Interpretação de Mateus 26
Interpretação do Evangelho de Mateus
Mateus 26
A Paixão de
Jesus Cristo. 26:1 – 27:66.
Esta seção, de
incalculável importância para cada cristão, está cheia de dramático interesse
humano. Mas os detalhes fornecidos pelos Evangelistas têm causado problemas,
principalmente cronológicos, desde os tempos mais remotos. Todavia, a maneira
concreta pela qual cada Evangelho (escrito por homens que estavam eles mesmos
emocionalmente envolvidos) trata esses acontecimentos altamente emocionais
torna esses sublimes tratados ainda mais notáveis.
Mateus 26
A. Conspiração
Contra Jesus. 26:1-16.
1-5. Última predição
de sua morte.
2. Daqui a dois
dias. Considerando
que a Páscoa era comida ao anoitecer do dia 14 de Nisã (como o pôr-do-sol
começava realmente o dia 15 de Nisã), esta predição foi feita ao anoitecer de
Nisã 12.
Páscoa. A primeira
grande festa do calendário judeu que comemorava a saída de Israel do Egito e a
"poupança" (significado da raiz hebréia traduzida para o grego como pascha)
de seus primogênitos quando Deus feriu os egípcios (conf. Êx. 12). A Páscoa era
seguida logo pelos sete dias da Festa dos Pães Asmos (Nisã 15-21), e todo o
festival era geralmente chamado de "Páscoa".
O
Filho do homem será entregue. Conf. predições de 16:21;17:22; 20:18.
Aqui Cristo prediz pela primeira vez que a sua morte ocorrerá por ocasião da
Páscoa.
3-5. Essa predição,
entretanto, prejudicava os planos dos conspiradores. Com medo da multidão de
Jerusalém, composta de muitos galileus que apoiavam Jesus, concordaram em não
fazer nada durante a festa. Talvez tenham concordado em esperar uma
semana. Mas Jesus fixou o momento de sua morte com antecedência, contrariando
seus planos, e orientou os acontecimentos para que pudesse morrer como a
verdadeira Páscoa. Caifás ocupava a função do sumo sacerdote desde 18
A.D. mais ou menos. Anteriormente já exigira a morte de Jesus (Jo. 11:49, 50).
6-13. Ungido em
Betânia. Os intérpretes não concordam sobre as ligações cronológicas deste
acontecimento. À vista de Jo. 12:1, "seis dias antes da Páscoa", ou
Mateus (e Marcos) ou João seguiram mais a ordem dos tópicos do que a
cronológica. Considerando que nem Marcos nem Mateus datam o acontecimento com
mais precisão do que "e, estando Jesus em Betânia", parece melhor
seguir a inequívoca cronologia de Jo. 12:1. Assim Mateus, tendo descrito a
conspiração, passa agora a um acontecimento anterior para mostrar as
circunstâncias que levaram Judas a efetuar a traição. Marcos 14:3-9 e Jo.
12:1-8 são paralelos (Lc. 7:36-50 relatava um incidente diferente).
6. Simão, o
leproso. Sem
dúvida um leproso curado que se sentia muito grato para com Jesus.
7. Uma mulher. Maria, a irmã
de Marta e Lázaro (Jo. 12:9; 11:1,2). Alabastro cheio de precioso bálsamo. Narrativas
paralelas descrevem o ungüento como sendo nardo, com valor superior a 300
denários (um denário correspondia a um dia de salário de um trabalhador no
campo).
8, 9. Quando os
discípulos viram o generoso derramamento desse ungüento sobre o corpo (v.
12) de Jesus (cabeça, v. 7, e pés, Jo. 12: 3), indignaram-se, achando
que era um desperdício. Mateus não aponta ninguém particularmente nessa
murmuração (talvez envergonhado de sua participação). Mas João menciona Judas
como o instigador, e mostra a hipocrisia dele em demonstrar preocupação pelos
pobres.
10-13. Jesus explicou
que é preciso discernimento espiritual para não desperdiçar uma oportunidade
irrecuperável. Atos de benevolência sempre são oportunos (Mc. 14:7). Mas não
haveria nunca mais outra oportunidade de fazer o que Maria fez. Ela o fez
para meu sepultamento. Não temos autorização para sugerir que Jesus
estivesse inventando desculpas para Maria. Ele já tinha anunciado sua morte
iminente (Jo. 10:11, 17, 18; Mt. 16:21; 17:22; 20:18). Em vez de fechar a mente
à predição, como os discípulos pareciam fazer (conf. Mt. 16:22), Maria creu
nela. Parece que ela compreendeu que, por ocasião da tragédia, não haveria
tempo para as cortesias costumeiras. Se encararmos o ato de Maria como nascido
de sua compreensão espiritual, só então poderemos entender devidamente o
tremendo elogio que partiu de Jesus. Quando isso aconteceu, foi a única unção
que o seu corpo recebeu. As mulheres que vieram mais tarde para realizar essa
tarefa, encontraram a sepultura vazia.
14-16. Conspiração de
Judas. Não se pode determinar até que ponto o então liga o parágrafo
seguinte ao precedente (Marcos diz simplesmente "e"). Se 26:6-13 deve
ser considerado um parêntese, para explicar uma das raízes da traição, então a
conspiração de Judas pode ter começado nos versículos 1-5. Sob esse ponto de
vista, a indignação na casa de Simão seis dias antes da Páscoa (Jo. 12:1, 2)
desenvolveu-se em uma conspiração amadurecida durante os próximos quatro dias. Iscariotes.
Homem de Queriote, uma cidade da Judéia.
E pagaram-lhe. Mateus emprega
a mesma palavra da Septuaginta em Zc. 11:12 à qual parece estar conscientemente
aludindo. A Septuaginta usa histêmi ao traduzir shakal,
"pesar dinheiro" (outro exemplo é I Reis 20:39 - Septuaginta, III
Reis 21: 39). Assim Judas foi pago nessa ocasião, um fato que as outras
narrativas não observam nem contradizem.
Trinta moedas
de prata. Provavelmente
siclos. Uma quantia comparativamente pequena, o preço de um escravo (Êx.
21:32).
B. A Refeição
Final. 26:17-30.
Provavelmente
nenhum problema de harmonia dos Evangelhos tem sido tão desconcertante quanto
este. Esta refeição final foi na Páscoa dos Judeus? Os sinóticos dão a entender
que foi. João, entretanto, dá a entender com muita clareza que a Páscoa ainda
estava no futuro por ocasião do lava-pés (Jo. 13:1), refeição (13:29),
julgamento (18:28) e crucificação (19:14, 31). Alguns mestres estão prontos a
admitir um conflito irreconciliável. Outros insistem que uma das narrativas
deve estar errada. Também já se argumentou que Jesus comeu uma Páscoa antecipada
um dia antes do costume legal. Reforços a esta opinião recentemente vieram à
luz no Qumran, onde se descobriu que a seita Qumran sempre observou a Páscoa na
terça-feira. Assim, dá a impressão de que Jesus comeu a Páscoa na terça-feira
(como está implícito nos sinóticos), enquanto os judeus ortodoxos observavam a
Páscoa na sexta-feira. (Veja J. A.
Walther, "Chronology of Passion Week", JBL, June, 1958, pág. 116 e
segs.) Contra
essa opinião levanta-se a grande improbabilidade que um tão notável desvio do judaísmo
ortodoxo pudesse passar despercebido nos Evangelhos, ou que a ceia da Páscoa
pudesse ser devidamente observada em Jerusalém antes da ocasião tradicional
(por exemplo, os cordeiros tinham de ser mortos no Templo um pouco antes da
ceia da Páscoa; conf. I Co. 5:7). Uma proposição mais digna de crédito explica
João e os sinóticos, um à luz do outro. As duas possibilidades foram
experimentadas, embora se admita dificuldades com ambos os métodos. O autor
prefere explicar os sinóticos pelo explícito testemunho de João, o qual talvez
tivesse parcialmente a intenção de esclarecer pontos ambíguos na cronologia. De
acordo com este ponto de vista a última ceia não foi de maneira nenhuma a
refeição da Páscoa; antes, Jesus morreu exatamente na hora em que os cordeiros
da Páscoa estavam sendo mortos no Templo (conf. I Co. 5:7). Não obstante, Jesus
deu a seus discípulos orientação no sentido de preparar a festa, por dois
motivos: 1) os discípulos a comeriam; 2) Jesus não quis na ocasião predizer o
momento exato de sua morte.
17-19. Preparativos
para a Páscoa.
17. No primeiro
dia dos pães asmos. Quatorze
de Nisã, no qual o fermento era retirado de dentro das casas em preparação para
as festas da Páscoa e dos Pães Asmos (conf. Mc. 14:12; Lc. 22:7). Esse dia
começava ao pôr-do-sol do décimo terceiro dia e foi às primeiras horas desse
dia que se fez referência.
18,19. Em resposta à
pergunta dos discípulos, Jesus enviou-os a falar com um homem em cuja casa o
grupo se reuniria. Celebrarei a páscoa. A esta declaração de propósito
geral deve-se acrescentar as palavras de Lc. 22:16, "não a comerei",
na qual ele indica posteriormente que o plano geral será interrompido. Talvez
não quisesse que Judas soubesse dos seus planos tão especificamente com tanta
antecedência.
20-30. A Última Ceia.
20. Chegada a
tarde. Mais
tarde naquela mesma tarde (primeiras horas do décimo-quarto dia), Jesus
juntou-se aos discípulos na hora do jantar (Lc. 22:14).
21. Um dentre
vós me trairá. Primeiro
aviso de que o "entregar" do Filho do homem: (17:22; 20:18; 26:2)
seria através de um dos Doze. Que choque essa declaração deve ter causado!
22. O fato de que
onze discípulos tenham perguntado inocentemente, Porventura sou eu, senhor?,
mostra que eles reconheciam sua própria fraqueza, embora sua pergunta fosse
feita esperando uma resposta negativa – "Não sou eu, ou sou?"
23. O que mete
comigo a mão. Considerando
que o grupo provavelmente comia de um prato comum, esta declaração não identificou
o traidor, mas apenas enfatizou a natureza vil da traição, pois ocorria entre
companheiros íntimos.
24. Está
escrito. A
morte de Cristo estava se desenrolando conforme predito em diversas passagens
do V.T. Entretanto, a soberania de Deus sobre todos os acontecimentos não livra
o homem da responsabilidade ou culpa.
25. Quando Judas
viu que o seu silêncio era causa de suspeitas, também perguntou, Acaso sou
eu, Mestre? A ele Jesus responde, Tu o disseste. Parece que os
demais não ouviram esta resposta no meio do burburinho da conversação geral.
Não se pode afirmar se a explicação de Cristo a João (e Pedro) ocorreu antes ou
depois da indicação de Judas (Jo. 13:23-26). Quando Judas saiu logo depois,
ninguém sabia que Satanás o capacitara a imediatamente pôr em ação a
conspiração (Jo. 13:27-30).
26. A narrativa que
Mateus faz da consagração do pão e do vinho é semelhante à de Marcos; à de
Lucas parece com I Co. 11:23-26. Isto é o meu corpo. Para um comentário
completo dos pontos de vista contrários do Romanismo, Lutero, Calvino e
Zuínglio, consulte dicionários bíblicos. O significado óbvio da passagem não
permite que entendamos que o pão fosse mais do que simbólico sob qualquer
aspecto, pois seu corpo real também estava presente. (Conf. metáforas
semelhantes: Jo. 10:7; 15:1). Estes símbolos deviam ser lembretes para os
discípulos (Lc. 22:19) do Senhor ausente, e um memorial do custo de sua
redenção.
27, 28. Bebei
dele todos, isto
é, todos vocês.
O Novo Testamento
ou
aliança foi posto em vigor com a morte de Cristo. A velha aliança dada por Deus
a Israel exigia sacrifícios contínuos pelo pecado. Mas a morte de Cristo
forneceu um sacrifício perfeito, e tornou possível ambas, a justificação e a
regeneração (Hb. 8:6-13). Derramado em favor de muitos. (Conf. 20:28) A
morte de Cristo, embora suficiente em si mesma para resolver a questão da remissão
dos pecados de todos, aqui foi considerada realmente eficiente só para os
crentes.
29. Desta hora
em diante, não beberei. Esta declaração dirigiu o olhar dos discípulos para
o futuro reino do Pai (o reino de Deus, messiânico, Mc. 14:25) e para o
momento de alegria e comunhão na grande Ceia das Bodas.
30. Tendo
cantado um hino, saíram. Antes disso deve ter sido apresentado o discurso de
João 14.
C. A Predição
da Negação de Pedro. 26:31-35.
Isto aconteceu
antes que deixassem o cenáculo (Jo. 13:36-38; Lc. 22:31-34) ou depois (Mc.
14:27-31; Mt)? Considerando que parece impossível harmonizar estas narrativas
sem violentar duas delas, é mais exeqüível entender duas advertências distintas
feitas a Pedro.
31. Todos vos
escandalizareis. Embora
só Pedro tenha negado Jesus, todos os onze o abandonaram e fugiram (v. 56).
Jesus encarou o fato como cumprimento de Zc. 13:7.
32. Irei
adiante de vós para a Galiléia. Era a grande reunião pós-ressurreição
mencionada diversas vezes (28:7, 10, 16). Ela não impossibilita outras
aparições, algumas delas anteriormente na Judéia.
33-35. A presunção de
Pedro em colocar a sua devoção acima da dos outros (ainda que venhas a ser
tropeço para todos) foi uma censura para eles e fê-los também dar os seus
votos de lealdade. Essa experiência estava sem dúvida na mente de Jesus quando
ele perguntou a Pedro mais tarde, "Amas-me mais do que estes?" (Jo.
21:15).
D.
Acontecimentos no Getsêmani. 26:36-56.
36-46. A oração.
36. Getsêmani. O nome
significa "prensa de azeite", e descreve aqui um jardim freqüentado
por Jesus e os discípulos. Ficava do outro lado do Cedrom, no Monte das
Oliveiras (Lc. 22:39; Jo. 18:1, 2), e sem dúvida continha oliveiras e uma
prensa para a extração do seu azeite. O lugar que hoje em dia se mostra aos
visitantes deve ficar perto daquele lugar, embora as velhas árvores não possam
ser as originais (Jos. Wars, vi. 1.1 .).
37, 38. Deixando oito
discípulos reunidos, Jesus levou Pedro, Tiago e João mais adiante e entraram no
jardim. Finalmente ele se afastou até mesmo deles para ficar sozinho em oração.
A agonia da alma que ele experimentou foi descrita como profundamente triste
até a morte. Ordenou aos três que se encontravam mais perto (como também
aos demais de um modo geral) que velassem, isto é, que lhe emprestassem força
através de sua presença alerta e simpática.
39. Se
possível, isto
é, moralmente possível, consistente com a vontade do Pai.
Passe de mim
este cálice. A
chave para se compreender a agonia de Cristo está em se identificar o cálice.
Embora qualquer ser humano normal trema diante dos horrores da crucificação, os
mártires muitas vezes têm enfrentado a morte cruel sem tal desespero extremo
(conf. Lc. 22:44). Não podemos também aceitar a opinião de que Cristo temesse a
morte prematura nas mãos de Satanás, pois o cálice vinha do Pai, não de Satanás
(Jo. 18:11). Além disso, a vida de Cristo só podia ser entregue voluntariamente
(Jo. 10:17,18). Cálice foi usado figuradamente nas Escrituras em se
referindo à bênção de Deus (conf. Sl. 23:5), ou à sua ira (conf. Sl. 75:8).
Portanto, a explicação mais satisfatória do cálice é que se relaciona com a ira
divina em que Cristo incorreria na cruz ao tomar sobre si o pecado do homem.
Essa
experiência na qual Deus ficaria por algum tempo separado do seu Filho, deu
lugar ao horrível grito de Mt. 27:46. Se o pecado de um só homem pode fazê-lo
sentir amarga tristeza quando experimenta a separação de Deus, quão
incomparável deve ter sido a angústia de Jesus, que sabia o que significava
assumir a culpa de todos os homens.
Não seja como
eu quero e sim, como tu queres. Desde o começo até o fim, a oração de
Cristo foi perfeitamente submissa ao Pai. E a oração foi atendida, não
removendo o cálice, mas concedendo forças para bebê-lo (Lc. 22:43), e
finalmente a ressurreição "da morte" (Hb. 5:7).
40, 41. Encontrando os
discípulos dormindo em conseqüência do efeito extenuante da fadiga e da emoção
prolongada, Jesus escolheu Pedro para uma entrevista particular (talvez à vista
de sua recente jactância), insistindo com ele a continuar alerta e orando para
que os acontecimentos não viessem surpreender entregando-se a tentação. O
espírito, na verdade, está pronto. A natureza espiritual do homem iluminada
pelo Espírito Santo. Mas a carne é fraca. Alguns pensam que a carne aqui
indica uma parte da constituição do ser humano que não é pecadora se controlada
pelo espírito (e assim o provérbio poderia se aplicar também a Jesus); outros,
que indica a natureza pecadora que todos os homens possuem (exceto Jesus).
42-45. Substancialmente,
esta oração foi proferida três vezes; em todas elas a submissão do Filho foi
completa. Mas é claro que Jesus sabia qual seria o resultado. Ainda dormis. Provavelmente
não era ironia, mas uma simples declaração de que a sua oportunidade de serem
úteis em uma crise já tinha passado.
46. Neste momento,
entretanto, Jesus percebeu que o inimigo se aproximava. Levantai-vos. Não
para fugir, mas para ir ao encontro dele (Jo. 18:4).
47-56. A prisão.
47. Grande
turba. Um
destacamento de soldados romanos, com suas costumeiras espadas, sob as ordens
de um quiliarca (Jo. 18:12); a polícia do templo judeu sob as ordens dos principais
sacerdotes e dos anciãos, armada de varapaus (Jo. 18:12); alguns dos
príncipes dos sacerdotes e os anciãos (Lc. 22:52).
48. Havia dado
um sinal. A
maior parte dos soldados romanos não conhecia Jesus.
49. E o beijou.
A
forma composta aqui (katephilêsen) sugere um abraço forte e caloroso (em
contraste com a forma simples mencionada no versículo 48).
50. Amigo. Camarada,
companheiro (hetaire). O termo
reconhece sua associação anterior, sem a conotação de afeição.
Para que
vieste? Essas
palavras de Jesus seriam elípticas, às quais deveríamos acrescentar algum
verbo, como por exemplo, "Faça aquilo a que vieste"? Ou uma pergunta,
"Por que vieste?" Ou uma triste exclamação, "Por que motivo
vieste!" Seja qual for a precisa intenção, Judas e os soldados continuaram
executando o seu plano.
51. Um dos que
estavam. Identificado
por João como sendo Pedro. Sacou da espada. Os discípulos tinham duas
dessas curtas espadas (Lc. 22: 38).
Golpeando o
servo. João,
conhecendo bem a família do sumo sacerdote, registra o nome do servo, Malco
(Jo. 18:10, 15).
A orelha. Conf. Lc.
22:51. A atitude impetuosa de Pedro, ainda que bem-intencionada, comprometia
seriamente a posição de nosso Senhor, e tornou necessário uma cura milagrosa
para desfazer os desastrosos efeitos que provocaria no tribunal (conf. Jo.
18:36). E tão completo foi o milagre que o caso da mutilação nunca foi
levantado pelos acusadores de Cristo.
52. Todos os
que lançam mão da espada, à espada, perecerão. Cristo e sua
mensagem não deveriam ser defendidos nem proclamados com armas carnais. Este
princípio geral declarado por Jesus tem sido confirmado na experiência humana.
"A espada é visitada pela espada na guerra; a espada da retribuição se
opõe à espada arbitrária da sedição rebelde; e a espada levantada sem
espiritualidade em uma causa espiritual, é vingada na certa pela espada da
vingança histórica", embora talvez bastante atrasada (J. P. Longe, Matthew,
pág. 486 ).
53, 54. Doze
legiões de anjos. Cada
legião romana completa era composta de 6.000 homens. Cristo absteve-se de
invocar as forças incomparavelmente superiores que estavam às suas ordens, para
que as Escrituras que prediziam seu sofrimento pudessem ser cumpridas.
55, 56. Como a
um salteador. A
presença de armas sugere que eles esperavam uma defesa violenta, como a de um
valente salteador (não a fuga apressada de um "ladrão"). Mas toda a
experiência passada com Jesus deveria ter desfeito essa noção. Será que
(conforme Plummer e outros sugerem) essa espantosa reação de Jesus em atribuir
esses acontecimentos ao cumprimento de profecias demarcou o ponto no qual Judas
afastou-se da demoníaca conspiração e acabou no remorso que o levou ao
suicídio?
E.
Acontecimentos nos Tribunais Judeus. 26:57 - 27:2.
Primeiro Jesus
foi conduzido à presença de Anás, o ex-sumo sacerdote, que ainda tinha muito
prestígio (Jo. 18:12-23). Depois do interrogatório preliminar, que deu tempo
para o Sinédrio se reunir para essa sessão noturna altamente irregular, Jesus
foi levado à presença do Sinédrio. De madrugada, uma segunda sessão do Sinédrio
formalmente convocada condenou-o (Mt. 27:1).
57-68. Primeira sessão
do Sinédrio.
57. Sumo
sacerdote Caifás. Genro
do deposto Anás. Parece provável que Caifás e Anás morassem no mesmo edifício,
talvez separados por um pátio. A esta altura dos acontecimentos, os escribas,
os anciãos e os principais sacerdotes estavam reunidos para essa sessão
extraordinária.
58. E Pedro o
seguia, conseguindo
entrar no pátio (não no palácio) com a ajuda de João (Jo. 18:15, 16).
59. Procuravam
algum testemunho falso. Aqueles judeus sabiam que não tinham um processo
legal contra Jesus; por isso tinham de usar acusações forjadas.
60, 61. As acusações,
entretanto, eram tão vagas e inconsistentes que não puderam encontrar nem mesmo
duas testemunhas – o mínimo especificado por lei (Dt. 17:6) – que concordassem
entre si. Finalmente arranjaram duas que deturparam uma declaração de
Jesus pronunciada três anos antes (Jo. 2:19).
Eu
posso destruir este santuário de Deus. A declaração propriamente dita atribuía
a destruição aos judeus; e a referência foi ao seu corpo, não ao edifício
herodiano (Jo. 2:21). Talvez algumas das declarações de Jesus no discurso do
Monte das Oliveiras (24:2) foram grosseiramente deturpadas por Judas e
combinadas com esta declaração (Jo. 2:19).
62. Não
respondes ao que estes depõem contra ti? Caifás esperava forçar o
prisioneiro a fazer alguma declaração imprudente. Mas as ferozes acusações
proferidas com veemência contra Jesus foram muito bem respondidas com o seu
digno silêncio (conf. Is. 53:7).
63. Eu te
conjuro. Uma
fórmula que informava Jesus de que a sua resposta seria considerada sob
juramento. O Cristo, o Filho de Deus. Embora alguns disputem a
importância plena de Filho de Deus, parece claro que Caifás empregou a
expressão no seu único sentido da deidade, uma vez que a confirmação provocou a
acusação de blasfêmia. Essa foi a causa real da condenação de Cristo (Jo.
19:7), e fora a base de anteriores conspirações contra ele (Jo. 5:18). Notícias
de outros incidentes que sustentavam essa reivindicação devem certamente ter
alcançado os ouvidos do sumo sacerdote (Jo. 1:34, 49; 9:35-37; 11:27; Mt.
14:33; 8:29, e outras.)
64. Tu o
disseste. Uma
confissão inequívoca de que ele era o Messias divino (a declaração de Jesus sob
juramento não invalida o ensinamento de 5:34, onde ele dá leis aos seus
discípulos. Nessa posição única de Filho de Deus, os fatores que tornariam o
juramento objetável diante dos homens não são relevantes diante dele.)
O Filho do
homem assentado à direita do Todo-poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu (conf. Dn.
7:13, 14; Sl. 110:1). Um pronunciamento sobre as posições de Jesus e seus
juizes que finalmente seria invertida.
65,
66. Rasgou as suas vestes. Uma indicação de horror justificado, sem dúvida
sincero (embora errado). A tradição judia especificava com alguns detalhes como
esse ato tinha de ser praticado. Blasfemou. Acusação do mais grave
ultraje religioso. Tendo Jesus abertamente confessado aquilo de que há muito o
acusavam (Jo. 5:18) e tendo aplicado Dn. 7:13, 14 a si mesmo, foi declarado réu
de morte (isto é, merecedor da morte), provavelmente por aclamação nesse
julgamento noturno, e não por votação secreta formal.
67, 68. A violência
física aplicada a Jesus pelos seus capturadores (provavelmente oficiais
inferiores, Lc. 22:63), incluiu cuspir em sua face, esmurrá-lo, bater nele com
varas ou mãos (isto é, esbofeteá-lo) e vendar-lhe os olhos (Lc. 22:64) a fim de
zombar do seu ofício de profeta.
69-75. A negação de
Pedro. As três negativas ocorreram através dos estágios dos julgamentos judeus
e são diversamente agrupados pelos evangelistas. As diferenças entre as
narrativas defendem fortemente a independência essencial, e os detalhes admitem
várias maneiras de harmonizá-los (Veja quadros em Alford, NT for English
Readers, pág, 199; S. J. Andrews, Life of Our Lord, pág. 518.)
69. O pátio.
Aproximando-se uma criada. Identificada por João como a porteira que deixou
Pedro entrar (Jo. 18:16, 17).
71, 72. Para o
alpendre. Provavelmente
o vestíbulo ou passagem que dava para a rua.
Outra criada. "A
criada" de Marcos dá a entender que é a mesma anteriormente mencionada
(embora ele talvez se refira simplesmente à criada que estava no vestíbulo);
Lucas diz que o interrogante era um homem. Assim parece que a segunda negativa
foi induzida pelo interrogatório de diversos indivíduos. Com juramento. Esquecendo-se
das advertências de Jesus contra tais juramentos para se estabelecer a
sinceridade de uma pessoa (5:34).
73. Logo
depois. Cerca
de uma hora (Lc. 22:59). Os que ali estavam. Particularmente, um parente
de Malco (Jo. 18:26). O teu modo de falar o denuncia. Acento e pronúncia
da Galiléia.
74. Começou ele
a praguejar. Rogando
pragas a si mesmo, caso estivesse mentindo. E a jurar. Invocando os céus
como testemunha às suas palavras (conf. 5:34--37). Cantou o galo. A
segunda vez nessa noite (Mc. 14:72).
75. Pedro se
lembrou (conf.
Mt. 26:34). Embora a dependência da carne causasse a lembrança das advertências
de Cristo, o simples cantar de um galo despertou Pedro para a enormidade do seu
pecado de zombar da graciosa tentativa de Jesus de impedi-lo.
Chorou
amargamente. Contraste
com Judas, cheio de remorsos mas sem arrependimento (27:5).
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