O Sacerdócio de Cristo na Carta aos Hebreus

CRISTO, SACERDÓCIO, CARTA, HEBREUS, ESTUDO BIBLICOS
O Sacerdócio de Cristo na Carta aos Hebreus. Nesta epístola o escritor liga com Cristo as idéias de “verdade” e “perfeição”. O que noutros lugares é indicado apenas figuradamente, ou apenas parcialmente realizado, em Cristo se encontra efetiva e plenamente. Doravante, portanto, devemos não limitar nossa idéia cristã de sacerdócio àquilo que aprendemos pelo sacerdócio levítico. Embora este último tivesse prefigurado ou indicado simbolicamente muitos dos fundamentos essenciais de todo autêntico sacerdócio, existem outras características complementares e distintivas de sacerdócio legítimo que, tendo sido prefiguradas na totalidade da revelação do Antigo Testamento, foram prefiguradas não por Aarão, e, sim, por Melquisedeque. Essas características distintivas, que necessariamente pertencem às perfeições do sacerdócio de Cristo, devem ser apreciadas em contraste com o sacerdócio levítico, mais em termos de contraste do que mesmo de comparação.

Os sumos-sacerdotes levíticos eram homens fracos, pecaminosos e mortais, que necessitavam primeiramente de oferecer sacrifícios pelos seus próprios pecados, e que estavam incapacitados de continuar em seu ofício visto terem de ser inevitavelmente removidos pela morte (Hb 7.23,27,28). Serviam em um santuário terreno, uma mera figura do verdadeiro (Hb 8.4-5; Hb 9.1,9,23,24). Seus sacrifícios eram sacrifícios de animais, que jamais podiam remover o pecado (Hb 10.1-4); pelo que também, sob a antiga aliança, a cortina divisória que impedia os homens de penetrarem no Santo dos santos nunca foi rasgada nem tirada fora (Hb 9.7-8). Os sacrifícios do dia da expiação davam a um homem só um acesso meramente temporário e simbólico até o santuário mais íntimo da presença de Deus, e isso apenas uma vez por ano; mas não outorgavam ao povo pleno e permanente acesso a Deus. Além disso, tais sacrifícios tinham de ser incessantemente repetidos (Hb 10.11), mas serviam apenas como solene memória que algo restava ainda para ser feito de modo completo e final para que o pecado pudesse ser aniquilado (Hb 10.1-3). Isso ensinava que “ainda o caminho do Santo Lugar não se manifestou” (Hb 9.8).

Nosso Sumo-Sacerdote Cristão é “Jesus, o Filho de Deus” (Hb 4.14). Seu sacerdócio é de ordem diferente, em vista da diferença na Pessoa do Sacerdote. Em primeiro lugar, Ele é o vero Deus do Deus verdadeiro (Hb 1.3), capaz de, “pelo Espírito eterno” (Hb 9.14), agir como deidade e fazer coisas que estão totalmente fora do poder de homens fracos. Por outro lado, Ele é verdadeiro Homem. Alguém que não somente participou genuinamente da natureza humana, mas que igualmente, através da experiência da provação e do sofrimento terrenos, atingiu a perfeição final em Sua humanidade, o que também O qualificou a ser, para Seus semelhantes humanos, o autor de uma salvação eterna (Hb 2.9-10,14-18; Hb 4.15; Hb 5.7-9). Ele foi capaz de fazer aquilo que nenhum sumo-sacerdote levítico era capaz de ao menos tentar realizar. Porque, apesar de Homem, não tinha pecado próprio, e por isso mesmo não precisava de oferecer sacrifício por Seu próprio pecado. Acresce, ainda, que Ele estava em posição de oferecer Sua própria vida humana imaculada como oferta pelo pecado de outros, a saber, pelo pecado de homens pecaminosos. Sendo, como Deus, Espírito imortal, e agindo no poder de uma vida indissolúvel (Hb 7.16), Ele foi capaz de, em Sua Pessoa única e em Suas duas naturezas, agir tanto como Sacerdote quanto como Vítima, foi capaz de oferecer-se a Deus deliberadamente, na experiência da morte de Sua natureza humana (Hb 9.14), e foi capaz, na qualidade de Alguém que permanecia vivo após a morte, de reivindicar entrada até à própria presença de Deus, na qualidade de Sumo Sacerdote aos homens. Simbolicamente, quando ao assim oferecer-se em Sua morte física e humana sobre a cruz (Hb 10.10), o véu se rasgou de alto a baixo (ver Mc 15.37-38; cfr. Hb 10.19-20). Em realidade, quando na qualidade de Alguém que agiu no autêntico santuário celeste (Hb 8.2; Hb 9.11-12,24) e não no tabernáculo figurado (ou templo) sobre a terra (Hb 8.4-5), Ele, “pelo seu próprio sangue” (Hb 9.12), ou pelo ato de haver depositado Sua vida física e humana (cfr. novamente Hb 10.19-20), ali entrou decisivamente, e de uma vez para sempre, até o verdadeiro Santo dos Santos, onde se apresentou “diante de Deus” (Hb 9.24) a nosso favor. E, ao fazê-lo, foi imediatamente aceito, sendo aclamado como vitorioso e convidado a ocupar o trono à mão direita de Deus. E, adicionalmente, Deus selou Sua aceitação de Sua obra a favor de homens pecaminosos ao ressuscitá-Lo, em Sua humanidade, de entre os mortos (Hb 13.20). Não obstante, provavelmente é muito significativo que a ressurreição de Cristo seja mencionada apenas uma vez nesta epístola, e isso bem no fim. Isso se deve ao fato que, na consideração sobre Sua oferta a Si mesmo, Ele é visto não como Alguém que ressuscitou ao terceiro dia e após mais quarenta dias ascendeu ao céu, mas como Alguém que agiu no tabernáculo celeste e imediatamente entrou até à presença de Deus.

Cf. Classificação das Cartas Paulinas
Cf. O Fim da Lei na Teologia Paulina
Cf. Regeneração na Teologia Paulina
Cf. Significado do Batismo com Fogo


A entronização no céu, dAquele que entrou por meio de Sua própria morte como nosso Sumo Sacerdote, é a prova e a garantia divinas de que Ele obteve, por seu ato único de sacrifício, a redenção eterna para nós (Hb 1.3; Hb 10.12-13; Hb 12.2). Além disso, mediante essa ressurreição Ele foi abertamente declarado por Deus, não apenas através de Sua palavra, mas igualmente através de Seu juramento solene, como Sumo-Sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 5.9-10; Hb 6.19-20; Hb 7.21-22), o que significa, em outras palavras, que o Seu sacerdócio é real em poder por causa de Sua obra sacrifical consumada, e igualmente é perpétuo quanto à duração, por causa de Sua Pessoa divina. Pois Ele foi assentado de uma vez para sempre e imediatamente sobre o trono, e ali permanece, posto por Deus na posição de poder supremo, capaz de proporcionar dons aos homens (Hb 4.14-16), e assegurado por Deus sobre a vitória final sobre todos os Seus adversários (Hb 1.13).

Mediante tais realizações como Sumo Sacerdote, que em muito ultrapassem qualquer coisa realizada pela antiga ordem de sacerdotes levíticos, Ele é capaz de ocupar-se de um mais excelente ministério como mediador do novo pacto (Hb 8.6), sob o qual os homens pecaminosos que se chegam a Ele, ou a Deus por Seu intermédio (Hb 7.20-25), recebem a certeza da possessão de perdão de pecados, conhecimento de Deus íntimo e pessoal, e a íntima e transformadora revivificação do Espírito que neles vem habitar (Hb 8.10-12). Assim sendo, Sua habilidade de proclamar absolvição e de assegurar a Seu povo que seus pecados foram realmente perdoados e esquecidos por Deus, por si mesma é prova que não é mais necessário oferta pelo pecado (Hb 10.14-18). Na qualidade de Alguém que foi exaltado acima do céu, nosso Sumo-Sacerdote Cristão não tem necessidade de novamente oferecer-se a Deus, em Seu sangue ou sacrifício terreno (Hb 7.26-28). Mas, na qualidade de Alguém que nunca morre, Ele está perpetuamente à mão direita de Deus, a fim de intervir a favor dos homens, a fim de falar em prol deles na presença do Pai (ou contra o adversário que pretende condená-los, Rm 8.33-34) sempre que se aproximam do trono de Deus, assim garantindo a plena consumação da salvação dos mesmos (Hb 7.25). Todos os que assim se aproximam de Deus podem estar certos que serão simpaticamente entendidos e devidamente auxiliados, visto que Ele está totalmente qualificado para desempenhar tal ministério de compaixão por Suas próprias experiências terrenas de sofrimento e provação (Hb 2.17-18; Hb 4.15-16; Hb 5.2,7-8).

Por conseguinte, aqueles que O aceitam como seu Mediador, são assegurados, pela ordem real e eterna de Seu sacerdócio, que participam de uma salvação que (à semelhança de Sua Pessoa e obra como Sacerdote) é perfeita, final e eterna. Pois Seu sacrifício sem repetição outorga, a todos quantos nEle confiam, qualificação eterna para se aproximarem desimpedidamente da presença de Deus (Hb 9.13-14; Hb 10.10,14); e o término final da obra da salvação que neles foi iniciada lhes é assegurado pelo sangue do pacto eterno, pela ressurreição com que Deus ressuscitou nosso Senhor Jesus dentre os mortos (Hb 13.20-21), e por Sua própria presença imorredoura, na qualidade de nosso Advogado à mão direita de Deus (Hb 7.25).