Interpretação de 2 Samuel 21
2 Samuel 21
IV. Os Últimos dias de Davi. 21:1 – 24:25.
2 Samuel 21
A. A Fome. 21:1-14.
1. Uma fome. Ezequiel 14: 21 faz uma lista de espada
(guerra), fome, bestas-feras e peste como os quatro maus (pesados) juízos de
Deus pelos pecados de Jerusalém. Em I Reis 8:35-37, Salomão refere-se ao céu
sem nuvens que poderia resultar em fome por causa dos pecados do seu povo. Não
sabemos a época precisa desta fome. “Em dias de Davi” poderia se referir a
qualquer período durante o seu longo reinado. Alguns a colocam depois que Davi
travou relações com Mefibosete (cons. v. 7), mas antes da rebelião de Absalão. Sobre
Saul. Parece que Saul recusou-se a reconhecer o tratado feito por Josué com
os gibeonitas (Js. 9), e, em seu zelo por seu próprio povo, condenou à morte
alguns destes amorreus remanescentes. Isto constituiu violação à aliança e
tinha de ser considerado como homicídio não expiado, o qual, de acordo com Dt.
21:7-9, contaminava a terra.
3. Que resgate
vos darei. Davi perguntou
aos gibeonitas o que eles aceitariam para desfazer a injúria. O significado
literal do verbo hebraico para “resgatar” é cobrir. Esta “cobertura”
servia para esconder a ofensa aos olhos da pessoa ofendida, e afastar a culpa
do ofensor diante dos olhos de Deus que é o vingador do erro. O resgate podia
ser feito por meio de dinheiro, que deu lugar a expressão “dinheiro de sangue”,
ou pela aplicação da lei da vingança. Se neste caso fosse usado este último
método, Davi teria que dar aos gibeonitas o mesmo número de homens que Saul
executara. Podiam ser homens que tivessem caído no desfavor na corte de Davi ou
homens escolhidos por sorte. Contudo, os gibeonitas não ficariam satisfeitos
com algo menos que a vingança contra a famÍlia de Saul. Eles acusaram Saul de
tentar exterminá-los (uma política antiga para invalidar a lei da vingança).
Queriam que seus descendentes fossem tratados exatamente como ele os tratara
(cons. v. 5). Esta exigência de justiça exata estava de acordo coma legislação
de Nm. 35:31, 32, a qual insiste que a vida humana seja considerada seriamente.
O pagamento em dinheiro pelo homicida à família do morto era um precedente
perigoso, que poderia ser abusado pelos ricos. Homens com dinheiro poderiam
contornar a situação.
6. Sete homens. Sete devia ser o número exato de
gibeonitas executados por Saul; ou, muito provavelmente, era um número sagrado,
sendo os homens escolhidos para serem executados em solene ritual “diante do
Senhor”. Esta execução, contudo, não era um sacrifício para suplicar a Deus que
mandasse chuva, mas era um caso de retribuição judicial.
8. Rispa. Uma concubina de Saul. Is-Bosete uma vez
acusou Abner de ter relações ilícitas com Rispa na tentativa de tomar o trono
de Saul em seu (de Is-Bosete) lugar. Esta acusação levou Abner a transferir sua
lealdade para a casa de Davi. Filhos de Merabe (Mical). Isto constitui um
problema. De acordo com o registro bíblico, Mical morreu sem filhos porque Davi
afastou-se dela. Sua atitude para com o seu marido em relação ao sacerdócio e a
arca da aliança provocaram um relacionamento tenso. Ele não se divorciou dela,
mas deu-lhe uma habitação especial e não manteve mais com ela relacionamento
conjugal. O Targum reconheceu este problema-e sugeriu que Mical criou os cinco
filhos de Merabe, sua falecida irmã, os quais Merabe teve com Adriel. Meolatita.
Isto é, de Abel-Meolá, uma cidade no vale do Jordão, peno de Betesã, famosa por
ter sido o lugar do nascimento de Eliseu (I Reis 19:16).
10. Rispa...tomou
um pano de saco, e o estendeu . . . sobre uma penha. Rispa tomou um pano, fez uma tenda, e se
colocou ali de abril até outubro, até que vieram as chuvas de outono em sinal
de que o pecado da família de Saul fora expiado e que nenhuma reclamação
posterior poderia ser feita contra a vida de sua família. Era contrário à lei
de Dt. 21:23 permitir que um corpo ficasse pendurado de um dia para outro, mas
esta lei foi ignorada no presente caso.
13. E ajuntaram
também os ossos dos enforcados. Davi
comoveu-se diante da devoção materna de Rispa. Para mostrar que ele
pessoalmente não hostilizava a casa de Saul, desenterrou os restos mortais de
Saul e Jônatas das sepulturas que lhes foram dadas pelos homens de
Jabes-Gileade, e fez-lhes um sepultamento decente no sepulcro de sua família em
Zela. Este lugar foi citado entre as cidades de Benjamim em Js. 18:28, mas
ainda não foi identificado. Beih Jala, perto de Belém, tem sido sugerida, mas
esta não fica em Judá, nem em Benjamim. Estranho que o sepultamento de Saul não
fosse feito em Gibeá, sua cidade natal.
B. Façanhas Heróicas. 21:15 -22.
16. Descendia dos
gigantes. A palavra para os
descendentes foi usada em Nm. 13:22, 28 em relação aos filhos de Enaque, os
gigantes da terra no período da Conquista. O hebraico gigante, Rapha,
não é o nome de um indivíduo. É um termo coletivo usado em relação aos refains,
uma raça de gigantes que habitavam a Palestina em um período primitivo e deram
a um vale perto de Jerusalém o nome de “Vale dos Refains”. A Vulgata diz Arapha,
de onde surge Harapha, o nome do gigante apresentado em Samson
Agonistes de Milton.
17. Apagues a
lâmpada de Israel. Era
uma metáfora para a mudança da luz da prosperidade para as trevas da
calamidade. Em linguagem moderna, esses homens queriam que Davi continuasse
carregando a tocha de Israel.
19. Elanã. . .
feriu (o irmão de) Golias. O irmão está
faltando no Texto Massorético. Acrescentou-se (K.J.V.) com base na narrativa
paralela em I Cr. 20:5. Alguns comentaristas supõem que a narrativa de Samuel
conserva a tradição mais antiga e que somente mais tarde a morte de Golias foi
atribuída a Davi. Não encontramos, contudo, nenhuma séria dificuldade em supor
que houvesse um outro homem de grande estatura chamado Golias, além daquele que
Davi matou. Há um outro Elanã de Belém mencionado em II Sm. 23:24. Alguns
(cons. Targum e Jerônimo) têm tentado identificar Elanã (aquele a quem Deus
concede favor) com Davi. Mas não há provas suficientemente fortes para
sustentar esta idéia.
20.
Seis dedos. Não era uma deformidade
fora do comum antigamente, nem hoje em dia. Plínio mencionou tal peculiaridade
em sua História Natural. De acordo com Lv. 21:18, alguém que tivesse uma
deformidade assim ficava excluído do serviço do templo.
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