Interpretação de Daniel 3

Daniel 3

Daniel 3 narra a história de Sadraque, Mesaque e Abednego, três judeus que se recusaram a adorar a imagem de ouro erguida pelo rei Nabucodonosor. Este capítulo destaca temas de fé, coragem e libertação divina. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Daniel 3:

1. A Imagem Dourada (Daniel 3:1-7): O rei Nabucodonosor, buscando consolidar sua autoridade e reforçar a lealdade entre seus oficiais, ergueu uma enorme imagem dourada na planície de Dura, na Babilônia. Ele ordenou que todos os seus oficiais, incluindo Sadraque, Mesaque e Abednego, se curvassem e adorassem a imagem quando ouvissem o som de vários instrumentos. Não fazer isso resultaria em ser jogado em uma fornalha em chamas.

2. A Recusa Fiel (Daniel 3:8-18): Sadraque, Mesaque e Abednego, judeus devotos que adoravam o único Deus verdadeiro, recusaram-se a curvar-se diante da imagem de ouro. Eles deixaram claro ao rei que não serviriam seus deuses nem adorariam a imagem. Este desafio irritou Nabucodonosor, que ameaçou lançá-los na fornalha.

3. A Fornalha Ardente (Daniel 3:19-23): Nabucodonosor ordenou que a fornalha fosse aquecida a uma temperatura extremamente alta. Seus soldados mais poderosos amarraram Sadraque, Mesaque e Abednego e os lançaram na fornalha. O fogo foi tão intenso que matou os soldados que os atiraram.

4. Libertação Divina (Daniel 3:24-30): Para espanto de todos, quando Nabucodonosor olhou para dentro da fornalha, ele viu não três homens, mas quatro, andando ilesos, e o quarto parecia ser “um filho dos deuses”. Nabucodonosor chamou os três para fora da fornalha e eles saíram sem nenhum vestígio de dano ou mesmo cheiro de fogo. O rei então louvou o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego, reconhecendo a grandeza do seu Deus e emitindo um decreto segundo o qual qualquer um que falasse contra o seu Deus seria punido. Os três homens foram promovidos na província da Babilônia.

Interpretação

Tudo em Daniel 3 sugere claramente que o propósito principal deste capítulo é diretamente prático e não doutrinário. Não há predições. A narrativa simplesmente fala da sorte dos três amigos de Daniel na qualidade de firmes confessores da fé (Daniel não aparece no capítulo). Hebreus 11:34 cita a história como uma lição de fé. O incidente principal é o tema de um desenvolvimento espúrio da história em um livro apócrifo conhecido como “A Canção dos Três Jovens Hebreus”.

Os personagens do “drama” são conhecidos, todos já tendo sido apresentados anteriormente: Nabucodonosor (Dn. 3:1; cons. 1:1; 2:1); os caldeus (3:8; cons. 2:2); os “três jovens hebreus” (3:12 e segs.; cons. 1:6, 7; 2:17, 49). Por que Daniel não foi descoberto em desobediência civil como os três foram, explica-se melhor pela conjectura de que estivesse ausente da cidade em alguma obrigação oficial.

Em harmonia com o caráter didático desta narrativa, sugerimos um esboço homilético e não um analítico. Os atos apresentados são os seguintes : 1) a oposição à fé (v. 1; cons. v. 8); 2) a tentação da fé (vs. 2-15); 3) a demonstração da fé (vs. 16-18); 4) a salvação pela fé (vs,19-30).

3:1 A ocasião foi o levantamento de uma imagem idólatra. As medidas fornecidas em proporção, 60 X 6 = 10 X 1, dão a ideia de uma imagem sobre um pedestal. Quanto à localização em Dura, embora haja pelo menos três lugares com esse nome de acordo com os mestres, só uma ficava perto da cidade. A imagem devia ter sido dedicada a alguma divindade babilônica, embora os versículos 12, 14, 18 pareçam anular isto. Montgomery e Keil argumentam que era um símbolo do império de Nabucodonosor. A acusação de traição (v. 12) sustenta essa declaração.

Seiss (Joseph A. Seiss, Voices from Babylon) acha que devia ser um símbolo de Jeová, uma vez que Nabucodonosor parecia querer declarar a Sua supremacia (2:47, 48). Temos precedentes para imagens de Jeová (Ex. 32; I Reis 12:25-33; cons. Atos 17:23), mas parece-nos improvável que esta tenha sido uma delas. As pessoas que lideraram o ataque (Dn. 3:8) eram aquelas que deveriam ser amigas desses hebreus, uma vez que lhes deviam suas vidas. Mas, como todos os homens perversos, opunham-se ao verdadeiro culto a Deus (cons. Pv. 29:25; Mt. 10:16-39, esp. v. 28).

3:2-15 A tentação era em primeiro lugar para perversão da fé. A idolatria é essencialmente a perversão de um apetite sadio de ver a Deus (João 14:6). Mas a fé deve sempre ser colocada no “Invisível” só mais tarde “feito carne” (veja Rm. 1:23; I João 5:21; Atos 17:29; Êx. 20:4-6). A tentação era em segundo lugar, para comprometer a sua fé. O progresso de sua profissão parecia depender de sua conformação com a idolatria, contanto que ocultassem ardilosamente a sua rejeição (cons. lI Reis 5:15-19). O versículo 14 sugere também uma tentação de ocultamento da fé.

3:3. Os sátrapas, os prefeitos e governadores, os juízos, os tesoureiros, os magistrados, os conselheiros e todos os oficiais das províncias (cons. v. 2). Alguns desses termos são semita, como o eram as línguas da Babilônia, o hebraico e o aramaico; outros vinham do persa, uma língua não semita dos senhores medo-persas do reino que se seguiu em 539 A.C (cont. caps. 5 e 6). Argumenta-se que as palavras persas foram usadas anacronicamente. Isto não está implícito, uma vez que a narrativa foi composta por Daniel, que publicou o seu livro no período persa. As palavras escolhidas, então, poderiam ter sido termos que melhor se adaptassem à compreensão e costumes dos seus leitores. Se este livro fosse composto no período grego, na Palestina, como muitos críticos defendem, seria bastante surpreendente que se usasse nele alguma palavra babilônica.

3:5. O som da trombeta, do pífaro, da harpa, da citara, do saltério, da gaita de foles, etc. (com. vs. 7, 10, 15). Tem-se defendido que, considerando que alguns dos nomes desses instrumentos são gregos, o livro deve ter sido escrito depois que Alexandre conquistou o Oriente. Com o passar dos anos, contudo, estudos históricos demonstram cada vez mais convincentemente que houve uma troca de cultura precoce entre a Grécia e o Oriente. Esses instrumentos musicais de origem grega simplesmente levaram consigo seus nomes gregos, como acontece com semelhante intercâmbio cultural hoje em dia, a saber, o piano, a viola, a guitarra, a citara, etc.

3:16. Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Ausência de quaisquer títulos lisonjeadores na maneira dos hebreus tratarem o rei não indica nenhum desrespeito – antes integridade concisa. Talvez o nome Nabucodonosor deveria estar ligado ao sentido de “o rei” do discurso começasse com “não estamos preocupados...” Em vez de não necessitamos, leia-se não há necessidade. Estas palavras expressam total submissão e parecem responder à pergunta do rei no versículo 14. É verdade...? ou antes, Estais determinados a...?

3:17, 18. O nosso Deus... quer livrar-nos. (Cons. II Tm. 1:12). Ele nos livrará... das tuas mãos. Isto expressa a plena confiança de sua fé. Eles não sabiam como Deus os livraria da mão do rei – se pela morte, chamando-os à Sua presença, ou por intermédio de um ato especial da providência, salvando-os com vida. Mas mortos ou vivos, sabiam que pertenciam a Deus (I Cr. 3:21-23; veja também Hb. 13:6).

3:19. Sete vezes mais. Possivelmente a palavra aramaica had, traduzida para um, na A.V., tenha aqui o sentido de nosso artigo indefinido “um”; portanto um sete vezes mais. Talvez fosse uma espécie conhecida de alguma coisa que podia ser multiplicada por sete (por exemplo, a palavra heb. para semana é sete, como também a palavra semelhante para juramento). Este sete seria, então, como sugere Zoeckler (Lange's Comm.), um número que totalizava a penalidade judicial. Veja também Lv. 26:18-24; Mt. 18:21, 22.

3:21. Foram amarrados em suas próprias roupas, pois não foi dado tempo para preparativos especiais. O significado das palavras para as peças das roupas está atualmente quase que totalmente perdido. Deve ter-se perdido desde o tempo das primeiras traduções, e a Septuaginta (não o texto grego de Teodósio, que é melhor) vem do período quando certos críticos acham que este livro foi escrito. Se as palavras eram desconhecidas nos dois primeiros séculos e meio A.c., então o livro deve ter sido escrito muito antes.

3:24, 25. Estas palavras devem ser interpretadas do ponto de vista pagão de Nabucodonosor, não de nosso ponto de vista cristão. Semelhante a um filho dos deuses (no aram. da-mê lebar elahîn), isto é, como um ser de aparência divina. O rei estava pensando nas diversas classes de divindades pagãs. (Um caso semelhante de erro na A.V. se encontra em Mt. 27:54). Esta pessoa poderia muito bem ter sido o Filho de Deus pré-encarnado, mas nesse caso, Nabucodonosor não sabia quem Ele era. Veja Is. 43:1-3.

 A vitória da fé tinha cinco objetivos:

1) Foram soltos de suas amarras (v. 25).
2) Foram protegidos do mal (v. 27).
3) Foram confortados na provação (vs. 24, 25, 28).
4) Seu Deus foi glorificado (v. 29).
5) Como servos de Deus foram recompensados (v. 30).

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