Interpretação de Gênesis 2

Gênesis 2

Gênesis 2 fornece um relato mais detalhado da criação da humanidade e do Jardim do Éden. Assim como Gênesis 1, as interpretações de Gênesis 2 podem variar entre diferentes tradições religiosas e indivíduos. Aqui está uma visão geral de alguns temas e interpretações principais:

1. Um olhar mais atento sobre a criação humana: Gênesis 2 aborda a criação do primeiro ser humano, muitas vezes referido como “Adão”. Ao contrário do relato mais geral de Gênesis 1, este capítulo enfatiza a natureza íntima da criação da humanidade por Deus. Deus forma Adão do pó da terra e sopra vida nele, enfatizando o relacionamento único e pessoal entre Deus e a humanidade.

2. O Jardim do Éden: Gênesis 2 descreve o Jardim do Éden como um paraíso exuberante e fértil onde Deus coloca Adão. O jardim é descrito como um lugar de abundância e harmonia, onde Adão tem a responsabilidade de cuidar dele. Algumas interpretações veem o Jardim do Éden como um símbolo do relacionamento ideal entre a humanidade e Deus e o estado original de perfeição antes que o pecado entrasse no mundo.

3. A Criação de Eva: Em Gênesis 2, Deus reconhece que não é bom que Adão fique sozinho e Ele cria Eva a partir da costela de Adão. Este ato ressalta a importância do companheirismo, da parceria e da instituição do casamento. É frequentemente visto como um texto fundamental para a compreensão dos papéis complementares de homens e mulheres.

4. A Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal: No Jardim do Éden, Deus coloca uma árvore chamada Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e ordena que Adão e Eva não comam dela. Esta árvore simboliza o livre arbítrio e as escolhas morais. A desobediência de Adão e Eva em comer desta árvore mais tarde leva à introdução do pecado e do conceito de Queda na teologia cristã.

5. O Cuidado e o Relacionamento de Deus: Gênesis 2 destaca o relacionamento pessoal entre Deus e a humanidade. Deus caminha no jardim, conversa com Adão e Eva e supre suas necessidades. Este retrato do cuidado e da presença de Deus com a humanidade é significativo ao enfatizar o aspecto relacional da fé.

As interpretações de Gênesis 2 podem variar, com alguns vendo-o como um relato histórico literal, enquanto outros o veem de forma mais simbólica ou alegórica. Alguns também usam Gênesis 2 para discutir temas de responsabilidade humana, as consequências da desobediência e a importância dos relacionamentos e da comunidade. No geral, Gênesis 2 serve como um texto fundamental para a compreensão das origens da humanidade, da natureza das relações humanas e do conceito de pecado e redenção na teologia judaico-cristã.

Interpretação

2:1, 2. Acabados (keilâh)... descansou (sheibat)... santificou (keidash). Quando o Criador pronunciou Sua aprovação sobre tudo o que tinha feito, inclusive o homem, a coroa da criação, declarou a conclusão da obra. No momento não daria início a mais nada. Entretanto, Ele santificou um dia de completo descanso. A palavra hebraica, sheibat, pode ser traduzida para “desistiu”“ ou “cessou” ou “interrompeu”. Durante este período até Deus descansaria das atividades criadoras (cons. Êx. 20:11; 31:17).

2:3. O dia sétimo foi separado para ser santificado e respeitado através dos anos como um lembrete de que Deus designou uma estação de descanso, refrigério e completa cessação de todo trabalho ordinário, labuta e luta.

2:4. Esta é a gênese (tôledôt). A palavra hebraica vem de um verbo significando procriar ou gerar filhos. Poderia ser traduzido para “gerações”. Esta declaração pode ser uma referência a Gênesis 1. A LXX traduz assim: Este é o Livro do Gênesis. Alguns o traduziriam para: A história dos céus e da terra. A descendência do céu e da terra foi assim descrita.

O Senhor Deus (Jeová). Pela primeira vez apresenta-se o nome Yahweh, ou Jeová (cons. Êx. 6:2,3). Jeová é o Deus da aliança pessoal com Israel, que é ao mesmo tempo o Deus do céu e da terra. O nome transporta a ideia de auto-existência eterna do Autor de toda a existência. É a expressão da amorosa benignidade, graça, misericórdia, autoridade e eterno relacionamento de Deus com os seus escolhidos que foram criados à Sua imagem. O relacionamento especial de Jeová com Israel seria descrito mais detalhadamente quando Ele aparecesse na sarça ardente perto do Sinai. Aqui o Autor da vida está identificado com o divino Criador de Gênesis 1.

2:6. Uma neblina subia... e regava. A fim de preparar o solo para a realização de Sua tarefa, o Criador forneceu a umidade. A tradução costumeira refere-se a um chuvisqueiro, ou neblina. É possível que a palavra traduzida para neblina na E.R.A. (id) poderia ser traduzida para “rio” ou “correnteza”. A primeira forma é a preferível. De qualquer forma, a neblina foi a maneira que Deus usou para realizar a Sua vontade em relação ao solo. Ação contínua está expressa.

2:7. Formou (yeiseir) o Senhor Deus ao homem do pó da terra. Novamente os dois nomes para Deus estão ligados em antecipação ao acontecimento que marcou época. A palavra yeiseir foi usada para dar a ideia de um oleiro trabalhando, moldando com suas mãos o material plástico que tinha nas mãos (cons. Jr. 18:3, 4). O mesmo verbo foi usado para descrever o quadro da formação de um povo ou nação. O corpo do homem foi feito do pó da terra, enquanto o seu espírito veio do próprio “fôlego” de Deus. Ele é, literalmente, uma criatura de dois mundos; ambos, a terra e os céus, têm direitos sobre ele. Observe as três declarações: Formou (yeiseir) Jeová ao homem do pó... e lhe soprou (neipah) nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser (heiyeih) alma vivente. O primeiro passo foi importantíssimo, mas o pó umedecido estava longe de ser um homem até que o segundo milagre se completasse. Deus comunicou a Sua própria vida a essa massa inerte de substância que Ele já criara e lhe deu forma. O fôlego divino permeou o material e o transformou em um ser vivente. Esta estranha combinação de pó e divindade deu lugar a uma criação maravilhosa (cons. I Co. 15:47-49) feita à própria imagem de Deus. Como ser vivente, o homem estava destinado a revelar as qualidades do Doador da vida.

Esta linguagem das Escrituras não sugere que o homem tivesse semelhança física com Deus. Antes, ele foi feito semelhante a Deus nos poderes espirituais. Ele recebeu os poderes de pensar e sentir, de se comunicar com os outros, de discernir e discriminar, e, até um certo ponto de determinar o seu próprio caráter.

2:8. Um jardim (gan) no Éden (bi'êden). O autor apresenta Deus plantando um lindo jardim para Suas novas criaturas. A palavra significa um cercado ou um parque. A LXX usa, aqui, um termo que dá base para a nossa palavra “paraíso”. O trabalho do homem neste jardim era o de exercer domínio servindo – uma boa combinação. As obrigações provavelmente eram rigorosas mas agradáveis. O Éden, ou a terra do Éden, ficava provavelmente na parte baixa do vale da Babilônia. Embora tenha se reivindicado outras localizações para o Éden, as evidências parecem apontar para o setor entre o Tigre e o Eufrates como o berço da civilização. A palavra hebraica Éden provavelmente significa “encantamento”, “prazer”, ou “deleite”.

Neste sossegado lugar de indescritível beleza, o homem devia desfrutar da comunhão e do companheirismo do Criador, e trabalhar de acordo com o esquema divino para a realização de Sua vontade perfeita. Árvores magníficas forneciam alimento para o sustento, mas o homem teria de trabalhar para cuidar delas. Um adequado suprimento de água era fornecido por um vasto sistema de irrigação, um emaranhado de rios que brotavam dentro e à volta do jardim, dando-lhe vida. A fim de orientar o homem no pleno desenvolvimento moral e espiritual, Deus lhe deu ordens específicas e uma proibição específica para governar seu comportamento. Também lhe deu o poder de escolher e apresentou-lhe o privilégio de crescer no favor divino. Assim começou a disciplina moral do homem.

2:18. Uma auxiliadora que lhe seja idônea ('izer kenegdô). O inspirado autor revela indiretamente a natural solidão do homem e a sua insatisfação. Embora muito se fizesse por ele, ainda estava consciente de uma falta. O Criador não terminara ainda. Ele tinha planos de fornecer uma companheira que pudesse satisfazer os anseios incumpridos do coração do homem. Criado para a comunhão e o companheirismo, o homem só poderia desfrutar inteiramente da vida se pudesse partilhar do amor, da confiança e da devoção no íntimo círculo do relacionamento familiar. Jeová tornou possível que o homem tivesse uma auxiliadora... idônea. Literalmente, uma auxiliadora que o atenda. Ela teria de partilhar das responsabilidades do homem, corresponder à natureza dele com amor e compreensão, e cooperar de todo o coração com ele na execução do plano de Deus.

2:21. Fez cair (beinâ) pesado sono (tardimâ). Hoje em dia os médicos usam diversos anestésicos para produzirem sono profundo. Não sabemos que meios ou métodos o Criador usou para induzir Adão nesse pesado sono que o deixou inconsciente dos acontecimentos. Isto permanece um mistério. Certamente a misericórdia divina foi exibida neste milagre. O Eterno estava criando não apenas um outro indivíduo, mas um indivíduo novo, totalmente diferente, com outro sexo. Alguém já disse que “a mulher foi tirada não da cabeça do homem para governar sobre ele, não dos seus pés para ser pisada por ele, mas do seu lado, de sob o seu braço, para ser protegida, e de perto do seu coração, para ser amada”. Na história da criação ela também está representada dependendo inteiramente de seu marido e incompleta sem ele. Do mesmo modo, o homem jamais é inteiramente completo sem a mulher. Essa é a vontade de Deus. Uma vez que a mulher foi formada do lado do homem, ela tem a obrigação de permanecer ao seu lado e de ajudá-lo. Ele tem a obrigação de lhe dar a proteção e defendê-la com o seu braço. Os dois seres formam um todo completo, a coroa da criação. O autor do Gênesis declara que Deus transformou (beinâ) a costela que tirou do homem em uma mulher. A mão que moldou o barro para fazer o corpo do homem, pegou uma parte do corpo vivo do homem e transformou-o em uma mulher.

2:22. E lha trouxe. Quando Deus terminou essa nova criação, Ele “a deu” em casamento ao seu marido, estabelecendo assim a eternamente significativa instituição do casamento. Uma vez que o Criador instituiu o casamento, este constitui um relacionamento sagrado do homem com a mulher, envolvendo profundo mistério e proclamando sua origem divina. O amoroso coração de Deus sem dúvida se regozijou com a instituição de um relacionamento que devia ser sublime, puro, santo e agradável para a humanidade.

2:23. Esta, afinal, é... carne da minha carne. O homem reconheceu nesta nova criação uma companheira divinamente criada para atender a todos os anseios do seu faminto coração para a execução da santa vontade de Deus. Varoa ('ishshâ)... varão (ish). Estas duas palavras hebraicas são muito parecidas, até mesmo no som. A única diferença entre elas é que a palavra “mulher” tem um sufixo feminino. Léxicos mais recentes declaram que estas palavras não são etimologicamente relacionadas. Não há, entretanto, nenhuma base para rejeitarmos a opinião anterior de que a palavra “mulher” vem da palavra “homem”.

2:24. Por isso... o homem... se une (deibaq) à sua mulher. O Criador estabeleceu a base completa para o casamento monogâmico. Rashi, o grande comentador hebreu, declara que estas palavras são um comentário específico do Espírito Santo. O comentário final sobre a união de marido e mulher foi feito por nosso Senhor Jesus Cristo, quando disse: “Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher. E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne. Portanto o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mc. 10:7-9). Deus planejou que os laços matrimoniais deveriam ser terminantemente indissolúveis. Se une (deibaq) significa “colar-se a” sua esposa (sua própria esposa). A palavra “mulher” está no singular. O homem, que é o mais forte, é o que deve unir-se a ela. A esposa ficará segura ao marido, se ele exercer sobre ela o tipo de poder amoroso descrito neste versículo. “O que Deus ajuntou não o separe o homem”. Esta é uma declaração antiga, mas é verdadeiramente a palavra de Deus para todos os corações da atualidade e para sempre.

Como é notável que um relacionamento tão exatamente descrito por Moisés há séculos atrás, continue enraizado na verdade eterna e no decreto divino! A santidade do casamento fundamenta-se no próprio coração das Escrituras, e ficou eternamente destacada pelo Espírito Santo, como necessidade básica. Deus quis que as criaturas feitas à Sua imagem fossem Seus vasos escolhidos para a edificação de um lar que Lhe fosse agradável. No N.T. o Espírito revela: o relacionamento divinamente estabelecido entre o homem e a mulher, baseia-se na ordem da criação; na liderança da família exercida pelo marido; na santidade eterna dos votos matrimoniais; no tipo de amor que deveria unir o esposo à esposa; e na pureza que deveria caracterizar aquelas que tipificam a Esposa por quem Cristo deu a Sua vida.

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