Interpretação de Deuteronômio 27

Deuteronômio 27

27:1–30:20 A quarta divisão padrão dos antigos tratados de suserania compunha-se de maldições e bênçãos, as sanções da aliança referentes às penas. Em Deuteronômio esta seção se encontra nos capítulos 27-30.

Enquanto 26:16-19 forma a conclusão das estipulações, também introduz o elemento da ratificação da aliança, o núcleo à volta do qual se agrupam as maldições e bênçãos destes capítulos. A ratificação da nova aliança que Moisés estabelecia com a segunda geração foi apresentada em dois estágios. Isto se costumava fazer para assegurar a sucessão do trono ao herdeiro real designado. Quando a morte era iminente, o suserano requeria dos seus vassalos um penhor de obediência ao seu filho; então, logo após a ascensão do filho, o voto da fidelidade dos vassalos era repetido. Do mesmo modo, Moisés e Josué formavam uma dinastia de representantes mediadores da suserania do Senhor sobre Israel. Por isso a sucessão de Josué, que simbolizava a continuação do senhorio do Deus de Israel, foi assegurada pelo voto de Israel, antes que Moisés morresse, e mais tarde novamente através de uma cerimônia de ratificação, depois da ascensão de Josué. O pronunciamento de maldições e bênçãos destaca-se em cada um desses rituais de ratificação.

A seção das sanções de Deuteronômio começa com as bênçãos e maldições a serem usadas no segundo estágio da ratificação (cap. 27), depois retorna à situação imediata e às solenes sanções do estágio inicial de ratificação (caps. 28-30). Quando se considera o Deuteronômio como a concluída testemunha documentária legal da aliança, não há necessidade de se sentir alguma dificuldade com a posição dada às orientações do capítulo 27. Por outro lado, a conexão entre o fira do capítulo 26 e o começo do capítulo 28 é tão suave que sugere a possibilidade de que o capítulo 27 poderia não estar situado neste ponto exato do desenrolar da cerimônia em Moabe. Do mesmo modo, no fluxo original da oração de Moisés, Deuteronômio 30 poderia ter seguido imediatamente após o final do capítulo 28.

27:1-26 Moisés prescreveu a cerimônia para o segundo estágio da renovação da aliança, a ser realizada em Canaã (vs. 1-8). O restabelecimento da aliança foi proclamada (vs. 9, 10). Fez-se um aviso em relação ao recital de bênçãos e maldições a ser realizado em cerimônia posterior (vs. 11-26). Para a realização histórica do que aqui ficou prescrito, veja Js. 8:30-35. Para uma antecipação dessas instruções entre as estipulações deuteronômicas, veja Dt. 11:26-30.

27:1 Para promover o respeito às autoridades designadas, Moisés associou a si mesmo, nesta hora solene, os anciães de Israel e os sacerdotes (cons. v. 9).

27:2 Levantar-te-ás pedras grandes, e as caiarás. A consagração da aliança devia ser um ato de fé e devoção inteligente. Portanto o conteúdo da aliança devia ser publicado de antemão para que o povo a ratificasse. Esse foi um dos motivos da aliança precisar ficar registrada nas pedras caiadas, uma técnica egípcia, conforme está confirmado pelo fato de Josué ter lido esta lei ao povo no seu cumprimento histórico (Js. 8:34). Foi comparável à leitura que Moisés fez do Livro da Aliança diante de Israel na ratificação da Aliança do Sinai e na proclamação da Aliança Deuteronômica nas planícies de Moabe. O fato de se escolher pedras duráveis dá lugar a comparação com as duas tábuas de pedra da lei escritas pelo dedo de Deus e sugere que havia um propósito adicional de fornecer um testemunho simbólico da permanência da aliança (cons. Dt. 31:26; Js. 24:26, 27).

27:3 Todas as palavras desta lei. Isto se refere à Aliança Deuteronômio, uma parte da “lei”, tomara pala representar o todo. A festa da cerimônia eia outro método simbólico reconhecido, através do qual os povos ratificavam os tratados. Este é o significado das ofertas pacíficas e da alegre refeição associada às mesmas (v. 7; cons. Êx. 24:11). A ratificação final seria realizada depois da morte de Moisés, quando Israel estaria em Canaã sob a liderança de Josué (v. 2a). O cenário seria o impressionante lugar perto das montanhas, Ebal e Gerizim, entre as quais ficava Siquém (v. 4; cons. vs. 12, 13). Não há registro de um esforço militar necessário para tomar esta região de Canaã. O elemento essencial da cerimônia seria a auto-consagração de Israel à aliança do Senhor. As ofertas queimadas (v. 6) simbolizavam essa consagração. Efeito semelhante tinham as séries de juramentos auto-maldizentes (cons. v. 15 e segs.).

27:5 Ali edificarás um altar. Para as ofertas sacrificiais, levantou-se um altar especial em Ebal. É possível que o monte da maldição fosse escolhido por causa da economia mosaica que, em sua ênfase característica, foi uma ministração de morte e condenação (cons. II Co. 3:7-9), embora, tal como um mestre-escola, conduzisse os homens à graça de Cristo. Ou possivelmente o altar devia ser erigido no Ebal porque a paz da aliança viria através da imposição das maldições sobre o Servo-Remidor, sacrificado pelos pecados do povo de Deus. O altar devia ser feito de pedras não trabalhadas, de acordo com a exigência do Livro da Aliança (Êx. 20:25). Claramente a lei deuteronômica do altar central permanente não tinha a intenção de repudiar a lei do altar do Livro da Aliança. Nem o princípio da centralização do altar era tão absolutamente restritivo que não se pudesse levantar um altar especial para ocasiões extraordinárias (veja coment. sobre 12:4-14).

27:9, 10 No meio das instruções relativas ao estágio posterior do processo de renovação, foi feito um solene lembrete de que o controlo convencional já entrava em vigor no dia da proclamação deuteronômica.

27:11-26 Seis tribos descendentes de Lia e Raquel, as esposas de Jacó, deviam subir as encostas da montanha da bênção e duas de semelhante origem – a tribo de Rúben, que perdeu o direito à primogenitura por causa do pecado do incesto (Gn. 49:4; cons. Dt. 27:20), e a tribo de Zebulom, o filho mais jovem de Lia – deviam se juntar às quatro tribos que desciam da encosta do monte da maldição (vs. 12,13). Não ficou declarado se os dois grupos de tribos deviam desempenhar seus respectivos papéis de maldição e bênção simplesmente recebendo a fórmula da bênção ou da maldição que se lhes dirigia, ou recitando-as, ou pelo menos concordando com elas. No capítulo 28 surgem grupos combinados de seis bênçãos (vs. 3.6) e seis maldições (vs. 16-19); parece difícil dissociá-las destes dois grupos de seis tribos. Ao que parece, Josué leu Deuteronômio 28 diante de toda a assembléia de Israel como parte de toda a renovação do tratado (cons. Js. 8: 34, 35).

A arca da aliança e os sacerdotes levitas deviam ficar entre o Ebal e o Gerizim (Dt. 27:14; cons. Js. 8:33). Deviam orientar Israel no juramento de ratificação, consistindo em uma série de doze auto-maldições (Dt. 27:15-26). A repetição do Maldito identifica o destino daquele que violasse a aliança com o da serpente (cons. Gn. 3:14). O amém da resposta era a fórmula costumeira de aquiescência (cons. Nm. 5:22; I Reis 1:36; Ne. 5:13; 8:6; Sl. 72:19). O fato de que, nesta passagem, só se dão maldições e não bênçãos, indica que este não é um registro detalhado da proclamação de bênçãos e maldições pelos dois pares de seis tribos mencionados em Dt. 27:12, 13. Uma indicação semelhante encontramos no fato dos versículos 15.26 serem dirigidos a todos os israelitas e receberem deles a resposta (v. 14). Esta seção descreve, antes, um aspecto separado da cerimônia da aliança, o juramento propriamente dito, que caracteristicamente tomava a forma de auto-maldição condicionais, mas não bênçãos. Em contraste com as maldições do capítulo 28, os diversos membros desta série diferem não na variedade da maldição mas na espécie do pecado. A área da transgressão incluída é a dos pecados secretos prováveis de escaparem à percepção e castigo humanos (observe espec. 27:15, 24; cons. Jó 31:24 e segs.) e, portanto, dentro da esfera judicial de Deus como Testemunha divina do juramento. São amaldiçoados aqueles que secretamente violam as exigências divinas do respeito a Deus (v. 15), às autoridades de direito (v.16), à vida humana (vs. 24,25) e, em resumo, à aliança de Deus (v. 26).

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