Provérbios 26: Significado, Teologia e Exegese

Provérbios 26

Provérbios 26 dedica-se predominantemente a caracterizar o tolo e o preguiçoso, usando comparações vívidas e, por vezes, humorísticas, para ilustrar a futilidade de tentar raciocinar com eles ou a tolice de seus próprios caminhos. A mensagem geral do capítulo enfatiza que certas pessoas são intrinsecamente resistentes à sabedoria e ao esforço, e que a melhor abordagem para com elas é reconhecer suas limitações, evitar envolvimento em suas loucuras, e proteger-se de seus comportamentos destrutivos. Ele também aborda o mentiroso e o hipócrita, revelando suas intenções ocultas e o destino de suas falsidades. No hebraico original, o capítulo faz uso extensivo de símiles e metáforas, tornando as descrições dos tolos e preguiçosos particularmente memoráveis.

O uso frequente do paralelismo sinonímico (reiterando a mesma ideia com palavras diferentes) e do sintético (expandindo a ideia) serve para reforçar a imutabilidade de certas características e a inutilidade de certas ações. Esses ensinamentos encontram paralelo no Novo Testamento, que também adverte contra a insensatez e a ociosidade, e exorta os crentes a serem sábios na forma como se comportam e a evitar disputas inúteis (Efésios 5:15-16; 2 Tessalonicenses 3:10-12; Tito 3:9). A sabedoria aqui não é apenas sobre o que fazer, mas também sobre quem evitar e como não ser.

📝 Resumo de Provérbios 26

Provérbios 26 inicia descrevendo a futilidade de honrar o tolo e sua persistência na loucura. Nos Pv 26:1–3, o texto afirma que honrar um tolo é tão inadequado quanto a neve no verão ou a chuva na colheita. Uma maldição sem causa não se concretizará. O chicote é para o cavalo, o freio para o jumento, e a vara para as costas do tolo.

Já nos Pv 26:4–8, a sabedoria aconselha sobre como responder (ou não) ao tolo. Não responda ao tolo conforme a tolice dele, para que você não se torne igual a ele. Responda ao tolo conforme a tolice dele, para que ele não se considere sábio. Aquele que envia mensagens por meio de um tolo está cortando os próprios pés e bebendo a própria desgraça. As pernas do coxo pendem inutilmente, e assim é um provérbio na boca dos tolos. Dar honra a um tolo é como atar uma pedra na funda.

No que se refere aos perigos do tolo e a persistência de sua tolice, em Pv 26:9–12, como um espinho que entra na mão de um bêbado, assim é um provérbio na boca dos tolos. O arqueiro fere a todos indiscriminadamente, e assim é quem contrata um tolo ou um passante. Como um cão que volta ao seu vômito, assim o tolo repete sua tolice. Você vê um homem que se considera sábio? Há mais esperança para um tolo do que para ele.

Em seguida, nos Pv 26:13–16, a sabedoria aborda a preguiça e a autoenganos. O preguiçoso arranja desculpas, dizendo que há um leão no caminho ou um leão nas ruas. Como uma porta gira em suas dobradiças, assim o preguiçoso se vira na sua cama. O preguiçoso enfia a mão no prato, mas acha difícil levá-la de volta à boca. O preguiçoso se julga mais sábio do que sete homens que respondem com bom senso. Ainda sobre a intromissão e a irresponsabilidade, em Pv 26:17–19, a sabedoria adverte que quem se intromete em contendas alheias é como quem pega um cão pelas orelhas. Como um louco que lança brasas, flechas e morte, assim é o homem que engana seu próximo e depois diz: “Eu estava apenas brincando!”.

Os provérbios seguintes, nos Pv 26:20–23, tratam da fofoca e da hipocrisia. Onde não há lenha, o fogo se apaga; e onde não há caluniador, a contenda cessa. Como carvões sobre brasas e lenha sobre fogo, assim é o homem contencioso para acender a briga. As palavras do caluniador são como doces, e elas descem até as partes mais profundas do coração. Lábios que ardem com maldade, mas com um coração hipócrita, são como escoria de prata sobre um vaso de barro.

Finalmente, o capítulo conclui com a traição oculta e a queda do enganador. Nos Pv 26:24–28, aquele que odeia se disfarça com os lábios, mas no seu interior nutre engano. Embora ele fale com doçura, não acredite nele, pois há sete abominações em seu coração. Embora seu ódio se oculte com dissimulação, sua maldade será revelada na congregação. Quem cava uma cova cairá nela, e quem rola uma pedra, ela voltará sobre ele. A língua mentirosa odeia aqueles que fere, e a boca lisonjeira causa ruína.

📖 Comentário de Provérbios 26

Provérbios 26.1, 2 A neve no verão era um acontecimento extremamente incomum em Israel. A chuva na sega era não só incomum como um desastre, porque chover naquela época destruiria as plantações. Esses dois provérbios não estão relacionados em termos de conteúdo, mas provavelmente estão juntos por causa de sua forma. Como fica óbvio na tradução, ambos começam com dois pontos de comparação no primeiro cólon e depois continuam com o objeto de instrução no segundo cólon.

O primeiro verso oferece “neve no verão” e “chuva na colheita” como comparações a um tolo com honra. Em outras palavras, um tolo com honra é impossível. Os verões na Palestina são quentes e secos. A colheita é uma época sem chuva. Os tolos não têm honra, ou pelo menos nenhuma honra que mereçam. De fato, a comparação pode implicar que, caso a neve caísse no verão ou a chuva na colheita, isso causaria grandes danos. Afinal, a única vez na Bíblia em que choveu durante a colheita foi por intervenção divina e, quando veio, ameaçou causar grande dano à colheita (1 Sam. 12:17–25).

O segundo verso apresenta “pássaros velozes” e “andorinhas voadoras”. Certamente, essas descrições são um pouco mais ambíguas do que as do primeiro ponto, mais difíceis de entender sem recorrer ao segundo ponto. A segunda vírgula fala de uma “maldição sem razão”. Isso deve significar uma maldição imerecida. O antigo Oriente Próximo conhecia maldições que assumiam padrões formais e ritualísticos. Alguns, mesmo em Israel, podem ter se convencido de que uma maldição funcionava apenas pelo poder das palavras, independentemente de seus merecimentos. Este provérbio teria sido reconfortante para uma pessoa que maldições imerecidas realmente não teriam efeito.

Provérbios 26.3 O cavalo, bem como o jumento, precisa de algum mecanismo de controle para exercer alguma tarefa. Como o tolo não tem nenhuma motivação interior para nada, nem mesmo intelecto para ser dirigido pela razão, precisa também da vara [punição ou ameaça de punição] para fazer algo direito.

Este versículo é semelhante, embora não idêntico, em sintaxe aos dois anteriores. Considerando que vv. 1 e 2 forneceram símiles explícitos na primeira vírgula, que então foram comparados ao objeto de ensino na segunda vírgula, aqui os pontos de comparação são simplesmente listados. O objetivo do ensino no presente versículo é a vara nas costas dos tolos. Em comparação com um chicote para o cavalo e uma rédea para o burro, a ideia é certamente que a única esperança de fazer os tolos irem na direção certa é o uso de uma vara. “Por implicação, um tolo é um animal estúpido.” [Clifford, Proverbs, p. 231.] Em outro lugar, no entanto, até mesmo a vara da disciplina é vista como infrutífera quando aplicada aos tolos. Eles simplesmente estão decididos a ir na direção errada.

Provérbios 26.4, 5 Há quem tenha chamado os dois provérbios de contraditórios, mas não necessariamente o são. A expressão segundo a sua estultícia aparece duas vezes em um jogo de palavras com duas vertentes de sentido. Por um lado, significa evitar a tentação de rebaixar-se ao nível dele, ou seja, não empregar seus métodos, para que também não te faças semelhante a ele. Por outro, significa evitar a tentação de ignorá-lo completamente, ou seja, reagir de alguma forma, para que o tolo não pense que é sábio aos seus próprios olhos e alimente a sua insensatez.

O Talmud observa o que parece ser uma contradição aqui, e esses versículos fornecem evidências para um problema essencial que lança dúvidas sobre a autoridade canônica do livro de Provérbios. A pergunta pode ser colocada de forma incisiva : Os Provérbios aconselham que o sábio deve responder ao tolo ou não?

Este par de provérbios é a principal evidência que leva ao entendimento adequado do gênero provérbio. Os provérbios não são leis universalmente verdadeiras, mas princípios circunstancialmente relevantes (ver “Gênero” na introdução). Em suma, a resposta depende da natureza do tolo com quem se está conversando. Em outras palavras, o sábio deve avaliar se este é um tolo que simplesmente drenará sua energia sem resultados positivos ou se uma resposta será frutífera para o tolo ou talvez para aqueles que ouvem. O sábio não apenas conhece o provérbio, mas também pode ler as circunstâncias e as pessoas com quem dialoga.

Provérbios 26.6-11 A expressão como o cão que torna ao seu vômito (v. 11) revela que o tolo não aprende com os próprios erros. O apóstolo Pedro citou este versículo e aplicou-o aos falsos mestres (2 Pe 2.22).

Provérbios 26:6–7 Esses dois provérbios fornecem metáforas para o discurso dos tolos. O provérbio no v. 6 parodia a estupidez de enviar uma mensagem por meio de um tolo. Isso é comparado em primeira instância a “cortar os pés de alguém”. Talvez isso sugira que a mensagem nunca será entregue. Em segundo lugar, é comparada a “beber violência”, o que pode sugerir que aquele que enviou a mensagem será prejudicado pela incompetência de quem a leva. Precisamente como o dano ocorrerá não é especificado, mas pode ocorrer de várias maneiras. Talvez uma mensagem perdida, a natureza distorcida da mensagem como foi entregue ou até mesmo a maneira desrespeitosa com que um tolo pode entregar uma mensagem - qualquer uma dessas coisas pode levar o destinatário pretendido a buscar vingança. Talvez simplesmente o fato de a mensagem não ser entregue ou ser entregue de forma negativa leve a alguma resposta ruim ou não resposta, o que pode prejudicar financeiramente o remetente. Pode-se comparar esta advertência sobre o mensageiro tolo com 10:26, que satiriza o mensageiro preguiçoso, um tipo de mensageiro tolo.

O segundo provérbio fala de um tipo diferente de ato de fala. Em vez de uma mensagem, este provérbio fala de um provérbio na boca de um tolo. Essa pessoa pode conhecer o provérbio, mas como os provérbios só são verdadeiros ou úteis se proferidos no contexto certo para a pessoa certa, seu conhecimento e uso serão tão ineficazes quanto as pernas de uma pessoa paralisada. Por exemplo, pode-se conhecer os provérbios expressos em Prov. 26:4–5, mas se alguém não consegue dizer com que tipo de tolo está falando, então o conhecimento desses provérbios não ajudará a pessoa.

Provérbios 26:8 A primeira vírgula deste provérbio é extremamente difícil de traduzir. A única palavra certa é “pedra”, então não há muito em que basear uma certa interpretação. A primeira palavra é ṣĕrôr, que aqui extraímos de ṣĕrôr I, semelhante a Prov. 7:20. No entanto, notamos a possibilidade de que poderia ser ṣĕrôr II, “pedrinha”. A terceira palavra é margēmâ, que aparentemente é derivada de rgm, “apedrejar, atirar pedras”. Nós aqui seguimos as traduções gregas e modernas como a NIV e a tomamos como “estilingue”.

Uma vez que numerosas possibilidades de interpretação são plausíveis, não é de surpreender que vários comentários ofereçam outras interpretações do versículo. Murphy, por exemplo, traduz: “Como amarrar uma pedra em uma funda, assim aquele que dá honra a um tolo”. Se alguém amarrar uma pedra em uma funda, ela não pode ser lançada. A Bíblia de Jerusalém traduz: “Como um saco de pedras [preciosas] em uma pilha de pedras” - mas ʾeben significa apenas pedras preciosas em Zc. 3:9, onde o contexto torna esse significado claro.

De qualquer forma, é difícil ser dogmático sobre o ponto de comparação com dar honra a um tolo. No entanto, o ponto principal do versículo é claro: dar tal honra é uma coisa estúpida de se fazer (26:1). É pouco mais que um palpite, mas entendo o versículo para falar sobre colocar um saco inteiro de pedras na funda, em vez de uma. Em tal situação, as pedras iriam para todos os lugares ao invés do caminho pretendido e, portanto, seriam ineficazes ou talvez até prejudiciais.

Provérbios 26:9 Embora não tenha a mesma forma gramatical do verso anterior, este provérbio também nos convida a comparar os dois pontos 1 com os dois pontos 2. Devemos perguntar como um espinheiro na mão de um bêbado é como um provérbio na boca de um tolo, e ao contemplarmos a comparação, concluímos que está dizendo algo semelhante a 26:7. Assim, um tolo pode ser capaz de aprender um provérbio, mas não será capaz de aplicá-lo à circunstância certa. Enquanto o v. 7 sugere que tal situação torna o provérbio ineficaz, este aponta que pode ser realmente perigoso. Um espinheiro na mão de um bêbado pode cortar essa mão e talvez até machucar alguém próximo. O mesmo é verdade com um provérbio mal aplicado. O tempo é tudo quando se trata da verdade de um provérbio (veja “Gênero” na introdução).

Existem algumas incertezas com este provérbio, mas parece-me que muitos comentaristas recorrem a emendas bastante incertas para obter, na melhor das hipóteses, uma tradução igualmente incerta. Por exemplo, a NRSV, apoiada por Van Leeuwen, [“Proverbs,” p. 225.] emenda o segundo “contratar” (śōkēr) para “bêbado” (šikkōr), traduzindo assim: “Como um arqueiro que fere todo mundo é aquele que contrata um tolo ou bêbado que passa.” Uma vez que isso é igualmente especulativo, se não mais, do que o hebraico como o temos, fico com o texto massorético.

A comparação aqui tem a mesma estrutura gramatical do verso anterior, os dois itens sendo simplesmente colocados um ao lado do outro. Nesse caso, os objetos do ensino são aqueles que contratam um tolo ou alguém que está apenas de passagem. Já conhecemos bem o tolo e entendemos porque alguém que contrata tal pessoa pode estar espalhando o mal (o ponto da comparação do arqueiro). Os tolos não farão o trabalho ou, se o fizerem, o farão de maneira incorreta. O problema de contratar um transeunte é que não se conhece a natureza da pessoa empregada e, portanto, também corre-se o grande perigo de causar estragos.

Provérbios 26:11 Uma das características dos tolos é a falta de vontade de ouvir a correção. Eles cometem erros, mas como não ouvem críticas, estão fadados a repetir esses erros. Por isso, são comparados a um cachorro que vomita e depois come o próprio vômito. A presunção é que o cachorro vomita porque a comida não combina com ele. Apesar disso, come-o de novo! Segunda Pedro 2:22 faz uso dos dois primeiros pontos para se referir a falsos mestres dentro da comunidade cristã. Eles conheciam “o caminho certo para viver” (2:21 NLT), mas depois o rejeitaram, voltando assim ao seu antigo estilo de vida.

Provérbios 26.12 Ser altivo é pior ainda do que ser tolo. Alimentar o ego e o cumulo da loucura (Pv 28.11). Provérbios deixa claro desde o início (1:7) que a única verdadeira sabedoria é a sabedoria de Deus (veja “Abraçar a Sabedoria da Mulher” na introdução). Os seres humanos não são inerentemente sábios, então é a arrogância suprema pensar-se sábio (3:5, 7; 27:1; 28:11, 26). Humildade, não orgulho, é uma qualidade dos sábios.

O tolo que se julga sábio: um alerta de Provérbios 26:12 sobre a falta de esperança para a mudança.
Mais vale um tolo que reconhece sua ignorância,
pois este ainda pode ser ensinado, do que um “sábio” que acha saber de tudo, como ensina Provérbios 26.

A triste natureza dessa auto-sabedoria é que há menos esperança para tais pessoas do que para um tolo. Bem, alguém pode muito bem responder que aqueles que são sábios a seus próprios olhos são tolos, mas aqui o provérbio está dizendo que eles são ainda piores do que tolos. Ver a estrutura semelhante no provérbio encontrado em 29:20.

Provérbios 26.13-16 Estes versículos acerca da preguiça — um tema que recorre em muitas partes das Escrituras (Pv 19.15) — tem um quê de exagero que cria alívio cômico. Cada um deles ressalta as inúmeras desculpas esfarrapadas que, muitas vezes, os preguiçosos usam para se justificarem.

Provérbios parodia a preguiça mais do que qualquer outra forma de tolice (veja “Preguiça e trabalho duro” no apêndice). Esse comportamento incomoda os sábios trabalhadores ao extremo. Aqui temos uma coleção de quatro provérbios separados, alguns dos quais virtualmente repetem exemplos anteriores, que formam uma intensa crítica à preguiça.

O versículo 13 é idêntico a 22:13 em conteúdo e muito próximo em termos reais. O provérbio ridiculariza as pessoas preguiçosas por usarem desculpas esfarrapadas para evitar o trabalho. Embora seja verdade que os leões podiam ser encontrados na Palestina nessa época, eles não eram tão numerosos que pudessem ser uma desculpa legítima para não sair de casa. Nesse caso, o “leão” de 22:13 é substituído por “filhote de leão”, uma ameaça menos formidável, nos dois pontos 1. O segundo cólon menciona o leão adulto.

O segundo provérbio (v. 14) zomba da propensão dos preguiçosos a passar muito tempo na cama. Eles são fixados na cama como uma porta em um encaixe e giram na cama como uma porta girando em um encaixe. Eles podem se mover, mas não vão a lugar nenhum; eles não fazem nenhum progresso. Ao zombar dos preguiçosos dessa maneira, o sábio está tentando motivar os jovens a quem ele instrui a evitar esse comportamento inadequado.

O terceiro na lista (v. 15) é quase uma repetição de 19:24; há simplesmente uma ligeira mudança na gramática e na sintaxe. Veja o comentário lá. O problema com as pessoas preguiçosas, e provavelmente a razão pela qual perpetuam seu comportamento autodestrutivo, é que elas são “sábias aos seus próprios olhos” (veja também 3:7; 26:12). Como tal, eles não estão dispostos a ouvir as críticas de outras pessoas. De fato, aqui eles reivindicam uma sabedoria sétupla, que eles são mais sábios do que sete (o número simbólico para “sem fim” ou “muitos”) pessoas com discernimento.

Provérbios 26.16, 17 O problema de tomar um cão pelas orelhas é que o cachorro provavelmente não vai gostar e vai morder você. O mesmo vale quando se envolve na briga de outros. E invasão de privacidade.

Provérbios 26.18-21 A fogueira não queima sem combustível. As rixas [brigas] funcionam do mesmo jeito.

Provérbios 26:17–19 Esses dois provérbios (vv. 18–19 constituem um único ditado) fornecem analogias para o comportamento tolo que irrita as pessoas desnecessariamente. O primeiro provérbio simplesmente coloca as duas partes da analogia lado a lado, mas o segundo usa a partícula comparativa (kĕ) para criar um símile. Neste último, o v. 18 fornece a comparação, enquanto o v. 19 apresenta o objeto da comparação.

O primeiro provérbio (v. 17) ridiculariza aqueles que se envolvem em uma briga da qual não fazem parte. É obviamente estúpido puxar as orelhas de um cachorro. Para dar sentido ao provérbio, no entanto, o cão deve ser entendido como mau, de modo que tal comportamento certamente o faria morder. A comparação sugere que aqueles que se metem em uma briga da qual não fazem parte estão pedindo a mesma consequência. Ambas as partes podem se voltar contra a pessoa que tenta intervir para ajudar ou tomar um dos dois lados. A comparação é uma constatação, mas certamente funciona como um alerta.

O segundo provérbio (vv. 18–19) considera ainda outra situação: quando as pessoas enganam quem está próximo a elas e depois afirmam que foi uma brincadeira. Pelo contexto, não está claro se a alegação de que eles estavam brincando vem antes ou depois que o engano é descoberto. Certamente, se a admissão viesse depois, a alegação de estar brincando seria ainda mais fraca. Nesse caso, seu discurso inicia uma guerra. Pode-se também atirar em vizinhos com flechas flamejantes mortais. Certamente, resultará na morte de qualquer tipo de relacionamento que possam ter com seus vizinhos.

Provérbios 26:20–22 Esses três provérbios estão vagamente relacionados. O primeiro e o terceiro provérbios são unidos por falar da fofoca (nirgān). A primeira e a segunda destacam que são as pessoas que fazem as brigas: elas não acontecem espontaneamente. O primeiro faz o ponto negativamente, o segundo positivamente. Esses dois provérbios também estão unidos pela repetição do substantivo mādôn, traduzido “conflito” no v. 20 e “contencioso” no v. 21.

O versículo 20 apresenta uma analogia. No primeiro cólon, deixa claro que não se pode fazer fogo sem lenha. O segundo ponto afirma que o conflito está ausente quando não há fofocas. As fofocas criam conflitos porque secretamente contam histórias negativas sobre as pessoas. Quando essas pessoas ou seus amigos descobrem que são o alvo da conversa negativa das pessoas, eles ficam bravos.

Este ponto é relatado de forma positiva no v. 21. Algumas pessoas simplesmente gostam de provocar brigas; o provérbio se refere a eles como pessoas contenciosas. Se estiverem presentes, é como empilhar carvão novo em cima de uma fogueira. Isso só vai atiçar as chamas. O último versículo da seção também fala de fofocas, mas como esse versículo é uma repetição de 18:8, o leitor pode consultar o comentário nesse ponto.

Provérbios 26.22 O caluniador vê as suas palavras como guloseimas, deliciosos bocados de intriga. Muita gente tem apetite insaciável por fofocas maliciosas.

Provérbios 26.23 O significado deste provérbio não está distante das declarações de Jesus a Seus inimigos de que eram como sepulcros caiados (Mt 23.27). Mesmo a melhor pintura numa fachada não disfarça um interior pútrido.

Provérbios 26.24-27 O rancoroso não fala como quem odeia. Enquanto guarda raiva no seu interior, professa amar e preocupação por outrem. Sua declaração, porém, é hipócrita. A sua malícia se descobrirá na congregação. Quando lamentamos a injustiça da prosperidade do ímpio e comparamos nossa situação com a dele, precisamos manter em vista o Salmo 73.17. Seu destino há de compensar-lhe muito bem pelo mal que praticaram (Rm 6.23).

Provérbios 26:23–26 Todos os quatro destes provérbios falam de discurso dissimulado. Os ímpios dizem coisas boas, mas na verdade querem fazer mal. Esses provérbios servem como advertências para não aceitar o que as pessoas dizem pelo valor de face.

O primeiro provérbio apresenta seu ensinamento de forma imaginativa. Começa descrevendo como a prata pode cobrir o barro para produzir um belo jarro. No entanto, a prata é apenas fina como papel e, uma vez que se penetra no interior, vê-se que a prata dá lugar à argila comum. A superfície dá a ilusão de um vaso completamente prateado, mas essa não é a realidade. O mesmo se aplica ao discurso suave de alguém com más intenções. A nota de rodapé da tradução do v. 23 indica que alterei o texto de “queimando” para “suave”, de acordo com a versão grega, que parece fazer mais sentido. No entanto, devo reconhecer que “ardente” pode significar “fervoroso”.

A referência pode, portanto, ser para alguém que está expressando fervorosamente afeto, mas sentindo ódio por baixo. Se assim for, no entanto, o ditado é bastante ambíguo, pois “fervoroso” não seria necessariamente positivo. O segundo provérbio (v. 24) segue na mesma direção do primeiro, mas o faz com uma afirmação mais direta. Caracteriza aqueles que odeiam frequentemente escondendo suas emoções. Eles dissimulam, provavelmente dizendo coisas boas, enquanto por dentro seu ódio queima. Esse tipo de dissimulação é perigoso porque você encontrará um ataque vindo do nada, talvez de alguém que se pensa ser um aliado ou amigo.

O terceiro provérbio (v. 25) vai da observação ao conselho. É um chamado para ser cético ou crítico em relação ao discurso dos outros. Esteja sempre procurando por sinais de que os outros não estão refletindo honestamente seus verdadeiros sentimentos. Essa falta de confiança é baseada em como eles realmente são por dentro. Aqui, a forte declaração sobre “sete abominações” é usada. Em primeiro lugar, “sete” é um número simbólico que representa “conclusão ou abundância”. Portanto, eles são totalmente abomináveis. O termo “abominação” tem sido usado com frequência até agora na expressão “abominação para o Senhor” (tôʿăbat Yhwh: 3:32; 11:20; 12:22; 15:8, 9, 26; 16:5; 17:15; 20:10, 23). Indica a máxima censura divina contra algo. Ofende o “ritual ou ordem moral” de Javé. [NIDOTTE 4:314.] A lista de coisas abomináveis inclui “perversidade, deturpação, engano, hipocrisia, maldade e orgulho”. [Ibid., 4:317.] Como aponta Van Leeuwen, a linguagem da frase “ecoa os códigos legais de Israel (Levítico 19:35–37; Deuteronômio 25:13–15) e a condenação profética da ganância comercial e engano (Ezequiel 45:10; Oséias 12:7–8; Amós 8:5; Miqueias 6:11). [Van Leeuwen, “Proverbs,” p. 117.]

O último provérbio (v. 26) indica que, embora as pessoas possam esconder seus verdadeiros pensamentos por um tempo, eles acabarão revelando-se em público. Há alguma ambiguidade no provérbio, no entanto. Este provérbio está dizendo que a verdade sairá em detrimento do enganador? Na verdade, parece mais provável que o provérbio adverte que, embora essas pessoas possam esconder com sucesso suas intenções prejudiciais em particular, elas estão apenas esperando para ir a público a fim de voltar seu discurso contra os outros para prejudicá-los.

Provérbios 26:27 Este provérbio não parece relacionado com o que ocorre antes ou depois dele. Expressa a ideia de que aqueles que tentam ferir os outros serão feridos a si mesmos e por suas próprias ações prejudiciais. A ideia de que os ímpios serão prejudicados por suas próprias ações dirigidas aos outros aparece com alguma regularidade no livro (ver 1:18–19; também Sl. 7:4–5 [5–6 MT]; Ecles. 10:8). O pensamento do primeiro cólon é bastante claro: cair em um buraco cavado como uma armadilha para outra pessoa. A segunda vírgula só faz sentido se tiver um pouco de narrativa. Podemos imaginar os ímpios rolando uma pedra até o topo de uma colina, planejando jogá-la na cabeça de um transeunte. Em vez disso, quando eles o rolam para cima, seu peso prova ser demais e ele rola para trás, esmagando os ímpios.

Provérbios 26.28 A língua falsa resulta em ódio no coração. É uma fogueira inflamada pelo inferno (Tiago 3.3-6). O primeiro dois pontos simplesmente afirma que as pessoas que mentem sobre os outros odeiam as pessoas que estão tentando prejudicar. O segundo cólon mostra que uma língua lisonjeira também causa destruição. A bajulação pode ser considerada um tipo específico de mentira. Sem convicção, exagera os pontos positivos de outra pessoa. A lisonja pode ser usada para preparar uma pessoa para ser aproveitada. A lisonja também pode fazer com que aqueles que se sentem lisonjeados pensem muito bem de si mesmos e ajam de maneira prejudicial.

🙏 Devocional de Provérbios 26

Provérbios 26:1-5 (A Inapropriação da Honra ao Tolo e a Resposta Adequada ao Insensato)

Provérbios 26 inicia com uma série de comparações e advertências sobre a conduta em relação aos tolos. O versículo 1 declara: “Como neve no verão e como chuva na ceifa, assim não convém a honra ao tolo”, sublinhando que honrar um insensato é tão inoportuno e prejudicial quanto fenômenos climáticos fora de estação. O v. 2 aponta para a ineficácia de maldições imerecidas: “Como o pardal que foge e a andorinha que voa, assim a maldição sem causa não encontra pouso”, indicando que a injúria sem fundamento não alcança seu alvo. Os vv. 3-5 oferecem conselhos sobre como lidar com o tolo: “O chicote é para o cavalo, o freio para o jumento, e a vara para as costas dos tolos”. “Não respondas ao tolo conforme a sua estultícia, para que também tu não te faças semelhante a ele.” “Responde ao tolo conforme a sua estultícia, para que não seja sábio aos seus próprios olhos.”

A aplicação prática dessas verdades nos impele a discernir a quem honramos e a como respondemos aos tolos. Para o seguidor de Cristo, honrar o insensato é um erro que pode legitimar a tolice e desvalorizar a sabedoria. As maldições ou críticas injustas não têm poder sobre aqueles que andam em retidão. A resposta ao tolo exige discernimento: às vezes, o silêncio é a melhor resposta para não se rebaixar; outras vezes, uma resposta direta é necessária para expor a tolice e impedi-lo de se ver como sábio. No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a honrar as pessoas pelo seu caráter e sabedoria, e não por sua posição ou impulsividade. Eles devem também modelar a prudência ao lidar com provocações, ensinando a diferença entre ignorar uma tolice e corrigi-la quando necessário. Filhos aprendem que a honra deve ser merecida e que a sabedoria na resposta é mais importante do que a reação imediata.

No ambiente profissional, a promoção de pessoas insensatas pode gerar caos e desrespeito. Lidar com a estupidez de um colega ou cliente exige sabedoria: ignorar a insolência para não dar palco ou responder com firmeza para evitar que o erro se prolifere. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve honrar a sabedoria e a piedade, não a arrogância ou a insensatez. A prudência na repreensão é crucial, pois nem toda tolice merece uma réplica, mas algumas exigem correção para proteger a comunidade. Como cidadãos, somos chamados a discernir a quem atribuímos honra e poder na esfera pública. A ineficácia da maldição nos lembra que a justiça prevalece. A sabedoria na resposta a discursos tolos ou mentirosos é fundamental para o debate público, pois tanto o silêncio quanto a réplica excessiva podem ser prejudiciais.

Provérbios 26:6-12 (A Inconveniência do Mensageiro Tolo e a Perversidade do Orgulho)

Este bloco de Provérbios 26 continua a descrever as desvantagens de lidar com o tolo e o perigo do orgulho. O versículo 6 aponta para a auto-sabotagem de confiar no insensato: “Quem envia mensagem pelas mãos de um tolo corta os próprios pés e bebe a violência”, sublinhando que tal ação resulta em prejuízo e sofrimento. O v. 7 compara a sabedoria na boca do tolo a uma inutilidade: “Como as pernas do coxo, que pendem sem firmeza, assim é o provérbio na boca dos tolos”, indicando que o tolo não sabe aplicar ou compreender a sabedoria, tornando-a ineficaz. O v. 8 compara honrar o tolo a uma ação perigosa: “Como o que amarra a pedra na funda, assim é o que dá honra ao tolo”, sugerindo que essa honra pode se voltar contra quem a concede.

O v. 9 reafirma a inutilidade da sabedoria na boca do tolo: “Como espinho que entra na mão do bêbado, assim é o provérbio na boca dos tolos”, mostrando que a sabedoria pode até ferir o próprio tolo ou ser mal utilizada. O v. 10 descreve as consequências de empregar tolos ou bêbados: “O grande arquiteto faz todas as coisas, mas o que aluga o tolo é como quem aluga qualquer um que passa”, ou em outra tradução, “O arqueiro que fere a todos é como o que emprega o tolo ou o que emprega o bêbado”, indicando que o resultado é destruição. Finalmente, os vv. 11-12 concluem com uma forte imagem e uma condenação do orgulho: “Como o cão que torna ao seu vômito, assim o tolo torna à sua estultícia. Viste um homem que é sábio aos seus próprios olhos? Há mais esperança para um tolo do que para ele”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele a ser seletivos em quem confiamos, a evitar a autojustificação e a rejeitar o orgulho intelectual. Para o seguidor de Cristo, delegar responsabilidades importantes a pessoas insensatas pode trazer prejuízos significativos. A sabedoria divina, quando compartilhada com um coração fechado, é ineficaz. O pior tipo de tolice é a arrogância de quem se considera sábio sem o ser (Romanos 12:16). No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a confiar em pessoas prudentes e a não buscar sabedoria em fontes insensatas. Eles devem também alertar sobre a reciclagem de erros e, principalmente, sobre a vaidade de se achar sempre certo, pois essa atitude é mais perigosa que a ignorância pura. Filhos aprendem que a confiança deve ser merecida e que a humildade para reconhecer seus erros é essencial para o aprendizado.

No ambiente profissional, a delegação de tarefas críticas a indivíduos irresponsáveis ou incompetentes pode ser desastrosa. A humildade para reconhecer as próprias limitações e a abertura para o aprendizado são cruciais, pois a arrogância intelectual é um obstáculo para o crescimento e para a resolução de problemas. Na comunidade eclesiástica, a liderança deve ser exercida por pessoas sábias e maduras. A insensatez na pregação ou no ensino é prejudicial. A humildade é uma virtude essencial, e o orgulho espiritual é um dos piores males, pois impede o arrependimento e a submissão a Deus. Como cidadãos, somos chamados a ser criteriosos na escolha de quem nos representa e a quem confiamos responsabilidades públicas, pois a insensatez na liderança pode levar a grandes prejuízos. A luta contra a arrogância e a presunção, especialmente naqueles que se julgam sábios, é fundamental para uma sociedade que busca o progresso e a verdade.

Provérbios 26:13-16 (A Preguiça e a Autoilusão do Indolente)

Este bloco de Provérbios 26 foca na descrição e condenação da preguiça, expondo suas desculpas e a autoilusão do preguiçoso. O versículo 13 retrata a escusa do preguiçoso: “O preguiçoso diz: ‘Há um leão no caminho! Um leão está nas ruas!’”, ilustrando a busca por pretextos fantasiosos para evitar o trabalho. O v. 14 compara a preguiça à porta giratória: “Como a porta que se revolve nos seus gonzos, assim o preguiçoso na sua cama”, indicando a inatividade e a falta de propósito. O v. 15 descreve a inércia extrema: “O preguiçoso esconde a sua mão no prato, e o enfada levá-la de novo à sua boca”, sublinhando a indolência que chega ao ponto de privação pessoal. Finalmente, o v. 16 revela a autoilusão do preguiçoso: “Mais sábio é o preguiçoso a seus próprios olhos do que sete homens que respondem com bom senso”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele a combater a preguiça em todas as suas formas e a desmascarar a autoilusão que a acompanha. Para o seguidor de Cristo, a diligência é uma virtude que agrada a Deus (Romanos 12:11). A preguiça é um pecado que rouba oportunidades e impede o serviço ao próximo. A autojustificação do preguiçoso é uma cegueira que o impede de reconhecer a própria indolência e suas consequências. No ambiente familiar, pais devem combater a preguiça em seus filhos, não permitindo que inventem desculpas para não cumprir suas responsabilidades.

Eles devem também mostrar as consequências da inatividade e alertar sobre a autoilusão de se considerar esperto por evitar o trabalho. Filhos aprendem que a preguiça leva à falta de propósito e que a humildade para reconhecer a própria indolência é o primeiro passo para a mudança. No ambiente profissional, a preguiça e a procrastinação são grandes obstáculos à produtividade e ao sucesso. Profissionais que inventam desculpas ou que são excessivamente complacentes consigo mesmos prejudicam a equipe e a empresa. A diligência e a proatividade são qualidades essenciais. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve combater a preguiça espiritual e o comodismo, incentivando o serviço e a diligência no uso dos dons.

A autoilusão de se achar mais sábio por evitar o trabalho é um obstáculo para o crescimento na fé e no ministério. Como cidadãos, somos chamados a promover a cultura da diligência e da responsabilidade em nossa sociedade. A condenação da preguiça e o desmascaramento de suas desculpas são cruciais para o desenvolvimento econômico e social, pois a indolência leva à estagnação e à pobreza, enquanto a diligência constrói um futuro próspero.

Provérbios 26:17-23 (A Intromissão em Contendas Alheias e a Falsidade da Fofoca)

Este bloco de Provérbios 26 adverte sobre os perigos da intromissão e da fofoca, comparando-as a ações destrutivas. O versículo 17 descreve a intromissão: “Quem, passando, se mete em questão que não é sua, é como o que pega pelas orelhas um cão que passa”, sublinhando o risco de ser mordido por se envolver em brigas alheias. Os vv. 18-19 comparam o que engana ao louco: “Como o louco que atira tições, flechas e morte, assim é o homem que engana o seu próximo e diz: ‘Não fiz senão brincar!’” – revelando a irresponsabilidade de quem causa dano intencionalmente e se justifica.

O v. 20 aponta para a fofoca: “Sem lenha, o fogo se apaga; e não havendo maldizente, cessa a contenda”, mostrando que a ausência de fofoca impede a proliferação de conflitos. O v. 21 compara o brigão à lenha: “Como o carvão para as brasas, e a lenha para o fogo, assim é o homem contencioso para acender rixas”. Os vv. 22-23 falam da atratividade enganosa da fofoca e da dissimulação: “As palavras do maldizente são como petiscos, que descem ao mais íntimo do ventre. Como vasos de barro cobertos de escória de prata, assim são os lábios amorosos e o coração maligno”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele a evitar a intromissão, a não enganar, a afastar a fofoca e a ser autênticos. Para o seguidor de Cristo, a intromissão em brigas alheias pode causar mais mal do que bem. Enganar o próximo, mesmo “de brincadeira”, é um pecado grave que traz consequências sérias. A fofoca é um destruidor de relacionamentos e deve ser evitada a todo custo, pois ela alimenta a discórdia. A hipocrisia de lábios doces com um coração maligno é abominável a Deus (Mateus 15:8). No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a não se intrometer em brigas de terceiros, a não enganar e a não espalhar fofocas. Eles devem também modelar a honestidade e a autenticidade, mostrando que a sinceridade, mesmo que às vezes difícil, é sempre o melhor caminho.

Filhos aprendem que a fofoca é destrutiva e que a integridade é mais importante do que a aparência. No ambiente profissional, a intromissão em conflitos de outros pode gerar mais problemas. A honestidade é crucial, e a fofoca é um veneno para o ambiente de trabalho, causando discórdia e prejudicando a produtividade. A autenticidade e a integridade são qualidades valorizadas, pois a dissimulação é facilmente percebida. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve combater a intromissão e a fofoca que destroem a comunhão.

A honestidade e a sinceridade são esperadas dos crentes, e a hipocrisia deve ser exposta com amor. Como cidadãos, somos chamados a evitar a intromissão em questões que não nos dizem respeito e a combater a fofoca e a calúnia, que corroem a confiança social e política. A promoção da honestidade e da autenticidade na vida pública é fundamental para a saúde de uma nação, onde a sinceridade dos lábios e a pureza do coração são valorizadas acima de qualquer fachada.

Provérbios 26:24-28 (A Hipocrisia do Ódio e a Recompensa da Sinceridade)

Este bloco final de Provérbios 26 encerra o capítulo com uma forte advertência contra a hipocrisia do ódio disfarçado e as consequências da mentira. O versículo 24 descreve o ódio dissimulado: “Aquele que odeia dissimula com os seus lábios, mas no seu interior ajunta engano”. O v. 25 adverte a não confiar em tais pessoas: “Quando a sua voz se fizer suave, não te fies nele, porque sete abominações há no seu coração”, sublinhando a profundidade da falsidade e da malícia. O v. 26 revela a natureza do ódio: “Ainda que o seu ódio se encubra com engano, a sua maldade se descobrirá na congregação”, indicando que, eventualmente, a verdade virá à tona. O v. 27 compara a armadilha ao seu criador: “Aquele que cava uma cova cairá nela; e o que revolve uma pedra, ela voltará sobre ele”, mostrando que as ações maliciosas se voltam contra quem as pratica. Finalmente, o v. 28 conclui sobre a mentira: “A língua mentirosa odeia aqueles a quem aflige, e a boca lisonjeira opera a ruína”.

A aplicação prática dessas verdades nos impele a discernir a hipocrisia, a não confiar em falsidades e a viver com sinceridade, sabendo que a verdade prevalece. Para o seguidor de Cristo, o ódio disfarçado é uma forma de maldade que deve ser discernida e evitada (Mateus 7:15-20). A advertência a não confiar em palavras suaves que escondem maldade é um chamado à prudência. A certeza de que as ações maliciosas se voltam contra o maligno é um lembrete da justiça divina (Gálatas 6:7). A mentira e a lisonja com intenção de causar dano são condenáveis. No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a reconhecer a hipocrisia e a não se deixar enganar por palavras doces que escondem má intenção. Eles devem também incutir a importância da honestidade e da sinceridade em todas as interações, mostrando que a verdade sempre prevalece e que a maldade se volta contra o seu criador.

Filhos aprendem que a hipocrisia é destrutiva e que a sinceridade é a base para relacionamentos saudáveis. No ambiente profissional, a capacidade de discernir a falsidade e o ódio disfarçado é crucial para evitar armadilhas e traições. A promoção da transparência e da honestidade nas comunicações é fundamental para a confiança da equipe. Um profissional que age com integridade e que não usa a lisonja para manipular, construirá uma reputação sólida. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve pregar contra a hipocrisia e o ódio disfarçado, incentivando a sinceridade e o amor genuíno entre os irmãos.

A certeza de que o mal será exposto deve levar ao arrependimento e à correção. Como cidadãos, somos chamados a discernir a hipocrisia em discursos políticos e sociais, e a não se deixar levar por lisonjas que escondem intenções malignas. A promoção da verdade e da transparência em todas as esferas da vida pública é fundamental para a saúde democrática de uma nação, onde a justiça prevalece e o mal se volta contra seus perpetradores, e onde a língua mentirosa e a boca lisonjeira não prosperam, mas sim a sinceridade e a integridade.

✡️✝️ Comentário dos Rabinos e Pais Apostólicos

✡️ Rashi (Rabbi Shlomo Yitzchaki, séc. XI)

Provérbios 26:4 — “Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que não sejas igual a ele.”

“Rashi interpreta que este versículo adverte contra cair no mesmo nível de tolice ao responder com insensatez, evitando assim perder a dignidade.”

Comentário: Rashi ressalta a importância da prudência na comunicação, indicando que a sabedoria exige controlar as próprias reações para não se degradar.

Fonte: Rashi on Proverbs 26:4 (Sefaria)

✡️ Malbim (Rabbi Meir Leibush ben Yehiel Michel, séc. XIX)

Provérbios 26:11 — “Como o cão torna ao seu vômito, assim o tolo repete a sua estultícia.”

“Malbim observa que este versículo demonstra a natureza repetitiva dos erros do insensato, que não aprende com suas falhas.”

Comentário: A metáfora enfatiza a necessidade de autoconhecimento e arrependimento para evitar cair nos mesmos erros e perpetuar a tolice.

Fonte: Malbim on Proverbs 26:11 (Sefaria)

✡️ Midrash Mishlei (מדרש משלי)

Provérbios 26:17 — “Quem se intromete na questão alheia é como quem agarra o cão pelos pés.”

“O Midrash Mishlei usa esta imagem para ilustrar que a interferência indevida pode provocar reações violentas e desnecessárias.”

Comentário: Este versículo adverte sobre os perigos de se meter em assuntos que não dizem respeito a si, recomendando cautela para manter a paz e o respeito.

Fonte: Midrash Mishlei 26 no Sefaria

✝️ Orígenes (grego)

Provérbios 26:11 — “Ὥσπερ κύων ἐπιστρέφει ἐπὶ τὸν ἑαυτοῦ ἔμετον, οὕτως ἄφρων ἐπαναλαμβάνει τὴν ἑαυτοῦ ἀφροσύνην.”
(“Assim como o cão volta ao seu vômito, assim o insensato repete a sua tolice.”)

«Οὐκ ἀπλῶς λέγεται ὡς τοῖς ζῴοις, ἀλλὰ νουθετητικῶς, μή τις ἐν τῷ κακῷ ἐπιμένῃ καὶ ἐπαναλάβῃ τὰ ἁμαρτήματα.»
(“Não se diz apenas como aos animais, mas como advertência, para que ninguém permaneça no mal nem repita os pecados.”)

Comentário: Orígenes interpreta a imagem como um chamado à conversão contínua, evitando a recaída nos mesmos erros.

Sobre Provérbios 26:9

O pecado de todos os homens não é removido pelo Cordeiro se eles não se entristecerem nem forem atormentados até que ele seja removido. Pois, visto que os espinhos não só foram semeados, mas também se enraizaram profundamente nas mãos de todo aquele que se embriagou por causa do mal e perdeu a sobriedade, segundo o que está escrito em Provérbios: "Nas mãos do bêbado crescem espinhos". Então, o que devemos dizer, além disso, sobre a extensão da aflição que elas produzem naquele que recebeu tais plantas no corpo de sua própria alma? Pois aquele que admitiu o mal nas profundezas de sua própria alma a tal ponto que se tornou terra produtora de espinhos, tem que ser cortado pela palavra viva e eficaz de Deus, que é mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes e mais capaz de queimar do que qualquer fogo. Aquele fogo que descobre os espinhos e que, por sua própria divindade, os deterá e não incendiará as eiras ou os campos de trigo, precisará ser enviado a tal alma.
Fonte: COMENTÁRIO SOBRE O EVANGELHO DE JOÃO 6:297-98, Origenes, Homiliae in Proverbia, PG 13:820-825

✝️ Clemente de Alexandria (latim)

Provérbios 26:4-5 — “Μὴ ἀπόκριναι ἄφρονι κατὰ τὴν ἄφρονα αὐτοῦ, μήποτε ὁμοιωθῇς αὐτῷ. Ἀπόκριναι δὲ ἄφρονι κατὰ τὴν ἄφρονα αὐτοῦ, μήποτε σοφὸς ἑαυτῷ γένηται.”
(“Não respondas ao tolo segundo a sua tolice, para que não te tornes semelhante a ele. Responde ao tolo segundo a sua tolice, para que ele não se considere sábio.”)

«Ὁ σοφὸς κρίνει πότε σιγᾶν καὶ πότε λέγειν· διὰ τοῦτο, κατὰ καιρὸν μὲν σιγᾷ, κατὰ καιρὸν δὲ ἐλέγχει τὸν ἄφρονα.»
(“O sábio discerne quando calar e quando falar; por isso, ora se cala, ora repreende o insensato.”)

Comentário: Clemente sublinha o discernimento espiritual necessário para interagir com o tolo: nem sempre se deve responder, mas, quando necessário, fazê-lo com sabedoria.

Fonte: Clemens Alexandrinus, Stromata, PG 9:570-573

✝️ Eusébio de Cesareia (grego)

Provérbios 26:20 — “Ἐν τῷ ἐκλείπειν ξύλα, σβέννυται πῦρ· καὶ ἐν τῷ μὴ εἶναι συκοφάντην, κοπάζει ἔρις.”
(“Sem lenha o fogo se apaga; e não havendo caluniador, cessa a contenda.”)

«Ἐν τῷ ἀφεῖναι τὰς διαβολὰς, ἡ εἰρήνη γίνεται· ὁ γὰρ συκοφάντης, ὥσπερ ξύλον, τὴν φλόγα τῶν ἐρίδων αὔξει.»
(“Ao abandonar as calúnias, faz-se a paz; pois o caluniador, como a lenha, alimenta a chama das contendas.”)

Comentário: Eusébio compara o caluniador à lenha que alimenta o fogo, destacando a necessidade de afastar-se das intrigas para promover a paz.

Fonte: Eusebius Caesariensis, Commentarii in Proverbia, PG 23:580-585

✝️ Santo Agostinho (latim)

Provérbios 26:27 — “Qui fodit foveam, incidet in eam: et qui volvit lapidem, revertetur ad eum.”
(“Quem cava uma cova cairá nela; e quem rola uma pedra, esta voltará sobre ele.”)

«Quod quisque fecerit, hoc et inveniet. Non est iniquus Deus, ut relinquat opus improbitatis impunitum.»
(“O que cada um fizer, isto também colherá. Deus não é injusto para deixar a obra da maldade impune.”)

Comentário: Agostinho interpreta este provérbio como um princípio universal de justiça divina: as ações humanas retornam ao seu autor, seja para o bem ou para o mal.

Fonte: Augustinus, De Civitate Dei, PL 41:678-682

✝️ Beda sobre Provérbios 26:2

Pois, como um pássaro que voa para lugares altos, etc., as palavras são corretamente comparadas aos pássaros porque voam pelo ar, ecoando, da boca de quem fala aos ouvidos de quem ouve; mas diferem nisto: pode acontecer que um pássaro, voando para qualquer lugar, pouse onde não há necessidade ou utilidade para ele. No entanto, as palavras que proferimos não desaparecem e se dissipam dispersas ao vento, mas todas retornam ao seu autor, e ou beneficiam o orador, se bem proferidas, ou o sobrecarregam, se mal proferidas, de modo que somos forçados a prestar contas de cada palavra ociosa no dia do juízo. Quanto mais as maldições oprimem não apenas aquelas maliciosamente dirigidas aos inocentes, mas também aquelas proferidas indiscriminadamente por negligência costumeira contra alguém. Pois, de fato, os injuriadores não herdarão o reino de Deus (I Cor. VI). Não sem razão ele diz: uma maldição proferida em vão, pois há também uma maldição não proferida em vão, mas lançada na justa ira do rigor divino contra os ímpios; como a do bem-aventurado Pedro contra Simão, o Mago: "Pereça o teu dinheiro contigo" (Atos VIII); e aquelas pronunciadas contra apóstatas e hereges pela censura eclesiástica: "Anátema [anátemas]"; sobre as quais o Senhor diz à mesma Igreja: "Tudo o que ligares na terra será ligado no céu" (Mateus XVI e XVIII).
Fonte: Comentário sobre Provérbios

✝️ Efrém, o Sírio, sobre Provérbios 26:3

As nações te confessam porque a tua palavra se tornou um espelho diante delas, no qual podiam ver a morte oculta devorando as suas vidas. Os ídolos são ornamentados por aqueles que os fabricam, mas desfiguram os seus artífices com a sua ornamentação. [O espelho] trouxe [as nações] diretamente à tua cruz, onde a beleza física é desfigurada, mas a beleza espiritual resplandece. Aquele que era Deus perseguiu as nações que buscavam deuses que não eram deuses. E [usando] palavras como freios, ele os desviou de muitos deuses [e os trouxe] a um só. Este é o poderoso cuja proclamação [do evangelho] se tornou um freio nas mandíbulas das nações, desviando-as dos ídolos para aquele que o enviou.
Fonte: HOMILIA SOBRE NOSSO SENHOR 5:1-2

✝️ Cipriano sobre Provérbios 26:4

Eu te tratei com desprezo, Demétrio, enquanto você insultava com boca sacrílega Deus, que é único e verdadeiro, e frequentemente clamava com palavras ímpias, pensando ser mais apropriado e melhor ignorar com silêncio a ignorância de um homem em erro do que provocar com palavras a fúria de um homem em loucura. E não fiz isso sem a autoridade do ensinamento divino, pois está escrito: "Não digas nada aos ouvidos do tolo, para que, ao ouvir, não zombe das tuas sábias palavras", e novamente: "Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que não te tornes como ele".
Fonte: Tratado V. Discurso a Demétrio 1

✝️ Ambrósio de Milão sobre Provérbios 26:4

[Davi] não costumava responder ao inimigo que o provocava, ao pecador que o exasperava. Como ele diz em outro lugar: "Como se fosse surdo, não ouviu os que falam vaidade e imaginam enganos, e como se fosse mudo, não lhes abriu a boca". Novamente, em outro lugar, é dito: "Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que também não te tornes semelhante a ele". O primeiro dever, então, é ter a devida medida em nossa fala. Desta forma, um sacrifício de louvor é oferecido a Deus. Assim, demonstra-se um temor piedoso quando se lêem as Sagradas Escrituras. Assim, os pais são honrados. Sei bem que muitos falam por não saberem calar-se. Mas não é frequente que alguém se cale quando falar não lhe traz proveito. Um sábio, ao pretender falar, considera primeiro cuidadosamente o que deve dizer e a quem deve dizê-lo; também onde e a que horas.
Fonte: Sobre os Deveres do Clero 1.10.34-35

📚 Comentários Clássicos Teológicos

📖 Matthew Henry (1662–1714)

Matthew Henry destaca que este capítulo trata da insensatez, sobretudo dos tolos, mas também de comportamentos absurdos em geral, ressaltando a inutilidade e os perigos da falta de sabedoria. Ele começa observando que o capítulo mostra as características do tolo — que ele é “um louco no seu próprio conceit”, cheio de orgulho e incapaz de aprender com a correção.

Henry comenta o versículo 1 (“Como a neve no verão, e como a chuva na sega, assim não convém honra ao tolo”), explicando que honra mal aplicada a quem não a merece é tão fora de tempo e lugar quanto fenômenos climáticos inadequados, indicando a incongruência da situação.

Ele ressalta que o capítulo enfatiza a futilidade de certas ações, como dar honra ao tolo, confiar em suas palavras, ou lidar com a insensatez com violência (v.3-5), o que só piora a situação. Henry também fala sobre a ironia das atitudes do tolo — seu falar insolente (v.18), sua teimosia (v.14) e sua falta de senso —, demonstrando como esses comportamentos trazem problemas sociais e pessoais.

No trecho sobre o preguiçoso (v.13), Henry expande o significado da “preguiça que inventa desculpas”, alertando para a falta de responsabilidade e iniciativa que atrapalha a vida prática. Ele conclui destacando que o capítulo, apesar de duro, serve para chamar a atenção à sabedoria como antídoto contra o dano social que o tolo causa, e à importância da disciplina e do temor do Senhor.

Fonte: Matthew Henry Commentary on Proverbs 26

📖 John Gill (1697–1771)

John Gill aborda Provérbios 26 com um enfoque detalhado no significado dos termos hebraicos, dando uma análise linguística e prática. Gill explica que o verso 1 mostra a inadequação da honra ao tolo, usando uma comparação com fenômenos climáticos estranhos à época, mostrando a contrariedade da honra dada a quem não é digno.

Ele detalha as ações do tolo, que são inúteis e até perigosas, como o versículo 3 que fala da inutilidade de repreender um tolo — uma repreensão que não surte efeito é como “freio nos dentes de um cavalo”, uma metáfora para algo inútil e frustrante.

Gill comenta que o versículo 12 (“Vês um homem sábio aos seus próprios olhos? Mais esperança há para o tolo do que para ele”) reflete a cegueira do orgulho, indicando que o sábio que se julga perfeito é ainda pior do que o tolo que reconhece sua limitação.

Sobre o preguiçoso, Gill aponta a imaginação de desculpas que evita o trabalho (v.13-16), mostrando que o preguiçoso é um personagem negativo na sociedade, que causa prejuízo e inação. Gill ainda aborda os falsos testemunhos e as más intenções (vv.28), alertando para o poder destrutivo da língua, que pode causar discórdia e maldade, reforçando o valor da prudência no falar.

Fonte: John Gill's Exposition of the Bible on Proverbs 26

📖 Albert Barnes (1798–1870)

Albert Barnes apresenta Provérbios 26 como um capítulo dedicado a revelar a tolice em suas diversas manifestações e os males que dela advêm. Ele destaca que a “neve no verão” (v.1) ilustra a inadequação de honrar o tolo, uma ação que é contrária à ordem natural e à sabedoria prática.

Barnes comenta o uso de metáforas para descrever a insensatez do tolo, como no versículo 3, onde repreendê-lo é tão inútil quanto pôr freio na boca de um cavalo para controlá-lo, simbolizando a inutilidade de tentar mudar o tolo pela repreensão. Sobre o orgulho do tolo (v.12), Barnes explica que a autoconfiança cega o homem à sua verdadeira condição, enquanto o tolo pode ter mais esperança se reconhecer sua fraqueza.

Barnes também analisa a descrição do preguiçoso, que se esconde atrás de desculpas ridículas, e enfatiza a importância do trabalho diligente para a vida sábia. Além disso, ele ressalta o perigo das palavras maldosas e da falsidade, mostrando como a língua pode ser uma fonte de grandes problemas sociais.

Fonte: Albert Barnes' Notes on the Whole Bible on Proverbs 26

📖 Keil (1807–1888) & Delitzsch (1813–1890)

Keil & Delitzsch dedicam uma análise profunda aos termos hebraicos usados para descrever o tolo e a insensatez neste capítulo. Eles explicam o versículo 1, onde a expressão “como a neve no verão, e como a chuva na sega” é uma metáfora para algo fora de época, ou seja, que honra um tolo é uma contradição absurda, uma desordem social.

No versículo 3, o verbo לָתֵת (latet, “dar”) é usado em contexto figurado para repreensão inútil, comparada a colocar freios nos dentes do cavalo — a palavra hebraica para “freio” (פֶּה, peh) literalmente significa “boca”, reforçando a ideia da inutilidade de tentar controlar o insensato.

Eles examinam a palavra חָכְמוּת (chochmah, “sabedoria”) no verso 12 e explicam a ironia do homem “sábio aos seus próprios olhos”, que na verdade é mais cego que o tolo. Quanto ao preguiçoso, a expressão “estender a mão à tigela, e não querer voltar à boca” (v.15) é estudada em seu sentido literal no hebraico, enfatizando a extrema preguiça e aversão ao trabalho.

Keil & Delitzsch finalizam mostrando que o capítulo serve como um catálogo de advertências contra atitudes destrutivas para a vida pessoal e comunitária, recomendando a sabedoria, o autocontrole e o temor do Senhor.

Fonte: Keil & Delitzsch Commentary on Proverbs 26

📚 Concordância Bíblica

🔹 Provérbios 26:1
“Como a neve no verão, e como a chuva na sega, assim a honra não convém ao tolo.”

📖 Eclesiastes 10:6–7
“Um erro que vi debaixo do sol: que o tolo é posto em grandes alturas, mas os ricos assentam-se em lugares baixos. Vi servos a cavalo, e príncipes andando a pé como servos sobre a terra.”

Comentário: Ambos os textos apontam para a inversão desordenada da ordem e da justiça — a honra dada a quem não tem sabedoria é, no mínimo, uma anomalia moral.

📖 Mateus 7:6
“Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas...”

Comentário: Jesus ecoa a mesma advertência ao aplicar discernimento na distribuição do que é precioso (honra, verdade, sabedoria). Honrar o tolo é desproporcional e fere o princípio da prudência.

🔹 Provérbios 26:2
“Assim como o pardal no seu vaguear, e como a andorinha no seu voo, assim a maldição sem causa não virá.”

📖 Números 23:8
“Como amaldiçoarei a quem Deus não amaldiçoou? E como denunciarei a quem o Senhor não denunciou?”

Comentário: O provérbio reflete a segurança de quem vive em justiça diante de Deus — maldição sem fundamento não encontra pouso. Balaão confirma isso ao não conseguir amaldiçoar Israel.

📖 Gálatas 3:13
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós...”

Comentário: No Novo Testamento, a segurança é aprofundada em Cristo, que nos livra de qualquer maldição legítima, garantindo que nenhuma injustiça espiritual nos atinja injustamente.

🔹 Provérbios 26:3
“O chicote é para o cavalo, o freio para o jumento, e a vara para as costas do tolo.”

📖 Salmo 32:9
“Não sejais como o cavalo ou a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio...”

Comentário: A repetição da imagem reforça que o tolo não responde ao ensino racional, precisando de coerção para agir com sensatez.

📖 Hebreus 12:6
“Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho.”

Comentário: A disciplina, embora dolorosa, é um sinal de amor. O tolo só aprende por meio dela, mas no contexto da fé, ela se transforma em instrumento de filiação e restauração.

🔹 Provérbios 26:4
“Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que não te faças semelhante a ele.”

📖 Mateus 7:6
“Não deis aos cães o que é santo...”

Comentário: Aqui, a sabedoria é manter distância do debate tolo para não se contaminar com ele — há situações em que o silêncio preserva a dignidade e evita o escárnio.

📖 2 Timóteo 2:23
“E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas.”

Comentário: Paulo aconselha Timóteo a evitar embates fúteis, pois responder ao tolo pode ser inútil e até danoso.

🔹 Provérbios 26:5
“Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que não seja sábio aos seus próprios olhos.”

📖 Tito 1:9–13
“Convém que o presbítero... possa convencer os contradizentes... repreendê-los severamente.”

Comentário: Ainda que pareça contradizer o versículo anterior, este aponta que há momentos em que é necessário refutar o tolo — não por causa dele, mas por causa dos que ouvem. A sabedoria está em discernir qual atitude convém a cada situação.

🔹 Provérbios 26:6
“Corta os pés e bebe a violência aquele que manda mensagens pela mão de um tolo.”

📖 2 Samuel 11:14–15
“Pela manhã Davi escreveu uma carta a Joabe e lha enviou por Urias. Escreveu na carta, dizendo: Ponde Urias na frente da maior força da peleja...”

Comentário: Davi confiou uma mensagem fatal a Urias, que, sem saber, carregava sua própria sentença. O uso de mensageiros tolos ou desavisados pode ter consequências trágicas. O versículo de Provérbios denuncia o risco de confiar tarefas sérias a quem carece de discernimento.

📖 Mateus 10:16
“Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas.”

Comentário: Jesus adverte seus discípulos a serem prudentes em sua missão — oposto de confiar a missão a quem não tem sabedoria, como o tolo de Provérbios.

🔹 Provérbios 26:7
“As pernas do coxo pendem frouxas; assim é o provérbio na boca dos tolos.”

📖 Mateus 15:8
“Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.”

Comentário: O provérbio nas mãos do tolo perde sua força, como membros que não sustentam. Jesus denuncia os que falam verdades sagradas, mas sem vivê-las. O tolo pode repetir máximas, mas não as compreende nem aplica.

📖 Tiago 1:22
“Sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.”

Comentário: A sabedoria exige prática. Na boca do tolo, mesmo o bom ensinamento se torna ineficaz — como pernas inúteis para andar.

🔹 Provérbios 26:8
“Como o que amarra a pedra na funda, assim é o que dá honra ao tolo.”

📖 Eclesiastes 10:1
“Assim como as moscas mortas fazem o unguento do perfumador exalar mau cheiro, assim um pouco de estultícia pesa mais do que a sabedoria e a honra.”

Comentário: Honrar o tolo é desperdiçar algo valioso e perigoso — como impedir a pedra de sair da funda: fica ineficaz e pode causar dano. A honra dada ao insensato é mal aplicada e destrutiva.

📖 Lucas 14:11
“Todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado.”

Comentário: Cristo adverte contra a falsa honra e orgulho. Dar honra ao tolo é engrandecer o que será derrubado, pois não há base verdadeira.

🔹 Provérbios 26:9
“Como o espinho que entra na mão do bêbado, assim é o provérbio na boca dos tolos.”

📖 Isaías 5:20
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal...”

Comentário: O tolo manipula o provérbio como um bêbado que se fere sem perceber. Usa a verdade de modo destrutivo. Isaías denuncia confusão moral semelhante, causada por quem carece de discernimento.

📖 2 Pedro 3:16
“[Paulo] escreveu... entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem... para sua própria perdição.”

Comentário: Pedro alerta que mesmo a Escritura pode ser torcida por quem não tem sabedoria — como o espinho no bêbado. O problema não está no provérbio ou na verdade, mas em quem a usa mal.

🔹 Provérbios 26:10
“Como o arqueiro que a todos fere, assim é o que aluga o tolo e o que aluga os que passam.”

📖 Juízes 16:21–30 (Sansão)
Sansão, cego, derruba os pilares do templo, ferindo indistintamente inimigos e a si mesmo.

Comentário: O tolo pode causar dano indiscriminado, como um arqueiro sem alvo. Empregar tolos ou desconhecidos sem critério é dar armas a quem pode ferir a todos. Sansão, mesmo com força, age sem visão e causa destruição generalizada.

📖 Mateus 13:24–30
“O Reino dos céus é como um homem que semeou boa semente... mas veio o inimigo e semeou joio.”

Comentário: O joio cresce junto com o trigo, confundindo e ferindo a colheita. Alugar o tolo ou qualquer um indiscriminadamente introduz joio na seara — o perigo de más escolhas sem discernimento.

🔹 Provérbios 26:11
“Como o cão que volta ao seu vômito, assim é o tolo que repete a sua estultícia.”

📖 2 Pedro 2:22
“Deste modo, sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: o cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama.”

Comentário: Pedro cita diretamente Provérbios 26:11 para descrever os apóstatas que, após conhecerem a verdade, retornam à vida de pecado. A imagem é forte e repulsiva: o tolo não aprende com os próprios erros.

📖 João 5:14
“Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe disse: Eis que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior.”

Comentário: Jesus adverte contra o retorno ao pecado após receber graça. Isso ecoa a crítica de Provérbios à repetição da tolice, revelando a gravidade espiritual de recair voluntariamente no erro.

🔹 Provérbios 26:12
“Tens visto a um homem que é sábio aos seus próprios olhos? Maior esperança há para o tolo do que para ele.”

📖 Isaías 5:21
“Ai dos que são sábios a seus próprios olhos, e prudentes diante de si mesmos!”

Comentário: O falso senso de sabedoria torna o homem ainda mais irrecuperável que o tolo simples. Isaías ecoa esse juízo ao pronunciar “ai” sobre os autossuficientes.

📖 Romanos 1:22
“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.”

Comentário: Paulo identifica a arrogância intelectual como um sinal da decadência espiritual. A falsa sabedoria é mais perigosa que a ignorância reconhecida.

🔹 Provérbios 26:13
“Diz o preguiçoso: Um leão está no caminho; um leão está nas ruas!”

📖 Provérbios 22:13
“O preguiçoso diz: Um leão está lá fora! Serei morto no meio das ruas!”

Comentário: A repetição exata desse argumento revela a evasão do preguiçoso: usa exageros e pretextos absurdos para evitar o trabalho. A desculpa se torna risível.

📖 Mateus 25:24–25
“Chegando, por fim, o que havia recebido um talento, disse: Senhor, eu sabia que és homem severo... escondi na terra o teu talento.”

Comentário: O servo preguiçoso justifica sua inércia com medo e falsas razões. A parábola mostra que as desculpas não isentam da responsabilidade.

🔹 Provérbios 26:14
“Como a porta se revolve nos seus gonzos, assim o preguiçoso na sua cama.”

📖 Eclesiastes 10:18
“Por muita preguiça se enfraquece o teto, e pela frouxidão das mãos goteja a casa.”

Comentário: A imagem do preguiçoso girando na cama como a porta que se move sem sair do lugar transmite inércia absoluta. Ele “se mexe” mas nunca progride.

📖 Hebreus 6:12
“Para que não vos torneis indolentes, mas sejais imitadores dos que, pela fé e paciência, herdam as promessas.”

Comentário: A vida cristã exige ação perseverante. O texto bíblico condena o conforto paralisante da preguiça espiritual — não basta girar sobre si mesmo.

🔹 Provérbios 26:15
“O preguiçoso mete a mão no prato e não quer ter o trabalho de levá-la à boca.”

📖 Provérbios 19:24
“O preguiçoso esconde a mão no prato e não quer sequer levá-la de novo à boca.”

Comentário: A imagem é irônica e extrema: tamanha é a inércia que nem mesmo a própria alimentação é completada. A apatia é autodestrutiva.

📖 Apocalipse 3:16
“Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca.”

Comentário: A mornidão espiritual reflete a mesma indiferença e apatia. Deus rejeita a fé que não age. O preguiçoso ilustra o perigo da paralisia da alma.

🔹 Provérbios 26:16
“O preguiçoso é mais sábio aos seus próprios olhos do que sete homens que respondem bem.”

📖 Provérbios 3:7
“Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.”

Comentário: O preguiçoso não só evita o trabalho, mas se autojustifica com racionalizações. Seu orgulho o torna invulnerável à correção — mais ainda do que os insensatos comuns.

📖 1 Coríntios 3:18
“Ninguém se engane a si mesmo; se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para se tornar sábio.”

Comentário: Paulo ensina que a verdadeira sabedoria começa com humildade. O preguiçoso sábio aos seus próprios olhos está cegado por seu próprio ego.

🔹 Provérbios 26:17
“Como aquele que pega pelas orelhas um cão que passa, assim é o que se mete em questão alheia.”

📖 1 Pedro 4:15
“Que nenhum de vós sofra como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem.”

Comentário: Pedro exorta os cristãos a não se envolverem em conflitos que não lhes dizem respeito. O provérbio compara tal atitude a agarrar um cão bravo — uma imprudência perigosa que causa mais dano do que bem.

📖 Provérbios 20:3
“Honroso é para o homem desviar-se de questões, mas todo tolo se entremete nelas.”

Comentário: Evitar contendas é sinal de sabedoria. Intrometer-se em brigas alheias é comportamento tolo e potencialmente destrutivo.

🔹 Provérbios 26:18–19
“Como o louco que solta faíscas, flechas e morte, assim é o homem que engana o seu próximo e diz: Fiz isso por brincadeira.”

📖 Efésios 5:4
“Nem indecência, nem conversas tolas, nem gracejos vulgares, que são inconvenientes; mas antes, ações de graças.”

Comentário: Paulo condena o uso irresponsável das palavras. O provérbio adverte contra brincadeiras enganosas que causam dano real, mesmo sob a desculpa de humor.

📖 Tiago 3:5–6
“Assim também a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas. Vede como uma grande floresta um pequeno fogo incendeia!”

Comentário: A língua do zombador ou do enganador, mesmo “em tom de brincadeira”, pode ser mortal. O texto de Provérbios enfatiza a seriedade das palavras e ações, ainda quando disfarçadas de piada.

🔹 Provérbios 26:20
“Sem lenha, o fogo se apaga; e não havendo mexeriqueiro, cessa a contenda.”

📖 Tiago 3:5–8
“A língua... é um fogo... mundo de iniquidade... incendeia o curso da natureza.”

Comentário: A fofoca alimenta conflitos, como lenha alimenta o fogo. Tiago retoma esse princípio, mostrando como a língua tem poder destrutivo quando usada para difamar ou criar discórdia.

📖 Provérbios 16:28
“O homem perverso espalha contendas, e o difamador separa os maiores amigos.”

Comentário: A presença de um caluniador ou fofoqueiro é suficiente para provocar divisões, mesmo em relacionamentos fortes. O silêncio pode ser mais eficaz para restaurar a paz do que muitos argumentos.

🔹 Provérbios 26:21
“Como o carvão para brasas e a lenha para o fogo, assim é o homem contencioso para acender rixas.”

📖 2 Timóteo 2:23–24
“E rejeita as questões tolas e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender.”

Comentário: O homem contencioso provoca discussões e aumenta conflitos — ele é inflamável e incendiário. Paulo aconselha o servo de Deus a evitar esse tipo de espírito, priorizando a paz e a mansidão.

📖 Tiago 4:1
“De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?”

Comentário: As rixas nascem de desejos egoístas e disposições carnais. O homem contencioso não busca a verdade, mas a vitória sobre o outro.

🔹 Provérbios 26:22
“As palavras do difamador são como bocados deliciosos, que descem ao íntimo do ventre.”

📖 Provérbios 18:8
“As palavras do mexeriqueiro são como doces bocados, que penetram até o íntimo do ventre.”

Comentário: O mexerico atrai porque satisfaz desejos de curiosidade e julgamento. No entanto, suas palavras penetram profundamente e corrompem a alma. O prazer imediato se transforma em dano duradouro.

📖 Romanos 1:29–30
“Estão cheios de toda injustiça... murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus...”

Comentário: Paulo inclui os difamadores entre os piores sintomas da decadência moral. A maledicência é destrutiva não apenas para os outros, mas também para quem a consome com prazer.

🔹 Provérbios 26:23
“Como vaso de barro coberto de escória de prata, assim são os lábios ardentes com o coração maligno.”

📖 Mateus 23:27–28
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados... por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos.”

Comentário: Jesus denuncia a mesma hipocrisia descrita em Provérbios: palavras belas escondendo corrupção interna. A aparência enganosa é um perigo espiritual, pois mascara intenções perversas.

📖 Salmo 55:21
“As palavras da sua boca eram mais brandas do que a manteiga, mas no coração havia guerra.”

Comentário: A Escritura reafirma a ideia de que palavras suaves podem esconder uma disposição violenta e enganosa. A falsidade é comparada a uma capa brilhante sobre algo indigno.

🔹 Provérbios 26:24–26
“Aquele que odeia dissimula com seus lábios, mas no íntimo entesoura o engano. Quando ele falar favoravelmente, não confies nele, porque há sete abominações no seu coração. Ainda que dissimule com astúcia, a sua malícia se descobrirá publicamente.”

📖 Romanos 12:9
“O amor seja sem hipocrisia. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem.”

Comentário: Paulo insiste na sinceridade do amor cristão, como antídoto à dissimulação maligna. O provérbio ensina a discernir o falso amigo cujas palavras escondem ódio.

📖 2 Timóteo 3:13
“Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados.”

Comentário: A malícia disfarçada, segundo Paulo, não permanece oculta. A justiça divina expõe o coração corrompido — como o provérbio afirma: “a sua malícia se descobrirá”.

🔹 Provérbios 26:27
“O que cava uma cova cairá nela; e o que revolve a pedra, esta sobre ele rolará.”

📖 Salmo 7:15–16
“Cavou um poço e o fez fundo, e caiu na cova que fez. A sua malícia recairá sobre a sua cabeça.”

Comentário: A justiça retributiva aparece aqui com clareza: o mal planejado contra os outros volta-se contra o próprio autor. Isso ecoa ao longo das Escrituras.

📖 Gálatas 6:7
“Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará.”

Comentário: Paulo reforça a mesma lógica de Provérbios: o mal que alguém semeia não ficará impune. A cova que o perverso cava torna-se seu próprio túmulo.

🔹 Provérbios 26:28
“A língua falsa odeia a quem ela fere, e a boca lisonjeira provoca a ruína.”

📖 Tiago 3:8–10
“A língua... cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus... e com ela amaldiçoamos os homens... Não convém que isto se faça assim.”

Comentário: A língua é arma de destruição, quando movida por falsidade ou lisonja interesseira. O provérbio denuncia o discurso hipócrita como fruto de ódio oculto.

📖 Romanos 16:18
“Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples.”

Comentário: A lisonja, usada para manipular, é um pecado condenado também no Novo Testamento. A Escritura adverte contra aqueles que, com palavras doces, conduzem outros à ruína.

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