Interpretação de Mateus 22

Mateus 22

22:1-14 Parábola das Bodas. Embora esta parábola seja parecida com a de Lc. 14:16-24, a diferença em certos detalhes e a ocasião em que foram contadas, torna desnecessário qualquer tentativa de fazê-las idênticas. Qualquer professor tem o privilégio de repetir ilustrações, mudando os detalhes para que se adaptem a uma nova situação.

22:1 Por parábolas, isto é, alegoricamente.

22:2 O reino dos céus. O reino medianeiro conforme apresentado em Mt. 13:11 e segs., visto durante o período da primeira vinda de Jesus até o completo estabelecimento do reino messiânico.

O rei, seu filho e as bodas representam o Pai, Cristo (Jo. 3:29), e o reino messiânico (Is. 25:6; 55:1). Se o cenário descreve um casamento que envolve o reconhecimento do filho como herdeiro, então a recusa em comparecer demonstrou deslealdade além de falta de cortesia. Esse foi o motivo da violenta execução dos rebeldes pelas forças do rei.

22:3-6 A chamar os convidados. O costume oriental incluía um convite inicial e um segundo chamado à hora estipulada. Os convidados aqui Israel certamente, recusaram-se a atender a este chamado, e quando foi apresentado mais outro convite explicando o primeiro, tornaram-se imprudentemente rudes ou positivamente homicidas. Compare o tratamento que os judeus dispensaram a João (Mt. 21:25), a Estêvão (Atos 7:59) e a Tiago (Atos 12:2).

22:7 Incendiou a cidade. Uma predição da destruição de Jerusalém em 70 A.D. O exército romano sob as ordens de Tito é tido na parábola como o instrumento divino (Suas tropas).

22:8, 9 Ide, pois às encruzilhadas dos caminhos. Isto se considera geralmente uma referência à evangelização dos gentios (o que parece claro em Lc. 14:23). Aqui, entretanto, a festa de casamento naturalmente implica na existência de uma noiva, além dos convidados; pois a evangelização dos gentios na dispensação da igreja fornece a noiva, não os convidados. Visto que Cristo estava explicando aos judeus incrédulos o seu relacionamento com o reino messiânico, talvez esses convidados que mais tarde atenderam ao convite representam os judeus que aceitarão a Cristo durante a Tribulação.

22:10. Maus como bons. Pecadores declarados e os moralmente justos. Ambos são objetos do convite bondoso de Deus, e muitos de ambos os grupos aceitam o convite.

22:11. Veste nupcial. Considerando que a falta desse vestido excluiu o homem da festa, concluímos que o vestido representa uma exigência absoluta para a entrada no Reino. Assim ele representa o manto da justiça imputada, a qual Deus fornece graciosamente ao homem mediante a fé (Is. 61:10). O costume dos reis de fornecerem vestidos adequados quando outorgavam audiências ao que parece foi suposto aqui, uma vez que o acusado foi considerado culpado pela falta, e pessoas recolhidas pelos caminhos não teriam meios de obter vestes adequadas ainda que tivessem tempo para providenciá-las.

22:12. Amigo. Companheiro, camarada. Uma forma de se dirigir a uma pessoa cujo nome não é conhecido. O homem sem o vestido de núpcias representa a pessoa que se diz preparada para o reino de Cristo, mas não está. Outras parábolas descreveram-na como joio e peixe inaproveitável. Para fora, nas trevas. Na parábola, é a descrição da negrura da noite do lado de fora do palácio fortemente iluminado (a ceia – ariston, v. 4 – que começava ao meio-dia, entrou pela noite adentro); as trevas, o choro, e o ranger de dentes indicam claramente os tormentos do Geena (13:42; 25:30, 46).

22:14. Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos. Há um chamado geral de Deus feito aos pecadores, convidando-os para desfrutarem das alegrias da salvação (11:28), o qual não pode ser rejeitado. São comparativamente poucos os que realmente são escolhidos para essa bênção. As Escrituras indicam claramente uma eleição divina que leva os pecadores a Deus. Mas as Escrituras também indicam que o homem é responsável pela sua indiferença (v. 5), rebeldia (v. 6), e justiça própria (v. 12).

22:15-46 Essas discussões aconteceram no mesmo dia em que foram contadas as parábolas acima, um dos dias mais ocupados do ministério de Jesus.

22:15-22 Perguntas dos fariseus e herodianos a respeito do tributo.

22:15 Como o surpreenderiam. Como o apanhariam em uma armadilha.

22:16. Discípulos. Estudantes de rabinos, enviados pelos seus mestres fariseus. Herodianos. Um grupo de judeus cujas características não são inteiramente conhecidas. Parece que advogavam a volta do governo da família herodiana (cujo governo terminara na Judéia e Samaria no ano 6 depois de Cristo, com a nomeação de procuradores romanos). Esses dois grupos uniram-se em seu ódio comum a Jesus, o possível Messias.

22:17. Depois de uma apresentação bem-estudada (na qual certamente os oradores não acreditavam), sua muito bem planejada pergunta foi apresentada. É lícito pagar o tributo a César? Kensos é um estrangeirismo latino que se referia ao imposto pessoal romano cobrado de cada judeu. A pergunta presumia um dilema: Ou Jesus declararia servidão a Roma (e assim comprometeria qualquer direito à messianidade), ou se arriscaria a ser acusado de deslealdade a Roma. Os inimigos de nosso Senhor estavam tão certos da natureza tumultuadora da última acusação que tornaram a usá-la contra ele alguns dias mais tarde, apesar de sua negação explícita (Lc. 23:2).

22:19. Mostrai-me a moeda do tributo. O imposto era pago com o denarius, que equivalia ao salário diário de um soldado ou operário.

22:20, 21 Levando seus interrogadores a reconhecerem a figura de César e a inscrição que havia na moeda, Cristo forçou o princípio de sua resposta. Dai, pois a César o que é de César. Broadus faz uma paráfrase, "Isto vocês receberam de César, pois paguem-lhe de volta" (Comm. on Matt. pág. 453). O dinheiro de César representava o governo de César, com seus benefícios resultantes. Por esses o súdito era obrigado a pagar (conf. Rm. 13:1-7). O que é de Deus. Aqui as obrigações espirituais foram separadas, embora não estejam isentas de relacionamento. A devida submissão ao poder civil faz parte das obrigações espirituais (I Pe. 2:13-15), mas um crente deve sempre em última instância submeter-se à vontade de Deus (Atos 4:19, 20).

22:23-33 A pergunta dos saduceus relacionada com a ressurreição.

22:23 Os saduceus, que dizem. A ausência de um artigo nos melhores manuscritos sugere que a tradução mais certa seria os saduceus vieram dizendo. Sua negação da ressurreição era sustentada por uma ilustração a fim de provar seu suposto absurdo. (Conf. Atos 23:8 em relação aos dogmas dos saduceus.)

22:24-27 Moisés disse. Uma referência a Dt. 25:5 e segs. A ilustração mencionada era concebível entre os judeus por causa do costume do levirato (da palavra latina levir que significa "cunhado"). Tal prática, também seguida por outros povos da antiguidade, já estava em desuso. Portanto, o caso suposto pelos saduceus não era uma questão atualizada mas um quebra-cabeça teológico.

22:28 Na ressurreição, a realidade da qual os saduceus escarneciam, de qual dos sete será a esposa? Todos os sete foram igualmente casados com ela, e não havia nenhuma descendência que pudesse dar prioridade a alguma das uniões.

22:29 Não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. O erro dos saduceus era o seu fracasso em entender os ensinamentos das Escrituras referentes à ressurreição e a capacidade de Deus de resolver a situação. A ilustração deles presumia que a ressurreição restaurará os homens à mesma forma de existência que tinham antes (um ponto de vista comumente defendido pelos fariseus), embora a Escritura não o afirme em lugar algum. Eles não concediam a Deus o crédito do poder de ressuscitar os mortos em um estado mais glorioso (conf. I Co. 15:40-50).

22:30. São, porém, como os anjos, isto é, na questão do casamento. Jesus não declarou que os mortos ressuscitados se transformariam em anjos. Esta passagem também não implica em que o mais caro relacionamento terreno será esquecido na vida futura. Exatamente como esse relacionamento será afetado com a posse de corpos glorificados não foi explicado, mas toda a Escritura sustenta que o estado da ressurreição é o de bem-aventurança e perfeito relacionamento.

22:31-33 O que Deus vos declarou. Jesus indicou aos seus interrogadores uma declaração direta do próprio Deus (não através de mediadores como no v. 24). Eu sou o Deus de Abraão (Êx. 3:6). Em lugar de empregar algumas das passagens mais específicas dos profetas ou dos Escritos (em relação aos quais a opinião dos saduceus era duvidosa), Jesus citou da Torá uma declaração à qual deu a mais profunda interpretação. Usando o reverenciado nome do Deus da aliança, Jesus tornou implícita a imortalidade desses patriarcas. Como Plummer observou, "O que está morto pode ter um Criador ou Controlador; mas só os seres vivos podem ter um Deus" (Gospel According to St. Matt., pág. 307).

22:34-40 A pergunta de um fariseu, doutor da lei sobre o grande mandamento. Consulte a narrativa de Marcos (12:28-34) para detalhes adicionais, inclusive o interessante resultado.

22:34 E os fariseus sabendo. A frustração dos saduceus produzida pela réplica magistral que Jesus deu à pergunta sobre à ressurreição deveria satisfazer também aos fariseus. Entretanto, uma vitória bem definida de Jesus não seria bem recebida nem mesmo por eles, visto que participavam do ódio que os saduceus tinham por Jesus.

22:36. Qual é o grande mandamento na lei? O propósito máximo do doutor não está muito evidente, e deve-se notar que Jesus tratou a pergunta diretamente e depois elogiou a sagacidade da resposta do doutor (Mc, 12:34). Costuma-se sugerir que ele desejava levar Jesus a discutir a computação que os rabis fizeram de 613 mandamentos.

22:37-40 Nosso Senhor resumiu as duas tábuas da Lei nas palavras de Dt. 6:5 e Lv. 19:18. Uma devida consideração de Deus e do próximo é a essência das obrigações do homem. Todo o V.T, interpreta e aplica esses princípios (Rm. 13:8). Todo o teu coração. No pensamento hebreu, o coração simboliza a totalidade do ser, que contém a alma e o entendimento, os elementos animador e raciocinador. Um amor a Deus que envolva tudo levará a pessoa a cumprir com todas as obrigações morais. Mas esse padrão inatingível apenas prova a corrupção do coração humano.

22:41-46 A contra-pergunta de Jesus sobre o Messias.

22:42 Que pensais vós de Cristo? Virtualmente é a mesma pergunta que ele fez antes aos Doze (16:15). O filho de Davi. A linhagem davídica do Messias era ensinada pelos escribas (Mc. 12:35).

22:43-45 Apontando o Sl. 110 aos seus ouvintes, o qual era interpretado pelos judeus como sendo messiânico (veja Edersheim, Life and Times of Jesus, Ap. IX), Jesus mostrou-lhes que entendiam mal aquela passagem das Escrituras. Esse Salmo de Davi (autoria que Jesus claramente afirma) apresenta o Senhor (Jeová) falando ao Messias; e Davi chama o Messias de meu Senhor (Adonai). Assim, os judeus, que consideravam o Messias descendente de Davi, foram confrontados com este salmo, no qual Davi chama seu descendente de "Senhor" e superior.

A prevalecente ideia do Messias como rei que seria meramente um governador político foi apresentada como sendo inadequada. Mais ainda, este salmo foi concedido pelo Espírito (Espírito Santo, Mc. 12:36), produto da revelação sobrenatural.

22:46 Nem ousou alguém fazer-lhe perguntas. Embora Marcos e Lucas façam comentário semelhante em lugares um pouco diferentes (Mc. 12:34; Lc. 20:40), um exame prova que todos os sinóticos colocaram o comentário de maneira apropriada para a sua matéria. A partir daquele dia não houve mais interrupções desses interrogadores.

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