Provérbios 24: Significado, Teologia e Exegese
Provérbios 24
Provérbios 24 dá continuidade à seção das Palavras dos Sábios, apresentando uma série de conselhos que enfatizam a importância da sabedoria na construção da vida, a necessidade de justiça e equidade, e as consequências da preguiça e da má conduta. A mensagem geral do capítulo destaca que a prosperidade duradoura e a verdadeira segurança não são alcançadas pela maldade ou pela opressão, mas sim pela diligência, pela retidão e pelo discernimento. O texto sublinha o valor de ajudar os necessitados e de resistir à tentação de imitar os pecadores. No hebraico original, a estrutura dos provérbios varia, utilizando tanto o paralelismo antitético para contrastar caminhos e resultados, quanto o sintético para aprofundar uma ideia ou apresentar suas ramificações.
Essa combinação de estilos mantém a riqueza didática do livro. Esses ensinamentos encontram ressonância direta no Novo Testamento, que também exorta os crentes a edificar suas vidas sobre fundamentos sólidos de sabedoria e a praticar a justiça e a compaixão (Mateus 7:24-27; Romanos 12:17-21; Gálatas 6:9-10). A advertência contra o deleite na queda do inimigo e a ênfase na prudência refletem princípios éticos universais, alinhando-se com a busca de uma vida moralmente íntegra.
📝 Resumo de Provérbios 24
Provérbios 24 inicia alertando contra a inveja e as más companhias, e destacando a força da sabedoria. Nos Pv 24:1–2, o texto aconselha a não invejar homens maus nem desejar estar na companhia deles, pois seus corações planejam violência e seus lábios falam malícia.
Já nos Pv 24:3–6, a sabedoria é apresentada como a base para a construção e a guerra. Pela sabedoria uma casa é edificada, e pelo entendimento ela se estabelece firmemente. Pelo conhecimento seus cômodos se enchem de todas as riquezas preciosas e agradáveis. Um homem sábio é forte, e um homem de conhecimento aumenta o seu poder. Pois você precisa de boa orientação para fazer a guerra, e a vitória vem com muitos conselheiros.
No que se refere à limitação do tolo e a justiça divina, em Pv 24:7–9, a sabedoria é muito elevada para o tolo, por isso ele não abre a boca no portão da cidade (onde as decisões são tomadas). Quem planeja o mal será chamado de intrigante. O pensamento tolo é pecado, e o zombador é uma abominação para os homens.
Em seguida, nos Pv 24:10–12, a sabedoria adverte sobre a perda de coragem e a responsabilidade de ajudar. Se você desanimar no dia da adversidade, sua força será pequena. É um dever livrar os que estão sendo levados para a morte e socorrer os que cambaleiam para o matadouro. Se você disser: “Não sabíamos disso”, Aquele que pesa os corações não o saberá? Aquele que guarda sua alma não o conhecerá? E não retribuirá Ele a cada um segundo suas obras?
Ainda sobre o valor da sabedoria e as consequências da queda do inimigo, em Pv 24:13–16, a sabedoria encoraja a comer mel, pois é bom, e o favo de mel é doce ao paladar. Assim também é a sabedoria para sua alma; se você a encontrar, haverá um futuro, e sua esperança não será frustrada. Não espreite a morada do justo como um ímpio, nem saqueie sua morada. Pois o justo pode cair sete vezes, mas se levantará novamente; os ímpios, porém, tropeçam na calamidade.
Os provérbios seguintes, nos Pv 24:17–20, tratam da compaixão e da condenação dos ímpios. Não se alegre quando seu inimigo cair, nem seu coração se regozije quando ele tropeçar, para que o Senhor não veja e isso O desagrade, e Ele desvie Sua ira dele. Não se irrite por causa dos malfeitores, nem inveje os ímpios, pois o homem mau não tem futuro, e a lâmpada dos ímpios se apagará.
Finalmente, a sabedoria conclui com a advertência sobre a rebelião e a importância da diligência. Nos Pv 24:21–22, o texto aconselha a temer o Senhor e o rei, e a não se associar com os que se rebelam contra eles. Pois a desgraça deles virá de repente, e quem pode saber a ruína que ambos podem trazer?
A sabedoria encerra o capítulo com mais ditados dos sábios. Nos Pv 24:23–26, é repreensível mostrar parcialidade no julgamento. Quem diz ao ímpio “Você é justo”, será amaldiçoado pelos povos e detestado pelas nações. Mas aqueles que os repreendem terão prosperidade, e sobre eles virá uma rica bênção. Uma resposta honesta é como um beijo nos lábios.
Os Pv 24:27–34 abordam a diligência e a preguiça. Prepare seu trabalho do lado de fora, apronte seu campo, e só depois edifique sua casa. Não seja testemunha contra seu próximo sem motivo, nem engane com seus lábios. Não diga: “Como ele fez a mim, assim farei a ele; retribuirei ao homem segundo sua obra”. O sábio observa o campo do preguiçoso e a vinha do homem sem entendimento, e vê que está cheia de espinhos, coberta de urtigas, e seu muro de pedra está em ruínas. Observa e aprende a lição: um pouco mais de sono, um pouco mais de cochilo, um pouco mais de cruzar os braços para descansar, e assim a pobreza virá sobre você como um ladrão, e a necessidade, como um homem armado.
📖 Comentário de Provérbios 31
Provérbios 24.1, 2 Enquanto Provérbio 23.17, 18 fala sobre o futuro do justo para desestimular a inveja aos ímpios, Provérbio 24.1, 2 simplesmente demonstra como os perversos são indignos de qualquer tipo de admiração. Esta passagem é semelhante a 23:17–18 e 24:19–20, e os comentários sobre a inveja dos ímpios, conforme explicado particularmente no Sl. 73 devem ser examinados. Podemos acrescentar que Sl. 37 também é relevante para esta questão com seu tema expresso em seus dois primeiros versos:
Não se preocupe com os ímpios.Na presente passagem, a associação com os ímpios é proibida porque os sábios compreenderam o poder da influência. Se alguém inveja e se associa com pessoas más, então é mais do que provável que elas mesmas se tornem más. O segundo verso lembra ao leitor a natureza das pessoas más, mostrando mais uma vez a conexão entre o coração e os lábios. Seu coração, representando seu caráter interior, deseja a destruição, então seus lábios falam de problemas que os levarão ao seu objetivo final.
Não inveje aqueles que fazem o mal.
Pois como a grama, eles logo desaparecerão.
Como as flores da primavera, elas logo murcham. (NLT)
Provérbios 24.3-11 Estes versículos falam com certa confiança e entendimento da vida após a morte (Pv 23.17,18). O versículo 11 é uma oração a Deus em vista da aproximação da morte. Em outro lugar, o sábio fez uma conexão semelhante entre sabedoria e construção de casas. Aqui a casa não é apenas a estrutura física mas a incluiria. Uma vida sábia traria os recursos e prepararia o caminho para a construção de uma bela casa. No entanto, o significado mais profundo é mais relevante e tem a ver com as relações familiares. A sabedoria implica a capacidade de dizer a coisa certa e agir da maneira certa para construir a comunidade e não destruí-la. Também devemos lembrar que Javé construiu o cosmos por meio de sua sabedoria (3:19–20; 8:22–31). Também pensamos em Prov. 31:10–31, onde a nobre mulher constrói sua casa por meio da sabedoria.
Provérbios 24:5–6 Neste provérbio melhor do que, aprendemos que a sabedoria é mais importante do que a força. Novamente, como é o caso de provérbios melhores do que, não é uma questão de força estar errada ou ruim, mas a sabedoria é melhor. De fato, o valor da sabedoria não é necessariamente evitar a guerra, mas fornecer a estratégia por meio da qual a força pode encontrar sua expressão mais eficiente e, assim, levar à vitória. Eclesiastes fornece declarações e anedotas que apoiam isso e também reconhecem que, em última análise, até a própria sabedoria tem seus limites (7:19; 9:13-16).
Provérbios 24:7–9 Esta unidade é unida pela repetição do termo “pessoas estúpidas” (ʾĕwîl/ʾiwwelet) nos vv. 7–9. No v. 8 e 9 é também a repetição de substantivos construídos no radical verbal zmm, que significa “conspiração”. O objetivo é caracterizar negativamente os estúpidos como aqueles que nos dois pontos finais são identificados como escarnecedores, a forma mais extrema de tolos.
Pessoas estúpidas não podem ser sábias porque isso está além delas, e o resultado é que elas ficam quietas em um lugar-chave da liderança da comunidade: “o portão”. Eles podem não planejar uma estratégia comunitária benéfica em um local público como o portão, mas tramam e tramam secretamente de uma forma que é destrutiva para a comunidade. O último podemos derivar do fato de que é chamado de “mal” e “pecado”. Os dois pontos finais revelam que a comunidade despreza essas pessoas. Como diz Clifford, “ Insensatez... aliena alguém da comunidade”. [Clifford, Proverbs, p. 214.]
Provérbios 24:10–12 Esses versículos são difíceis de entender e levantam uma série de questões. Em última análise, para alcançar qualquer tipo de concretude, a passagem deve ser entendida à luz do restante do livro de Provérbios e, finalmente, do cânon como um todo. Em primeiro lugar, esta passagem não pode ser citada em todos os casos em que alguém deve ser morto. Isso não pode ser usado para argumentar que a Bíblia, por exemplo, é contra a pena de morte em princípio ou contra toda matança na guerra. Não teria sido entendido dessa forma no contexto de um cânon que inclui narrativa e lei apoiadas pela sanção divina, a pena capital em certos casos, bem como matar na guerra sob certas condições. Assim, no máximo, esse provérbio só seria verdadeiro nas circunstâncias em que se pudesse demonstrar que matar é injustificado.
No entanto, talvez ainda mais persuasiva seja a ideia de que a morte não é resultado de um assassinato real, mas sim de um comportamento tolo que leva à morte. Por exemplo, Prov. 7 retrata um jovem que vai para uma mulher promíscua, e o sábio o compara a um boi indo para o matadouro. Se esse tipo de situação estiver implícito, então a passagem é um apelo à coragem para tentar impedir as pessoas de seu comportamento tolo, com suas consequências de morte.
No entanto, em qualquer leitura, o v. 12 é difícil de entender. O que o aluno não sabe nessa situação hipotética: que o comportamento da pessoa tem como consequência a morte, ou que a pessoa estava mesmo se comportando de uma forma que levaria à morte? Então, o apelo aos corações conhecedores de Deus é uma segurança reconfortante? Mas quem são as pessoas que pagarão por seus atos? Parece ser uma passagem afirmando que “a covardia diante da injustiça é repreensível” [Murphy, Proverbs, p. 181], mas, mesmo assim, muito dessa passagem permanece difícil.
Provérbios 24.12 Não pagará ele ao homem conforme a sua obra. As palavras de Jesus sobre as recompensas eternas abrem e encerram o Novo Testamento (compare Mt 5.11,12 a Ap 22.12). Ainda assim, o sacrifício de Jesus na cruz libertara de qualquer condenação aqueles que nele crerem (Rm 5.18; G1 3.18; Ap 22.17).
Provérbios 24.13, 14 Aqui está uma das associações do mel e do favo de mel a sabedoria feitas em Provérbios (Pv 16.24) A sabedoria e sua busca, embora rigorosas, fazem bem a alma e podem ser prazerosas. O provérbio é mais um incentivo para buscar a aquisição da sabedoria. Ele traça uma analogia entre comer mel e conhecer a sabedoria. Assim como o mel é para as papilas gustativas, a sabedoria é para a vida interior. Comer mel é uma experiência prazerosa e pode ter resultados benéficos, como em 16:24, onde o mel é comparado a palavras sábias, ambas com qualidade medicinal. Além disso, o mel tem conotações sexuais em um contexto como Cantares 4:11. A analogia só pode ser pressionada até agora, pois, como o sábio adverte em Prov. 25:16, 27, comer muito mel pode deixar uma pessoa doente. Certamente o sábio não emitiria o mesmo aviso em relação à sabedoria.
O benefício da sabedoria é que ela fornece um futuro para uma pessoa. Dá esperança a essa pessoa. No nível mais simples, isso se referiria ao fato de que viver de acordo com os princípios de sabedoria enunciados em Provérbios forneceria a estratégia para evitar problemas que poderiam levar a uma morte prematura. Por outro lado, e certamente lido de uma perspectiva canônica, a busca da sabedoria que implica uma relação com a Sabedoria divina levaria à vida mesmo além da morte. Clifford observa uma semelhança desta passagem com Sir. 24:19–20: “Vinde a mim, vós que me desejais, e comei fartamente dos meus frutos. Porque a minha memória é mais doce do que o mel, e a minha posse mais doce do que o favo de mel” (NRSV). [Clifford, Proverbs, p. 215.]
Provérbios 24:15 “Ó perverso, não espreites a morada do justo, nem assoles o lugar onde ele repousa.” Neste versículo, Deus dirige-se diretamente ao ímpio — rāšāʿ — com uma ordem clara: não planeje nem execute mal contra o justo. O hebraico usa a expressão ʾal-terešāʿ miškēn-ṣaddîq, que pode ser traduzida como “não espreites a habitação do justo”, usando o verbo šārad, com o sentido de espreitar, rondar com más intenções. É uma repreensão não apenas contra atos violentos visíveis, mas também contra tramas ocultas, ciladas disfarçadas, desejos de ver a queda dos bons. O versículo revela algo fundamental: Deus não apenas protege os justos, mas também adverte os ímpios para que sequer cogitem tocá-los. Isso reforça a convicção bíblica de que o justo vive sob a guarda do Senhor. Como diz o Salmo 34:7, “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra.”
Muffet (1868) comenta que este versículo contém “um preceito dado aos perseguidores […] para que se abstenham de importunar e perseguir os inocentes” (p. 134). Ele conecta essa ideia ao Salmo 37:32, onde Davi diz que “o ímpio espreita o justo e procura matá-lo.” O comentarista nota ainda que o Espírito de Deus chama o perverso “por nome”, não permitindo que ele sequer “se esconda em algum canto” para surpreender o justo. A linguagem do provérbio reflete essa tensão entre o plano oculto do mal e a vigilância constante do Senhor sobre os seus. Deus não apenas vê o mal; Ele o impede, o denuncia e o desarma.
É importante destacar que a “morada do justo” — miškān ṣaddîq — é o símbolo do seu repouso, da sua paz, da bênção de Deus sobre sua vida. Atacar essa morada é atacar aquilo que Deus estabeleceu. Por isso, o provérbio é mais do que um aviso: é uma ameaça velada àqueles que ousam levantar-se contra os filhos de Deus. No Novo Testamento, esse princípio também aparece claramente: Jesus adverte que quem toca em um dos seus pequeninos, “melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho” (Mateus 18:6). Da mesma forma, Paulo afirma em Romanos 12:19: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus; porque está escrito: A mim pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” A mensagem é clara: quem se levanta contra o justo está se colocando debaixo do juízo de Deus.
Provérbios 24:15, portanto, não é apenas uma proibição ao ímpio. É uma afirmação de confiança: Deus guarda o justo. Ele vê quem se aproxima com más intenções. Ele frustra os planos secretos, desfaz as armadilhas e preserva o que é seu. E como nos garante o Novo Testamento, “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31). Aqueles que habitam sob sua sombra podem descansar em segurança — mesmo quando o inimigo ronda a sua porta.
Provérbios 24.16 “Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará; mas os ímpios tropeçarão no mal.” Essa afirmação, em sua simplicidade, carrega uma das verdades mais poderosas da sabedoria bíblica: o justo não é alguém que nunca cai, mas alguém que nunca desiste de se levantar. O verbo hebraico usado para “cair” é nāphal, que pode se referir tanto a tropeços físicos quanto a quedas morais ou espirituais. Já o verbo “levantar-se” é qūm, e carrega a ideia de se erguer com firmeza, como quem ressurge com propósito. O número “sete” aqui, šévaʿ, tem valor simbólico na Bíblia — representa a totalidade, a plenitude. Ou seja, o texto não quer dizer que o justo cairá exatamente sete vezes, mas que mesmo que ele experimente a queda em toda sua extensão, ainda assim se levantará. Sua persistência não é baseada em sua força própria, mas em sua fidelidade ao Deus que o sustenta.
Essa perseverança do justo se manifesta, sobretudo, na sua relação com a Palavra de Deus. Ele pode pecar, pode falhar diante de Deus — mas não permanece caído. Como diz o Salmo 37:24, “Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a sua mão.” O justo é aquele que, mesmo em meio à dor, se humilha, confessa, se arrepende e retorna ao caminho — como Pedro, que negou Jesus, mas foi restaurado (Lucas 22:61–62; João 21:15–17). A diferença entre o justo e o ímpio não está na ausência de falhas, mas na resposta ao fracasso. O ímpio, como diz o texto, “tropeça no mal” — ou seja, quando cai, afunda-se, porque seu coração não está firmado na ḥokhmāh (sabedoria), nem no temor de Deus. O texto hebraico pode ser entendido como uma advertência direta ao ímpio que pensa que pode destruir o justo por meio de suas quedas. Mas também pode ser lido como um encorajamento ao discípulo do sábio, dizendo: “Você cairá, sim. Mas levante-se! Porque sua esperança está em algo maior.” Essa esperança está ligada ao Redentor vivo (cf. Pv 23:11), aquele que defende a causa do justo e que, no Novo Testamento, se revela plenamente em Cristo — aquele que mesmo após a queda do homem, levantou-o para a vida (cf. Romanos 5:18).
Em última instância, o justo é alguém que olha além do tropeço presente e vê o futuro glorioso que o aguarda. Ele não é cego à dor nem imune ao pecado, mas conhece Aquele que é fiel para perdoar e purificar (1 João 1:9). Assim, Provérbios 24:16 encapsula o coração do sábio: um espírito quebrantado, mas inquebrantável; um coração que sofre, mas que confia; um homem ou mulher que tropeça, mas levanta os olhos — e com eles, a alma.
Provérbios 24:17–18 O aviso é claro o suficiente. Quando algo ruim acontecer a um inimigo, não fique feliz para que Deus não fique chateado (veja ideias semelhantes expressas em Salmos 35:15–16; Jó 31:29). Mas de que tipo de inimigo estamos falando aqui? Certamente, Deus não se aborrece com Moisés e os israelitas quando celebram a destruição das tropas egípcias no Mar Vermelho (Êx 15) ou com Débora quando ela canta a vitória sobre Midiã (Jz 5).
Podemos estar falando de inimigos pessoais, companheiros israelitas. Este provérbio seria verdadeiro apenas se falado na circunstância certa e, portanto, não é universalmente verdadeiro, mas exatamente o que seria essa circunstância não está claro.
De qualquer forma, a cláusula do motivo é, a princípio, bastante chocante. Parece que a queda do inimigo prevista no v. 17 é o resultado da ira divina contra o inimigo, e o medo é que, se o Senhor ficar zangado com a alegria de alguém pela derrota do inimigo, Deus o deixará em paz. O que está claro é que a vingança é obra de Deus e não de seres humanos (ver Deuteronômio 32:35 e o desenvolvimento posterior dessa ideia em Romanos 12:17-21).
Provérbios 24:19–20 Esta passagem é a terceira vez dentro dos “ditos dos sábios” onde o sábio adverte contra a inveja de pessoas perversas (veja também 23:17–18; 24:1–2). Deve ter sido uma tentação comum para os sábios fazer seu sangue ferver ao ver pessoas ímpias se saindo bem na vida. Na passagem atual, apela -se para a falta de “futuro” para os ímpios, o que certamente implica que os piedosos têm futuro. No que diz respeito à natureza do futuro imaginado aqui, certamente é verdade que esta passagem e outras semelhantes não poderiam ser usadas como prova textual de uma crença na vida após a morte. Por outro lado, parece banal ao extremo pensar que os sábios pensavam apenas nesta vida. Afinal, se a passagem está aludindo à morte física no v. 20, os sábios foram espertos o suficiente para saber que os sábios também morreram, e alguns deles morreram ainda jovens. No mínimo, essa passagem sugere a ideia de que a vida durou além do túmulo.
Provérbios 24.17-22 Este provérbio vincula-se mais absolutamente aos reis da dinastia davídica, que eram regentes de Deus sobre a terra. Uma das formas pelas quais os antigos israelitas podiam demonstrar reverência ao Senhor era respeitando o rei. O dever de honrar autoridades civis ainda se aplica até os dias de hoje (Rm 13.1).
Provérbios 24:21–22 Os sábios sabiam que uma vida de sucesso vinha de conhecer o lugar certo na estrutura de poder do universo e sua cultura. Eles entenderam que era importante respeitar os poderes acima deles, tanto divinos quanto humanos. Este é particularmente o caso quando esses poderes têm a capacidade de destruí-los. O último é certamente o caso de Deus e do rei.
Aqui está uma colocação incomum de “Deus” e “rei”. Podemos considerar o fato de que o provérbio provavelmente presume um rei piedoso que refletiria a realeza de Deus. Para ver um abuso desta provisão, veja 1 Reis 21, onde a acusação forjada contra Nabote é que ele amaldiçoou a Deus e ao rei.
Provérbios 24.23-34 A expressão “também estes são provérbios dos sábios” é um título de trecho bíblico que corresponde a Provérbio 22.17. Os versículos 23 a 34 do capítulo 24 servem como apêndice da parte anterior (Pv 22.17—24.22). A preocupação básica de Israel com a igualdade de juízo [a justiça] era uma virtude vinculada ao caráter de Deus. Como o Senhor não demonstra parcialidade, nós também não devemos fazê-lo.
Provérbios 24:23–25 No adendo aos ditos dos sábios, a primeira passagem proverbial tem a ver com julgar com justiça, e seu cenário principal é o tribunal. A passagem começa com um monocórnio que afirma claramente o princípio por trás do resto e condena o favoritismo nos julgamentos. O versículo 24 explica isso citando um caso em que a parte culpada é declarada inocente e presumivelmente libertada. Nenhuma razão é dada para este julgamento equivocado, mas uma vez que provavelmente presume que os juízes sabem melhor, pode prever um suborno e a possibilidade de que o réu seja um comparsa daqueles que fazem julgamentos.
Tal perversão da justiça terá um efeito devastador na sociedade. Além de ser grosseiramente injusto para com as vítimas, a falta de um sistema judicial competente ou justo encoraja a improbidade na comunidade. Enquanto o v. 24 fornece motivação negativa para os juízes observarem regras estritas de justiça, o v. 25 descreve a cenoura. Aqueles que julgam com equidade serão recompensados. Novamente, não é explicado como, mas vemos o contraste entre a maldição sobre aqueles que torcem a justiça e a bênção sobre aqueles que fazem um julgamento justo. Embora o foco principal desta passagem seja o tribunal, o princípio pode ser aplicado à honestidade em todas as áreas da vida.
Provérbios 24.25-27 A questão das prioridades está em discussão no versículo 27: “apronta-a no campo.” O sábio cuidará primeiro das coisas mais básicas, neste caso, arar a terra e plantar as sementes. Depois, enquanto aguarda o tempo da colheita, ele pode atentar para outros interesses e edificar a sua casa. Talvez o assunto em questão aqui também faça alusão ao estabelecimento de uma família. A pessoa deve estar certa de que estabeleceu uma vida bem-ordenada antes de embarcar no casamento.
Provérbios 24:26 Este provérbio autônomo repete um pensamento comumente ouvido em provérbios, que a verdade não é apenas correta, mas também benéfica (12:17, 19; 14:25). Beijar e dizer a verdade são dois atos positivos e prazerosos que se pode realizar ou receber dos lábios. Dizer a verdade é um ato de bondade.
Rejeitamos a alegação de J. M. Cohen de que o versículo “não pode produzir nenhum significado satisfatório” se o verbo nšq for tomado em seu significado de longe típico, “beijar”. Ele defende um significado obscuro aqui (e também em Gênesis 41:40 e Jó 31:27): “ligar, selar os lábios”. Ele assim traduz: “Aquele que dá julgamento direto silenciará todos os lábios hostis”.
Provérbios 24:27 Este provérbio adverte contra estabelecer as necessidades internas antes de colocar as coisas em ordem em público. A referência a “campo” pode ser uma referência a colocar em ordem primeiro a fonte de renda, presumindo-se, isto é, uma configuração agrária do provérbio. O princípio geral é bem expresso por Whybray: “Não empreenda nada precipitadamente sem a devida preparação”. [Whybray, Proverbs, p. 354.]
Provérbios 24.28, 29 O justo jamais dará testemunho falso, baseado no engano, para agradar um e prejudicar o outro, injustamente. Este é um dos nossos deveres mais importantes, lembrados por Jesus no sermão da montanha (Mt 7.12).
Provérbios 24:28–29 É difícil determinar se esses são dois provérbios separados. A primeira é uma variante da advertência comum contra o falso testemunho (14:5, 25). Nesse caso, o foco está no falso testemunho sobre um vizinho. Embora a linguagem de “testemunha” (ʿēd) sugira um cenário legal formal, o princípio certamente se aplica também a fofocas e boatos. Para falar contra um vizinho, precisa haver um motivo; caso contrário, o orador é enganoso e cria discórdia na comunidade. A força da cláusula do motivo no v. 28b parece depender do fato de que o ouvinte é uma pessoa honrada. Certamente, aqueles que não são honrados podem estar perfeitamente dispostos a se envolver em fraudes para obter algum tipo de vantagem sobre um vizinho.
O segundo provérbio adverte contra a busca de vingança. Se conectado com o versículo anterior, a ideia seria que as pessoas se sentiriam justificadas em dar falso testemunho contra um vizinho com base no fato de que o vizinho as havia prejudicado anteriormente. É possível que todo o versículo seja colocado entre aspas e, portanto, entendido como uma advertência contra a busca de vingança pura e simples; no entanto, também é possível que os últimos dois pontos sejam interpretados como um comentário de Deus, que diz, no espírito de Rom. 12:19–21 (citando Prov. 25:21–22), que os seres humanos não precisam buscar vingança porque o próprio Deus cuidará da situação. Contra esse entendimento está o fato de que nesses provérbios o sábio normalmente está falando, não Deus diretamente.
Provérbios 24.30-34 Por causa do seu desleixo, o campo do preguiçoso vive em caos total. Desta triste situação, os sábios tiram uma lição. A única preocupação dos preguiçosos é dormir e descansar por nada haver feito.
Provérbios 24:30–34 Esta passagem é uma sátira estendida sobre pessoas preguiçosas. Este tópico é um dos mais comentados ao longo do livro de Provérbios. A preguiça é o cúmulo do comportamento tolo e merece ser parodiada. Afinal, ela traz consequências difíceis tanto para o indivíduo quanto para a comunidade, e é facilmente remediada. Este último é o caso da verdadeira preguiça, não da falta de trabalho por outros motivos, como a deficiência. Se alguém é simplesmente preguiçoso, o antídoto é o trabalho duro.
Esta passagem narra uma anedota, que é uma reminiscência de Prov. 7, onde uma anedota também adverte sobre o comportamento tolo. Ambas as anedotas são narradas do ponto de vista do sábio que observa o comportamento tolo. Neste caso, o preguiçoso é um agricultor cujos campos estão em péssimo estado devido ao abandono. Espinhos e ervas daninhas estão lá em abundância, presumivelmente atrapalhando a colheita. Não só isso, mas as paredes que delimitam o campo também estão desmoronando. A lição é simples e óbvia. A negligência causada pela preguiça leva a campos improdutivos, que significam pobreza.
No v. 34, a descrição das consequências da preguiça é a parte mais difícil da passagem, e a tradução acima e a explicação a seguir são oferecidas provisoriamente. Uma tradução literal do primeiro dois pontos pode ser algo assim:
Vem rastejando sua pobreza.Minha tradução usa “pobreza” como sujeito da frase, com “vem” como verbo principal. “Rastejar” então é uma descrição de como a pobreza atinge a pessoa preguiçosa. A segunda vírgula é mais direta, entendendo o verbo principal como “rastejando”, omitido, mas compreendido a partir da primeira vírgula. Alguns comentaristas, no entanto, apontam que “pessoa de escudo”, que tomamos como “pessoa com escudo”, às vezes é considerada uma sinédoque (parte pelo todo) e traduzida como “pessoa armada”. Outras vezes, uma abordagem mais radical é adotada, de modo que māgēn não é considerado o substantivo relativamente comum “escudo”, mas sim como “mendigo”, baseado em outro substantivo hebraico: megen, “presente”. Essa tradução geralmente é combinada com uma compreensão de “rastejar” como “ vagar” e apontar para um vagabundo. A tradução de Clifford segue esse rota:
O segundo dois pontos:
Sua privação como uma pessoa de escudo.
E a pobreza de um vagabundo virá sobre você,Embora não se possa determinar com certeza a força exata desse versículo final, fica claro que a advertência tem a intenção de informar as pessoas de que a pobreza pode surgir inesperadamente sobre o preguiçoso.
a miséria de um mendigo.
[Clifford, Proverbs, pp. 217–18]
🙏 Devocional de Provérbios 24
Provérbios 24:1-5 (A Aversão ao Mal e o Poder da Sabedoria)
Provérbios 24 inicia com uma forte advertência contra a inveja e a má conduta, elevando o valor da sabedoria. O versículo 1 admoesta: “Não tenhas inveja dos maus, nem desejes estar com eles”. O v. 2 explica a razão: “Porque o coração deles pensa em roubo, e os seus lábios falam perversidades”, revelando a malícia intrínseca dos ímpios. Os vv. 3-4 enfatizam o poder da sabedoria na construção e no enriquecimento: “Com a sabedoria se edifica a casa, e com a inteligência ela se firma; e pelo conhecimento se encherão as suas câmaras de todas as riquezas e bens preciosos e agradáveis”. Finalmente, o v. 5 conclui que “o homem sábio é forte, e o homem de conhecimento é mais poderoso”.
A aplicação prática dessas verdades nos impele a evitar a inveja, a buscar a sabedoria como alicerce de tudo e a reconhecer seu poder. Para o seguidor de Cristo, a inveja do sucesso dos ímpios é uma armadilha, pois sua prosperidade é ilusória e seu caminho, perverso (Salmo 73:3). A verdadeira força e riqueza não estão na força bruta ou nos bens materiais, mas na sabedoria que vem de Deus, que edifica a vida em todos os aspectos (Mateus 7:24-27). No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a não invejar o sucesso dos desonestos, mostrando que a verdadeira segurança e prosperidade vêm da sabedoria e do conhecimento. Eles devem também enfatizar que a sabedoria é o fundamento para construir um lar sólido e para preencher a vida com valores duradouros. Filhos aprendem que a inveja é um sentimento destrutivo e que a busca pelo conhecimento e pela sabedoria é a fonte de verdadeira força e bem-estar.
No ambiente profissional, a busca por atalhos ou a inveja do sucesso alheio levam a condutas antiéticas. A sabedoria, o conhecimento e o discernimento são as ferramentas mais poderosas para construir uma carreira sólida e para preencher a vida profissional com realizações significativas, superando a força bruta ou a mera astúcia. Na comunidade eclesiástica, a inveja deve ser combatida, e a sabedoria, o conhecimento da Palavra de Deus e a inteligência espiritual devem ser valorizados como os verdadeiros pilares da edificação do corpo de Cristo. Como cidadãos, somos chamados a combater a inveja e a maldade em nossas comunidades, promovendo a sabedoria e o conhecimento como os verdadeiros motores do progresso e da construção de uma sociedade próspera e segura, onde a força está na inteligência e na integridade.
Provérbios 24:6-10 (A Necessidade do Bom Conselho e o Perigo da Covardia)
Este bloco de Provérbios 24 continua a enfatizar a importância do conselho e a condenar a insensatez e a covardia em tempos de adversidade. O versículo 6 declara que “com prudentes conselhos farás a guerra, e na multidão de conselheiros há segurança”, sublinhando a necessidade de buscar orientação antes de agir, especialmente em decisões importantes. O v. 7 aponta que “a sabedoria é demasiadamente alta para o tolo; ele não abrirá a sua boca na porta”, indicando que o insensato é incapaz de participar de debates sábios ou de adquirir conhecimento profundo. O v. 8 adverte: “Aquele que maquina o mal, chamá-lo-ão maquinador de males”. O v. 9 afirma que “o desígnio do tolo é pecado, e o zombador é abominação para os homens”. Finalmente, o v. 10 questiona a resiliência: “Se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena”.
A aplicação prática dessas verdades nos impele a buscar conselhos, a rejeitar a maldade e a cultivar a perseverança diante das dificuldades. Para o seguidor de Cristo, a busca por conselho em decisões importantes, sejam elas pessoais ou na igreja, é uma prática de humildade e sabedoria (Provérbios 15:22). A insensatez e a maldade que planejam o mal são condenáveis e atraem a reprovação divina e humana. A covardia ou o desânimo diante da adversidade revelam uma fraqueza de caráter que deve ser superada pela fé e pela resiliência (Filipenses 4:13). No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a buscar conselho de pessoas sábias e a não se envolver em planos maliciosos. Eles devem também incentivá-los a enfrentar os desafios com coragem e determinação, sem se render ao desânimo. Filhos aprendem que a sabedoria vem de ouvir e que a maldade no coração leva ao pecado.
No ambiente profissional, a consulta a especialistas e a colaboração em equipe são cruciais para o sucesso de projetos e para evitar erros. Planejar o mal contra colegas ou a empresa é inaceitável. A resiliência diante das pressões e dos desafios é uma qualidade valorizada, pois a fraqueza em momentos de crise compromete o desempenho. Na comunidade eclesiástica, a importância do conselho pastoral e a participação em grupos de discipulado são fundamentais para o crescimento espiritual. A igreja deve ser um lugar onde a maldade e a zombaria são confrontadas, e onde se encoraja a perseverança e a fortaleza em meio às provações da fé. Como cidadãos, somos chamados a buscar a sabedoria coletiva para tomar decisões importantes em nossas comunidades, a combater os planos maliciosos e a conduta zombadora. A promoção da resiliência e da coragem cívica em tempos de crise é fundamental para a superação de desafios nacionais, pois a fraqueza diante da adversidade compromete o futuro coletivo.
Provérbios 24:11-14 (A Responsabilidade de Salvar e a Recompensa da Sabedoria)
Este bloco de Provérbios 24 impõe uma responsabilidade moral sobre a omissão e reafirma a recompensa para aqueles que buscam a sabedoria. O versículo 11 questiona e adverte: “Se reténs o teu pé de livrar os que estão sendo levados para a morte, e os que cambaleiam para a matança”. O v. 12 continua: “Se disseres: ‘Eis que o não sabíamos!’; porventura não o pesará aquele que pesa os corações? E aquele que guarda a tua alma não o saberá? E não retribuirá ao homem segundo as suas obras?”, sublinhando a onisciência divina e a inevitabilidade da retribuição pelas ações (ou omissões). O v. 13 faz um convite à sabedoria: “Come mel, meu filho, porque é bom; e o favo de mel, que é doce ao teu paladar”. Finalmente, o v. 14 compara a sabedoria ao mel, prometendo um futuro e uma esperança: “Assim será o conhecimento da sabedoria para a tua alma: se a achares, haverá para ti bom futuro, e a tua esperança não será frustrada”.
A aplicação prática dessas verdades nos impele a ser proativos na defesa do próximo e a buscar a sabedoria como o verdadeiro bem. Para o seguidor de Cristo, a omissão diante da injustiça e do sofrimento alheio é um pecado que Deus conhece e que será julgado (Tiago 4:17). Somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo, agindo em favor dos oprimidos (Mateus 5:13-16). A sabedoria, que é o conhecimento de Deus, é mais doce que o mel e garante um futuro de esperança inabalável. No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a não serem indiferentes ao sofrimento dos outros e a agir em defesa dos que estão em perigo, mostrando que a omissão tem consequências. Eles devem também incentivar a busca ardente pela sabedoria, comparando-a a um alimento delicioso que nutre a alma e garante um futuro promissor.
Filhos aprendem que a indiferença é condenável e que a sabedoria é o verdadeiro tesouro que traz felicidade e segurança. No ambiente profissional, a responsabilidade de agir em caso de injustiça ou de perigo para colegas é um imperativo ético. A busca por conhecimento e a aplicação da sabedoria no trabalho são fontes de satisfação e de sucesso a longo prazo, garantindo um futuro mais seguro na carreira. Na comunidade eclesiástica, a igreja tem o dever de ser a voz dos que não têm voz, agindo em defesa dos vulneráveis e dos que sofrem perseguição. A pregação da sabedoria de Deus é a fonte de esperança para a comunidade, que deve ser alimentada com a verdade. Como cidadãos, somos chamados a ser vigilantes e a agir em defesa dos direitos humanos, não nos calando diante da injustiça e da opressão. A busca por sabedoria e conhecimento em todas as áreas da vida pública é fundamental para construir um futuro próspero e justo, onde a esperança não seja frustrada para ninguém.
Provérbios 24:15-22 (A Queda do Ímpio e o Temor ao Senhor e ao Rei)
Este bloco de Provérbios 24 contrasta a queda inevitável do ímpio com a resiliência do justo e adverte sobre o perigo de se associar com rebeldes. O versículo 15 adverte: “Não ponhas ciladas, ó ímpio, à habitação do justo, nem assoles o seu lugar de repouso”. O v. 16 explica o contraste: “Porque sete vezes cairá o justo e se levantará, mas os ímpios cairão no mal”, revelando a resiliência do justo e a ruína final do perverso. O v. 17 aconselha a não se alegrar com a queda do inimigo: “Quando cair o teu inimigo, não te alegres, nem se regozije o teu coração quando ele tropeçar”. O v. 18 explica a razão: “Para que o Senhor não veja isso, e lhe pareça mal, e desvie dele a sua ira para ti”, indicando a vigilância divina sobre nossas atitudes. Os vv. 19-20 desaconselham a inveja e a má conduta: “Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos ímpios; porque não haverá bom futuro para o mau, e a lâmpada dos ímpios se apagará”. Finalmente, os vv. 21-22 fazem uma forte exortação ao temor a Deus e ao rei: “Teme ao Senhor, filho meu, e ao rei, e não te associes com os rebeldes; porque de repente se levantará a sua calamidade, e quem conhece a ruína que virá de ambos?”
A aplicação prática dessas verdades nos impele a viver com justiça, a controlar nossas emoções diante da queda alheia, a não invejar o mal e a temer a Deus e às autoridades. Para o seguidor de Cristo, a certeza de que Deus defende o justo e de que Ele o levantará mesmo após quedas (Salmo 37:24) é um grande consolo. A alegria com o sofrimento do inimigo é contrária ao espírito de Cristo (Mateus 5:44). A inveja do aparente sucesso dos ímpios é inútil, pois sua ruína é certa. O temor ao Senhor é a base para a vida reta, e o respeito às autoridades estabelecidas é um princípio bíblico (Romanos 13:1-7). No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a não se alegrar com a desgraça alheia e a não invejar aqueles que parecem prosperar na maldade. Eles devem também incutir o temor a Deus e o respeito às leis e autoridades, alertando sobre os perigos de se associar com rebeldes.
Filhos aprendem que a resiliência é uma virtude e que a inveja é um sentimento destrutivo. No ambiente profissional, a ética e o respeito aos colegas e superiores são cruciais. A celebração da queda de um concorrente ou colega é uma atitude antiética. A conduta diligente e honesta, sem inveja, é o caminho para um bom futuro. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve promover o perdão e a compaixão, mesmo para com os inimigos. A condenação da inveja e da rebelião contra as autoridades (tanto seculares quanto eclesiásticas) é fundamental para a ordem e o testemunho. Como cidadãos, somos chamados a respeitar as leis e as autoridades, a não nos alegrar com a queda de adversários políticos ou sociais, e a não invejar aqueles que prosperam por meios ilícitos, pois sua "lâmpada se apagará". A rejeição de grupos rebeldes e a promoção da ordem e do temor a Deus são cruciais para a estabilidade e a segurança de uma nação.
Provérbios 24:23-26 (A Imparcialidade na Justiça e a Sinceridade da Resposta)
Este bloco de Provérbios 24 introduz um novo conjunto de "ditos dos sábios", com foco na imparcialidade e na honestidade na comunicação. O versículo 23 começa: “Também estes são ditos dos sábios: Fazer acepção de pessoas no juízo não é bom”. O v. 24 adverte sobre a condenação da justiça: “Aquele que disser ao ímpio: ‘Tu és justo’, os povos o amaldiçoarão, as nações o abominarão”. O v. 25, por sua vez, elogia a retidão: “Mas para os que o repreenderem haverá deleite, e sobre eles virá a bênção do bem”. Finalmente, o v. 26 afirma que “beija os lábios aquele que dá uma resposta reta”.
A aplicação prática dessas verdades nos impele à imparcialidade, à coragem de falar a verdade e à clareza na comunicação. Para o seguidor de Cristo, a acepção de pessoas (favoritismo) é abominável a Deus (Tiago 2:1-4). Repreender o ímpio e o erro, quando necessário, é um ato de coragem que atrai a bênção, mesmo que impopular. A honestidade e a clareza ao se comunicar são valorizadas, pois a verdade, dita com amor, é como um beijo (Provérbios 27:6). No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a tratar a todos com igualdade, sem favoritismo. Eles devem também incentivá-los a falar a verdade, mesmo que seja difícil, e a se comunicar de forma clara e honesta. Filhos aprendem que a imparcialidade é uma virtude e que a verdade, dita com retidão, é sempre bem-vinda.
No ambiente profissional, a imparcialidade nas avaliações e nas decisões é essencial para a justiça e para manter a confiança da equipe. A coragem de dar feedback construtivo e de corrigir erros, mesmo que doloroso, é fundamental para o crescimento profissional. A comunicação direta e honesta, que esclarece e orienta, é altamente valorizada. Na comunidade eclesiástica, a igreja deve praticar a imparcialidade em todos os seus juízos e decisões, repreendendo o pecado com amor e buscando a restauração. A clareza e a verdade na pregação e nas conversas são essenciais para a edificação. Como cidadãos, somos chamados a promover a justiça e a imparcialidade em nossas instituições e no debate público. A coragem de denunciar a injustiça e de falar a verdade, mesmo que impopular, é crucial para a saúde democrática de uma nação, e a comunicação transparente e honesta é um pilar da confiança social.
Provérbios 24:27-34 (O Planejamento, a Honestidade Testemunhal e a Advertência ao Preguiçoso)
Este bloco final de Provérbios 24 encerra o capítulo com conselhos sobre o planejamento, a honestidade no testemunho e uma forte advertência contra a preguiça, culminando na imagem da desolação. O versículo 27 orienta sobre o planejamento: “Prepara fora a tua obra, e apronta-a no campo, e depois edifica a tua casa”, sublinhando a importância de preparar-se antes de construir. O v. 28 adverte contra a falsa testemunha: “Não sejas testemunha sem causa contra o teu próximo, nem o enganes com os teus lábios”. O v. 29 aconselha a não retaliar: “Não digas: ‘Como ele me fez, assim lhe farei; darei a cada um segundo as suas obras’”. Finalmente, os vv. 30-34 descrevem a consequência da preguiça: “Passei pelo campo do preguiçoso, e pela vinha do homem falto de entendimento. E eis que toda ela estava cheia de cardos, e a sua superfície coberta de urtigas, e o seu muro de pedra estava derrubado. Então eu vi e refleti sobre isso; eu o considerei e recebi instrução. Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para cruzar as mãos em repouso. Assim te sobrevirá a pobreza como um salteador, e a escassez como um homem armado”.
A aplicação prática dessas verdades nos impele ao planejamento, à honestidade, à não retaliação e à diligência. Para o seguidor de Cristo, o planejamento prudente em todas as áreas da vida é um sinal de sabedoria, assim como a recusa em dar falso testemunho ou em retaliar o mal (Mateus 5:39-42). A preguiça é condenada, pois leva à pobreza e à ruína, enquanto a diligência é recompensada. No ambiente familiar, pais devem ensinar seus filhos a planejar suas tarefas e seus projetos, a serem honestos em suas palavras e a não buscar vingança. Eles devem também alertar sobre os perigos da preguiça, mostrando que a inação leva à pobreza e ao caos. Filhos aprendem que o planejamento e a diligência trazem resultados e que a honestidade e a não retaliação são virtudes importantes.
No ambiente profissional, o planejamento estratégico e a diligência na execução das tarefas são essenciais para o sucesso dos projetos. A integridade no testemunho (seja em reuniões, relatórios ou feedbacks) e a recusa em agir com vingança são cruciais para um ambiente de trabalho saudável. A negligência e a procrastinação levam à desorganização e à perda de oportunidades. Na comunidade eclesiástica, o planejamento dos ministérios, a honestidade no testemunho (inclusive em disciplinas), e a recusa em agir com espírito de vingança são fundamentais para a saúde da igreja. A diligência no serviço e o combate à indolência são esperados de todos os membros. Como cidadãos, somos chamados a planejar o futuro de nossas comunidades e de nosso país com prudência.
A busca pela verdade e a honestidade no testemunho são pilares de um sistema de justiça confiável. A promoção da não retaliação e a condenação da preguiça social são cruciais para o bem-estar e o progresso de uma nação, pois a indolência leva à miséria e ao caos, enquanto a diligência e a justiça constroem um futuro seguro e próspero.
✡️✝️ Comentário dos Rabinos e Pais Apostólicos
✡️ Rashi (Rabbi Shlomo Yitzchaki, séc. XI)Provérbios 24:10 — “Se fraquejares no dia da angústia, a tua força será pequena.”
“Rashi explica que este versículo ensina a importância da perseverança diante das dificuldades, pois a verdadeira força é demonstrada no sofrimento.”
Comentário: A fé e a resistência são virtudes essenciais para superar provações, mostrando que a fortaleza interior não se revela em tempos fáceis.
Fonte: Rashi on Proverbs 24:10 (Sefaria)
✡️ Malbim (Rabbi Meir Leibush ben Yehiel Michel, séc. XIX)
Provérbios 24:21 — “Teme ao Senhor e ao rei; não te associes com os que são rebeldes.”
“Malbim comenta que o temor reverente ao Criador e respeito pelas autoridades são fundamentos para a ordem social e espiritual.”
Comentário: A convivência harmoniosa depende do respeito aos limites estabelecidos por Deus e pelas autoridades legítimas, evitando o caos e a desordem.
Fonte: Malbim on Proverbs 24:21 (Sefaria)
✡️ Midrash Mishlei (מדרש משלי)
Provérbios 24:3 — “Com sabedoria se edifica a casa, e com prudência ela se firma.”
“O Midrash Mishlei ensina que a sabedoria é a base para a construção da vida familiar e comunitária, enquanto a prudência garante sua estabilidade.”
Comentário: A combinação de sabedoria e prudência é vital para manter uma vida equilibrada e segura, refletindo os valores que sustentam a sociedade.
Fonte: Midrash Mishlei 24 no Sefaria
✝️ João Crisóstomo sobre Provérbios 24:11
“Resgatai aqueles que estão prestes a ser mortos; não poupeis esforços.” [Salomão] não disse: “Investigai com curiosidade e aprendei quem são”, e, no entanto, na maioria dos casos, aqueles que são levados à execução são perversos. Isto, em especial, é caridade. Pois quem faz o bem a um amigo não o faz totalmente por amor a Deus; mas quem faz o bem a alguém desconhecido age puramente por amor a Deus. Não poupe o vosso dinheiro; mesmo que seja necessário gastar tudo, ainda assim doai. Mas nós, quando vemos pessoas em extrema aflição, lamentando-se, sofrendo coisas mais graves do que dez mil mortes, e muitas vezes injustamente, [digo eu] poupamos o nosso dinheiro e não poupamos os nossos irmãos. Cuidamos das coisas inanimadas, mas negligenciamos a alma viva!Sobre Provérbios 24:21:
“Teme a Deus, meu filho, e ao rei”, isto é, teme a Cristo, o verdadeiro Deus e rei. Ou por “rei” [Salomão] significa aquele que, antes de governar sobre os outros, governa a si mesmo. “Não sejas desobediente a nenhum deles.” De fato, aquele que nega respeito ao rei eleito por Deus desonra a Deus. Os ímpios serão punidos imediatamente: certamente ninguém sabe a hora ou o dia. Muitas vezes, para aqueles que ainda vivem, uma punição inesperada é imposta. Portanto, somente o juiz conhece a oportunidade e o motivo da punição a ser infligida, ou alguém que seja um amigo muito próximo. Portanto, nunca tenha um amigo, exceto o Senhor e o rei: certamente, se eles não são amigos do Senhor e do rei, são seus inimigos. Na verdade, não considere como amigos aqueles que não são amigos do rei e do Senhor.Fonte: SOBRE A EPÍSTOLA AOS HEBREUS 10:9, COMENTÁRIO SOBRE OS PROVÉRBIOS DE SALOMÃO, FRAGMENTO 24:21
✝️ Cesário de Arles sobre Provérbios 24:16
Com a ajuda de Deus, podemos e devemos estar livres de ofensas graves, mas nenhum justo jamais foi ou jamais será capaz de viver sem pequenos pecados. Somos continuamente perturbados e atormentados por eles, como por moscas zumbindo ao redor... Muitas vezes, os pecados nos invadem por meio de pensamentos, desejos, palavras ou ações, como resultado da necessidade, da fraqueza ou do esquecimento. Se uma pessoa pensa apenas em pecados graves e se esforça para resistir apenas a eles, mas tem pouca ou nenhuma preocupação com os pequenos pecados, ela não incorre em menos perigo do que se cometesse ofensas mais graves. Portanto, não menosprezemos nossos pecados por serem leves, mas tenhamos medo deles por serem muitos. As gotas de chuva são pequenas, mas, por serem muitas, enchem rios e submergem casas, e às vezes, com sua força, até carregam montanhas.Fonte: SERMÃO 234:4
✝️ Beda sobre Provérbios 24:28
Não sejas testemunha sem causa contra o teu próximo, etc. Isso também se aplica ao cultivo do nosso campo, isto é, à busca da boa ação, ou seja, não prejudicar um próximo inocente com falso testemunho, não dar a nenhum pecador a confiança de pecar ainda mais por meio de bajulação; não retribuir o mal com o mal; pois desta forma, quando tiveres primeiro ações exteriores bem compostas, alcançarás então o cultivo da pureza do homem interior também e, como após o exercício do campo, começarás a adornar e estabelecer a habitação da mente com pensamentos piedosos. Como os réprobos negligenciam isso, acrescenta-se corretamente: Passei pelo campo do preguiçoso, etc. Passar pelo campo e pela vinha do preguiçoso e do tolo é ver a vida de qualquer pessoa negligente, coberta de urtigas e espinhos, porque no coração do negligente brotam desejos terrenos ardentes e as picadas dos vícios. Como está escrito: Todo preguiçoso está em desejos. E o muro de pedra na vinha ou no campo do tolo é derrubado, quando os primórdios das defesas das virtudes, enganados pela maldade dos homens maus ou pela persuasão astuta de espíritos imundos, qualquer pessoa negligente perde.Fonte: Comentário sobre Provérbios
📚 Comentários Clássicos Teológicos
📖 Matthew Henry (1662–1714)Matthew Henry vê Provérbios 24 como um capítulo que exalta a sabedoria prática aplicada à vida diária, especialmente no contexto da justiça, prudência e perseverança. Ele começa destacando que o “não cobices o mal” (v.1) é um aviso contra o desejo de injustiça, inveja e ganância, que corrompem o caráter.
Sobre a construção da casa e os fundamentos firmes (vv.3-4), Henry interpreta isso como a importância da sabedoria, do conhecimento e do entendimento na formação de uma vida estável e próspera — seja no âmbito pessoal ou comunitário.
No versículo 10, ele ressalta a importância da coragem e da firmeza nas adversidades, advertindo que “aquele que fraqueja no dia da angústia” demonstra falta de força moral. Henry enfatiza a justa retribuição (vv.11-12) e a seriedade com que devemos agir para socorrer os oprimidos, lembrando que a sabedoria ajuda a evitar o julgamento e a condenação.
Ele observa que o zelo e a diligência são necessários para superar os obstáculos da vida (vv.27-28), e que a justiça deve prevalecer, mesmo que inicialmente pareça retardada. Na parte final (vv.29-34), ele aconselha a evitar invejar os ímpios, porque a sua queda é certa, apesar do aparente sucesso temporário.
Fonte: Matthew Henry Commentary on Proverbs 24
📖 John Gill (1697–1771)
John Gill inicia destacando a exortação contra desejar o mal a outros (v.1), apontando para a importância do amor e da benevolência.
Ele discute em detalhes os versículos 3 e 4, explicando que a sabedoria, o conhecimento e o entendimento são os fundamentos para a segurança e prosperidade em todos os aspectos da vida, e que esses termos têm conotações específicas no hebraico que indicam prudência na administração do lar e dos negócios.
Sobre o versículo 10, Gill enfatiza que a coragem e a firmeza são virtudes essenciais, e que a falta delas pode levar à ruína. Nos vv.11-12, Gill explica que devemos interceder pelos que estão sendo condenados injustamente, pois Deus é justo e recompensa conforme as ações.
Gill detalha a importância da diligência, mencionando que a preguiça e a inação são perigosas (vv.27-28). Ele também chama atenção para a justiça divina que, embora demorada, certamente se manifestará (vv.29-34).
Fonte: John Gill's Exposition of the Bible on Proverbs 24
📖 Albert Barnes (1798–1870)
Albert Barnes destaca que Provérbios 24 inicia com uma advertência contra o desejo pelo mal, que destrói o caráter e traz calamidade.
Ele comenta que a sabedoria, o conhecimento e o entendimento (vv.3-4) são os principais alicerces para o sucesso e a estabilidade, tanto no lar quanto em outras áreas da vida. Barnes enfatiza o valor da instrução e da aprendizagem contínua.
No versículo 10, ele observa que o fracasso na adversidade revela fraqueza moral, enquanto a perseverança demonstra força e caráter.
Barnes salienta que a ajuda aos necessitados e o resgate dos que são levados à morte são atos que devem ser buscados diligentemente (vv.11-12).
Ele destaca a importância do trabalho diligente e do uso sábio dos recursos para superar as dificuldades (vv.27-28).
Por fim, Barnes lembra que invejar os maus é um erro, pois sua queda é inevitável, e isso deve ser um conforto para os justos (vv.29-34).
Fonte: Albert Barnes' Notes on the Whole Bible on Proverbs 24
📖 Keil (1807–1888) & Delitzsch (1813–1890)
Keil & Delitzsch oferecem uma análise detalhada do texto hebraico, começando com a proibição de desejar o mal (v.1), explicando que a palavra רָעָה (ra’ah, “mal”) aqui se refere a iniquidade, perversidade, e que o desejo disso é contrário à verdadeira sabedoria.
Nos versículos 3 e 4, eles exploram a tríade חָכְמָה (chokhmah, “sabedoria”), דַּעַת (da’at, “conhecimento”) e בִּינָה (binah, “entendimento”), mostrando que a sabedoria constrói a casa, o conhecimento enche os aposentos e o entendimento os enche de bens preciosos — uma bela metáfora que demonstra como cada aspecto da sabedoria contribui para o bem-estar.
Eles explicam o verbo יָסַד (yasad, “fundar, estabelecer”) em seu sentido de estabelecer firmemente, indicando a importância de fundamentos sólidos para a estabilidade.
No versículo 10, o verbo חָזַק (chazaq, “fortalecer”) é detalhado, ressaltando a força moral e a coragem que são necessárias para resistir nos momentos de angústia.
Os vv. 11-12 tratam do socorro aos condenados à morte, com Keil & Delitzsch destacando a importância da justiça e da misericórdia, apontando para a responsabilidade social e o juízo divino.
Nos vv. 27-28, os termos hebraicos para “cozinhar tua comida” e “preparar tua porção” são examinados, mostrando que a prudência inclui planejamento cuidadoso para o futuro.
Por fim, a advertência contra invejar os ímpios (vv. 29-34) é interpretada como um aviso para confiar na justiça de Deus, que pode demorar, mas não falha em se cumprir.
Fonte: Keil & Delitzsch Commentary on Proverbs 24
📚 Concordância Bíblica
🔹 Provérbios 24:1“Não tenhas inveja dos homens malignos, nem desejes estar com eles.”
📖 Salmo 73:3
“Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios.”
Comentário: Tanto o salmista quanto Salomão alertam que a inveja dos ímpios é vã: sua prosperidade é temporária e enganosa.
🔹 Provérbios 24:2
“Porque o seu coração maquina destruições, e os seus lábios falam maliciosamente.”
📖 Mateus 12:34
“A boca fala do que está cheio o coração.”
Comentário: Jesus confirma a sabedoria de Salomão: palavras violentas nascem de corações corrompidos.
🔹 Provérbios 24:3 – “Com a sabedoria se edifica a casa, e com a inteligência ela se firma.”
📖 Mateus 7:24
“Todo aquele que ouve estas minhas palavras… é semelhante ao homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha.”
Comentário: Jesus aplica o princípio de Provérbios à vida espiritual: edificar com sabedoria é ouvir e obedecer à Palavra.
🔹 Provérbios 24:4
“E pelo conhecimento se encherão as câmaras de todas as riquezas preciosas e deleitáveis.”
📖 Colossenses 2:3
“Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.”
Comentário: O verdadeiro conhecimento que enriquece a vida está em Cristo, conforme ensina Paulo.
🔹 Provérbios 24:5 – “O homem sábio é forte, e o homem de conhecimento consolida a força.”
📖 2 Coríntios 12:10 – “Quando estou fraco, então é que sou forte.”
Comentário: A força espiritual não vem da carne, mas da sabedoria e dependência de Deus.
🔹 Provérbios 24:6 – “Com conselhos prudentes tu farás a guerra; e há vitória na multidão dos conselheiros.”
📖 Atos 15:6
“Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto.”
Comentário: A Igreja primitiva seguiu esse princípio em decisões importantes, como no Concílio de Jerusalém.
🔹 Provérbios 24:7
“A sabedoria é demasiadamente alta para o tolo; no juízo ele não abre a sua boca.”
📖 1 Coríntios 2:14
“O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus.”
Comentário: A sabedoria de Deus é inacessível ao tolo que rejeita o Espírito e o discernimento divino.
🔹 Provérbios 24:8 – “O que cuida em fazer o mal, mestre de intrigas o chamarão.”
📖 Romanos 1:30
“Inventores de males…”
Comentário: Paulo amplia essa lista de vícios humanos, destacando os que planejam o mal como transgressores ativos.
🔹 Provérbios 24:9
“O pensamento do tolo é pecado; e o escarnecedor é abominável aos homens.”
📖 Mateus 5:28
“Qualquer que olhar para uma mulher… já em seu coração cometeu adultério.”
Comentário: Jesus afirma que até os pensamentos são passíveis de julgamento, como já antecipava Salomão.
🔹 Provérbios 24:10
“Se te mostrares fraco no dia da angústia, é que a tua força é pequena.”
📖 Hebreus 12:12
“Portanto, levantai as mãos cansadas e os joelhos vacilantes.”
Comentário: O escritor aos Hebreus convida à perseverança, confirmando que a fé se prova nos momentos de crise.
🔹 Provérbios 24:11
“Livra os que estão sendo levados à morte, e os que cambaleiam para a matança, se os puderes retirar.”
📖 Judas 1:23
“Salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo.”
Comentário: O princípio da intercessão e resgate do próximo está no cerne da ética cristã.
🔹 Provérbios 24:12
“Se disseres: Eis que não o soubemos; porventura aquele que pondera os corações não o considerará?”
📖 Romanos 2:16
“Deus há de julgar os segredos dos homens…”
Comentário: Deus vê os corações e não aceita desculpas — a responsabilidade diante do mal não pode ser evitada.
🔹 Provérbios 24:13
“Come mel, meu filho, porque é bom; e o favo de mel é doce ao teu paladar.”
📖 Salmo 119:103
“Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar!”
Comentário: O mel é metáfora da Palavra de Deus — prazerosa, nutritiva e verdadeira.
🔹 Provérbios 24:14
“Assim será para a tua alma o conhecimento da sabedoria…”.
📖 2 Timóteo 3:15
“Desde a infância sabes as sagradas letras…”
Comentário: O conhecimento espiritual é doce e vital: ele conduz à vida eterna e firmeza de esperança.
🔹 Provérbios 24:15
“Ó ímpio, não armes ciladas contra a casa do justo…”.
📖 Romanos 12:19
“A mim pertence a vingança…”
Comentário: Deus é o defensor do justo — o mal que se arma contra ele será julgado.
🔹 Provérbios 24:16
“Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará; mas os ímpios tropeçarão no mal.”
📖 Miqueias 7:8
“Ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei…”
Comentário: O justo não é imune à queda, mas possui a graça para se levantar — a perseverança é sua marca.
🔹 Provérbios 24:17 – “Quando cair o teu inimigo, não te alegres…”.
📖 Obadias 1:12
“Tu não devias ter olhado com prazer para o dia de teu irmão.”
Comentário: Alegrar-se com a desgraça alheia revela falta de misericórdia — Deus reprova esse tipo de sentimento.
🔹 Provérbios 24:18 – “Para que o Senhor não veja isso, e se desagrade, e desvie dele a sua ira.”
📖 Ezequiel 18:23
“Acaso tenho eu prazer na morte do ímpio?”
Comentário: Deus deseja arrependimento, não destruição — se o justo se alegra na queda do ímpio, pode perder o favor de Deus.
🔹 Provérbios 24:19
“Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos ímpios.”
📖 Salmo 37:1
“Não te indignes por causa dos malfeitores…”
Comentário: A repetição mostra a importância de manter o coração limpo e a confiança em Deus, apesar das aparências.
🔹 Provérbios 24:20
“Porque o maligno não terá galardão, e a lâmpada dos ímpios se apagará.”
📖 Jó 18:5
“Na verdade, a luz do ímpio se apagará…”
Comentário: O destino final do ímpio é escuridão — sua prosperidade é temporária e sem herança duradoura.
🔹 Provérbios 24:21
“Teme ao Senhor, filho meu, e ao rei; e não te entremetas com os que gostam de mudanças.”
📖 1 Pedro 2:17
“Temei a Deus. Honrai ao rei.”
Comentário: A submissão à autoridade civil e divina é parte do temor piedoso.
🔹 Provérbios 24:22
“Porque a sua destruição virá repentinamente; e quem sabe a ruína de ambos?”
📖 1 Tessalonicenses 5:3
“Quando disserem: Paz e segurança… lhes sobrevirá repentina destruição.”
Comentário: O juízo de Deus e o colapso das estruturas humanas vêm de modo inesperado — um alerta à vigilância e fidelidade.
🔹 Provérbios 24:23 – “Também estes são provérbios dos sábios. Não é bom fazer acepção de pessoas no julgamento.”
📖 Tiago 2:1–4
“Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas... se entrares em vossa reunião um homem com anel de ouro... e tratardes melhor o rico que o pobre, não fizestes distinção entre vós mesmos e não vos tornastes juízes de maus pensamentos?”
Comentário: O princípio de justiça imparcial em Provérbios 24:23 ecoa claramente no ensino de Tiago. Ambos os textos condenam a parcialidade social, especialmente no contexto de juízo ou convivência comunitária. Para Tiago, a acepção de pessoas é incompatível com a fé cristã. Para os sábios de Provérbios, ela corrompe o julgamento justo.
🔹 Provérbios 24:24
“Ao que disser ao ímpio: Tu és justo, os povos o amaldiçoarão, as nações o abominarão.”
📖 Isaías 5:20
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal…”
Comentário: A justiça corrompida provoca indignação pública e traz juízo divino. Isaías reforça esse alerta moral contra a inversão de valores.
🔹 Provérbios 24:25
“Mas os que o repreendem serão agradáveis, e sobre eles virá a bênção do bem.”
📖 Efésios 5:11
“Reprovai as obras infrutíferas das trevas.”
Comentário: A correção do mal, mesmo quando impopular, atrai a aprovação de Deus e edifica a sociedade. O Novo Testamento confirma a prática de expor e condenar o pecado.
🔹 Provérbios 24:26 – “Beijo nos lábios é aquele que responde com palavras retas.”
📖 Efésios 4:25
“Deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo.”
Comentário: A metáfora indica intimidade e confiança: falar a verdade de forma direta e justa fortalece os relacionamentos.
🔹 Provérbios 24:27 – “Prepara de fora a tua obra, apronta-a no campo, e depois edifica a tua casa.”
📖 Lucas 14:28
“Qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a calcular?”
Comentário: A prudência e o planejamento são virtudes destacadas tanto por Salomão quanto por Jesus — agir com sabedoria e ordem.
🔹 Provérbios 24:28
“Não sejas testemunha contra o teu próximo sem motivo, nem enganes com os teus lábios.”
📖 Êxodo 20:16
“Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.”
Comentário: Este provérbio reafirma um dos Dez Mandamentos, reforçando a santidade da verdade nos relacionamentos humanos.
🔹 Provérbios 24:29
“Não digas: Assim como ele me fez, assim lhe farei; pagarei a cada um segundo a sua obra.”
📖 Romanos 12:17,19
“Não torneis a ninguém mal por mal… a mim pertence a vingança, diz o Senhor.”
Comentário: A retaliação pessoal é proibida; a justiça pertence a Deus. O apóstolo Paulo ecoa essa sabedoria ao tratar da ética cristã.
🔹 Provérbios 24:30
“Passei pelo campo do preguiçoso e junto à vinha do homem falto de entendimento;”
📖 Hebreus 6:12
“Para que não vos torneis indolentes…”
Comentário: O preguiçoso é contraposto ao sábio; o campo abandonado ilustra os efeitos da negligência. O autor de Hebreus adverte os crentes contra a inércia espiritual.
🔹 Provérbios 24:31 – “Eis que por toda parte estavam crescidos os espinhos, ortigas cobriam a sua superfície, e o seu muro de pedra estava derrubado.”
📖 Gênesis 3:18
“Espinhos e cardos também te produzirá…”
Comentário: A degradação do campo do preguiçoso reflete as consequências do pecado e da desordem — uma imagem do juízo que começa na negligência.
🔹 Provérbios 24:32
“Vendo eu isto, considerei-o bem; vi e recebi instrução.”
📖 Jó 12:7
“Mas pergunta agora aos animais… e eles te ensinarão.”
Comentário: A sabedoria aprende com a observação do mundo. O justo está atento e adquire discernimento até mesmo do erro dos outros.
🔹 Provérbios 24:33
“Um pouco de sono, um pouco de cochilo, um pouco de cruzar os braços para descansar…”.
📖 Mateus 25:5
“Tardando o noivo, tosquenejaram todas e adormeceram.”
Comentário: A sonolência espiritual ou moral leva à ruína. Jesus usa imagem semelhante para advertir quanto à vigilância.
🔹 Provérbios 24:34
“Assim te sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem armado.”
📖 1 Tessalonicenses 5:2
“O dia do Senhor virá como ladrão de noite.”
Comentário: A pobreza — seja material ou espiritual — pode chegar de forma súbita, como juízo. A negligência tem consequências inevitáveis.
Bibliografia
FOX, Michael V. Proverbs 1-9. New Haven; London: Yale University Press, 2000. (Anchor Yale Bible Commentaries - AYBC, v. 18A).
KIDNER, Derek. Provérbios: introdução e comentário. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1986. (Série Cultura Bíblica).
LONGMAN III, Tremper. Provérbios. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Shedd Publicações, 2011. (Comentário do Antigo Testamento Baker).
WALTKE, Bruce K. The Book of Proverbs, Chapters 1-15. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 2004. (New International Commentary on the Old Testament - NICOT).
GARRETT, Duane A. Proverbs, Ecclesiastes, Song of Songs. Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 1993. (New American Commentary - NAC).
PERDUE, Leo G. Proverbs. Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2000. (Interpretation: A Bible Commentary for Teaching and Preaching).
WHYBRAY, Roger N. Proverbs. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1994. (New Century Bible Commentary).
CLIFFORD, Richard J. Proverbs. Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 1999. (Old Testament Library - OTL).
KIDNER, Derek. Proverbs: An Introduction and Commentary. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1964. (Tyndale Old Testament Commentaries - TOTC).
ROSS, Allen P. Proverbs. In: WALVOORD, John F.; ZUCK, Roy B. (Eds.). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures DE Dallas Theological Seminary Faculty. Old Testament. Wheaton, IL: Victor Books, 1985.
KITCHEN, Kenneth A. Proverbs. In: HARRISON, R. K. (Ed.). The Wycliffe Bible Commentary. Chicago, IL: Moody Press, 1962.
SCHIPPER, Bernd U. Proverbs 1-15. Minneapolis: Fortress Press, 2019. (Hermeneia).
ANSBERRY, Christopher B. Proverbs. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2024. (Zondervan Exegetical Commentary on the Old Testament - ZECOT).
GARRETT, Duane A. Proverbs. Grand Rapids, MI: Kregel Academic, 2018. (Kregel Exegetical Library).
CURRY, David. Proverbs. Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2014. (Baker Commentary on the Old Testament: Wisdom and Psalms Series).
BENSON, Joseph. Commentary on the Old and New Testaments. [S. l.]: [s. n.], 1857.
GARLOCK, John (Ed.). New Spirit-Filled Life Study Bible. Nashville: Thomas Nelson, 2013.
GOLDINGAY, John. Proverbs. Grand Rapids: Baker Academic, 2006. (Baker Exegetical Commentary on the Old Testament).
LONGMAN III, Tremper. NIV Foundation Study Bible. Grand Rapids: Zondervan, 2015.
RADMACHER, Earl D.; ALLEN, R. B.; HOUSE, H. W. O Novo Comentário Bíblico AT. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2010.
SCHULTZ, Richard L. Baker Illustrated Bible Background Commentary. Grand Rapids: Baker Publishing Group, 2020.
TYNDALE HOUSE PUBLISHERS. NLT Study Bible. Carol Stream: Tyndale House Publishers, 2007.
VAN LEEUWEN, Raymond C. Proverbs. In: CLIFFORD, Richard J. et al. The New Interpreter's Bible. Nashville: Abingdon Press, 1997. v. 5, p. 19-264.
WHYBRAY, R. N. Proverbs. New Century Bible Commentary. Grand Rapids: Eerdmans, 1994.
MURPHY, Roland E. Proverbs. Word Biblical Commentary, v. 22. Nashville: Thomas Nelson, 1998.
MCKANE, William. Proverbs: A New Approach. Philadelphia: Westminster Press, 1970.
MUFFET, Peter. A Commentarie upon the Booke of the Proverbs of Salomon. (Nichol’s Series of Commentaries). Edinburgh: James Nichol; London: James Nisbet & Co.; Dublin: G. Herbert, 1868.
Índice: Provérbios 1 Provérbios 2 Provérbios 3 Provérbios 4 Provérbios 5 Provérbios 6 Provérbios 7 Provérbios 8 Provérbios 9 Provérbios 10 Provérbios 11 Provérbios 12 Provérbios 13 Provérbios 14 Provérbios 15 Provérbios 16 Provérbios 17 Provérbios 18 Provérbios 19 Provérbios 20 Provérbios 21 Provérbios 22 Provérbios 23 Provérbios 24 Provérbios 25 Provérbios 26 Provérbios 27 Provérbios 28 Provérbios 29 Provérbios 30 Provérbios 31