Interpretação de Números 16
Números 16
B. A Rebelião de Coré, Datã e Abirão. 16:1-35.
Qualquer rebelião deste tamanho tem
numerosas facetas e várias razões agravantes subjacentes. Críticos têm
imaginado que as diferentes correntes de pensamento aqui têm origem nas fontes
documentárias hipotéticas JE e P, e que a nossa história representa as
narrativas combinadas de diversas rebeliões durante a história de Israel.
Contudo, do texto em si, deduzimos que houve o lado eclesiástico e o lado civil
nesta rebelião. Coré persuadiu companheiros levitas e outros a se lhe juntarem
na busca da função sacerdotal (vs. 9, 10). Ao mesmo tempo, os rubenitas, Datã e
Abirão, voltaram-se contra Moisés por causa de seu aparente fracasso em lhes
oferecer os campos e as vinhas da Terra Prometida (v. 14). O pensamento de
terem de passar o resto de suas vidas no deserto devia lhes fazer parecer que a
rebelião era um caminho de escape.
Datã e Abirão recusaram-se a irem ao
Tabernáculo para enfrentarem Moisés, mas enviaram-lhe uma queixa amarga (vs,
12-14 ). Coré, por outro lado, e seus 250 “príncipes” (não todos, mas muitos
levitas; vs. 7, 8; 27:3) apareceram com incensários nas mãos, para provarem que
eram santos e podiam executar esta obrigação sacerdotal. Subitamente a glória do
Senhor apareceu à porta do Tabernáculo; e o Senhor apoiou a autoridade de
Moisés, abrindo a terra que engoliu os três lideres da rebelião, com suas
famílias e propriedades (v. 32). A seguir, o grupo de carregadores de incenso
foram devorados pelo fogo.
3. Basta-vos. Ou, “Estamos fartos de vocês”. Moisés, um
pouco mais tarde, devolveu-lhes estas mesmas palavras (v. 7). Toda a
congregação é santa. Em Êx. 19:6 Deus prometeu fazer de Israel um reino de
sacerdotes e uma nação santa. Mas esta promessa tinha uma condição, “se . . .
ouvirdes a minha voz, e guardardes a rainha aliança”. Pois a doação e a
execução desta aliança designava divinamente os mediadores onde fossem
necessários.
11. Pelo que tu e todo o teu grupo juntos
estais contra o Senhor. Deus já tinha escolhido o Seu mediador (v. 5). Se Coré e sua
congregação duvidasse, duvidaria de Deus. E Arão, que é ele? O direito
que Arão tinha de ser sacerdote não se originara nele mesmo.
12. Datã e Abirão . . . disseram: Não
subiremos. A
cena passa para os rubenitas, cujos motivos de rebelião diferiam dos de Coré,
mas cujos propósitos de derrubar Moisés e Arão eram os mesmos.
13. Também queres fazer-te príncipe sobre
nós? Ou, Você pretende
continuar fazendo o papel de príncipe sobre nós? Estes homens estavam
agastados com a perspectiva de gastar toda sua vida no deserto. Acusavam Moisés
da derrota em Hormá (14:45). Imaginavam que ele recusara levar a arca com eles
naquela ocasião, com medo de perder o controle que tinha sobre eles quando
entrassem na terra.
14. Pensas que lançará pó aos olhos
destes homens? De
acordo com Pv. 30:17, a alusão aqui é aos abutres que arrancariam os olhos dos
mortos no deserto. Não dissera Moisés que toda esta geração teria de morrer no
deserto?
19. Coré fez ajuntar contra eles todo o
povo. O hebraico faz uma
diferença entre sua congregação, “grupo”, e a congregação (cons.
v. 9). Core apresentava-se como o defensor de toda a congregação: “Toda a
congregação é santa” (v. 3 ).
22. Ó Deus, Autor e Conservador de toda
vida (O Deus dos espíritos e
de toda carne.) O muito evidente dualismo do espírito e da carne revelado nesta
frase fornece evidências de que este conceito fazia parte da ideologia
religiosa dos hebreus desde os tempos de Moisés. Mestres “liberais”, contudo,
inclinam-se a atribuir este conceito à teologia de posteriores documentos “P”.
24. Levantai-vos do redor da habitação (tabernáculo) de Coré, Datã e Abirão. Não
parece provável que estes homens tivessem construído um outro tabernáculo. O
termo mishkan pode se referir a qualquer tipo de habitação ou tenda
(24:5). A simples adição da consoante hebraica “yodh” indicaria o plural, “tendas
de”. Os tradutores da LXX, ou viram a dificuldade e deixaram de fora os nomes
de Datã e Abirão, ou trabalhavam em um manuscrito hebraico que só mencionava
Coré. Nosso atual texto hebraico de 16:32 só menciona Coré, numa expressão
abreviada de todos os três rebeldes.
27. Levantaram-se, pois, do redor da
habitação (tenda)
de Coré. Aqueles que creram em Moisés comprovaram-no agora pela atitude.
Datã e Abirão . . . se puseram à porta
das suas tendas,
como a desafiar Moisés.
28. Não procedem de mim mesmo. Vemos novamente que a briga não era com
Moisés mas com Deus. O hebraico leb, “coração” (E.R.C.), foi
corretamente traduzido para mente na AV; pois o coração geralmente indica a
capacidade intelectual (cons. Os. 7:11, “entendimento”), enquanto que as entranhas,
etc., (“rins” E.R.C. SI. 16:7, e em outras passagens) se referem à capacidade
emocional.
30. Mas, se o Senhor criar alguma coisa
inaudita. Tanto
o verbo como o substantivo são de beirei’, “criar”; portanto a coisa
inaudita tinha de ser uma coisa sobrenatural, ou pelo menos fora do comum. E
vivos descerem ao abismo (Sheol). No V.T. o termo Sheol raramente significa
“o lugar dos mortos”; aqui indica “a sepultura”.
32. E os tragou com as suas casas, como
também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens. Beittehem não se refere a suas casas, mas famílias.
O restante do versículo diferencia entre propriedades humanas (servos) e não
humanas (animais e bens). Era simplesmente a maneira hebraica de dizer “tudo”.
Contudo, Nm. 26:11 nos informa que os filhos de Coré não pereceram com ele.
Provavelmente a “família” de Coré não incluía seus filhos adultos que tinham
suas próprias famílias.
C. Incidentes da Vingança do Sacerdócio
Araônico. 16:36 - 17:13.
A esta altura a Bíblia Hebraica começa um
novo capítulo. Os escribas judeus consideraram o restante do capítulo 16 e todo
o 17 como se fosse uma unidade, abrangendo o tema do direito único de Arão ao
sacerdócio. Os incensários de bronze usados pelos rebeldes foram batidos em
lâmina para cobertura do altar, como lembrete perpétuo do sacerdócio exclusivo
da casa de Arão. As consequências da rebelião aparecem na murmuração que
acusava Moisés pela morte dos rebeldes. A ira de Deus se aplacou somente quando
Arão usou o seu incensário para fazer expiação pelo povo (v. 46). A vingança da
casa de Arão não culminou no teste das varas (cap. 17). Das doze varas
escolhidas, uma para cada tribo, só a vara de Levi, com a inscrição do nome de
Arão, floresceu sobrenaturalmente e produziu amêndoas diante do Senhor. Esta
vara teve de ser guardada na arca como um testemunho contra toda e qualquer tentativa
futura de rejeitar a escolha divina da família mediatorial.
37. Porque santos são. Por que os incensários desses homens
ímpios foram considerados santos? Porque Deus tinha para eles sagrado
propósito. “Porquanto os trouxeram perante o Senhor.. . serão por sinal. . .
por memorial. . . para que nenhum estranho, que não for da descendência de
Arão, se chegue para acender incenso perante o Senhor” (cons. vs. 37-40).
48. Pôs-se em pé entre os mortos e os vivos. Uma ilustração dramática do ofício mediador de Arão. Não pela virtude
dele em si mesmo (16: 5) mas apenas porque Deus o escolhera, o incenso de Arão
efetuou a expiação pelo povo e interrompeu a praga (cons. Hb. 5:4-6).
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