Interpretação de Mateus 15

Mateus 15

Mateus 15 registra vários encontros e ensinamentos de Jesus, enfatizando a importância da adoração genuína, a natureza da verdadeira impureza e a compaixão de Jesus pelos necessitados.

O capítulo começa com os fariseus e escribas de Jerusalém questionando Jesus sobre por que Seus discípulos não seguem a tradição de lavar as mãos antes de comer. Jesus responde desafiando a hipocrisia deles e enfatizando a importância de obedecer aos mandamentos de Deus sobre as tradições humanas. Ele ensina que a verdadeira impureza vem do que procede do coração, não de rituais externos.

Em seguida, uma mulher cananéia se aproxima de Jesus, implorando pela cura de sua filha. Inicialmente, Jesus testa sua fé afirmando que Ele foi enviado apenas para as ovelhas perdidas de Israel. No entanto, a mulher persiste em sua fé, demonstrando sua humilde confiança na misericórdia e no poder de Jesus. Jesus elogia sua fé e cura sua filha, mostrando que Sua compaixão se estende além dos limites de Israel.

Mais tarde, Jesus realiza outra alimentação milagrosa, desta vez de quatro mil homens, além de mulheres e crianças, com sete pães e alguns peixes. Este evento reflete a alimentação de cinco mil, enfatizando o poder divino e a provisão abundante de Jesus.

Os fariseus voltam e exigem um sinal de Jesus como prova de Sua autoridade. Jesus se recusa a fornecer-lhes um sinal, mais uma vez repreendendo sua incredulidade e falta de fé. Ele então adverte Seus discípulos a tomar cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus, referindo-se a seus ensinos nocivos e hipocrisia.

Os discípulos de Jesus também O interpretam mal quando Ele fala do fermento, mas Ele esclarece Sua mensagem e repreende a falta de compreensão deles. Isso destaca a importância da atenção e do discernimento espiritual ao seguir os ensinamentos de Jesus.

Na parte final do capítulo, uma grande multidão vem a Jesus, e Ele cura muitos enfermos e aflitos, demonstrando Seu ministério compassivo de cura e restauração.

Em termos gerais, Mateus 15 enfatiza a importância da adoração genuína e o significado da retidão interna sobre os rituais externos. O capítulo mostra a compaixão de Jesus por aqueles além das fronteiras de Israel e Sua capacidade de prover abundantemente para Seus seguidores. Também revela o desapontamento de Jesus com a falta de fé e compreensão de Seus ensinamentos por parte dos líderes religiosos. Ao longo desses encontros, Jesus continua a mostrar Sua autoridade divina, compaixão e o poder transformador de Seu ministério.

Interpretação

15:1-20 A oposição local dos fariseus galileus (cap. 12) foi agora reforçada por uma delegação de Jerusalém. Tal oposição aumentada de frequência e intensidade durante o final desse ano.

15:1. Escribas e fariseus. Provavelmente enviados pelo quartel-general para verificar o que Jesus fazia e para importuná-lo.

15:2. Por que transgridem os teus discípulos. Embora a acusação seja indireta, está clara a insinuação de que os ensinamentos de Jesus são responsáveis pela infração. Não lavam as mãos. O costume rabínico (não mosaico) não era relativo à higiene, mas cerimonial. Sua força contritora era popularmente considerada maior do que a da Lei propriamente dita, e alguns rabis iam muito longe a fim de observá-lo (veja Mc. 7:4).

15:3. Por que transgredis, vós, também, o mandamento de Deus. Uma admissão de que os discípulos de Cristo transgrediam a tradição dos antigos, mas o contraste com o mandamento de Deus mostrava a lógica de tal atitude.

15:4-6. Algumas tradições chegavam elas próprias a violarem a Lei. O quinto mandamento (Êx. 20:12; 21:17) era violado com o rude estratagema de chamar de oferta (a Deus), tudo o que devia ser usado para ajudar os pais de alguém, e portanto além do direito de reclamação dos pais. Como se Deus quisesse de um homem aquilo que pertence aos seus pais! Se a propriedade era realmente entregue a Deus não se discute, embora haja evidências de abusos.

15:7-9 Resumindo, Jesus cita Is. 29:13, onde este povo pode ser considerado não meramente os contemporâneos do profeta, mas a nação de Israel através de sua história; ou mais, a denúncia dos contemporâneos de Messias.

15:10. E, tendo convocado a multidão. A troca de palavras acima foi mais ou menos particular entre Cristo e os fariseus e escribas.

15:11 Não é o que entra pela boca que contamina o homem. Contamina é literalmente torna comum, derivado da distinção levítica entre alimentos permitidos por Deus e todos os outros, considerados comuns, profanos, “imundos”. Com esta declaração, Jesus não revoga o código levítico (nem Mc. 7:19 deve ser interpretado assim), uma revogação que só foi anunciada depois do Pentecostes (Atos 10-11), mas estava fazendo a declaração de que a profanação moral é espiritual, não física. O alimento é amoral (I Tm. 4:3-5). O pecado está no coração do homem que desobedece a Deus e perverte o seu uso. Até mesmo a contaminação de um judeu que come carne leviticamente imunda não foi provocada pelo alimento propriamente dito, mas pelo coração rebelde que agiu em desobediência a Deus.

15:12-14 Os discípulos ficaram aparentemente perturbados por Cristo ter ofendido esses fariseus influentes, e 15:15 indica que eles não compreenderam inteiramente a importância da declaração de Jesus. “Toda a planta”. Doutrina de simples tradição humana, como aquela que os fariseus estavam exigindo. “Será arrancada”. Uma profecia sobre a destruição final de toda doutrina falsa, o simbolismo talvez incluindo as pessoas apegadas a esses ensinamentos (conf. 13:19, 38 para semelhante combinação).

15:Deixai-os. Como mestres de verdades espirituais, os tradicionalistas deviam ser abandonados. Eram tão cegos espiritualmente falando, quanto aqueles que dependiam deles. Cova. Não uma vala à beira da estrada, mas uma cisterna aberta no campo.

15:15. Explica-nos esta parábola. Pedro referia-se à declaração de 15:11 (conforme a comparação com Mc. 7:15-17 indica). “Parábola”. Foi usado aqui com o sentido de “palavra difícil”. A dificuldade não estava no uso dos símbolos mas no afastamento da tradição, que confundira a contaminação moral com a cerimonial.

15:16. Até vós mesmos estais ainda sem entender? A admiração de Cristo, embora ele não tivesse tratado desse assunto específico antes (mas compare 9:14-17; caps. 5-7), dá a impressão de que pessoas espiritualmente iluminadas deveriam entender este princípio, pois sempre fora verdadeiro.

15:17. Seja qual for a condenação provocada pelos alimentos que entram pela boca, ela é física e remove-se do corpo, isto é, vai para a latrina, ou privada.

15:18, 19. Mas coisas que saem da boca contaminam espiritualmente, pois todas as palavras e atos de pecado têm a sua fonte nos maus desígnios que procedem de um mau coração (conf. 5:21-48). Depois dos maus desígnios, a violação dos Mandamentos, do sexto ao nono, foi exposta, concluindo com blasfêmias – palavras abusivas contra Deus ou o homem.

15:20. Comer sem lavar as mãos, não o contamina. Assim Jesus resume tudo voltando à pergunta original.

15:21-28 O ataque direto dos fariseus (vs. 1, 2) encorajados pela recente execução de João e a oposição de Herodes, provocou essa segunda retirada. A entrevista com a mulher descreve claramente o cenário histórico do ministério de Cristo, além dos aspectos mais amplos de Sua graça.

15:21. Retirou-se para os lados de Tiro e Sidom. Embora alguns discutam o ponto, parece claro que Jesus realmente deixou a terra de Israel e jurisdição de Herodes (conf. também Mc. 7:31), para ficar durante algum tempo retirado na Fenícia.

15:22. Uma mulher cananeia. Os habitantes dessa região eram chamados cananeus em Nm. 13:29; Jz. 1:30, 32, 33; Marcos 7:26 designa-a como cidadã siro-fenícia. Filho de Davi. Essa maneira de falar implica em ter algum conhecimento da religião judaica, entretanto a passagem não sugere que ela fosse prosélita.

15:23. Ele porém não lhe respondeu palavra. Parcialmente explicado pela tentativa de Jesus de permanecer isolado (Mc. 7:24). Entretanto, a conversa que se segue mostra o alvo da missão de Cristo, e esse procedimento de Jesus torna o ensino mais efetivo, o fato de Marcos ter omitido o silêncio de Cristo indica que esta atitude não foi tão surpreendente como se poderia supor. “Despede-a”. Esta declaração feita pelos impacientes discípulos pode implicar em que Cristo poderia atender seu pedido e assim encerrar o caso, pois a sua resposta revela que um pedido fora feito.

15:26. Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Essa mulher gentia tinha conhecimento do costume judeu de chamar os gentios de cachorros e a si mesmos de filhos de Deus. A aparente rudeza da expressão de cristo foi abrandada pelo fato de que o termo se refere não aos ferozes e repugnantes cães vadios que perambulavam pelas ruas, mas cachorrinhos (kunaria) que viviam nas casas como animais de estimação. Jesus disse a esta gentia o que já tinha dito à samaritana, que no momento tudo o que viesse do Messias e suas bênçãos estava condicionado a Israel (Jo. 4:21-23). Jesus curou gentios em outras ocasiões, mas aqui na Fenícia tinha de tomar cuidado para não dar a impressão de que estivesse abandonando Israel (conf. Mt. 4:24; 8:5).

15:27, 28. Porém os cachorrinhos comem das migalhas. A mulher aceitou inteiramente a ordem divina, e a sua fé agarrou-se à verdade que se lhe aplicava. “Grande é a tua fé”. O segundo gentio a ser louvado pela sua fé (8:10), e o terceiro exemplo da cura de Cristo à distância (Mt. 8:13; Jo 4:50).

15:29-38. Marcos mostra que Jesus prosseguiu para o norte da Fenícia através de Sidom, depois para o leste atravessando o Jordão e finalmente para o sul através de Decápolis até alcançar o mar da Galileia. Essa rota sugere que ele evitou deliberadamente o domínio de Herodes Antipas.

15:29. Mar da Galiléia. Aparentemente o litoral sul.

15:30. Muitas multidões. Dos muitos que foram curados, Marcos descreveu o caso do surdo-mudo (Mc. 7:32-37).

15:31. Glorificava ao Deus de Israel. Uma indicação de que eram ambientes gentios aos quais Jesus participava o conhecimento do verdadeiro Deus e as promessas messiânicas.

15:32-38. Alimentando os quatro mil. Defender que esta narrativa conta o mesmo incidente dos cinco mil é transformar este Evangelho e o de Marcos em uma mera coleção de tradições que acabaram ficando confusas, e tratar as palavras de Jesus pronunciadas em Mt. 16:9, 10 como simples invenção. As diferenças nos detalhes são numerosas, e não há nada essencialmente improvável a respeito de duas multiplicações milagrosas.

15:32. Há três dias que permanecem comigo. Todo o alimento trazido já fora consumido.

15:33. Onde haverá... tantos pães? Insistir que os Doze tivessem esquecido a multiplicação não tem base. Eles apenas declaram sua incapacidade pessoal de obter o necessário, e evitam de pedir a Jesus que realize outro milagre (à vista de Jo. 6:26).

15:34-38. Com sete pães e alguns peixes Cristo alimentou a multidão de quatro mil homens e suas famílias quase do mesmo modo pelo qual alimentou os cinco mil. Os pedaços que sobraram deram para encher sete cestos cheios. Aqui os cestos eram os spurides maiores, ou canastras que os discípulos talvez estivessem usando em sua recente viagem, e não os kophinoi menores de 14:20, uma distinção mantida em 16:9, 10. Os sete cestos devem ter contido mais do que os doze da ocasião anterior.

15:39. Magadã. A localização é desconhecida. Marcos 8:10 diz Dalmanuta, cuja localização também é incerta. Aparentemente o lugar fica no litoral ocidental da Galileia.

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