Interpretação de Daniel 4

Daniel 4

Daniel 4 contém uma carta escrita pelo próprio rei Nabucodonosor. Este capítulo narra um acontecimento significativo na vida de Nabucodonosor, onde ele passa por um período de loucura e então reconhece a soberania do Deus de Israel. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Daniel 4:

1. O Sonho da Árvore de Nabucodonosor (Daniel 4:1-18): O rei Nabucodonosor começa compartilhando um sonho que teve. No sonho, ele viu uma árvore grande e frutífera que fornecia alimento e abrigo para muitas criaturas. Contudo, um mensageiro celestial proclamou que a árvore seria cortada e o rei viveria como um animal no campo por um período de tempo, enfatizando que isso aconteceria para demonstrar que “o Altíssimo governa o reino dos homens”.

2. A Interpretação de Daniel (Daniel 4:19-27): O rei chamou Daniel para interpretar o sonho, como havia feito anteriormente. Daniel inicialmente ficou preocupado com as implicações do sonho, mas explicou que a árvore representava o próprio Nabucodonosor. Ele profetizou que o rei seria expulso de seu reino, viveria entre os animais e comeria capim como um boi até reconhecer a soberania de Deus. Daniel exortou o rei a se arrepender e a mostrar bondade para com os oprimidos, esperando que Deus prolongasse a prosperidade do rei.

3. Realização do Sonho (Daniel 4:28-33): Apesar do aviso de Daniel, um ano depois, Nabucodonosor estava andando em seu palácio real, vangloriando-se de suas realizações. Naquele momento, uma voz vinda do céu pronunciou a realização do sonho. Imediatamente, Nabucodonosor perdeu a sanidade, foi expulso da sociedade humana e viveu nos campos como um animal, conforme predito.

4. A Restauração de Nabucodonosor (Daniel 4:34-37): Após sete anos vivendo neste estado de humildade, Nabucodonosor ergueu os olhos para o céu e sua sanidade foi restaurada. Ele louvou e exaltou o Deus Altíssimo, reconhecendo Seu domínio e soberania sobre todos os reinos terrestres. O reino e a honra de Nabucodonosor foram então restaurados, e ele reconheceu que os caminhos de Deus são justos e os Seus julgamentos são corretos.

Daniel 4 é um testemunho poderoso da soberania de Deus e de Sua capacidade de humilhar os orgulhosos. Demonstra as consequências do orgulho e a necessidade de arrependimento e humildade diante de Deus. As principais lições deste capítulo incluem:

1. A Soberania de Deus: O capítulo enfatiza a autoridade suprema de Deus sobre todos os governantes e reinos terrenos. Ensina que mesmo o mais poderoso dos reis está sujeito ao governo divino de Deus.

2. As Consequências do Orgulho: O orgulho e a arrogância de Nabucodonosor levaram à sua queda. Sua experiência serve como uma advertência contra o orgulho e a exaltação própria.

3. A Oportunidade para o Arrependimento: A interpretação e o conselho de Daniel deram a Nabucodonosor uma oportunidade para se arrepender e mudar os seus caminhos. Deus é misericordioso e dá às pessoas a oportunidade de se voltarem para Ele com humildade.

4. Reconhecimento do Domínio de Deus: O capítulo termina com Nabucodonosor reconhecendo humildemente a soberania e a justiça do Deus de Israel. Serve como uma profunda conversão e declaração de fé.

Em Daniel 4, a narrativa destaca o poder transformador da disciplina de Deus e a importância de reconhecer o Seu senhorio. Demonstra que mesmo aqueles que parecem mais resistentes à autoridade de Deus podem ser humilhados e levados ao arrependimento. A experiência de Nabucodonosor serve como testemunho da misericórdia e da justiça de Deus.

Interpretação

4:1-3 A forma da saudação, como do restante do capítulo, indica que este é um documento governamental da Babilônia, incorporado por Daniel às Sagradas Escrituras. Isto indica que a inspiração das Escrituras é através da autoridade divina da pessoa por cuja orientação uma determinada palavra é incluída. Até as palavras de uma mula foram incluídas nas Escrituras (Nm. 22:28, 30) pela autoridade de Moisés! A saudação de Nabucodonosor deu início a este documento – que sem dúvida circulava independentemente antes de ser incluído nas Escrituras – dirigido a todo o seu reino. Não é demais esperar que alguns arqueólogos o encontrem algum dia. Talvez ele já esteja incógnito entre alguns dos milhares de documentos em tabuinhas de barro, descoberto, mas ainda não decifrado.

4:4. Eu, Nabucodonosor, estava tranquilo em minha casa. Guerras bem sucedidas e grandes construções na Babilônia tinham lhe proporcionado a tranquilidade da realização. (Imensas ruínas arqueológicas testificam disso. Veja bibliografia e texto de Boutflower, In and Around the Book of Daniel, págs. 65-113). Feliz no meu palácio. Geralmente usado em relação a plantas, o adjetivo ra-'anan, florescente (E.R.C.), aparece na Bíblia Hebraica nas descrições do luxuriante crescimento das árvores (Sl. 92:12) e figurativamente da saúde das pessoas (Sl. 92:14). Materialmente tudo prosperava.

4:5. Tive um sonho, que me espantou. O rei tinha uma neurose! A cabeça que carrega uma coroa não tem sossego.

4:6, 7. Apelar para os seus conselheiros não tinha propósito. Esse grupo de pomposos charlatães já há muito devia ter sido desfeito.

4:8. Por fim se me apresentou Daniel. Seria o orgulho nacional que o impediu de chamar Daniel antes? Perversidade? Depravação? O restante do versículo indica que embora tivesse uma elevada opinião sobre Daniel, ainda continuava mantendo um ponto de vista inteiramente pagão. Não há evidência de que rûah 'elahîn qaddishîn deveria ser traduzido para “o Espírito do Santo Deus”, como defendem alguns, embora essa tradução seja possível gramaticalmente e o paralelo com a cognata hebraica de Js. 24:19 a apoie, como também a grega de Teodósio e a RSV, à margem. Vendo que Nabucodonosor reconhecia outro como “meu deus”, duvidamos que ele considerasse Jeová como o Deus santo e único. Santo aqui parece significar simplesmente “divino”. Meu Deus é de identidade incerta. Pode significar Bel, como em Belsazar, ou Nabu como em Nabucodonosor, ou Marduque o principal deus da Babilônia e de todo o panteão babilônico. Via as palavras de Faraó em Gn. 41:38 semelhantes a estas.

Quatro expressões resumem as circunstâncias na corte: prosperidade aparente, perturbação no coração do rei, frustração dos seus esforços e um apelo patético ao profeta de Deus.

4:10, 11. Uma árvore. A mais útil de todas as plantas, que serve para dar sombra, alimento para o homem e os animais, decoração e beleza, combustível, material de construção. Nas Escrituras um símbolo comum (por exemplo, Jz. 9:8 e segs.; Sl. 1:13; Jr. 1:11, 12; Ez. 15:1 e segs. 31:3-18). Nabucodonosor amava as árvores do Líbano. Registros existentes falam de suas viagens para vê-las e trazer sua madeira para a Babilônia (Wady Brissa Inscription. Boutflower, op. cit., in loco). Cons. Ez. 31:3-18, 12. Cons. Mt. 13:31, 32.

4:14, 16. Se qualquer insinuação naturalmente psicológica sobre o passado do rei estava por trás do sonho, era provavelmente sua experiência no Líbano, onde ele pessoalmente supervisionara o corte dos cedros para o transporte até a sua capital. A queda de uma árvore alta deixa uma profunda impressão na pessoa que observa.

Para maiores detalhes, veja comentários sobre a interpretação na seção seguinte. O que importa aqui é a declaração de propósito, que resume a mensagem espiritual não só deste capítulo mas também de todo o livro.

4:17. A observação de Young (Proph. of Dan., in loco) de que o rei aqui fala como um pagão parece estar errada. O rei está repetindo as palavras de um mensageiro divino. É melhor dizer que temos uma citação aparentemente exata que um pagão faz das palavras de um mensageiro divino. A profecia aqui, como no capítulo 2, está no nível do entendimento de um rei pagão. Esta sentença. Antes, o decreto, ou a decisão. Autoridades concordam que esta é a linguagem do paganismo. Possivelmente foi usada a linguagem das decisões astrológicas (Montgomery, BDB). Por decreto dos vigilantes... dos santos. Cons. v. 13 – “um vigilante, um santo” (RSV). Os dois nomes são para o mesmo mensageiro divino geralmente conhecido pelos hebreus como aqui. São anjos santos e vigilantes. O Altíssimo. Este nome é peculiarmente apropriado. O rei pagão atribuiu assim ao Deus de Daniel, com o qual ele identificava o próprio Daniel, a preeminência acima de todos os deuses. A designação também pode ser entendida como a solitária grandeza de Deus na qualidade de Deus único e verdadeiro (cons. I Co. 8:4-6). Ao mais humilde dos homens. A referência é aos homens de situação humilde e não aos de caráter mau.

Este versículo que declara solenemente o controle providencial e soberano de Deus no decorrer da história humana é o centro do livro de Daniel (cons. Is. 40:15 e contexto; Pv. 21:1; Rm. 13:1; Atos 17:24-26).

4:19. Daniel... esteve atônito. Antes, perplexo – não porque tivesse dificuldade na interpretação do sonho mas porque não tinha nenhuma dificuldade e se sentia muitíssimo relutante em dar as más noticias ao bondoso monarca. Algum tempo e não uma hora. Provavelmente uma expressão familiar como o nosso “um minuto”, significando um momento. Seus pensamentos o turbavam (isto é, o amedrontavam). Ele se sentia amedrontado por causa do rei. O fato do rei ter se compadecido de Daniel parece indicar a afeição que ele sentia por seu conselheiro hebreu, apesar de não tê-lo convidado antes à sua presença. Contra os que te têm ódio. Alguns acham que esta e a cláusula seguinte indicam que Daniel desejava que a desgraça predita ao rei pudesse recair sobre os seus inimigos e rivais. É inteiramente possível interpretar suas palavras como uma simples afirmação de que os acontecimentos preditos dariam satisfação aos inimigos e rivais do rei, e este parece ser o sentido mais provável.

4:20-22. A árvore... és tu, ó rei. O próprio rei, conquistador e senhor orgulhoso de toda a terra, está simbolizado pela árvore. A tua grandeza cresceu, e chegou até ao céu, e o teu domínio até à extremidade da terra. Esta declaração, especialmente a segunda e terceira partes dela, não era literalmente verdadeira, embora fosse a declaração de um profeta. Os antigos semitas gostavam das hipérboles e as usavam sem que fossem mal-interpretados por alguém. O reino de Nabucodonosor, na realidade, era geograficamente menor do que os impérios persa, grego ou romano. Era, entretanto, muito grande e incluía a maioria das partes conhecidas do mundo.

4:23 A intenção dessas palavras era de que o rei pessoalmente experimentasse um grande desastre, perdendo a sua posição durante um período de sete tempos. O aramaico não é mais específico do que a tradução portuguesa no que se refere à duração de tempo envolvido. Considerando que dias, semanas ou meses dificilmente teriam dado tempo suficiente para o desenvolvimento do versículo 33b, parece melhor acompanhar a maioria dos comentaristas e adotar “anos” como o significado.

4:27. O conselho de Daniel era no sentido de que o rei desse sinais de arrependimento (veja Joel 1:8, 14; 2:17, 18), sem dúvida como prova de mudança interior (via Joel 2:13). Impureza pessoal (pecados) como também a opressão aos súditos e inimigos derrotados (iniquidades) precisavam acabar. Seu arrependimento poderia provocar o “arrependimento” divino (veja Jr. 18; Joel 2:12-14).

4:29. Doze meses. Houve um misericordioso “prolongamento de sua tranquilidade” (v. 27). O palácio real de Babilônia. Escritores antigos contam, e a arqueologia confirma, que Nabucodonosor, além de remodelar e ampliar os antigos edifícios da Babilônia, levantou seus próprios projetos de magníficas construções. Uma grande rua que ele reconstruiu para desfiles estendia-se diante dele, como também muitos templos e quilômetros de muros. “Agora, neste palácio, tendo construído grandiosas estruturas de pedra e tendo plantado sobre elas todos os tipos de árvores, dando-lhes um aspecto muito parecido com o de montanhas, ele elaborou e preparou os famosos Jardins Suspensos, para agradar à sua esposa, que gostava das terras montanhosas, porque fora criada na Média” (Josefos Against Apion 1, 19).

4:30. A grande Babilônia que eu edifiquei. Veja observações sobre 4:29. Cons. Is. 14:4 e segs. ''Todo o cenário e a auto-complacência do rei em sua gloriosa Babilônia são extraordinariamente leais à história” (Montgomery, op. cit., pág. 243. Consulte também o padrão de obras da antiga história e arqueologia da Babilônia. Algumas das melhores são as do século dezenove; por exemplo, Layard, Nineveh and Babylon; as diversas obras de Rawlinson; Assyrian Discoveries de George Smith. Cons. Boutflower, op. cit., quanto aos trabalhos mais recentes, além de Montgomery, op. cit., pág. 243).

4:31-33. Uma voz do céu. A última experiência consciente e lúcida do rei voltou sua atenção para Deus no céu. Na próxima seção vemos que sete anos depois, quando ele retomou à sanidade mental, sua primeira reação foi a de reagir olhando para cima.

Quanto a evidências históricas da veracidade do fato, o leitor deve recorrer a obras de maior alcance. Existe apoio, mas não provas. Na antiguidade, diversos exemplos da doença de Nabucodonosor têm sido descritos. Se foi um juízo divino especial, não temos necessidade de um paralelo natural, por mais interessante que seja. Considerando que os antigos geralmente consideravam as pessoas loucas como “possuídas” por um deus, o rei talvez fosse mantido em um parque recebendo tratamento especial. Exemplos das alterações físicas do rei existiram na antiguidade na história Aicar (ANET, págs. 427-430).

4:34. Quando o homem recuperou o entendimento, ele louvou a Deus! Nada é mais insano que o orgulho humano. Nada é mais sóbrio e sensível que o louvor de Deus.

4:35-37. A restauração do rei deveria encorajar os homens a esperar dias melhores, na providência divina, por mais profundo que o castigo do Senhor possa ter sido para com eles.

Este capítulo mostra que os pagãos não estão isentos do governo moral de Jeová. As leis morais governam a elevação e a queda dos homens quer estejam relacionadas com Deus através da graça salvadora quer não (vaia também Amós 1:1–2:3).

Mais: Daniel 1 Daniel 2 Daniel 3 Daniel 4 Daniel 5 Daniel 6 Daniel 7 Daniel 8 Daniel 9 Daniel 10 Daniel 11 Daniel 12