Significado de Gênesis 7
Gênesis 7
Gênesis 7 continua o relato do grande dilúvio, detalhando os eventos do próprio dilúvio e o eventual abaixamento das águas. O capítulo enfatiza os temas de julgamento, obediência e salvação. O capítulo começa com Deus ordenando a Noé que entrasse na arca com sua família e os animais. Em seguida, descreve o início do dilúvio, com as águas brotando da terra e caindo do céu. As águas do dilúvio subiram por 40 dias e cobriram toda a terra, destruindo todas as criaturas vivas, exceto as que estavam na arca.
O capítulo termina com o relato do abaixamento das águas e o eventual encalhe da arca nas montanhas de Ararat. Noé envia um corvo e depois uma pomba para determinar se as águas baixaram o suficiente para que a terra seja habitada novamente. O capítulo termina com a descrição de Noé e sua família saindo da arca e oferecendo sacrifícios a Deus.
No geral, Gênesis 7 apresenta o relato do grande dilúvio e a salvação de Noé e sua família por meio da arca. O capítulo enfatiza os temas de julgamento, obediência e salvação, destacando a importância de seguir os mandamentos de Deus e as consequências da desobediência. Também ressalta a misericórdia e a graça de Deus em fornecer um meio de salvação por meio da arca e em poupar Noé e sua família para iniciar uma nova criação.
I. A Septuaginta e o Texto Hebraico
Gênesis 7 intensifica o drama do mabbûl articulando, no hebraico massorético, dois eixos que a Septuaginta verte para um grego teologicamente fértil: (1) a distinção cultual já presente antes do Sinai — min-habbĕhēmāh haṭṭĕhôrāh... waʾăšer ʾênennāh ṭĕhôrāh (“dos animais puros... e dos que não são puros”, 7:8) — que a LXX normaliza como kathara e mē kathara; e (2) a instrução de conservar vida — lĕhaḥăyôt zeraʿ (7:3) — que se torna diathrepsai sperma (“para preservar semente”). Esse mapeamento léxico (ṭāhôr → katharos; tēvāh → kibōtos) é crucial: o Novo Testamento já encontrará em grego a gramática de pureza/impureza (katharos/akathartos) e o termo técnico da arca (kibōtos), sem perder a semântica hebraica de origem.
O quadro de entrada na arca culmina no gesto de proteção divina: wayyisgōr YHWH baʿădô (“o SENHOR fechou por fora”, 7:16), que a LXX exprime com precisão espacial: ekleisen Kyrios ho Theos exōthen autou tēn kibōton — o fechamento por fora selando o refúgio. O mesmo texto grego prepara o modo como a igreja primitiva lerá o Dilúvio em chave soteriológica: “os quais em outro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água, que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;” (1 Pedro 3:20–21). Aqui, kibōtos e água deslocam-se, na mesma língua da LXX, do relato para a tipologia batismal.
A descrição cósmica do cataclismo em 7:11–12 é um caso nítido de como o hebraico e o grego se iluminam mutuamente. O massorético fala da irrupção das “fontes do grande abismo” e da abertura das “janelas dos céus”: nibqĕʿû kol-maʿyĕnōt tĕhōm rabbāh; waʾărubbōt haššāmayim niptāḥû. A LXX verte: erragēsan pasai hai pēgai tēs abyssou... kai hoi kataraktai tou ouranou ēneōchthēsan; e, em seguida, usa o léxico narrativo que o Novo Testamento herdará: hyetos (chuva), quarenta dias e noites, e — sobretudo — kataklysmos para “dilúvio” (7:17). Não por acaso, é com esse mesmo vocabulário que Jesus lê os “dias de Noé”: “E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem.” (Mateus 24:37–39). O kataklysmos (LXX) torna-se, no evangelho, a lente da vigilância escatológica.
No miolo do capítulo, o refrão do poder das águas fornece a cadência teológica que o grego canoniza: wayyigbĕrû hammayim... (“as águas prevaleceram”, 7:18–20) corresponde a to hydōr epekratei...; e a antítese com a ḥayyâ/pĕruaḥ da criação (2:7) vem revertida: “morreu toda sarx que se movia sobre a terra... tudo o que tinha pnoē zōēs nas narinas” (7:21–22 LXX). É nesse registro que o Novo Testamento fala do juízo sobre a “geração ímpia”: “e não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios;” (2 Pedro 2:5). O par dikaios (Noé) // adikoi (ímpios) e a própria palavra kataklysmos atravessam sem esforço de Gênesis 7 à parênese apostólica.
Por fim, a leitura de fé e obediência que o autor de Hebreus faz do capítulo é literalmente septuagintal: “Pela fé, Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu, e, para salvação da sua família, preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé.” (Hebreus 11:7). Pistis, phobos reverente, kibōtos, dikaiosynē — tudo isso está lexicalmente pronto em Gênesis 6–7 na LXX e é assumido pelo Novo Testamento como gramática da salvação no juízo.
Em síntese, Gênesis 7 no hebraico organiza a narrativa com termos sensoriais e cultuais (ṭāhôr/ṭāmēʾ; tēvāh; tĕhōm rabbāh; ʾărubbōt haššāmayim; gābar), enquanto a LXX a verte com um léxico que se tornará a língua franca do cristianismo: kathara/mē kathara; kibōtos; pēgai tēs abyssou; kataraktai tou ouranou; hyetos; kataklysmos; to hydōr epekratei. Essa rede liga, sem rupturas, a página hebraica ao anúncio de Jesus e dos apóstolos — de “Noé que agradou a Deus e preparou a kibōtos” à igreja que lê o kataklysmos como figura do batismo e sinal da vinda do Filho do Homem.
II. Comentário de Gênesis 7
Gênesis 7:1-3 Noé preparou a arca. Em Hebreus 11 diz que ele o faz “pela fé..., sendo avisado [por Deus] sobre coisas ainda não vistas” (Hebreus 11:7). Ele faz isso “em reverência”, por respeito ao que Deus disse. E fá-lo «para a salvação da sua família». Deus quer salvar as famílias.
Quão grande é a responsabilidade do chefe de família de viver com o Senhor, para que possa receber “avisos” divinos para construir a arca. O que estou construindo como chefe de família? O que estou fazendo como chefe de família?
Deve ter sido uma atividade tola para as pessoas de sua época. Lá eles veem um homem construindo um enorme navio, no meio do terreno, sem água na vizinhança. Contudo, eles não apenas o veem, mas também o ouvem. Noé é “pregador da justiça” (2 Pedros 2:5), por isso é chamado. Enquanto ele constrói a arca, ele avisa o povo sobre o julgamento que se aproxima e os convida a entrar na arca. Ele tem feito isso há cento e vinte anos (Gênesis 6:3).
Mas eles não acreditam. Eles continuam com a vida cotidiana. Com o passar do tempo, eles riem mais e zombam de Noé. O mesmo acontece agora: “Saibam antes de tudo isto: nos últimos dias virão escarnecedores com [suas] zombarias, seguindo as suas próprias concupiscências e dizendo: “Onde está a promessa da Sua vinda? Para sempre, desde que os pais adormeceram, tudo continua exatamente como era desde o início da criação.” Pois quando eles afirmam isso, escapa à sua atenção que pela palavra de Deus [os] céus existiram há muito tempo e [a] terra foi formada a partir da água e pela água, 6 através da qual o mundo naquela época foi destruído, sendo inundado com água” (2 Pedro 3:3-6).
Quando a arca estiver pronta, o Senhor ordena que Noé e sua casa entrem na arca e também levem consigo os animais. É surpreendente que nos animais haja uma diferença entre animais limpos e não limpos. É a primeira vez que essa diferença é mencionada. Dos animais limpos ele leva mais consigo. Isso é poder oferecê-los (Gênesis 8:20).
Gênesis 7.2, 3 A ordem de Deus para Noé levar com ele na arca sete casais de cada espécie de animal limpo é um detalhe novo (Gn 6.19). Estes animais poderiam ser usados para alimentação ou sacrifício quando as águas baixassem e eles saíssem da arca (Gn 8.20-22).
Gênesis 7.4 Farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites. O número quarenta é bastante significativo, pois representa a plenitude de um tempo especial, um ciclo (ver Gn 7.12; Nm 32.13; 1 Rs 19.8; Mt 4.2).
Gênesis 7.5 E fez Noé conforme tudo o que o Senhor lhe ordenara. Novamente, Noé obedeceu plenamente a Deus.
Gênesis 7.6 E era Noé da idade de seiscentos anos, quando o dilúvio das águas veio sobre a terra. Esta é a segunda vez que é mencionada a idade de Noé. Ele tinha 500 anos quando se tomou pai (Gn 5.32).
Gênesis 7.7-9 Chegara, finalmente, o tempo de a família e os animais entrarem na arca. Os eventos descritos nestes versículos são a síntese de um grande e extenso trabalho. A escolha dos animais que seriam levados na arca foi obra de Deus, mas coube a Noé e a seus filhos acomodá-los na arca e cuidar deles.
Gênesis 7.10 Passados sete dias, vieram sobre a terra as águas do dilúvio. O número sete segue o padrão dos números simbólicos que começou em Gênesis 2.3 (Gn 4.24).
Gênesis 7.11, 12 O detalhe narrado aqui é memorável: aos dezessete dias do mês, o juízo finalmente chegou! Todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram. As águas dos oceanos se elevaram, e as águas dos céus caíram, ambas contribuíram para uma grande inundação durante quarenta dias e quarenta noites (Gn 7.4).
Gênesis 7.13-16 A família de Noé e os animais entraram na arca. E os que entraram, macho e fêmea de toda carne entraram, como Deus lhe tinha ordenado. Aqui, podemos concluir que animais vieram a Noé; foram atraídos por Deus para a arca. E o Senhor a fechou por fora. Este ato [de fechar a porta da arca por fora] é um símbolo de conclusão, segurança e resgate divino.
Gênesis 7.17-24 Por quatro vezes nesta passagem, é dito que as águas prevaleceram (v. 18-20, 24). O verbo prevalecer [hb. gabar] significa predominar ou vencer, que suscita a ideia de vigor, força, pessoas poderosas.
Gênesis 7.19, 20 As águas subiram até quase sete metros acima das montanhas. A questão da linguagem hiperbólica é naturalmente levantada aqui, mas, ainda assim, estas palavras sugerem que as águas cobriram toda a terra.
Gênesis 7.21, 22 Tudo o que tinha fôlego de espírito de vida em seus narizes, tudo o que havia no seco, morreu. Com exceção da família de Noé e dos animais que estavam na arca, todas as criaturas que viviam na terra morreram com o Dilúvio.
Gênesis 7.23, 24 Desde o homem até ao animal. As pessoas e os animais morreram; todos os seres vivos foram exterminados da terra. Apenas Noé e os que estavam com ele na arca conseguiram escapar do terrível extermínio dos perversos que habitavam o mundo. Jesus afirmou que o final dos tempos seria similar ao que sucedeu nos dias de Noé (Mt 24.37, 38; Lc 17.26, 27). Pedro também usou o Dilúvio para aludir ao juízo final (1 Pe 3.20; 2 Pe 2.5; 3.5, 6).
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