemos esquecer que “a palavra de Deus é viva e exerce poder, e é mais afiada do que qualquer espada de dois gumes . . . e é capaz de discernir os pensamentos e as intenções do coração”. Sim, “não há criação que não esteja manifesta à sua vista [a de Deus], mas todas as coisas estão nuas e abertamente expostas aos olhos daquele com quem temos uma prestação de contas”. Novamente, uma séria advertência! — Heb. 4:11-13.

A seguir, Paulo repreende aqueles cristãos hebreus que ficaram obtusos no ouvir (em sentido espiritual) e que já deviam ser instrutores, mas, em vez disso, precisam novamente ser ensinados sobre as verdades elementares do cristianismo. De fato, precisam de leite espiritual, em vez de alimento sólido, que pertence a pessoas maduras. O que significa ser maduros? Significa ser capaz de diferenciar o certo do errado. — Heb. 5:11 a 6:3.

Logo em sequência, Paulo dá outra séria advertência sobre a sorte que aguarda aqueles que, uma vez iluminados, se desviaram. No entanto, está convencido de coisas melhores para aqueles a quem escreve. Podem ter a certeza de que Deus os recompensará pelas boas ações que fazem a favor de seus concristãos. Exorta então a eles e também a nós a ter plena certeza da esperança até o fim. E que base sólida temos para ter forte esperança, pois Deus não somente nos deu a sua palavra, mas também interveio com um juramento! Por motivo destas duas coisas imutáveis, podemos ter a esperança igual a uma âncora, tanto segura como firme. No capítulo sete, Paulo nos exorta por salientar que nosso Sumo Sacerdote melquisedequiano, Jesus Cristo, continua vivo e por isso sempre é capaz de “salvar completamente os que se aproximam de Deus por intermédio dele”. — Heb. 7:15-28.

Falando a seguir sobre a superioridade do novo pacto sobre o antigo, Paulo nos consola com a idéia de que, segundo este novo pacto, Deus será misericordioso e nunca se lembrará de nossos pecados já perdoados. (Heb. 8:7-12) Por termos um sumo sacerdote superior e sacrifícios superiores, podemos ter nossa consciência purificada de obras mortas, para prestar serviço sagrado ao Deus vivente. (Heb. 9:11-14) E por termos esta posição favorecida, Paulo nos admoesta: “Apeguemo-nos à declaração pública da nossa esperança, sem vacilação, pois aquele que prometeu é fiel. E consideremo-nos uns aos outros para nos estimularmos ao amor e a obras excelentes, não deixando de nos ajuntar, como é costume de alguns, mas encorajando-nos uns aos outros, e tanto mais quanto vedes chegar o dia.” Certamente, este “dia” está muito próximo! — Heb. 10:22-25.

O apóstolo adverte, a seguir, sobre as consequências da apostasia, mostrando que é ainda mais sério desviar-se da adoração cristã, do que do arranjo da Lei, porque envolve desconsiderar o sacrifício perfeito de Cristo, que é deveras capaz de tirar o pecado. Sim, nunca devemos esquecer que a vingança pertence a Yehowah e que “coisa terrível é cair nas mãos do Deus vivente”. — Heb. 10:26-31.

Paulo, então, exorta os hebreus a lembrar-se de seus dias anteriores, quando sofriam muita perseguição. Aconselha-os novamente a não lançar fora sua grande franqueza no falar e enfatiza a necessidade de perseverarem, para que possam receber a recompensa. O justo viverá pela fé, mas Deus não tem prazer naqueles que retrocedem. — Heb. 10:32-39.

De modo lógico, Paulo secunda isso com a consideração notável sobre a fé, no capítulo 11. Nele define a fé, mostrando quão importante ela é para agradarmos a Deus, e ilustra seu tema por numerosos exemplos notáveis de fé. Visto que nos rodeia uma tão grande nuvem de testemunhas, devemos por de lado todo peso e o pecado da falta ou perda da fé, e devemos perseverar. Para este fim, devemos olhar para o exemplo dado por Jesus, “o Agente Principal e Aperfeiçoador da nossa fé”. — Heb. 12:1-3.

A seguir, Paulo dá bom conselho para se aceitar a disciplina da parte de Deus, nem menosprezando-a, nem desistindo por causa dela — porque Deus ama aquele a quem disciplina. Por aceitarmos a disciplina e tirarmos proveito dela, produziremos os frutos pacíficos da justiça. E depois de aconselhar-nos a socorrer os necessitados de ajuda e a ter cuidado para não fazer outros tropeçar, Paulo adverte adicionalmente contra ficarmos empedernidos para com as coisas sagradas, citando Esaú como exemplo de aviso. — Heb. 12:4-17.

No capítulo final, o inspirado apóstolo adverte também contra a impureza sexual, contra o amor ao dinheiro e contra ser desviado por ensinos estranhos. Os cristãos devem oferecer “sempre a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto de lábios que fazem declaração pública do seu nome”. Três vezes ele menciona aqueles que “tomam a dianteira entre vós”, aos quais os cristãos devem ser submissos e obedientes, para o seu próprio bem. Conclui com a oração de que Deus nos equipe com toda coisa boa, para fazer a sua vontade, realizando em nós “aquilo que é bem agradável à sua vista”. — Heb. 13:4-24.

Deveras, o livro de Hebreus está cheio de informação muito importante e útil, bem como de séria exortação, bom encorajamento e graves advertências, para que não nos desviemos da fé. Quanto melhor nos familiarizarmos com este livro bíblico, tanto mais proveito tiraremos dele.