Significado de Gênesis 2

Gênesis 2

Gênesis 2 apresenta um relato diferente e mais detalhado da história da criação, concentrando-se especificamente na criação do homem e da mulher e em seu relacionamento com Deus e entre si. O capítulo enfatiza a intimidade e a proximidade do relacionamento entre Deus e a humanidade, bem como a importância da comunidade e do companheirismo.

O capítulo começa com Deus criando o homem do pó da terra, soprando vida nele e colocando-o no Jardim do Éden para cultivá-lo e cuidar dele. Deus então cria todos os animais e pássaros, mas descobre que nenhum deles é um companheiro adequado para o homem. Ele então cria a mulher de uma das costelas do homem e a traz para ele como sua companheira e ajudante.

O capítulo termina com a descrição do homem e da mulher vivendo no Jardim do Éden, nus e sem vergonha, com a bênção de Deus sobre eles.

No geral, Gênesis 2 apresenta um relato mais detalhado e pessoal da história da criação, enfatizando os temas de intimidade, comunidade e bênção. O capítulo retrata Deus como intimamente envolvido na criação da humanidade e desejando um relacionamento próximo e pessoal com ela. A criação da mulher como companheira do homem destaca a importância da comunidade e do companheirismo, e a descrição da vida no Jardim do Éden reflete o desejo de Deus de que sua criação viva em harmonia e bênção.

I. A Septuaginta e o Texto Hebraico

Percebe-se em Gênesis 2 um diálogo denso entre o hebraico massorético (MT), a tradução grega da LXX e o léxico do NT, em que fraseologia, sintaxe e escolhas terminológicas funcionam como “ponte” hermenêutica. O v. 7 é programático: “YHWH Elohim formou (wayyîṣer) o homem do pó (ʿāfār) da terra, e soprou em suas narinas o fôlego de vida (nešāmāh ḥayyîm), e o homem tornou-se uma pessoa vivente (nefeš ḥayyāh)”. A LXX verte com precisão imagética: eplasen (ἔπλασεν, de plássein, “modelar” como oleiro), enephýsen (ἐνεφύσησεν, “soprou”), pnoē zōēs (πνοὴ ζωῆς) e psychē zōsa (ψυχὴ ζῶσα). Essa tessitura lexical reaparece no NT: João registra que Jesus “soprou” (enephýsēsen) sobre os discípulos em uma re-criação simbólica (Jo 20,22), e Paulo em Atenas descreve Deus como quem dá “vida e pnoē [‘alento’] a todos” (At 17,25); já em 1Cor 15,45, Paulo cita a fórmula da LXX “eis psychēn zōsan” (“para ser alma vivente”) aplicando-a ao “primeiro homem”, em contraste com o “último Adão”, “espírito que vivifica” (pneûma zōopoiún). A coesão intertextual aqui não é casual: os mesmos pares semânticos MT→LXX estruturam a antropologia paulina e a cristologia pascal.

No cenário do jardim, duas decisões da LXX moldam o imaginário do NT. Primeiro, gan é traduzido por parádeisos (παράδεισος), termo que passa ao grego comum e, depois, ao vocabulário cristão de escatologia e comunhão com Deus (“Hoje estarás comigo no parádeisos”, Lc 23,43; “o xýlon tēs zōēs no parádeisos de Deus”, Ap 2,7; cf. o “rio” e a árvore da vida em Ap 22,2, ecoando Gn 2,9–10). Assim, o Eden do hebraico torna-se “paraíso” na tradição grega e, por via desta, na fala de Jesus e no Apocalipse.

Segundo, a teonímia “YHWH Elohim” de Gn 2 (marcada na LXX como Kyrios ho Theos) concentra a agência divina em ações verbais que reaparecem como moldes sintáticos do NT: Deus “toma” (elaben), “coloca” (etheto), “ordena” (eneteílato). O hebraico ṣivvah (“ordenou”) torna-se entellomai/entolē no grego bíblico, a mesma família que a linguagem de “mandamento” no ensinamento de Jesus e dos apóstolos.

O v. 15, por sua vez, estabelece a vocação humana em termos que a LXX marca com ergázesthai (“trabalhar/servir”) e phylássein (“guardar/proteger”) para verter ʿābad e šāmar. Essa dupla aparece em registros sacerdotais no hebraico bíblico e, vertida ao grego, fornece ao NT o campo semântico de “guardar” a palavra/mandamentos (cf. Lc 11,28 com phylássein). No próprio Gn 2,15 LXX, Adão é “posto no paraíso para trabalhar e guardar”, linguagem que a tradição teológica judaico-cristã reconhece como de tonalidade cultual/sacerdotal (serviço e custódia do sagrado).

A criação da mulher e a união matrimonial (Gn 2,18.21–24) constituem outro nexo MT–LXX–NT. O hebraico ʿēzer kenegdô (“auxílio como contraparte”) evita qualquer nuance de subordinação e é vertido como boēthón kat’ autón (“um auxílio correspondente”), preservando a reciprocidade. Em 2,21, o transe de Adão é descrito com ekstasis (ἔκστασις), termo técnico que o NT retoma para experiências visionárias (At 10,10; 22,17). No cântico de Adão (v. 23), a LXX conserva a poética “ostoun... sarx... gynē... andros”, e o v. 24 fornece o molde jurídico-teológico do matrimônio no koiné do NT: “proskollēthēsetai... eis sarka mian”. Não surpreende que Jesus e Paulo citem a LXX quase ipsis litteris (Mt 19,5; 1Cor 6,16; Ef 5,31), usando exatamente a fórmula “os dois serão uma só carne” para articular ética sexual, indissolubilidade e a tipologia Cristo–Igreja.

Ainda no eixo lexical, a LXX cristaliza pares que atravessam a Bíblia grega. A “árvore do conhecimento do kalón e do ponērón” (Gn 2,9.17) fixa o binômio moral (kalós/ponērós) que o NT emprega com frequência; a “árvore da vida” (xýlon tēs zōēs) dá a João o vocabulário para descrever o dom escatológico (Ap 2,7; 22,2). O v. 25, com gymnoí (“nus”), prepara ressonâncias éticas e apocalípticas no NT (p. ex., “nu” como metáfora de exposição e carência); a onomástica de 2,19–20, com ekálesen (chamar/nomear), reflete a semântica bíblica da nomeação como exercício de autoridade delegada, tema que o NT prolonga quando trata do “nome” e da identidade em Cristo.

Do ponto de vista sintático, a LXX tende a explicitar relações causais e finais já presentes no hebraico. Em Gn 2,24, por exemplo, o ʿal-kēn (“por isso”) é vertido por heneken toutou, e a sequência de três verbos (“deixar-se unir-tornar-se”) ganha coesão com proskolláomai + eis + acusativo (“colará… para/até tornar-se carne uma”). Esse enunciado normativo, consagrado na LXX, vira texto-de-prova para a ética do NT, e seu paralelismo bimembre (deixar-unir // dois-uma carne) é precisamente o que sustenta as aplicações de Jesus e Paulo.

Por fim, o conjunto de escolhas terminológicas da LXX em Gn 2 cria “trilhos” para a leitura cristã: a imagética do oleiro (plássein) alimenta a linguagem paulina do plásma e do “moldador” soberano; o sopro (pnoē/pneuma) informa a pneumatologia; parádeisos reconfigura a teleologia bíblica do Éden ao Eschaton; ergázesthai/phy lássein fundamenta a ética do serviço e da guarda; boēthós e proskolláomai estabilizam a teologia do matrimônio; ekstasis vincula a anestesia teofânica de Adão às visões apostólicas; psychē zōsa ancora a tipologia Adão–Cristo. Longe de ser um comentário livre, o NT lê Gn 2 por meio do grego da LXX — e justamente por isso, a coerência entre AT e NT se mostra tanto linguística quanto teológica.

II. Comentário de Gênesis 2

Gênesis 2.1 Mesmo que o termo céus seja mencionado neste versículo, o foco principal do primeiro capítulo de Gênesis foi a terra [a superfície terrestre]. E, embora a Terra não seja o centro do universo, ela foi o centro do grande trabalho de criação de Deus.

Gênesis 2.2 Deus não descansou porque Ele estava fatigado, mas sim porque Sua obra foi concluída [com satisfação]. Deus nunca se cansa (Is 40.28,29). O verbo traduzido como descansou (hb. shavat, cessar as atividades) tem relação com a palavra Shabat (hb. shabat, descanso), que designa período de descanso semanal [o sétimo dia]. Muitos estudiosos afirmam que o objetivo do Shabat é adoração, mas este não é o caso em Gênesis (ver também Êx 20.9-11; Dt 5.12-14). Ao abençoar o sétimo dia e descansar de Sua obra, Deus demonstrou que estava satisfeito com tudo aquilo que havia feito.

Gênesis 2.3 Deus abençoou os pássaros e os peixes (Gn 1.22), os humanos (Gn 1,28) e agora o sétimo dia (o Sábado). Ele o santificou; fez com que se tornasse um dia sagrado. Então, desde o começo dos tempos, Deus deu um valor especial a um dia específico da semana.

Gênesis 2.4 A palavra traduzida aqui como as origens [hb. towladah], em as origens dos céus e da terra, pode ser encontrada em dez passagens significativas de Gênesis (Gn 5.1; 6.9; 10.1; 11.10,27; 25.12,19; 36.1,9; 37.2). O termo também aparece traduzido como livros das gerações, gerações, em alusão ao histórico familiar ou registro de descendências; e é um marco substancial das diferentes seções do livro de Gênesis. A expressão Senhor Deus é um novo e significante designativo para Deus. O termo traduzido como Deus [hb. Elohim] tem o mesmo sentido que vimos em Gênesis 1.1. A palavra traduzida como Senhor é Yahweh ou Jehovah (Êx3.14,15). O Deus, mencionado no capítulo 1 de Gênesis, é o mesmo designado pelo termo Senhor, no capítulo 2.

Gênesis 2.5 A ordem dos eventos na segunda parte da criação é diferente daquela notada na primeira parte (Gn 1.1—2.3). As condições eram bastante diferentes das que nós agora conhecemos e compreendemos. A expressão não tinha feito chover antecipa a história do Dilúvio (Gn 6—9). Aqui, é descrito um fenômeno que ainda estava em vias de manifestar-se. Na frase e não havia homem para lavrar a terra, o termo hebraico usado para designar o homem [hb. ‘adam] soa similar ao termo [hb. ‘adama] para terra (Gn 1.26; 2.7).

Gênesis 2.6 O significado preciso para o termo traduzido como regava é desconhecido. Obviamente faz referência a alguma maneira de Deus umedecer a terra antes de chover e os ciclos de chuva serem estabelecidos pelo Senhor.

Gênesis 2.7 O verbo formou sugere um artesão moldando sua obra [em barro]. O homem foi feito do pó da terra e voltaria ao pó quando morresse fisicamente (Gn 3.19). Embora Deus tenha criado a luz com uma simples palavra (Gn 1.3), Ele [se envolveu pessoalmente na criação do homem], ao modelar o corpo humano no barro, transformou esta matéria-prima em uma coisa nova e, depois, soprou em seus narizes [suas narinas - ARA] o fôlego da vida. O sopro divino pode ser o jeito que o narrador encontrou de descrever a infusão do espírito no ser humano, que o dotou de capacidade intelectual, moral, relacional e espiritual. [O fato é que, com tudo isso,] Deus mostrou grande cuidado e preocupação na maneira utilizada para criar o homem. A expressão traduzida como alma vivente do homem é a mesma que foi usada para referir-se à vida animal em Gênesis 1.24. Isto sugere que a vida
humana e a animal são parecidas; contudo, fôlego de vida divino [o espírito] fez os seres humanos diferentes de todas as outras criaturas vivas.

Gênesis 2.8 O termo Éden [hb. ‘Eden ou ‘ednah, delícia, prazer] não é explicado, a não ser que o jardim [hb. gan, área cercada] ficava localizado da banda do Oriente, ou seja, a leste, entre os rios Pisom, Giom, Hidéquel e Tigre, mas a posição exata da região não é conhecida. A plantação do jardim revela um toque do meticuloso cuidado pessoal de Deus. A imagem do Deus zeloso e cuidadoso complementa a imagem do Criador forte e superior do capítulo 1.

Gênesis 2.9 Ao ser criado, o homem adquire o direito de desfrutar das coisas agradáveis [hb. chamad] do jardim, algo que algum tempo depois lhe seria vedado por causa do pecado e da cobiça (1 Jo 2.16). O Eden era um jardim extraordinário e farto, com diversas espécies das melhores árvores e plantas. Duas árvores eram realmente especiais no Éden: a árvore da vida [hb. ‘ets chay] e a árvore do conhecimento do bem e do mal [hb. ‘ets ddath towb ra‘] (Gn 2.17; 3.24).

Gênesis 2.10-14 Este rio e seus quatro braços podem não ser exatamente os mesmos após o Dilúvio (Gn 6—9). A provisão deste grande rio é uma poderosa demonstração do imenso cuidado de Deus por seu jardim. Os nomes Pisom [hb. Piyshown, aumento] (v. 11), Giom [hb. Giychown, irrompendo] (v. 13), Hidéquel [hb. Chiddeqel, rápido] ou Tigre [ARA] (v. 14) e Eufrates [hb. Parath, frutífero] (v. 14) estão relacionados aos rios que eram conhecidos pelos primeiros leitores do texto bíblico. Os rios conhecidos atualmente teriam uma localização próxima aos originais. Aqui, o leitor cristão de hoje pode fazer uma associação ao rio encontrado na futura visão da nova Jerusalém, onde também há a árvore da vida (Ap. 2.7; 22.14,19).

Gênesis 2.15 O jardim [hb. gan] estava perfeitamente preparado. Ele era o lar do homem e deveria ser lavrado [hb. ‘abad, plantio, cultivo] e guardado [hb. shamar, custódia, proteção]. Até mesmo o paraíso bíblico precisava de manutenção (Gn 1.26-28)!

Gênesis 2.16 Por Sua grande graça, Deus deu permissão ao homem para comer livremente de toda árvore do jardim, exceto da árvore da ciência do bem e do mal (v. 17). Sendo assim, a restrição era bem pequena. O homem podia comer quase tudo o que quisesse. Aparentemente, a princípio o homem limitou sua dieta aos vegetais. Somente após o Dilúvio há a menção da carne ofertada por Deus como alimento aos homens (Gn 9.3).

Gênesis 2.17 A árvore do conhecimento do bem e do mal sugere um conhecimento pleno ao associar duas palavras antagônicas [bem e mal] (como vemos em Gênesis 1.1, céus e terra, que simbolizam todo o cosmos). Nós pouco sabemos sobre essa árvore. Presumidamente, Deus desejava que o homem adquirisse sabedoria, mas tal conhecimento estava ligado ao relacionamento deste com o seu Criador.

As duas palavras na advertência certamente morrerás são bem enfáticas e têm relação com duas implicações do verbo morrer [hb. muwth, ser levado à morte, morrer prematuramente como penalidade por um crime]. Aqui, a morte da pessoa culpada não parece ser imediata, ela não cai dura e morta no chão logo após o pecado, mas gradualmente irá morrendo até que, em algum momento, sua vida se extinguirá de forma definitiva. Essa morte é certa; não há escapatória (Hb 9.27).

Gênesis 2.18 Não é bom. Pela primeira vez uma avaliação negativa aparece em Gênesis. Deus não queria que Adão ficasse só. Então, Ele providenciou uma adjutora que estivesse como diante dele; uma pessoa que o auxiliasse e correspondesse a ele. Isso indica que a companheira seria verdadeiramente adequada, recíproca e o satisfaria de forma plena. Alguns sustentam que este termo adjutora [hb. ‘ezer, auxiliadora] é degradante, mas ele simplesmente significa aquela que ajuda. De fato, esse termo também é usado, em algumas ocasiões, para descrever o amparo de Deus (Sl 33.20; 115.9,10,11). Logo, não se aplica a alguém secundário ou inferior.

Gênesis 2.19 O mesmo verbo formar [hb. yatsar], em havendo, pois, o Senhor Deus formado, usado aqui para a criação dos animais, foi empregado para descrever a criação do homem no versículo 7. Novamente, o verbo sugere um artesão moldando sua obra. Mas aqui, a obra é todo animal do campo e toda ave dos céus. Parece que Deus criou cada animal (ou espécie de animais) para que servissem ao homem e para que este os estudasse, classificasse e ver como este lhes chamaria. Ao dar a cada animal um nome, Adão exerceu seu direito como governador, representante de Deus na terra (Gn 1.26-28). Logo, Adão era superior a cada criatura criada. Posteriormente, os nomes dados por Adão foram aceitos e propagados. Isso significa que o homem demonstrou certo critério ao nomear cada criatura. Os nomes eram mais do que rótulos; deviam ser termos que descreviam aspectos e atributos desses seres.

Gênesis 2.20 Mesmo tendo uma relação tão próxima com seres viventes colocados junto a ele Adão não encontrou nenhum semelhante que o auxiliasse e lhe correspondesse. Ele precisava de uma companhia parecida com ele (v. 18); não uma serva ou uma empregada, mas alguém como ele próprio, que possuísse inteligência, personalidade, ética, sensibilidade moral e espiritualidade. Contudo, os únicos seres com os quais Adão convivia eram os animais!

Gênesis 2.21 Aqui está descrita a primeira “cirurgia”, e Deus foi o cirurgião. Em Sua bondade, Deus usou o sono pesado [hb. tardemah] como anestésico. Mais tarde, Deus faria com que Abrão caísse em profundo sono (uma espécie de transe) quando estava para estabelecer Sua aliança com Abrão [Gn 15.12]. Abrão, em seu “sono”, ainda estava ciente do que se passava; a memória permanecera. A resposta de Adão (Gn 1.23) sugere que ele também tinha certa consciência do que se passava durante seu sono sobrenatural. O uso de uma costela [hb. tsela] de Adão por Deus foi bastante apropriado. Ele poderia ter começado com barro e argila, mas ao usar uma parte interna de Adão, a identificação deste com sua parceira foi garantida. Como Lutero sabiamente observou, se Deus tivesse retirado um osso dos dedos do pé, talvez Adão a controlaria; se tivesse usado um osso da cabeça do homem, a companheira provavelmente teria controle sobre ele. Mas, ao usar o osso da costela, Deus propiciou que os dois humanos ficassem em condições de igualdade e respeito mútuo.

Gênesis 2.22 O verbo formar [hb. banah, reconstruir] significa [re]constituir fisicamente. A constituição de um corpo inteiro, a partir de pequena parte, faz sentido hoje no entendimento humano gerado pelo conhecimento das estruturas moleculares e do dna [bem como do processo de clonagem].

Gênesis 2.23 Esta [hb. zo’th] é agora ou afinal (ARA) [hb. paam] significa que finalmente o homem achou alguém semelhante a ele. A declaração exaltada de Adão [referindo-se à mulher como] ossos dos meus ossos e carne da minha carne [hb. ‘etsem ‘etsem, basar basar] é poética. Ver Eva foi uma experiência surpreendente e divertida, porque ela era o par perfeito dele. Era como se Adão tivesse diante de si um espelho; a mulher, em certo sentido, era alguém igual ao homem, mas, ao mesmo tempo, diferente! Chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. Ao dar à mulher a designação ishah, que vem de ish, homem, Adão continuou agindo de acordo com sua prerrogativa de dar nomes aos seres (v. 19). Contudo, o nome que ele deu à mulher era uma espécie de adaptação do dele, porque, para ele, ambos se ajustariam perfeitamente um ao outro.

Gênesis 2.24 No casamento, o homem deve deixar [hb. ‘azab] a sua família de origem e unir-se à sua esposa. Embora este conceito presuma existência de uma casa distinta da casa dos pais, não significa afastar-se completamente dos laços que o ligam ao clã ao qual pertence; até porque, no período patriarcal, esse tipo de família era bastante comum, próximo e interdependente. O verbo apergar-se-á fala de união física e dos aspectos gerais dos laços do matrimônio. No casamento, o homem e a mulher tornam-se uma só carne, e não apenas nós. Uma só carne [hb. ‘echad basar] sugere vínculos físicos, sexuais e emocionais, um relacionamento longo e duradouro. Ainda há duas pessoas, mas, juntas, estas se tornam uma só (Ef 5.31). A expressão uma só carne fala mais de uma unicidade (hb. ‘ehad) de vontades, que respeita a devida alteridade de personalidade, não de unidade (hb. yahid). O termo 'ehad é o mesmo usado no famoso Shema', o credo de Israel, onde Deus é comumente traduzido como o único Senhor (ver Dt 4.4; compare com Ef 5.31).No Novo Testamento, Jesus se referiu a esse texto (Gn 2.24) como o fundamento da visão bíblica do casamento (Mt 19.5; 1 Co 6.16).

Gênesis 2.25 O homem e a mulher conheciam apenas o bem e, por causa disso, eles não se envergonhavam [hb. buwsh] mesmo vivendo nus [hb. ‘arowm, descobertos]. Eles se sentiam extremamente confortáveis com seus corpos, sua sexualidade, seu relacionamento e seu trabalho — nos quais não havia ações más. O vocabulário dos versículos 24 e 25 sugere que o casal experimentou relações sexuais no jardim como parte dos planos divinos. Em Gênesis 4.1, vemos a associação da relação sexual com a procriação, o que não significa necessariamente que este foi o primeiro contato sexual de Adão e Eva.

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